Agostinho Branquinho, deputado do PSD, 53 anos

10-08-2010
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A sociedade era muito autocrática, o homem tinha um papel dominante. As decisões do meu pai não eram para discutir. Raramente tínhamos possibilidade de perguntar porquê. A juventude hoje questiona e quer perceber. Ao mesmo tempo, é uma juventude que vota pouco, que se interessa pouco pela política. Falta educação cívica para a cidadania. Formatámos muito os nossos jovens para terem boas notas e entrarem no ensino superior e preocupámo-nos pouco em os educar para a cidadania. Isto tem como resultado o alheamento. No meu tempo, não era assim.

O 25 de Abril e o período pós-revolucionário deram à minha geração uma consciência de participação inacreditável. Por outro lado, a sociedade mediática em que vivemos expõe muito os políticos, transformando-os em homens e mulheres comuns, que é o que eles são, mas exacerba muito os seus defeitos. É óbvio que, com isso, as pessoas mais novas desacreditam.

Saí de casa aos 16 anos, queria independência. Achava que podia ganhar o meu dinheiro sem prestar contas aos meus pais. A juventude no meu tempo era muito mais curta, acabava algures nos 20 e poucos. Os 25 anos eram o limite dos limites. A tropa era o rito iniciático para a idade adulta. Hoje, a juventude prolonga-se, os jovens saem de casa dos pais depois dos 30.

A sociedade está muito mais aberta, com muito menos medos. Mais aberta nos costumes e na possibilidade que temos de saber o que se está a passar em qualquer parte do mundo. Foi uma evolução natural do país, induzida pela Europa. Eu se à mesa, na minha juventude, tratasse o meu pai por ‘você’, levava um safanão. Tinha de o tratar por ‘pai’. Por ‘tu’, era impensável. Os meus filhos tratam-me por ‘tu’. Os valores eram muito estáticos e formatados.

O papel da família é muito mais dinâmico. Quando andava na faculdade, as discotecas — que se chamavam boîtes — só funcionavam à sexta e sábado e eu, se queria ir com as minhas amigas, tinha de as ir buscar a casa e assumir um compromisso de honra com os pais delas de que só iríamos beber um copo e de que as levaria a casa no máximo até à uma da manhã. As dinâmicas mudaram de forma brutal. A sociedade era fechada. Os novos valores, a quebra de muitos estereótipos deu-se fundamentalmente nos anos 80.

A emancipação das mulheres, por exemplo, abalou completamente o mito da autoridade machista, de que ainda há uns laivos. Eu, por exemplo, era contra as quotas de mulheres nas listas de deputados e hoje reconheço que o balanço das quotas é muito positivo. As mulheres deputadas, e no interior dos partidos, trazem outras abordagens e formas de pensar. Os homens tendem a discutir a macropolítica e elas tendem a discutir coisas do quotidiano: as políticas de família, os horários de trabalho e os da vida familiar, actividades das crianças, etc. As mulheres têm um sentido mais prático da vida, são muito mais pragmáticas do que nós.

Outro fenómeno a que a minha geração assistiu foi o da instauração de valores como a juventude, o bom aspecto, a metrossexualidade. Isso faz com que a questão etária tenha hoje menos importância do que há algumas décadas. Quando eu era novo, olhava para pessoas de 50 anos e via-as com um aspecto muito velho. A esperança de vida também seria inferior a 70 anos. Eram pessoas que já estavam no último quartil da vida.

Hoje, as coisas são diferentes. Uma pessoa pode viver até aos 80, logo, aos 50 está no apogeu da vida. A medicina evoluiu, os cuidados alimentares instalaram-se, faz-se exercício físico. A fase entre os 45 e os 55 anos é uma década de grande liberdade e autonomia. Temos do ponto de vista financeiro uma sustentabilidade maior, do ponto de vista profissional estamos no pico — é preciso manter isso — e não temos a debilidade física das pessoas de 50 anos de antigamente. É uma idade de oiro.

