A Turquia é da NATO mas também ponte entre Ocidente e Oriente

23-11-2010
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Onde fica a Turquia? Outrora ficava na Europa e era definida como sua fronteira e ponte para o Médio Oriente e Ásia, chave da sua segurança. Escrevia-se: "Mostrar que islão e democracia podem conviver é um imperativo geopolítico." Membro da NATO desde 1952, Ancara tinha um objectivo central: a adesão à UE. Este desígnio é veementemente apoiado pelos EUA, obcecados com a necessidade de "ancorar a Turquia na Europa".

Um analista turco-americano, Soner Çagatpay, crítico da política interna turca e do primeiro-ministro Erdogan, lidera a argumentação. "A ascensão ao poder do AKP dá à Turquia a oportunidade de "regressar ao Médio Oriente" e adoptar uma mais vincada identidade islâmica." Consequência: "A crescente retórica antiocidental projecta-se na sua estratégia política internacional e sugere que a continuidade da cooperação com o Ocidente está longe de ser garantida." O choque com Israel a propósito de Gaza e a iniciativa de Lula e Erdogan sobre o nuclear iraniano seriam as mais evidentes provas.

Os ocidentais deram pouca importância a outra vertente do discurso de Erdogan, apagada pelo empenho na adesão à UE. Era a política de "zero problemas com os vizinhos", a vocação de mediar os conflitos na região e fazer de ponte entre Ocidente e Oriente. Esta doutrina era inspirada por Ahmet Davutoglu, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, que visava dar à Turquia um "papel global".

A afirmação turca foi acelerada pelos impasses dos EUA e pelo vazio da liderança árabe. Tem boas relações com a Rússia mas tenta contrariar a sua expansão no Cáucaso ou o seu monopólio do gás. Opõe-se ao nuclear iraniano mas tem fortes relações comerciais com Teerão e quer uma solução diplomática.

O francês Thierry de Montbrial enquadra assim a iniciativa turco-brasileira: "Assistimos a uma nova forma de não-alinhamento, que não é dirigida contra os "ocidentais" mas decorre da vontade das potências emergentes de defenderem os seus interesses e a sua visão de um mundo em que o poder global será redistribuído."

Foi esta Turquia que esteve no G20, como "pequena China europeia" - um crescimento económico de 7 por cento -, e que vem à cimeira da NATO segura do seu novo estatuto.

Na revista

A Turquia é incómoda, excessivamente ambiciosa e não hesita em criticar os EUA ou a UE. Mas também indispensável. "A NATO é a nossa mais forte aliança e a integração na Europa o principal objectivo da política externa turca", frisa Davutoglu.

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O Presidente turco, Abdullah Gül, discursou há dias na Chatham House: "Na medida em que a balança internacional do poder tende a deslocar-se para o Oriente e para a Ásia, é um imperativo para a UE ter a Turquia como membro. (...) É triste observar como alguns líderes europeus não olham o futuro do mundo num horizonte de 20, 50 ou 70 anos."

Onde fica a Turquia? Outrora ficava na Europa e era definida como sua fronteira e ponte para o Médio Oriente e Ásia, chave da sua segurança. Escrevia-se: "Mostrar que islão e democracia podem conviver é um imperativo geopolítico." Membro da NATO desde 1952, Ancara tinha um objectivo central: a adesão à UE. Este desígnio é veementemente apoiado pelos EUA, obcecados com a necessidade de "ancorar a Turquia na Europa".

Um analista turco-americano, Soner Çagatpay, crítico da política interna turca e do primeiro-ministro Erdogan, lidera a argumentação. "A ascensão ao poder do AKP dá à Turquia a oportunidade de "regressar ao Médio Oriente" e adoptar uma mais vincada identidade islâmica." Consequência: "A crescente retórica antiocidental projecta-se na sua estratégia política internacional e sugere que a continuidade da cooperação com o Ocidente está longe de ser garantida." O choque com Israel a propósito de Gaza e a iniciativa de Lula e Erdogan sobre o nuclear iraniano seriam as mais evidentes provas.

Os ocidentais deram pouca importância a outra vertente do discurso de Erdogan, apagada pelo empenho na adesão à UE. Era a política de "zero problemas com os vizinhos", a vocação de mediar os conflitos na região e fazer de ponte entre Ocidente e Oriente. Esta doutrina era inspirada por Ahmet Davutoglu, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, que visava dar à Turquia um "papel global".

A afirmação turca foi acelerada pelos impasses dos EUA e pelo vazio da liderança árabe. Tem boas relações com a Rússia mas tenta contrariar a sua expansão no Cáucaso ou o seu monopólio do gás. Opõe-se ao nuclear iraniano mas tem fortes relações comerciais com Teerão e quer uma solução diplomática.

O francês Thierry de Montbrial enquadra assim a iniciativa turco-brasileira: "Assistimos a uma nova forma de não-alinhamento, que não é dirigida contra os "ocidentais" mas decorre da vontade das potências emergentes de defenderem os seus interesses e a sua visão de um mundo em que o poder global será redistribuído."

Foi esta Turquia que esteve no G20, como "pequena China europeia" - um crescimento económico de 7 por cento -, e que vem à cimeira da NATO segura do seu novo estatuto.

Na revista

A Turquia é incómoda, excessivamente ambiciosa e não hesita em criticar os EUA ou a UE. Mas também indispensável. "A NATO é a nossa mais forte aliança e a integração na Europa o principal objectivo da política externa turca", frisa Davutoglu.

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O Presidente turco, Abdullah Gül, discursou há dias na Chatham House: "Na medida em que a balança internacional do poder tende a deslocar-se para o Oriente e para a Ásia, é um imperativo para a UE ter a Turquia como membro. (...) É triste observar como alguns líderes europeus não olham o futuro do mundo num horizonte de 20, 50 ou 70 anos."

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