Mau Tempo no Canil: Avó (republicação)

28-05-2010
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Não tenho o mau hábito de republicar aquilo que já escrevi. Hoje abro uma excepção, uma vez que quem tenha lido o DN pode ficar com a impressão que eu não me interesso pelas presidenciais, em particular, ou pela política, em geral. O João Morgado Fernandes, que escreve aquele espaço dedicado aos blogues no DN, foi totalmente fiel à minha citação, mas porventura terá escolhido um post que revelava mais o meu cansaço com a campanha e seus previsíveis resultados do que os meus sentimentos em relação à política e aos políticos. Porque estes estão muito melhor descritos no post que escrevi na Loja dos 300, em vésperas das eleições autárquicas. Este:"Votar para mim é uma cerimónia espiritual. E gosto de votar logo pela manhã. Se for o primeiro da secção de voto, melhor ainda. Também tive o privilégio de durante anos ajudar a minha avó a votar. Ia buscá-la ao lar. Comigo levava um boletim de voto feito em casa com todos os partidos que concorriam às eleições. Tirava todas as informações do site da CNE. Depois ela fazia a cruz e eu ficava a saber em quem ela queria votar.Depois (muitas pessoas desconhecem que os mais incapacitados fisicamente podem votar), levava-a ao centro de saúde de serviço, onde uma médica a entrevistava para aferir se ela tinha capacidade de voto. Ela, a médica, perguntava sempre à minha avó (que mal andava e ouvia muito mal) porque é que ela queria votar. A minha avó respondia sempre da mesma maneira: "Porque é importante votar".E depois vinham outras perguntas. Como é que se chama? "Isabella". Sabe ler? "Leio o Público e o DN todos os dias". Quantos filhos tem? Uma vez disse o nome dos filhos todos (sem se esquecer dos dois que morreram à nascença) e dos muitos netos. Também já se preparava para dizer que netos é que correspondiam a cada filho e até o nome das noras.A médica passava o atestado e lá nos encaminhávamos para a mesa de voto. Ela entregava o atestado e davam~lhe o boletim. Ela chegava-se ao local do voto muito agarrada a mim e eu passava-lhe uma lupa (atenção que os símbolos são muito pequenos). Ela via e lá fazia a sua cruz. Eu verificava se tinha votado em quem queria (com base no voto feito em casa) e depois íamos depositar o voto na urna. Este ritual durava, muitas vezes, mais de duas horas.Desde que tenho 18 anos (agora tenho 32), que sempre fui levar a minha avó a votar. Este ano já não posso. A minha avó votou pela última vez aos 90 anos. As minhas eleições vão ser mais pobres. Não se esqueçam. "É importante votar".Decisão tomada neste preciso momento: Domingo, vou votar com o meu filho."Nota: tinha-me esquecido: um abraço ao João Morgado Fernandes.

Não tenho o mau hábito de republicar aquilo que já escrevi. Hoje abro uma excepção, uma vez que quem tenha lido o DN pode ficar com a impressão que eu não me interesso pelas presidenciais, em particular, ou pela política, em geral. O João Morgado Fernandes, que escreve aquele espaço dedicado aos blogues no DN, foi totalmente fiel à minha citação, mas porventura terá escolhido um post que revelava mais o meu cansaço com a campanha e seus previsíveis resultados do que os meus sentimentos em relação à política e aos políticos. Porque estes estão muito melhor descritos no post que escrevi na Loja dos 300, em vésperas das eleições autárquicas. Este:"Votar para mim é uma cerimónia espiritual. E gosto de votar logo pela manhã. Se for o primeiro da secção de voto, melhor ainda. Também tive o privilégio de durante anos ajudar a minha avó a votar. Ia buscá-la ao lar. Comigo levava um boletim de voto feito em casa com todos os partidos que concorriam às eleições. Tirava todas as informações do site da CNE. Depois ela fazia a cruz e eu ficava a saber em quem ela queria votar.Depois (muitas pessoas desconhecem que os mais incapacitados fisicamente podem votar), levava-a ao centro de saúde de serviço, onde uma médica a entrevistava para aferir se ela tinha capacidade de voto. Ela, a médica, perguntava sempre à minha avó (que mal andava e ouvia muito mal) porque é que ela queria votar. A minha avó respondia sempre da mesma maneira: "Porque é importante votar".E depois vinham outras perguntas. Como é que se chama? "Isabella". Sabe ler? "Leio o Público e o DN todos os dias". Quantos filhos tem? Uma vez disse o nome dos filhos todos (sem se esquecer dos dois que morreram à nascença) e dos muitos netos. Também já se preparava para dizer que netos é que correspondiam a cada filho e até o nome das noras.A médica passava o atestado e lá nos encaminhávamos para a mesa de voto. Ela entregava o atestado e davam~lhe o boletim. Ela chegava-se ao local do voto muito agarrada a mim e eu passava-lhe uma lupa (atenção que os símbolos são muito pequenos). Ela via e lá fazia a sua cruz. Eu verificava se tinha votado em quem queria (com base no voto feito em casa) e depois íamos depositar o voto na urna. Este ritual durava, muitas vezes, mais de duas horas.Desde que tenho 18 anos (agora tenho 32), que sempre fui levar a minha avó a votar. Este ano já não posso. A minha avó votou pela última vez aos 90 anos. As minhas eleições vão ser mais pobres. Não se esqueçam. "É importante votar".Decisão tomada neste preciso momento: Domingo, vou votar com o meu filho."Nota: tinha-me esquecido: um abraço ao João Morgado Fernandes.

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