A sociedade era muito autocrática, o homem tinha um papel dominante. As decisões do meu pai não eram para discutir. Raramente tínhamos possibilidade de perguntar porquê. A juventude hoje questiona e quer perceber. Ao mesmo tempo, é uma juventude que vota pouco, que se interessa pouco pela política. Falta educação cívica para a cidadania. Formatámos muito os nossos jovens para terem boas notas e entrarem no ensino superior e preocupámo-nos pouco em os educar para a cidadania. Isto tem como resultado o alheamento. No meu tempo, não era assim.

O 25 de Abril e o período pós-revolucionário deram à minha geração uma consciência de participação inacreditável. Por outro lado, a sociedade mediática em que vivemos expõe muito os políticos, transformando-os em homens e mulheres comuns, que é o que eles são, mas exacerba muito os seus defeitos. É óbvio que, com isso, as pessoas mais novas desacreditam.

Saí de casa aos 16 anos, queria independência. Achava que podia ganhar o meu dinheiro sem prestar contas aos meus pais. A juventude no meu tempo era muito mais curta, acabava algures nos 20 e poucos. Os 25 anos eram o limite dos limites. A tropa era o rito iniciático para a idade adulta. Hoje, a juventude prolonga-se, os jovens saem de casa dos pais depois dos 30.

A sociedade está muito mais aberta, com muito menos medos. Mais aberta nos costumes e na possibilidade que temos de saber o que se está a passar em qualquer parte do mundo. Foi uma evolução natural do país, induzida pela Europa. Eu se à mesa, na minha juventude, tratasse o meu pai por ‘você’, levava um safanão. Tinha de o tratar por ‘pai’. Por ‘tu’, era impensável. Os meus filhos tratam-me por ‘tu’. Os valores eram muito estáticos e formatados.

O papel da família é muito mais dinâmico. Quando andava na faculdade, as discotecas — que se chamavam boîtes — só funcionavam à sexta e sábado e eu, se queria ir com as minhas amigas, tinha de as ir buscar a casa e assumir um compromisso de honra com os pais delas de que só iríamos beber um copo e de que as levaria a casa no máximo até à uma da manhã. As dinâmicas mudaram de forma brutal. A sociedade era fechada. Os novos valores, a quebra de muitos estereótipos deu-se fundamentalmente nos anos 80.

A emancipação das mulheres, por exemplo, abalou completamente o mito da autoridade machista, de que ainda há uns laivos. Eu, por exemplo, era contra as quotas de mulheres nas listas de deputados e hoje reconheço que o balanço das quotas é muito positivo. As mulheres deputadas, e no interior dos partidos, trazem outras abordagens e formas de pensar. Os homens tendem a discutir a macropolítica e elas tendem a discutir coisas do quotidiano: as políticas de família, os horários de trabalho e os da vida familiar, actividades das crianças, etc. As mulheres têm um sentido mais prático da vida, são muito mais pragmáticas do que nós.

Outro fenómeno a que a minha geração assistiu foi o da instauração de valores como a juventude, o bom aspecto, a metrossexualidade. Isso faz com que a questão etária tenha hoje menos importância do que há algumas décadas. Quando eu era novo, olhava para pessoas de 50 anos e via-as com um aspecto muito velho. A esperança de vida também seria inferior a 70 anos. Eram pessoas que já estavam no último quartil da vida.

Hoje, as coisas são diferentes. Uma pessoa pode viver até aos 80, logo, aos 50 está no apogeu da vida. A medicina evoluiu, os cuidados alimentares instalaram-se, faz-se exercício físico. A fase entre os 45 e os 55 anos é uma década de grande liberdade e autonomia. Temos do ponto de vista financeiro uma sustentabilidade maior, do ponto de vista profissional estamos no pico — é preciso manter isso — e não temos a debilidade física das pessoas de 50 anos de antigamente. É uma idade de oiro.

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