Medidas para cortar 15% aos custos operacionais do sector empresarial do Estado serão hoje esclarecidas numa reunião com as Finanças
As medidas de redução dos custos operacionais do sector empresarial do Estado (SEE) vão ser aplicadas com cautela e caso a caso, já avisou o primeiro-ministro. Mas se o abate de 15 por cento nestas despesas fosse aplicado directamente a algumas das principais empresas de infra-estruturas e transportes e também à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Estado conseguiria desde logo poupar quase 1000 milhões de euros, tendo em conta os resultados mais recentes (2009).
Em causa estão várias medidas incluídas na proposta do Orçamento do Estado para 2011 - como a descida salarial aos trabalhadores que ganham mais do que 1550 euros mensais ou os cortes obrigatórios nos custos de novos contratos de prestação de serviços - que hoje o secretário de Estado do Tesouro vai explicar aos representantes das empresas do SEE.
As poupanças daí resultantes não deverão reflectir-se directamente nas contas do Estado, a não ser na redução de necessidades de esforço financeiro ou num aumento de dividendos do Estado enquanto accionista. Algumas administrações pretendem todavia ficar fora deste apertar do cinto.
Mas para já, se os cortes de 15 por cento avançarem de forma generalizada, a TAP vai ser a que mais contribuirá para as poupanças. Em 2009, o grupo registou custos e despesas totais de exploração na ordem de 2,1 mil milhões de euros, incluindo depreciações, amortizações e perdas por imparidade. A maior parte da factura recaiu sobre os gastos com materiais e serviços (40 por cento), seguindo-se o quadro de pessoal (23,6 por cento) e o combustível (16,8 por cento).
Retirando os 15 por cento propostos pelo Governo, gera-se uma poupança de 319,8 milhões de euros - a maior de entre as dez empresas analisadas. A TAP preferiu não fazer comentários a estas estimativas, nem tão-pouco esclarecer se está a tentar ser excluída do plano de redução de custos ou ter um patamar de cortes inferior ao previsto. No entanto, o PÚBLICO sabe que o grupo liderado por Fernando Pinto está a tentar negociar um regime de excepção.
Este deverá ser também o caso da RTP. Para além dos quatro milhões de euros de cortes nos salários, decorrentes do Orçamento do Estado, a administração prevê reduzir em 2011 os gastos totais com pessoal em seis milhões, para 100 milhões de euros. A mesma barreira é colocada para a despesa com a grelha de programas, que foi em 2009 de 107,5 milhões. Um corte de 15 por cento nos custos operacionais iria traduzir-se numa poupança total de 44,2 milhões de euros.
O presidente recusa, porém, "cortes indiscriminados que podem ser o princípio de um ciclo vicioso": demasiada redução do orçamento leva a corte de programas, diminuindo as audiências e as receitas publicitárias. Mais: Guilherme Costa diz que "não se pode exigir à RTP, que faz ajustamentos desde 2003 e fez um ajustamento violento em 2010, a mesma percentagem [de esforço e contenção] que a outros organismos da administração pública, que os não fizeram".
A CGD, parte das participações financeiras do SEE, é a segunda empresa que mais poderá contribuir para a diminuição de gastos: o banco daria ao Estado 159,5 milhões em poupanças, aplicando um corte de 15 por cento. Mas a instituição financeira diz apenas que "ainda é cedo para falar sobre esta matéria".
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Também a Águas de Portugal (AdP), que geraria uma poupança de 122,8 milhões de euros, não quis revelar se está a negociar um tecto próprio de redução de despesas. "Não estando ainda aprovadas metas, não faz sentido negociar o que quer que seja", afirmou fonte oficial. Mas frisou que, a serem aprovados estes cortes, "está fora de causa a degradação da qualidade de serviço".
As restantes empresas também optam para já pelo silêncio. A CP, que suspendeu a compra de novo material circulante para não aumentar a dívida aos bancos - poderia poupar quase 64 milhões de euros -, esclarece apenas que "procurará garantir por todos os meios ao seu alcance que a qualidade de serviço não seja afectada pela necessária contenção orçamental". Na Refer, a redução seria de 33,7 milhões de euros aos custos de operação, enquanto a Carris pouparia 22,7 milhões. Já os CTT teriam poupanças de 117,1 milhões de euros.
