Apoio financeiro será inferior a cem mil milhões de euros e vai "salvaguardar a estabilidade financeira na UE e na zona euro"
Submetida durante vários dias a uma pressão intensa por parte dos países europeus, a Irlanda resignou-se ontem a pedir a ajuda financeira da zona euro para os seus bancos em dificuldades, de modo a impedir que o nervosismo dos mercados financeiros contagie outros Estados, a começar por Portugal.
O pedido foi aceite à noite pelos ministros das Finanças dos Dezasseis países do euro e, posteriormente, pela totalidade da União Europeia (UE), que o analisaram em teleconferência mas não revelaram o montante acordado, nem os detalhes das condições associadas.
"Os ministros saúdam o pedido do Governo irlandês", afirmou o comunicado emitido no final das conversações, frisando que permitirá "salvaguardar a estabilidade financeira na UE e na zona euro".
Brian Lenihan, ministro irlandês das Finanças, afirmara de manhã que a ajuda ascenderá a "dezenas de milhares de milhões de euros", mas "certamente não um montante de três algarismos", ou seja, inferior a 100 mil milhões. Esta ordem de grandeza foi confirmada por vários ministros no final da reunião.
Lenihan precisou que a intenção de Dublin é criar um "fundo de previdência" para ser usado apenas se o Estado enfrentar dificuldades para financiar os bancos em crise desde a recente explosão da bolha imobiliária. "Os fundos não serão obrigatoriamente usados" e destinam-se a "demonstrar o apoio disponível para garantir o sistema bancário irlandês no seio da zona euro", afirmou.
Wolfgang Schauble, ministro alemão das Finanças, disse em Berlim que ainda não era possível definir "um número concreto". "A Irlanda fez o pedido que está agora a ser tratado com grande prioridade", afirmou, afastando por outro lado o risco de desestabilização da zona euro: "Se definirmos a resposta correcta para o problema irlandês, há grandes probabilidades de não haver efeitos de contágio", afirmou.
Com a decisão de ontem, a Irlanda torna-se o segundo país da zona euro, a seguir à Grécia, a pedir o apoio dos parceiros. Atenas inaugurou o processo em Maio ao obter um mecanismo de ajuda baseado em empréstimos bilaterais dos países do euro até 110 mil milhões de euros durante três anos, a taxas de juro inferiores às do mercado.
O apoio a Dublin sairá em contrapartida do fundo europeu de estabilidade financeira (EFSF) criado logo a seguir sob a forma de garantias de empréstimos até 440 mil milhões de euros para os países em dificuldades financeiras, complementado com 60 mil milhões de euros garantidos pelo orçamento da União Europeia e 250 mil milhões do FMI. A novidade, neste caso, é que o Reino Unido e a Suécia, que não são membros do euro, indicaram que "estão disponíveis para considerar um empréstimo bilateral" à Irlanda, segundo o comunicado ontem emitido.
Os dois mecanismos têm em comum o facto de serem obrigatoriamente acompanhados de duras condições para acelerar a consolidação orçamental dos beneficiados. O Governo irlandês conta aliás apresentar esta semana um plano draconiano de austeridade para cortar despesas em 15 mil milhões de euros durante quatro anos e reduzir o défice orçamental de 32 por cento do PIB - provocado pela recapitalização dos bancos - para menos de 3 por cento em 2014.
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Ao contrário da Grécia, os irlandeses resistiram enquanto puderam à activação do EFSF, afirmando que o Estado está financiado até Junho de 2011. Neste contexto, os irlandeses esperavam poder escapar durante vários meses às taxas de juro exorbitantes que têm sido pedidas nas últimas semanas pelos seus títulos de dívida.
Os outros governos duvidam no entanto que assim seja, temendo que o agravamento das dificuldades do sector bancário obrigasse o país a submeter-se à especulação dos investidores muito mais cedo do que o previsto agravando a instabilidade da zona euro. É este receio que está na base da pressão que vários países têm exercido sobre o Governo de Brian Cowen.
Uma missão conjunta da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI está desde quinta-feira em Dublin em conversações técnicas para a definição dos termos do plano de ajuda. As negociações são dificultadas pela recusa dos irlandeses de aumentar a sua ultracompetitiva taxa de IRC de 12,5 por cento, como é pedido por vários países para acelerar a consolidação orçamental. Ao invés, Dublin aceita o princípio de uma profunda reestruturação do sistema bancário como contrapartida da ajuda europeia.
