Ferreira Leite faz sorrir Sócrates, PSD viabiliza "Orçamento inevitável"

04-11-2010
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Foi o dia do regresso da ex-líder Manuela Ferreira Leite à primeira fila da bancada do PSD e em que muitos ouviram a "voz" de Cavaco Silva. Foi o dia em que um desejo de Cavaco Presidente se consumou: o Parlamento aprovou o Orçamento do Estado (OE) de 2011, apesar de "mau", "recessivo", "péssimo", "mutilador do Estado social", mas afinal "inevitável". Foi a palavra dita por Ferreira Leite que pôs José Sócrates e o Governo a sorrir e a acenar que sim. "Finalmente fui ouvido", desabafou Sócrates. Para o fim do debate, e antes de confirmada a abstenção do PSD que deixou passar o OE na generalidade, sobraram os avisos.

No fim de um ciclo, PS e Governo anteciparam outro - o do debate na especialidade -, revelando desde logo o espírito que vai pautar as próximas semanas até à votação final global, a 26 de Novembro. Fizeram-no pelas vozes de Francisco Assis, líder parlamentar socialista, e de Augusto Santos Silva, ministro da Defesa.

Assis notou mesmo que a "questão decisiva para os próximos tempos" será saber se os sociais-democratas dão continuidade a uma "responsabilidade de elevadíssimo grau", que, frisou o socialista, "não pode nem deve ser alienada". O PS e o Governo, prosseguiu, não co-responsabilizam o PSD pela governação do país, mas exigem que o partido de Pedro Passos Coelho cumpra o "compromisso" firmado com o executivo para a aprovação do OE na generalidade. No entanto, ontem, Assis saiu do plenário "sem resposta" a um conjunto de interrogações, como fez questão de notar. "A actuação do PSD vai depender da convicção ou do cálculo? Está disposto ao diálogo ou vai preferir a ameaça?" O líder da bancada não deixou de dirigir alguns reparos ao PSD. "Nós nunca respondemos à ameaça com medo, nem à arrogância com subserviência. Não fugimos, não abdicamos; resistimos e não desistimos de ser nós próprios", disse. Os próximos tempos, continuou, serão "difíceis e exigentes", pelo que o país político vai precisar de "mais abertura, mais tolerância para entendimento político e compromisso".

"Não há outra solução"

De tempos difíceis e exigentes também falou a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite, num discurso que soou como música para os ouvidos dos socialistas. A deputada do PSD defendeu que este Orçamento é "inevitável" e aquele "de que o país precisa". "Não há outra solução, pode haver umas medidas melhores, outras piores, medidas assim, medidas assado, mas temos de percorrer este caminho", frisou. Ferreira Leite reconheceu a situação de "ruptura financeira" e desafiou o executivo a não recuar ao primeiro sinal positivo da economia. A deputada sublinhou que o nível de endividamento, aliado a um anémico crescimento, tornou Portugal "refém dos credores". Numa palavra, "quem manda é quem paga".

Se o líder do BE, Francisco Louçã, ouviu nas palavras de Ferreira Leite "a voz avisada de Cavaco Silva", o deputado socialista Afonso Candal subscreveu-as "em parte ou na íntegra". Momentos depois, à saída do debate ao final da manhã, Sócrates desfez-se em elogios a Ferreira Leite e notou "com agrado" o discurso em que a ex-líder apelou a que PS e PSD "ponham os interesses nacionais acima dos interesses partidários".

Augusto Santos Silva, que encerrou o debate pelo Governo, fez uma intervenção consonante com a de Assis (não expurgando, porém, a sua habitual mordacidade). Ao PSD lembrou que "a hesitação, as contradições e os tabus já custaram semanas de incerteza ao país numa questão politicamente tão decisiva como a aprovação do Orçamento do Estado". E acrescentou, em jeito de aviso para o debate na especialidade: "Os portugueses pagaram por isso um preço inútil e essa incerteza não pode ser prolongada mais tempo."

