o tempo das cerejas*: Outras vozes, o mesmo debate

21-05-2011
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Em alguns blogues, reavivou-se recentemente o mesmo debate - sobre o carácter fascista ou não do regime derrubado em 25 de Abril de 1974 - que travei no Verão passado, nas páginas do Público, com Vasco Pulido Valente (e em que as minhas opiniões essenciais foram expressas em dois artigos, consultáveis aqui e aqui). Mais recentemente, tudo terá começado com textos (6 e 11.3.2007) , dotados de alguma elaboração, mas, a meu ver, profundamente erróneos de Tiago Barbosa Ribeiro no «Kontratempos» que tentava demonstrar a incorrecção da qualificação de fascista do regime de Salazar e Caetano mas que, entre outras, recebeu na respectiva caixa de comentários uma devastadora resposta ponto por ponto de João Aguiar que merece ser lida.Nas variadas derivações deste debate aparecem posições de todo o tipo em que se incluem, por exemplo, as de João Tunes («Águalisa6») que, rejeitando correctamente o «revisionismo histórico» que pretende negar a natureza fascista do regime instaurado a partir de 1926 (e, mais precisamente, da sua institucionalização em 1933), se dedica simultaneamente a debitar inacreditáveis aleivosias e calúnias sobre o PCP.A tal ponto que acaba de escrever - e não me importo nada de divulgar esta estúpida catilinária - que os comunistas «não lutaram contra o fascismo na defesa daquilo que o fascismo mais negava (as liberdades, a democracia, o parlamentarismo, a república, os direitos humanos, o liberalismo económico) mas sim pela sua substituição pela revolução marxista, pela ditadura do proletariado, por um outro totalitarismo a evoluir de um Estado de Partido Único para um Estado Policial. Como o têm feito, continuando a fazê-lo, em pleno regime democrático e em que o PS tomou o lugar de “inimigo nº 1” antes ocupado por Salazar e Caetano.Uma tão dementada tirada talvez só merecesse desprezo, mas nos tempos que correm, é mais prudente explicitar que ela faz tábua rasa não apenas de todas as principais orientações programáticas do PCP durante a ditadura fascista como principalmente da sua acção e intervenção quotidiana nas mais diversas esferas da vida nacional. O envinagrado João Tunes - que no seu blogue praticamente não escreve uma linha contra a política do governo PS - parece nem saber que os sectores mais tradicionais e recuados da oposição antifascista não poucas vezes criticavam o PCP por gastar tantos esforços e energias nas lutas concretas dos trabalhadores para obterem melhores salários, alegando que isso em nada contribuia para o combate ao regime e para a conquista da vitória sobre ele.Felizmente que na blogosfera se destacam também análises sérias, rigorosas e cultas de que é manifestamente exemplo o texto de António Figueira no «5dias» em que, com lucidez e assinalável coragem política, evoca antecedentes da II Guerra Mundial cujo conhecimento faz manifestamente falta a todos os verdadeiros e falsos distraídos que ainda não se deram conta que os Acordos de Munique* (de cedência da França e da Inglaterra à Alemanha Nazi) foram celebrados em Setembro de 1938 e que a invasão da Checoslováquia pela Alemanha ocorreu em Março de 1939, sendo portanto anteriores ao pacto de não-agressão entre a União Soviética e a Alemanha assinado em Agosto de 1939.*Na foto à direita, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, Neville Chamberlain, no regresso a Londres vindo de Munique e agitando o papel que, segundo ele, garantia a paz.


Em alguns blogues, reavivou-se recentemente o mesmo debate - sobre o carácter fascista ou não do regime derrubado em 25 de Abril de 1974 - que travei no Verão passado, nas páginas do Público, com Vasco Pulido Valente (e em que as minhas opiniões essenciais foram expressas em dois artigos, consultáveis aqui e aqui). Mais recentemente, tudo terá começado com textos (6 e 11.3.2007) , dotados de alguma elaboração, mas, a meu ver, profundamente erróneos de Tiago Barbosa Ribeiro no «Kontratempos» que tentava demonstrar a incorrecção da qualificação de fascista do regime de Salazar e Caetano mas que, entre outras, recebeu na respectiva caixa de comentários uma devastadora resposta ponto por ponto de João Aguiar que merece ser lida.Nas variadas derivações deste debate aparecem posições de todo o tipo em que se incluem, por exemplo, as de João Tunes («Águalisa6») que, rejeitando correctamente o «revisionismo histórico» que pretende negar a natureza fascista do regime instaurado a partir de 1926 (e, mais precisamente, da sua institucionalização em 1933), se dedica simultaneamente a debitar inacreditáveis aleivosias e calúnias sobre o PCP.A tal ponto que acaba de escrever - e não me importo nada de divulgar esta estúpida catilinária - que os comunistas «não lutaram contra o fascismo na defesa daquilo que o fascismo mais negava (as liberdades, a democracia, o parlamentarismo, a república, os direitos humanos, o liberalismo económico) mas sim pela sua substituição pela revolução marxista, pela ditadura do proletariado, por um outro totalitarismo a evoluir de um Estado de Partido Único para um Estado Policial. Como o têm feito, continuando a fazê-lo, em pleno regime democrático e em que o PS tomou o lugar de “inimigo nº 1” antes ocupado por Salazar e Caetano.Uma tão dementada tirada talvez só merecesse desprezo, mas nos tempos que correm, é mais prudente explicitar que ela faz tábua rasa não apenas de todas as principais orientações programáticas do PCP durante a ditadura fascista como principalmente da sua acção e intervenção quotidiana nas mais diversas esferas da vida nacional. O envinagrado João Tunes - que no seu blogue praticamente não escreve uma linha contra a política do governo PS - parece nem saber que os sectores mais tradicionais e recuados da oposição antifascista não poucas vezes criticavam o PCP por gastar tantos esforços e energias nas lutas concretas dos trabalhadores para obterem melhores salários, alegando que isso em nada contribuia para o combate ao regime e para a conquista da vitória sobre ele.Felizmente que na blogosfera se destacam também análises sérias, rigorosas e cultas de que é manifestamente exemplo o texto de António Figueira no «5dias» em que, com lucidez e assinalável coragem política, evoca antecedentes da II Guerra Mundial cujo conhecimento faz manifestamente falta a todos os verdadeiros e falsos distraídos que ainda não se deram conta que os Acordos de Munique* (de cedência da França e da Inglaterra à Alemanha Nazi) foram celebrados em Setembro de 1938 e que a invasão da Checoslováquia pela Alemanha ocorreu em Março de 1939, sendo portanto anteriores ao pacto de não-agressão entre a União Soviética e a Alemanha assinado em Agosto de 1939.*Na foto à direita, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, Neville Chamberlain, no regresso a Londres vindo de Munique e agitando o papel que, segundo ele, garantia a paz.

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