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Apoio financeiro será inferior a cem mil milhões de euros e vai "salvaguardar a estabilidade financeira na UE e na zona euro"
Submetida durante vários dias a uma pressão intensa por parte dos países europeus, a Irlanda resignou-se ontem a pedir a ajuda financeira da zona euro para os seus bancos em dificuldades, de modo a impedir que o nervosismo dos mercados financeiros contagie outros Estados, a começar por Portugal.
O pedido foi aceite à noite pelos ministros das Finanças dos Dezasseis países do euro e, posteriormente, pela totalidade da União Europeia (UE), que o analisaram em teleconferência mas não revelaram o montante acordado, nem os detalhes das condições associadas.
"Os ministros saúdam o pedido do Governo irlandês", afirmou o comunicado emitido no final das conversações, frisando que permitirá "salvaguardar a estabilidade financeira na UE e na zona euro".
Brian Lenihan, ministro irlandês das Finanças, afirmara de manhã que a ajuda ascenderá a "dezenas de milhares de milhões de euros", mas "certamente não um montante de três algarismos", ou seja, inferior a 100 mil milhões. Esta ordem de grandeza foi confirmada por vários ministros no final da reunião.
Lenihan precisou que a intenção de Dublin é criar um "fundo de previdência" para ser usado apenas se o Estado enfrentar dificuldades para financiar os bancos em crise desde a recente explosão da bolha imobiliária. "Os fundos não serão obrigatoriamente usados" e destinam-se a "demonstrar o apoio disponível para garantir o sistema bancário irlandês no seio da zona euro", afirmou.
Wolfgang Schauble, ministro alemão das Finanças, disse em Berlim que ainda não era possível definir "um número concreto". "A Irlanda fez o pedido que está agora a ser tratado com grande prioridade", afirmou, afastando por outro lado o risco de desestabilização da zona euro: "Se definirmos a resposta correcta para o problema irlandês, há grandes probabilidades de não haver efeitos de contágio", afirmou.
Com a decisão de ontem, a Irlanda torna-se o segundo país da zona euro, a seguir à Grécia, a pedir o apoio dos parceiros. Atenas inaugurou o processo em Maio ao obter um mecanismo de ajuda baseado em empréstimos bilaterais dos países do euro até 110 mil milhões de euros durante três anos, a taxas de juro inferiores às do mercado.
O apoio a Dublin sairá em contrapartida do fundo europeu de estabilidade financeira (EFSF) criado logo a seguir sob a forma de garantias de empréstimos até 440 mil milhões de euros para os países em dificuldades financeiras, complementado com 60 mil milhões de euros garantidos pelo orçamento da União Europeia e 250 mil milhões do FMI. A novidade, neste caso, é que o Reino Unido e a Suécia, que não são membros do euro, indicaram que "estão disponíveis para considerar um empréstimo bilateral" à Irlanda, segundo o comunicado ontem emitido.
Os dois mecanismos têm em comum o facto de serem obrigatoriamente acompanhados de duras condições para acelerar a consolidação orçamental dos beneficiados. O Governo irlandês conta aliás apresentar esta semana um plano draconiano de austeridade para cortar despesas em 15 mil milhões de euros durante quatro anos e reduzir o défice orçamental de 32 por cento do PIB - provocado pela recapitalização dos bancos - para menos de 3 por cento em 2014.
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Ao contrário da Grécia, os irlandeses resistiram enquanto puderam à activação do EFSF, afirmando que o Estado está financiado até Junho de 2011. Neste contexto, os irlandeses esperavam poder escapar durante vários meses às taxas de juro exorbitantes que têm sido pedidas nas últimas semanas pelos seus títulos de dívida.
Os outros governos duvidam no entanto que assim seja, temendo que o agravamento das dificuldades do sector bancário obrigasse o país a submeter-se à especulação dos investidores muito mais cedo do que o previsto agravando a instabilidade da zona euro. É este receio que está na base da pressão que vários países têm exercido sobre o Governo de Brian Cowen.
Uma missão conjunta da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI está desde quinta-feira em Dublin em conversações técnicas para a definição dos termos do plano de ajuda. As negociações são dificultadas pela recusa dos irlandeses de aumentar a sua ultracompetitiva taxa de IRC de 12,5 por cento, como é pedido por vários países para acelerar a consolidação orçamental. Ao invés, Dublin aceita o princípio de uma profunda reestruturação do sistema bancário como contrapartida da ajuda europeia.