Da Literatura: LER OS OUTROS

23-12-2009
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Um livro cada domingo. No final de 2006, Alberto Costa, ministro da Justiça, encomendou ao historiador Fernando Rosas «uma investigação académica sistemática sobre os tribunais políticos especiais que existiram em Portugal entre 1926 e 1974, ou seja, durante o período da Ditadura Militar e, depois, ao longo do Estado Novo.» Fernando Rosas desenvolveu o trabalho no âmbito do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, coordenando uma equipa constituída por Irene Flunser Pimentel, João Madeira, Luís Farinha e Maria Inácia Rezola. Tribunais Políticos é o resultado do seu trabalho. Além de vários fac-símiles, o volume, com 663 páginas, inclui a lista dos presos políticos processados pelo Tribunal Militar Especial entre 1933 e 1945 (264 pp), a lista de réus julgados nos tribunais plenários entre 1945 e 1974 (105 pp), bem como a dos advogados escolhidos por estes réus. Em suma, uma obra de consulta obrigatória para quem se interesse por história contemporânea ou, simplesmente, por quem queira perceber o país que ainda somos. Mas era dispensável publicar como prefácio um discurso do ministro da Justiça proferido no ano passado. A introdução de Fernando Rosas chega e sobra.Ana Bela Almeida: «Ninguém lhe chama “um espaço”. Ninguém lhe chama “um conceito”. Não é multimédia. Não vende café. Não funciona como sala de concertos. Não é um projecto inovador. Não vende pins nem postais. Não é o último grito da vanguarda. Não é uma galeria. Não vende cd’s. É só uma livraria.»O Jansenista: «[...] a) Quem é que lhe terá financiado as campanhas eleitorais em que andou metido todos estes anos — já que, aparentemente, não foi nenhum “empresário submisso”… / b) A que instituição bancária, repleta de “empresários submissos”, terá ele andado associado, no hiato que medeia entre a saída de São Bento e o ingresso em Belém…»Pedro Vieira: «se por estes dias é obrigatório fazer um post com os xutos ao menos que se use uma canção decente.»Tomás Vasques: «Há sinais cada vez mais claros de que Cavaco Silva está a caminhar cauteloso, mas com um rumo determinado; no percurso, vai deixando marcas para Manuela Ferreira Leite o seguir sem se perder. A estratégia está bem pensada e poderia resultar, dadas as circunstâncias. Mas, por estranho que pareça, os telejornais da TVI, às sextas-feiras, são uma contrariedade: somos um povo de brandos costumes; a obsessão doentia não compensa. Antes pelo contrário.»Vieira do Mar: «Não sei como vai o caso freeport, nem o casa pia, nem o apito dourado, nem que desmandos andam por aí a fazer, os principais representantes dos nossos orgãos de soberania e afins, deixei de ver telejornais nacionais. A mediocridade intelectual das nossas classes política e judiciária, compostas essencialmente por bimbos orgulhosos da sua infância de plantadores de couves, que trazem ainda incorporado o chip do temor reverencial ao senhor da terra (hoje em dia, um bimbo-mor qualquer apenas um bocadinho mais acima na cadeia alimentar), faz com que já nada do que possam dizer ou fazer me espante, tanto de um lado como do outro. Perdi completamente a paciência para declarações, contra-declarações e declarações contrárias às contra-declarações, todas vazias de significado. Na prática, cada corporação, priorado, associação, assembleia, concelho ou puro e simples grupo de malfeitores, continua a fazer aquilo que muito bem entende, sem qualquer sentido de Estado, nas tintas para as pessoas e para a justiça com jota grande. Parecem todos umas sopeiras armadas em finas, umas elizas doolittle na fase intermédia de aprendizagem, quando ainda se nota o sotaque das berças e a mão lhes foge para a anca mas, com esforço, lá evitam a gritaria. Não há pior do que estas meias tintas institucionais em que o país vive, feitas de insinuações, de dizquedisses, suspeitas, bocas, mentideros e desmentidos. E a comunicação social, de uma domesticidade confrangedora, a chafurdar nos seus próprios objectivos, imediatos e comezinhos, não ajuda; antes, contribui para o nojo e o tédio de quem a ouve e lê. Faz falta quem pegue fogo a este circo.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