Janus e Mercúrio

Foi o dia do regresso da ex-líder Manuela Ferreira Leite à primeira fila da bancada do PSD e em que muitos ouviram a "voz" de Cavaco Silva. Foi o dia em que um desejo de Cavaco Presidente se consumou: o Parlamento aprovou o Orçamento do Estado (OE) de 2011, apesar de "mau", "recessivo", "péssimo", "mutilador do Estado social", mas afinal "inevitável". Foi a palavra dita por Ferreira Leite que pôs José Sócrates e o Governo a sorrir e a acenar que sim. "Finalmente fui ouvido", desabafou Sócrates. Para o fim do debate, e antes de confirmada a abstenção do PSD que deixou passar o OE na generalidade, sobraram os avisos.

No fim de um ciclo, PS e Governo anteciparam outro - o do debate na especialidade -, revelando desde logo o espírito que vai pautar as próximas semanas até à votação final global, a 26 de Novembro. Fizeram-no pelas vozes de Francisco Assis, líder parlamentar socialista, e de Augusto Santos Silva, ministro da Defesa.

Assis notou mesmo que a "questão decisiva para os próximos tempos" será saber se os sociais-democratas dão continuidade a uma "responsabilidade de elevadíssimo grau", que, frisou o socialista, "não pode nem deve ser alienada". O PS e o Governo, prosseguiu, não co-responsabilizam o PSD pela governação do país, mas exigem que o partido de Pedro Passos Coelho cumpra o "compromisso" firmado com o executivo para a aprovação do OE na generalidade. No entanto, ontem, Assis saiu do plenário "sem resposta" a um conjunto de interrogações, como fez questão de notar. "A actuação do PSD vai depender da convicção ou do cálculo? Está disposto ao diálogo ou vai preferir a ameaça?" O líder da bancada não deixou de dirigir alguns reparos ao PSD. "Nós nunca respondemos à ameaça com medo, nem à arrogância com subserviência. Não fugimos, não abdicamos; resistimos e não desistimos de ser nós próprios", disse. Os próximos tempos, continuou, serão "difíceis e exigentes", pelo que o país político vai precisar de "mais abertura, mais tolerância para entendimento político e compromisso".

"Não há outra solução"

De tempos difíceis e exigentes também falou a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite, num discurso que soou como música para os ouvidos dos socialistas. A deputada do PSD defendeu que este Orçamento é "inevitável" e aquele "de que o país precisa". "Não há outra solução, pode haver umas medidas melhores, outras piores, medidas assim, medidas assado, mas temos de percorrer este caminho", frisou. Ferreira Leite reconheceu a situação de "ruptura financeira" e desafiou o executivo a não recuar ao primeiro sinal positivo da economia. A deputada sublinhou que o nível de endividamento, aliado a um anémico crescimento, tornou Portugal "refém dos credores". Numa palavra, "quem manda é quem paga".

Se o líder do BE, Francisco Louçã, ouviu nas palavras de Ferreira Leite "a voz avisada de Cavaco Silva", o deputado socialista Afonso Candal subscreveu-as "em parte ou na íntegra". Momentos depois, à saída do debate ao final da manhã, Sócrates desfez-se em elogios a Ferreira Leite e notou "com agrado" o discurso em que a ex-líder apelou a que PS e PSD "ponham os interesses nacionais acima dos interesses partidários".

Augusto Santos Silva, que encerrou o debate pelo Governo, fez uma intervenção consonante com a de Assis (não expurgando, porém, a sua habitual mordacidade). Ao PSD lembrou que "a hesitação, as contradições e os tabus já custaram semanas de incerteza ao país numa questão politicamente tão decisiva como a aprovação do Orçamento do Estado". E acrescentou, em jeito de aviso para o debate na especialidade: "Os portugueses pagaram por isso um preço inútil e essa incerteza não pode ser prolongada mais tempo."

Janus e Mercúrio

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