Esquerda Republicana: A esquerda dividida

19-12-2009
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No Canhoto, lê-se um texto muito relevante de Paulo Pedroso.Primeiro, uma análise correcta da mecânica partidária pós-PREC, que excluiu totalmente a colaboração do PS com a sua esquerda (tirando as eleições presidenciais e alguns episódios na CML).«Portugal tem óbvia governabilidade quando pretende virar à direita, menosprezar as políticas sociais e adoptar medidas económicas liberais e políticas conservadoras: entrega o governo ao PSD sozinho ou em coligação com o CDS.O problema está quando os eleitores rumam à esquerda e o PS não tem maioria absoluta. O PS, ou está condenado a governos isolados no espectro parlamentar, como aconteceu a António Guterres e antes ao primeiro governo de Mário Soares, ou a alianças com forças conservadoras que se revelaram sempre contranatura, como no PS-CDS e no Bloco Central.»Depois, a constatação do «impasse» que esta situação gerou:«Estou convencido que o PS é um partido tímido perante o conservadorismo, reverente perante a Igreja Católica em matérias morais e complexado em relação a sindicatos e movimentos sociais, mesmo que tenha maioria absoluta, porque a sua elite dirigente interiorizou que só nas instituições mais conservadoras pode, quando no governo, desfrutar dos apoios, ao menos tácitos, bem como só com elas pode negociar soluções que permitam ao partido governar o país. Ou seja, a vulnerabilidade do PS ao conservadorismo não é ideológica nem estratégica, é uma adaptação táctica que se eterniza porque se eterniza o impasse.»Finalmente, a solução de Paulo Pedroso:«Quem quiser levar o centro mais para a esquerda e governar o país tem que exigir ao Bloco que se liberte das heranças da UDP e do PSR e corajosamente pense se pode e quer ser e em que condições a mão esquerda de um Governo de progresso. Há princípios básicos que teria que aceitar - as consequências da participação portuguesa no Euro, na União Europeia e na NATO, por exemplo. Teria que fazer agora o debate que fizeram os Verdes alemães há uma década.»Se concordo com Paulo Pedroso que o BE, para ser governo, deveria deixar de parecer uma federação de tendências, as questões concretas que refere parecem-me exigir mais uma rendição do que um amadurecimento. Existem sectores da esquerda democrática europeia (embora minoritários) que se opõem a esta União Europeia (Chevènement, por exemplo). Outros (ou os mesmos), desconfiam da NATO. Portanto, nada existe aí de inultrapassável.Pelo contrário, o partido que se deveria definir é claramente o PS. Concretamente, sobre se a defesa dos serviços públicos e dos direitos laborais, ou a laicidade, são objectivos programáticos para meter na gaveta cada vez que passa pelo governo. É que a «adaptação táctica», após três décadas, já parece ideológica...Etiquetas: esquerda


No Canhoto, lê-se um texto muito relevante de Paulo Pedroso.Primeiro, uma análise correcta da mecânica partidária pós-PREC, que excluiu totalmente a colaboração do PS com a sua esquerda (tirando as eleições presidenciais e alguns episódios na CML).«Portugal tem óbvia governabilidade quando pretende virar à direita, menosprezar as políticas sociais e adoptar medidas económicas liberais e políticas conservadoras: entrega o governo ao PSD sozinho ou em coligação com o CDS.O problema está quando os eleitores rumam à esquerda e o PS não tem maioria absoluta. O PS, ou está condenado a governos isolados no espectro parlamentar, como aconteceu a António Guterres e antes ao primeiro governo de Mário Soares, ou a alianças com forças conservadoras que se revelaram sempre contranatura, como no PS-CDS e no Bloco Central.»Depois, a constatação do «impasse» que esta situação gerou:«Estou convencido que o PS é um partido tímido perante o conservadorismo, reverente perante a Igreja Católica em matérias morais e complexado em relação a sindicatos e movimentos sociais, mesmo que tenha maioria absoluta, porque a sua elite dirigente interiorizou que só nas instituições mais conservadoras pode, quando no governo, desfrutar dos apoios, ao menos tácitos, bem como só com elas pode negociar soluções que permitam ao partido governar o país. Ou seja, a vulnerabilidade do PS ao conservadorismo não é ideológica nem estratégica, é uma adaptação táctica que se eterniza porque se eterniza o impasse.»Finalmente, a solução de Paulo Pedroso:«Quem quiser levar o centro mais para a esquerda e governar o país tem que exigir ao Bloco que se liberte das heranças da UDP e do PSR e corajosamente pense se pode e quer ser e em que condições a mão esquerda de um Governo de progresso. Há princípios básicos que teria que aceitar - as consequências da participação portuguesa no Euro, na União Europeia e na NATO, por exemplo. Teria que fazer agora o debate que fizeram os Verdes alemães há uma década.»Se concordo com Paulo Pedroso que o BE, para ser governo, deveria deixar de parecer uma federação de tendências, as questões concretas que refere parecem-me exigir mais uma rendição do que um amadurecimento. Existem sectores da esquerda democrática europeia (embora minoritários) que se opõem a esta União Europeia (Chevènement, por exemplo). Outros (ou os mesmos), desconfiam da NATO. Portanto, nada existe aí de inultrapassável.Pelo contrário, o partido que se deveria definir é claramente o PS. Concretamente, sobre se a defesa dos serviços públicos e dos direitos laborais, ou a laicidade, são objectivos programáticos para meter na gaveta cada vez que passa pelo governo. É que a «adaptação táctica», após três décadas, já parece ideológica...Etiquetas: esquerda

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