O estabelecimento em causa foi gerido pela Junta de Freguesia de Massarelos no ano lectivo 2009-2010. O seu presidente, José Carlos Gonçalves, não vê qualquer problema no sucedido
As cerca de 80 crianças do Jardim- de-Infância (JI) Barbosa du Bocage, no Porto, comeram alimentos provenientes do Banco Alimentar (BA) Contra a Fome - nomeadamente arroz, massa e sobremesas lácteas -, durante o ano lectivo de 2009-2010. Nesse período, o JI Barbosa du Bocage foi gerido pela Junta de Freguesia de Massarelos ao nível de logística, pessoal não docente, manutenção, instalações, limpeza e alimentação. Mas, devido a escassez de meios financeiros e humanos, a junta de freguesia denunciou o protocolo que tinha com a Câmara do Porto, passando a gestão do JI para esta última desde o início de Setembro último e, actualmente, as refeições do estabelecimento já não contêm géneros fornecidos pelo BA.
Manuela Pinto, presidente da comissão administrativa provisória do Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique (ex-Gomes Teixeira), entidade gestora do JI a nível pedagógico, confirmou ao PÚBLICO o facto de as crianças terem comido alimentos fornecidos pelo BA no ano lectivo transacto. "Começaram a levantar-se suspeitas devido à alteração de ementas", recordou Manuela Pinto, que ficou mais preocupada quando tomou conhecimento de que as sobremesas, que deveriam ser constituídas por fruta, como defendem os nutricionistas, estavam a ser substituídas por produtos lácteos. "O que não convinha nada", observou a docente.
"Isto foi apresentado nas reuniões do conselho pedagógico e do conselho geral. As preocupações foram várias vezes apresentadas à junta de freguesia e aí encontrámos dificuldades de comunicação", salienta Manuela Pinto. A responsável do agrupamento que inclui o JI Barbosa du Bocage garante ainda que "os representantes dos encarregados de educação tinham pleno conhecimento da situação; isto está nas actas dos dois órgãos do agrupamento", e um dos elementos do conselho geral pertencia, simultaneamente, ao executivo da Junta de Freguesia de Massarelos.
Como noutros estabelecimentos do género, alguns pais de crianças que frequentam o JI Barbosa du Bocage têm de pagar as refeições. Consoante a declaração de IRS dos progenitores, as refeições são gratuitas, podem custar 73 cêntimos ou, num terceiro grupo, 1,46 euros.
Manuela Pinto salvaguarda que nunca houve razões para duvidar da qualidade dos alimentos provenientes do BA. "Os educadores consultavam os prazos de validade e nenhuma criança ficou doente." Actualmente, com a gestão não pedagógica entregue à Câmara do Porto, as refeições já não são confeccionadas por duas funcionárias, no JI, como acontecia no anterior ano lectivo, e Manuela Pinto elogia a qualidade da comida, fornecida por uma entidade externa. "São refeições equilibradas, feitas por nutricionistas." "De tudo o que tem a ver com a administração directa da câmara não temos nada a dizer", acrescenta a responsável.
Confrontado com o caso, o presidente da Junta de Freguesia de Massarelos, José Carlos Gonçalves, confirmou que as crianças do JI Barbosa du Bocage comeram alimentos oriundos do BA no ano lectivo 2009-2010. "Comiam, sim. Só não estou a entender é por que é que é um problema", comentou o autarca, que reconheceu a inclusão de "arroz, massas e sobremesas lácteas" nas refeições das crianças. Quando confrontado com a habitual substituição da fruta por sobremesas lácteas, José Carlos Gonçalves corrige, afirmando que "havia um acordo com os educadores: as sobremesas lácteas eram só uma vez por semana, o resto era fruta".
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Junta decide quem apoia
Até 31 de Agosto último, a Junta de Freguesia de Massarelos geriu quatro instituições - uma creche, um ATL, um centro de convívio e o JI Barbosa du Bocage -, o que lhe permitiu aceder às dádivas do BA. Entretanto, reconhece José Carlos Gonçalves, "tornou-se complicado gerir os quatro equipamentos sociais em termos de recursos humanos e financeiros" e, por essa razão, a junta transferiu a gestão do JI para a Câmara do Porto no último dia de Agosto.
Por seu turno, quando questionada sobre esta situação, a delegação do Porto do BA não colocou qualquer objecção a que os alimentos tenham sido distribuídos no JI. A Junta de Freguesia de Massarelos tem estatuto de instituição particular de solidariedade social (IPSS) e, por essa razão, teve direito aos produtos do BA. Em relação aos beneficiários a quem a comida é distribuída, Patrícia Correia, assistente social do BA Porto, salienta: "A junta é que decide." Esta responsável lembra que "há meninos cujos pais podem pagar a alimentação, mas há outros que não podem". Nesta altura, o BA Porto suspendeu a sua ajuda à Junta de Massarelos por falta de cumprimento de alguns formalismos por parte desta última, que Patrícia Correia não especificou.
