Justiça ou impunidade?
Ontem disparou mais um caso. Chamaram-lhe apropriadamente Face Oculta. Na verdade uma face oculta que é assim baptizada no preciso momento em que é “descoberta”. Claro que, sendo crime, a corrupção tem de estar na sombra para poder vingar e continuar a prosperar. Prospera e cresce alimentando o enriquecimento daqueles que, habituados à ilicitude, usam todo o tipo de meios para meter ao bolso o que a todos pertence, sem o mais leve peso de consciência. Sucede que já são muitos os casos que deixaram de ser ocultos para passarem a ser explícitos. Uma vez divulgados e sujeitos à acção da justiça inscreveram-se na nossa memória de cidadãos indignados e cada vez mais incrédulos com a lentidão e a inoperância do sistema judicial. Apito Dourado, Freeport, PBN, BPP, Aveiro Connection, Carril Dourado e agora esta “face oculta” são nomes (além de vários outros bem conhecidos) que se fixaram em nós pelos piores motivos. Sentimos a indignação a crescer ao mesmo tempo que cresce o número de anos à espera que a justiça seja feita e os culpados sejam enviados para o castigo que merecem: a prisão efectiva. Qualquer ilegalidade merece ser julgada e qualquer crime, num Estado de direito, digno desse nome, deve ter o castigo que merece. E em certos casos o crime económico deveria ser susceptível de penas tão graves como um crime de sangue. Infelizmente, o que muitos casos do passado recente mostraram é que a face oculta é a outra face da impunidade. Isto é, não adianta muito descobrir e investigar, em especial quando os arguidos são ricos e poderosos, porque, habituados a mover-se na sombra, fazem-no mesmo quando a espada da justiça parece erguer-se sobre as suas cabeças. Processos que se arrastam, recursos infindáveis, bloqueios ao funcionamento da justiça, etc., culminam nesta sensação asfixiante e de impotência que muitos portugueses sentem – e não só os que votaram em no PP e em Paulo Portas – em relação à justiça: os grandes continuam impunes, mesmo quando, comprovadamente nos meteram a mão ao bolso. O processo que agora culminou com 12 ou 13 arguidos (hoje surgiu mais um) é o exemplo da total promiscuidade entre o público e o privado, ou melhor, de como o interesse público é posto ao serviço do roubo privado. Os recursos de nós todos vão parar aos bolsos de corruptos que, alegremente, continuam a sorrir, a gozar la dolce vita e a ocupar cargos profissionais (privados e públicos) e políticos de alta responsabilidade. Até quando? Será que Alberto Martins (e naturalmente os vários corpos do sistema judiciário) terá condições para enfrentar tais poderes com a mesma coragem que em tempos enfrentou em Coimbra o símbolo maior do fascismo?
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Justiça ou impunidade?
Ontem disparou mais um caso. Chamaram-lhe apropriadamente Face Oculta. Na verdade uma face oculta que é assim baptizada no preciso momento em que é “descoberta”. Claro que, sendo crime, a corrupção tem de estar na sombra para poder vingar e continuar a prosperar. Prospera e cresce alimentando o enriquecimento daqueles que, habituados à ilicitude, usam todo o tipo de meios para meter ao bolso o que a todos pertence, sem o mais leve peso de consciência. Sucede que já são muitos os casos que deixaram de ser ocultos para passarem a ser explícitos. Uma vez divulgados e sujeitos à acção da justiça inscreveram-se na nossa memória de cidadãos indignados e cada vez mais incrédulos com a lentidão e a inoperância do sistema judicial. Apito Dourado, Freeport, PBN, BPP, Aveiro Connection, Carril Dourado e agora esta “face oculta” são nomes (além de vários outros bem conhecidos) que se fixaram em nós pelos piores motivos. Sentimos a indignação a crescer ao mesmo tempo que cresce o número de anos à espera que a justiça seja feita e os culpados sejam enviados para o castigo que merecem: a prisão efectiva. Qualquer ilegalidade merece ser julgada e qualquer crime, num Estado de direito, digno desse nome, deve ter o castigo que merece. E em certos casos o crime económico deveria ser susceptível de penas tão graves como um crime de sangue. Infelizmente, o que muitos casos do passado recente mostraram é que a face oculta é a outra face da impunidade. Isto é, não adianta muito descobrir e investigar, em especial quando os arguidos são ricos e poderosos, porque, habituados a mover-se na sombra, fazem-no mesmo quando a espada da justiça parece erguer-se sobre as suas cabeças. Processos que se arrastam, recursos infindáveis, bloqueios ao funcionamento da justiça, etc., culminam nesta sensação asfixiante e de impotência que muitos portugueses sentem – e não só os que votaram em no PP e em Paulo Portas – em relação à justiça: os grandes continuam impunes, mesmo quando, comprovadamente nos meteram a mão ao bolso. O processo que agora culminou com 12 ou 13 arguidos (hoje surgiu mais um) é o exemplo da total promiscuidade entre o público e o privado, ou melhor, de como o interesse público é posto ao serviço do roubo privado. Os recursos de nós todos vão parar aos bolsos de corruptos que, alegremente, continuam a sorrir, a gozar la dolce vita e a ocupar cargos profissionais (privados e públicos) e políticos de alta responsabilidade. Até quando? Será que Alberto Martins (e naturalmente os vários corpos do sistema judiciário) terá condições para enfrentar tais poderes com a mesma coragem que em tempos enfrentou em Coimbra o símbolo maior do fascismo?