Oh! Romeu, Romeu! Mas porque és tu Romeu?

09-11-2013
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Talvez tenha sido um dos maiores feitos de Shakespeare. Ter criado personagens que ganharam vida para lá das peças, dos palcos, dos ecrãs.

É o caso de Julieta.

Ao redor de uma casa no centro histórico de Verona, onde se encontra a varanda que recebeu a distinção de ser apontada como o cenário de uma das cenas mais famosas da obra, nem todos parecem ter consciência de que a rapariga não passou de uma criação literária. É um bom exemplo de como a realidade se inspirou na ficção. A semelhança do nome Capuletto com o dos proprietários daquela residência, a poderosa família Dal Cappello, levou a que a cidade baptizasse o espaço de Casa de Julieta que hoje é local de romaria.

Há quem procure o espaço encantado pelo heroísmo romântico da rapariga, quem tire fotos e até quem escreva cartas à própria da Julieta, depositando as missivas numa vermelha caixa postal.

Mas, verdadeiramente bizarra é a ideia de que apalpando os seios da estátua da personagem se terá sorte na vida e ao amor. E pedir sorte ao amor a Julieta, provavelmente a mais azarada das personagens neste capítulo, é, no mínimo, um contra-senso (além de que quem inventou que se deveria esfregar as mamas à senhora se pudesse ver hoje tanta gente agarrada às ditas daria umas valentes gargalhadas).

Mas em Verona a racionalidade fica à porta. Assim como o cinismo. Aqui, ainda se escrevem cartas de amor e desenham-se corações sem qualquer pudor. E as mulheres penduram-se na varanda, talvez na esperança de que da multidão brote o seu Romeu. Já nas paredes do túnel, pelo qual se acede ao pátio da mágica varanda, as uniões envoltas em perfeitos corações sobrepõem-se de tal maneira que em certos sítios já só se vê um imenso borrão.

Há ainda a parede das pastilhas elásticas, nascida da necessidade de colar os recados com alguma coisa, mas que entretanto já assume outras formas: há pastilhas moldadas em forma de coração e outras com um coração desenhado. E quem acha que uma pastilha elástica mascada pode ser algo romântico só pode estar perdidamente apaixonado. É que, já se sabe, a paixão pode ser a mãe de todas as tolices.

E quem não é romântico? É ir à mesma. Porque em Verona, calcorreando entre edifícios carregados de história e sempre muito floridos, vale a pena fazer um esforço e deixarmo-nos contagiar por tantos coraçõezinhos.

O Romeo, Romeo! wherefore art thou Romeo?

Deny thy father and refuse thy name;

Or, if thou wilt not, be but sworn my love,

And I’ll no longer be a Capulet.

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A Fugas viajou a convite da Skoda

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Talvez tenha sido um dos maiores feitos de Shakespeare. Ter criado personagens que ganharam vida para lá das peças, dos palcos, dos ecrãs.

É o caso de Julieta.

Ao redor de uma casa no centro histórico de Verona, onde se encontra a varanda que recebeu a distinção de ser apontada como o cenário de uma das cenas mais famosas da obra, nem todos parecem ter consciência de que a rapariga não passou de uma criação literária. É um bom exemplo de como a realidade se inspirou na ficção. A semelhança do nome Capuletto com o dos proprietários daquela residência, a poderosa família Dal Cappello, levou a que a cidade baptizasse o espaço de Casa de Julieta que hoje é local de romaria.

Há quem procure o espaço encantado pelo heroísmo romântico da rapariga, quem tire fotos e até quem escreva cartas à própria da Julieta, depositando as missivas numa vermelha caixa postal.

Mas, verdadeiramente bizarra é a ideia de que apalpando os seios da estátua da personagem se terá sorte na vida e ao amor. E pedir sorte ao amor a Julieta, provavelmente a mais azarada das personagens neste capítulo, é, no mínimo, um contra-senso (além de que quem inventou que se deveria esfregar as mamas à senhora se pudesse ver hoje tanta gente agarrada às ditas daria umas valentes gargalhadas).

Mas em Verona a racionalidade fica à porta. Assim como o cinismo. Aqui, ainda se escrevem cartas de amor e desenham-se corações sem qualquer pudor. E as mulheres penduram-se na varanda, talvez na esperança de que da multidão brote o seu Romeu. Já nas paredes do túnel, pelo qual se acede ao pátio da mágica varanda, as uniões envoltas em perfeitos corações sobrepõem-se de tal maneira que em certos sítios já só se vê um imenso borrão.

Há ainda a parede das pastilhas elásticas, nascida da necessidade de colar os recados com alguma coisa, mas que entretanto já assume outras formas: há pastilhas moldadas em forma de coração e outras com um coração desenhado. E quem acha que uma pastilha elástica mascada pode ser algo romântico só pode estar perdidamente apaixonado. É que, já se sabe, a paixão pode ser a mãe de todas as tolices.

E quem não é romântico? É ir à mesma. Porque em Verona, calcorreando entre edifícios carregados de história e sempre muito floridos, vale a pena fazer um esforço e deixarmo-nos contagiar por tantos coraçõezinhos.

O Romeo, Romeo! wherefore art thou Romeo?

Deny thy father and refuse thy name;

Or, if thou wilt not, be but sworn my love,

And I’ll no longer be a Capulet.

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A Fugas viajou a convite da Skoda

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