A gestora aeroportuária ANA, responsável por custos operacionais de 114,8 milhões de euros em 2009, ficaria nos 97,6 milhões se o corte de 15 por cento lhe fosse aplicado, com a segunda menor poupança entre as dez empresas analisadas. Em último nos custos operacionais fica a Estradas de Portugal, que iria poupar 16,7 milhões. Entre 2008 e 2009, a empresa cortou 19 por cento nessas despesas. com Maria Lopes
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Medidas para cortar 15% aos custos operacionais do sector empresarial do Estado serão hoje esclarecidas numa reunião com as Finanças
As medidas de redução dos custos operacionais do sector empresarial do Estado (SEE) vão ser aplicadas com cautela e caso a caso, já avisou o primeiro-ministro. Mas se o abate de 15 por cento nestas despesas fosse aplicado directamente a algumas das principais empresas de infra-estruturas e transportes e também à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Estado conseguiria desde logo poupar quase 1000 milhões de euros, tendo em conta os resultados mais recentes (2009).
Em causa estão várias medidas incluídas na proposta do Orçamento do Estado para 2011 - como a descida salarial aos trabalhadores que ganham mais do que 1550 euros mensais ou os cortes obrigatórios nos custos de novos contratos de prestação de serviços - que hoje o secretário de Estado do Tesouro vai explicar aos representantes das empresas do SEE.
As poupanças daí resultantes não deverão reflectir-se directamente nas contas do Estado, a não ser na redução de necessidades de esforço financeiro ou num aumento de dividendos do Estado enquanto accionista. Algumas administrações pretendem todavia ficar fora deste apertar do cinto.
Mas para já, se os cortes de 15 por cento avançarem de forma generalizada, a TAP vai ser a que mais contribuirá para as poupanças. Em 2009, o grupo registou custos e despesas totais de exploração na ordem de 2,1 mil milhões de euros, incluindo depreciações, amortizações e perdas por imparidade. A maior parte da factura recaiu sobre os gastos com materiais e serviços (40 por cento), seguindo-se o quadro de pessoal (23,6 por cento) e o combustível (16,8 por cento).
Retirando os 15 por cento propostos pelo Governo, gera-se uma poupança de 319,8 milhões de euros - a maior de entre as dez empresas analisadas. A TAP preferiu não fazer comentários a estas estimativas, nem tão-pouco esclarecer se está a tentar ser excluída do plano de redução de custos ou ter um patamar de cortes inferior ao previsto. No entanto, o PÚBLICO sabe que o grupo liderado por Fernando Pinto está a tentar negociar um regime de excepção.
Este deverá ser também o caso da RTP. Para além dos quatro milhões de euros de cortes nos salários, decorrentes do Orçamento do Estado, a administração prevê reduzir em 2011 os gastos totais com pessoal em seis milhões, para 100 milhões de euros. A mesma barreira é colocada para a despesa com a grelha de programas, que foi em 2009 de 107,5 milhões. Um corte de 15 por cento nos custos operacionais iria traduzir-se numa poupança total de 44,2 milhões de euros.
O presidente recusa, porém, "cortes indiscriminados que podem ser o princípio de um ciclo vicioso": demasiada redução do orçamento leva a corte de programas, diminuindo as audiências e as receitas publicitárias. Mais: Guilherme Costa diz que "não se pode exigir à RTP, que faz ajustamentos desde 2003 e fez um ajustamento violento em 2010, a mesma percentagem [de esforço e contenção] que a outros organismos da administração pública, que os não fizeram".
A CGD, parte das participações financeiras do SEE, é a segunda empresa que mais poderá contribuir para a diminuição de gastos: o banco daria ao Estado 159,5 milhões em poupanças, aplicando um corte de 15 por cento. Mas a instituição financeira diz apenas que "ainda é cedo para falar sobre esta matéria".
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Também a Águas de Portugal (AdP), que geraria uma poupança de 122,8 milhões de euros, não quis revelar se está a negociar um tecto próprio de redução de despesas. "Não estando ainda aprovadas metas, não faz sentido negociar o que quer que seja", afirmou fonte oficial. Mas frisou que, a serem aprovados estes cortes, "está fora de causa a degradação da qualidade de serviço".
As restantes empresas também optam para já pelo silêncio. A CP, que suspendeu a compra de novo material circulante para não aumentar a dívida aos bancos - poderia poupar quase 64 milhões de euros -, esclarece apenas que "procurará garantir por todos os meios ao seu alcance que a qualidade de serviço não seja afectada pela necessária contenção orçamental". Na Refer, a redução seria de 33,7 milhões de euros aos custos de operação, enquanto a Carris pouparia 22,7 milhões. Já os CTT teriam poupanças de 117,1 milhões de euros.
A gestora aeroportuária ANA, responsável por custos operacionais de 114,8 milhões de euros em 2009, ficaria nos 97,6 milhões se o corte de 15 por cento lhe fosse aplicado, com a segunda menor poupança entre as dez empresas analisadas. Em último nos custos operacionais fica a Estradas de Portugal, que iria poupar 16,7 milhões. Entre 2008 e 2009, a empresa cortou 19 por cento nessas despesas. com Maria Lopes