O Cachimbo de Magritte: 2009 cá dentro (I)

30-05-2010
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Por cá, 2009 foi ano de eleições europeias, legislativas e autárquicas.As europeias deram a vitória ao PSD e mostraram o carisma de Paulo Rangel em campanha, decididamente um nome a ter em conta no pós-ferreiraleitismo. O PSD parecia bem lançado para atacar Setembro, mas Sócrates, apesar de perder a maioria absoluta (a primeira do PS), conseguiu manter-se no Governo. E com consequências. A diferença entre o "animal feroz", antes de Setembro, e o Sócrates do "diálogo", depois, é a diferença entre Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada. A qual, note-se, alcançou em meia dúzia de semanas o famoso acordo com os professores que a antecessora perseguiu durante toda a legislatura. Este Governo vem preparado para negociar a sobrevivência. Por enquanto, ao menos. Sócrates não é Guterres - e nem mesmo Guterres aguentou o pântano muito tempo. Ou seja, a real perda de popularidade de Sócrates influenciou o resultado do PS, mas não beneficiou o resultado do PSD. Porquê? Já dei a minha resposta aqui, e não retiro nem acrescento nada. Vale a pena, no entanto, lembrar certos factos que entretanto se tornaram mais claros.Todos sabíamos que as legislativas seriam um plebiscito ao passado e ao carácter de Sócrates, mais do que ao seu presente e à sua governação. Não foi o PSD o primeiro a dizê-lo: foi Sócrates, quando falou nas "campanhas negras" do Freeport e quejandas ou na "perseguição" do Público e da TVI. A partir de então, qualquer escrutínio ao manifesto azar do Primeiro-Ministro com família e amigos, que insistem malevolamente em arrastá-lo pela lama de histórias muito mal contadinhas, benza-as Deus, passou a ser uma questão pessoal. O PSD, ao apelar a uma "política de verdade", limitou-se a cavalgar a onda. (Onda, diga-se de passagem, que já tinha sido cavalgada pifiamente quando Santana Lopes celebrizou os "colos" de Sócrates e Agostinho Branquinho os motivos pelos quais Fernanda Câncio não poderia ter um programa na RTP2.)Só que Manuela Ferreira Leite cometeu um erro fatal: não se pode exigir uma "política de verdade" - ao mesmo tempo que se convida António Preto e Helena Lopes da Costa para deputados. Não se pode denunciar a "asfixia democrática" - ao mesmo tempo que se vai à Madeira elogiar Jardim. Perde-se toda a autoridade. Se juntarmos a isto o golpe cirúrgico de Cavaco, que demitiu Fernando Lima um dia depois de Manuela Ferrreira Leite se ter insurgido contra as escutas a Belém e uma semana antes da ida às urnas, o resultado torna-se mais compreensível.Acresce que o PSD não perdeu apenas por uma má campanha: perdeu também porque não soube dizer ao que vinha. Um programa não se pode resumir ao TGV. E esta evidência, como tentarei dizer num próximo post, é muito mais importante para o futuro do partido do que as últimas eleições. (cont.)


Por cá, 2009 foi ano de eleições europeias, legislativas e autárquicas.As europeias deram a vitória ao PSD e mostraram o carisma de Paulo Rangel em campanha, decididamente um nome a ter em conta no pós-ferreiraleitismo. O PSD parecia bem lançado para atacar Setembro, mas Sócrates, apesar de perder a maioria absoluta (a primeira do PS), conseguiu manter-se no Governo. E com consequências. A diferença entre o "animal feroz", antes de Setembro, e o Sócrates do "diálogo", depois, é a diferença entre Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada. A qual, note-se, alcançou em meia dúzia de semanas o famoso acordo com os professores que a antecessora perseguiu durante toda a legislatura. Este Governo vem preparado para negociar a sobrevivência. Por enquanto, ao menos. Sócrates não é Guterres - e nem mesmo Guterres aguentou o pântano muito tempo. Ou seja, a real perda de popularidade de Sócrates influenciou o resultado do PS, mas não beneficiou o resultado do PSD. Porquê? Já dei a minha resposta aqui, e não retiro nem acrescento nada. Vale a pena, no entanto, lembrar certos factos que entretanto se tornaram mais claros.Todos sabíamos que as legislativas seriam um plebiscito ao passado e ao carácter de Sócrates, mais do que ao seu presente e à sua governação. Não foi o PSD o primeiro a dizê-lo: foi Sócrates, quando falou nas "campanhas negras" do Freeport e quejandas ou na "perseguição" do Público e da TVI. A partir de então, qualquer escrutínio ao manifesto azar do Primeiro-Ministro com família e amigos, que insistem malevolamente em arrastá-lo pela lama de histórias muito mal contadinhas, benza-as Deus, passou a ser uma questão pessoal. O PSD, ao apelar a uma "política de verdade", limitou-se a cavalgar a onda. (Onda, diga-se de passagem, que já tinha sido cavalgada pifiamente quando Santana Lopes celebrizou os "colos" de Sócrates e Agostinho Branquinho os motivos pelos quais Fernanda Câncio não poderia ter um programa na RTP2.)Só que Manuela Ferreira Leite cometeu um erro fatal: não se pode exigir uma "política de verdade" - ao mesmo tempo que se convida António Preto e Helena Lopes da Costa para deputados. Não se pode denunciar a "asfixia democrática" - ao mesmo tempo que se vai à Madeira elogiar Jardim. Perde-se toda a autoridade. Se juntarmos a isto o golpe cirúrgico de Cavaco, que demitiu Fernando Lima um dia depois de Manuela Ferrreira Leite se ter insurgido contra as escutas a Belém e uma semana antes da ida às urnas, o resultado torna-se mais compreensível.Acresce que o PSD não perdeu apenas por uma má campanha: perdeu também porque não soube dizer ao que vinha. Um programa não se pode resumir ao TGV. E esta evidência, como tentarei dizer num próximo post, é muito mais importante para o futuro do partido do que as últimas eleições. (cont.)

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