Rui Zink, professor e escritor, 49 anos

10-08-2010
marcar artigo

Aliás, por falar em pertença a uma geração, conto uma história: há uns tempos fui ao casamento de um ex-aluno e às duas da manhã foi engraçado ver que aquela gente, uns 15 anos mais nova do que, de repente começou a dançar ao som da música do Dartacão. Há a geração Dartacão. A minha é mais a geração Daktari, uma série americana do fim dos anos 60. A minha infância foi passada nos anos 70, no bairro da Pena, o mesmo onde nasceu a Amália. Lembro-me de ver as peixeiras descalças a subir a calçada. Lembro-me de só uma pessoa ter carro lá no bairro. Brincava na rua, os meus filhos não brincam na rua. Os meus filhos vão lembrar-se daqui a uns anos da vida de condomínio, eu lembro-me da vida de rua. Ter vivido nesse bairro foi mais importante do que assistir ao 25 de Abril. Claro que o 25 de Abril foi importante, os anos 80 foram importantes, hoje choro quando oiço as Doce. É isso: chamaria, antes, à minha geração a “geração bem bom”. Não me parece que tenhamos tido azar. Todas as gerações são abençoadas, se tiverem noção disso. Agora temos a geração dos recibos verdes. Mas na casa deles ainda não chove.

Depoimento recolhido por Bruno Horta

Aliás, por falar em pertença a uma geração, conto uma história: há uns tempos fui ao casamento de um ex-aluno e às duas da manhã foi engraçado ver que aquela gente, uns 15 anos mais nova do que, de repente começou a dançar ao som da música do Dartacão. Há a geração Dartacão. A minha é mais a geração Daktari, uma série americana do fim dos anos 60. A minha infância foi passada nos anos 70, no bairro da Pena, o mesmo onde nasceu a Amália. Lembro-me de ver as peixeiras descalças a subir a calçada. Lembro-me de só uma pessoa ter carro lá no bairro. Brincava na rua, os meus filhos não brincam na rua. Os meus filhos vão lembrar-se daqui a uns anos da vida de condomínio, eu lembro-me da vida de rua. Ter vivido nesse bairro foi mais importante do que assistir ao 25 de Abril. Claro que o 25 de Abril foi importante, os anos 80 foram importantes, hoje choro quando oiço as Doce. É isso: chamaria, antes, à minha geração a “geração bem bom”. Não me parece que tenhamos tido azar. Todas as gerações são abençoadas, se tiverem noção disso. Agora temos a geração dos recibos verdes. Mas na casa deles ainda não chove.

Depoimento recolhido por Bruno Horta

marcar artigo