Um livro cada domingo. No final de 2006, Alberto Costa, ministro da Justiça, encomendou ao historiador Fernando Rosas «uma investigação académica sistemática sobre os tribunais políticos especiais que existiram em Portugal entre 1926 e 1974, ou seja, durante o período da Ditadura Militar e, depois, ao longo do Estado Novo.» Fernando Rosas desenvolveu o trabalho no âmbito do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, coordenando uma equipa constituída por Irene Flunser Pimentel, João Madeira, Luís Farinha e Maria Inácia Rezola. Tribunais Políticos é o resultado do seu trabalho. Além de vários fac-símiles, o volume, com 663 páginas, inclui a lista dos presos políticos processados pelo Tribunal Militar Especial entre 1933 e 1945 (264 pp), a lista de réus julgados nos tribunais plenários entre 1945 e 1974 (105 pp), bem como a dos advogados escolhidos por estes réus. Em suma, uma obra de consulta obrigatória para quem se interesse por história contemporânea ou, simplesmente, por quem queira perceber o país que ainda somos. Mas era dispensável publicar como prefácio um discurso do ministro da Justiça proferido no ano passado. A introdução de Fernando Rosas chega e sobra.Ana Bela Almeida: «Ninguém lhe chama “um espaço”. Ninguém lhe chama “um conceito”. Não é multimédia. Não vende café. Não funciona como sala de concertos. Não é um projecto inovador. Não vende pins nem postais. Não é o último grito da vanguarda. Não é uma galeria. Não vende cd’s. É só uma livraria.»O Jansenista: «[...] a) Quem é que lhe terá financiado as campanhas eleitorais em que andou metido todos estes anos — já que, aparentemente, não foi nenhum “empresário submisso”… / b) A que instituição bancária, repleta de “empresários submissos”, terá ele andado associado, no hiato que medeia entre a saída de São Bento e o ingresso em Belém…»Pedro Vieira: «se por estes dias é obrigatório fazer um post com os xutos ao menos que se use uma canção decente.»Tomás Vasques: «Há sinais cada vez mais claros de que Cavaco Silva está a caminhar cauteloso, mas com um rumo determinado; no percurso, vai deixando marcas para Manuela Ferreira Leite o seguir sem se perder. A estratégia está bem pensada e poderia resultar, dadas as circunstâncias. Mas, por estranho que pareça, os telejornais da TVI, às sextas-feiras, são uma contrariedade: somos um povo de brandos costumes; a obsessão doentia não compensa. Antes pelo contrário.»Vieira do Mar: «Não sei como vai o caso freeport, nem o casa pia, nem o apito dourado, nem que desmandos andam por aí a fazer, os principais representantes dos nossos orgãos de soberania e afins, deixei de ver telejornais nacionais. A mediocridade intelectual das nossas classes política e judiciária, compostas essencialmente por bimbos orgulhosos da sua infância de plantadores de couves, que trazem ainda incorporado o chip do temor reverencial ao senhor da terra (hoje em dia, um bimbo-mor qualquer apenas um bocadinho mais acima na cadeia alimentar), faz com que já nada do que possam dizer ou fazer me espante, tanto de um lado como do outro. Perdi completamente a paciência para declarações, contra-declarações e declarações contrárias às contra-declarações, todas vazias de significado. Na prática, cada corporação, priorado, associação, assembleia, concelho ou puro e simples grupo de malfeitores, continua a fazer aquilo que muito bem entende, sem qualquer sentido de Estado, nas tintas para as pessoas e para a justiça com jota grande. Parecem todos umas sopeiras armadas em finas, umas elizas doolittle na fase intermédia de aprendizagem, quando ainda se nota o sotaque das berças e a mão lhes foge para a anca mas, com esforço, lá evitam a gritaria. Não há pior do que estas meias tintas institucionais em que o país vive, feitas de insinuações, de dizquedisses, suspeitas, bocas, mentideros e desmentidos. E a comunicação social, de uma domesticidade confrangedora, a chafurdar nos seus próprios objectivos, imediatos e comezinhos, não ajuda; antes, contribui para o nojo e o tédio de quem a ouve e lê. Faz falta quem pegue fogo a este circo.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

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