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O estabelecimento em causa foi gerido pela Junta de Freguesia de Massarelos no ano lectivo 2009-2010. O seu presidente, José Carlos Gonçalves, não vê qualquer problema no sucedido
As cerca de 80 crianças do Jardim- de-Infância (JI) Barbosa du Bocage, no Porto, comeram alimentos provenientes do Banco Alimentar (BA) Contra a Fome - nomeadamente arroz, massa e sobremesas lácteas -, durante o ano lectivo de 2009-2010. Nesse período, o JI Barbosa du Bocage foi gerido pela Junta de Freguesia de Massarelos ao nível de logística, pessoal não docente, manutenção, instalações, limpeza e alimentação. Mas, devido a escassez de meios financeiros e humanos, a junta de freguesia denunciou o protocolo que tinha com a Câmara do Porto, passando a gestão do JI para esta última desde o início de Setembro último e, actualmente, as refeições do estabelecimento já não contêm géneros fornecidos pelo BA.
Manuela Pinto, presidente da comissão administrativa provisória do Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique (ex-Gomes Teixeira), entidade gestora do JI a nível pedagógico, confirmou ao PÚBLICO o facto de as crianças terem comido alimentos fornecidos pelo BA no ano lectivo transacto. "Começaram a levantar-se suspeitas devido à alteração de ementas", recordou Manuela Pinto, que ficou mais preocupada quando tomou conhecimento de que as sobremesas, que deveriam ser constituídas por fruta, como defendem os nutricionistas, estavam a ser substituídas por produtos lácteos. "O que não convinha nada", observou a docente.
"Isto foi apresentado nas reuniões do conselho pedagógico e do conselho geral. As preocupações foram várias vezes apresentadas à junta de freguesia e aí encontrámos dificuldades de comunicação", salienta Manuela Pinto. A responsável do agrupamento que inclui o JI Barbosa du Bocage garante ainda que "os representantes dos encarregados de educação tinham pleno conhecimento da situação; isto está nas actas dos dois órgãos do agrupamento", e um dos elementos do conselho geral pertencia, simultaneamente, ao executivo da Junta de Freguesia de Massarelos.
Como noutros estabelecimentos do género, alguns pais de crianças que frequentam o JI Barbosa du Bocage têm de pagar as refeições. Consoante a declaração de IRS dos progenitores, as refeições são gratuitas, podem custar 73 cêntimos ou, num terceiro grupo, 1,46 euros.
Manuela Pinto salvaguarda que nunca houve razões para duvidar da qualidade dos alimentos provenientes do BA. "Os educadores consultavam os prazos de validade e nenhuma criança ficou doente." Actualmente, com a gestão não pedagógica entregue à Câmara do Porto, as refeições já não são confeccionadas por duas funcionárias, no JI, como acontecia no anterior ano lectivo, e Manuela Pinto elogia a qualidade da comida, fornecida por uma entidade externa. "São refeições equilibradas, feitas por nutricionistas." "De tudo o que tem a ver com a administração directa da câmara não temos nada a dizer", acrescenta a responsável.
Confrontado com o caso, o presidente da Junta de Freguesia de Massarelos, José Carlos Gonçalves, confirmou que as crianças do JI Barbosa du Bocage comeram alimentos oriundos do BA no ano lectivo 2009-2010. "Comiam, sim. Só não estou a entender é por que é que é um problema", comentou o autarca, que reconheceu a inclusão de "arroz, massas e sobremesas lácteas" nas refeições das crianças. Quando confrontado com a habitual substituição da fruta por sobremesas lácteas, José Carlos Gonçalves corrige, afirmando que "havia um acordo com os educadores: as sobremesas lácteas eram só uma vez por semana, o resto era fruta".
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Junta decide quem apoia
Até 31 de Agosto último, a Junta de Freguesia de Massarelos geriu quatro instituições - uma creche, um ATL, um centro de convívio e o JI Barbosa du Bocage -, o que lhe permitiu aceder às dádivas do BA. Entretanto, reconhece José Carlos Gonçalves, "tornou-se complicado gerir os quatro equipamentos sociais em termos de recursos humanos e financeiros" e, por essa razão, a junta transferiu a gestão do JI para a Câmara do Porto no último dia de Agosto.
Por seu turno, quando questionada sobre esta situação, a delegação do Porto do BA não colocou qualquer objecção a que os alimentos tenham sido distribuídos no JI. A Junta de Freguesia de Massarelos tem estatuto de instituição particular de solidariedade social (IPSS) e, por essa razão, teve direito aos produtos do BA. Em relação aos beneficiários a quem a comida é distribuída, Patrícia Correia, assistente social do BA Porto, salienta: "A junta é que decide." Esta responsável lembra que "há meninos cujos pais podem pagar a alimentação, mas há outros que não podem". Nesta altura, o BA Porto suspendeu a sua ajuda à Junta de Massarelos por falta de cumprimento de alguns formalismos por parte desta última, que Patrícia Correia não especificou.