O mundo quase irreal dos relógios Zenith

03-06-2015
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O mundo quase irreal dos relógios Zenith

10:05 Diário Económico

A comemorar os seus 150 anos, a empresa que George Favre-Jacot lançou de forma visionária em 1865 é hoje uma referência. Nos relógios, mas também na indústria e na inovação, com algumas loucuras à mistura.

No final da década de 60 do século XIX, o mundo parecia que ia desabar sobre si próprio: os Estados Unidos estavam divididos por uma guerra civil que fracturou o país entre o Norte e o Sul; na América do Sul, Brasil, Argentina e Uruguai aliavam-se contra o Paraguai - numa guerra que praticamente dizimou os índios que haviam sobrevivido às ocupações portuguesa e espanhola; e na Europa os Estados Pontifícios estavam prestes a sucumbir face a uma Itália unida prestes a nascer; a Prússia estava cada vez mais próxima de se tornar na futura grande Alemanha; Paris haveria de arder nos dias da Comuna; e a Rússia insistia no seu carácter tolamente feudalista, apesar da aproximação crescente às políticas externas de Inglaterra e de França, que acabaria por resultar na ‘Triplice entente'.

Acantonada no seu nicho natural nos Alpes, a Suíça vivia, na medida do que lhe era possível, à margem destas convulsões que, sorte dela, lhe iam ficando sempre do lado de lá das fronteiras.

Foi neste ambiente quase irreal que, em 1865 - o ano em que Lewis carrol editou o não menos irreal ‘Alice no país das maravilhas' - Georges Favre-Jacot, jovem empresário de Le Locle (nas montanhas de Neuchâtel) com apenas 22 anos, decidiu criar uma fábrica de relojoaria. Mandou construir ateliês enormes e luminosos - que ainda se encontram no mesmo local e que foram uma das razões para que, muitas décadas depois, a UNESCO (2009) tivesse atribuído a Le Locle e a La Chaux-de-Fonds a condição de Património da Humanidade.

Foi a primeira instalação industrial da cidade a ser iluminada a electricidade, mas talvez isso fosse o menos importante: era o tamanho das instalações que iria constituir uma revolução. Até aí, os relógios eram fabricados por artesãos, que trabalhavam nas suas próprias casas e não tinham ligação entre si. Georges Favre-Jacot, que perseguia o sonho de criar o mais preciso e o mais confortável de todos os relógios, percebeu que, para isso, que tinha de juntar todos os artesãos no mesmo espaço. Criou assim, visionário, a primeira fábrica de relógios do mundo - uma fábrica propriamente dita - aonde viria a surgir a marca Zenith.

"Basta abrirmos a porta da fábrica para compreendermos o seu espírito. Tanto mais não seja pela sua arquitectura singular. Em volta das janelas da fachada, uma combinação de vidro e metal com tijolos pintados em branco e vermelho, provenientes da fábrica de tijolos outrora pertencente a Georges Favre-Jacot. Um feito raro, os dezoito edifícios da empresa situam-se todos no local onde o seu fundador colocou, em 1865, a primeira pedra da sua fábrica, a primeira relojoeira da história (cuja renovação completa será concluída em 2016), que acolhe uma mescla quase mágica de elevada tecnicidade e de experiência artesanal", informa fonte oficial da marca.

Mas isso não bastou ao visionário empreendedor helvético: Favre-Jacot percebeu que um relógio não tinha necessariamente de ser apenas um relógio - até porque o tempo não é contínuo: pára, arranca e volta a parar na medida das necessidades de sua medição. A fábrica tornou-se por isso um ninho de inovações que foram emprestando à Zenith um carácter único - pelo menos até ser adoptado pela generalidade da indústria.

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O mundo quase irreal dos relógios Zenith

10:05 Diário Económico

A comemorar os seus 150 anos, a empresa que George Favre-Jacot lançou de forma visionária em 1865 é hoje uma referência. Nos relógios, mas também na indústria e na inovação, com algumas loucuras à mistura.

No final da década de 60 do século XIX, o mundo parecia que ia desabar sobre si próprio: os Estados Unidos estavam divididos por uma guerra civil que fracturou o país entre o Norte e o Sul; na América do Sul, Brasil, Argentina e Uruguai aliavam-se contra o Paraguai - numa guerra que praticamente dizimou os índios que haviam sobrevivido às ocupações portuguesa e espanhola; e na Europa os Estados Pontifícios estavam prestes a sucumbir face a uma Itália unida prestes a nascer; a Prússia estava cada vez mais próxima de se tornar na futura grande Alemanha; Paris haveria de arder nos dias da Comuna; e a Rússia insistia no seu carácter tolamente feudalista, apesar da aproximação crescente às políticas externas de Inglaterra e de França, que acabaria por resultar na ‘Triplice entente'.

Acantonada no seu nicho natural nos Alpes, a Suíça vivia, na medida do que lhe era possível, à margem destas convulsões que, sorte dela, lhe iam ficando sempre do lado de lá das fronteiras.

Foi neste ambiente quase irreal que, em 1865 - o ano em que Lewis carrol editou o não menos irreal ‘Alice no país das maravilhas' - Georges Favre-Jacot, jovem empresário de Le Locle (nas montanhas de Neuchâtel) com apenas 22 anos, decidiu criar uma fábrica de relojoaria. Mandou construir ateliês enormes e luminosos - que ainda se encontram no mesmo local e que foram uma das razões para que, muitas décadas depois, a UNESCO (2009) tivesse atribuído a Le Locle e a La Chaux-de-Fonds a condição de Património da Humanidade.

Foi a primeira instalação industrial da cidade a ser iluminada a electricidade, mas talvez isso fosse o menos importante: era o tamanho das instalações que iria constituir uma revolução. Até aí, os relógios eram fabricados por artesãos, que trabalhavam nas suas próprias casas e não tinham ligação entre si. Georges Favre-Jacot, que perseguia o sonho de criar o mais preciso e o mais confortável de todos os relógios, percebeu que, para isso, que tinha de juntar todos os artesãos no mesmo espaço. Criou assim, visionário, a primeira fábrica de relógios do mundo - uma fábrica propriamente dita - aonde viria a surgir a marca Zenith.

"Basta abrirmos a porta da fábrica para compreendermos o seu espírito. Tanto mais não seja pela sua arquitectura singular. Em volta das janelas da fachada, uma combinação de vidro e metal com tijolos pintados em branco e vermelho, provenientes da fábrica de tijolos outrora pertencente a Georges Favre-Jacot. Um feito raro, os dezoito edifícios da empresa situam-se todos no local onde o seu fundador colocou, em 1865, a primeira pedra da sua fábrica, a primeira relojoeira da história (cuja renovação completa será concluída em 2016), que acolhe uma mescla quase mágica de elevada tecnicidade e de experiência artesanal", informa fonte oficial da marca.

Mas isso não bastou ao visionário empreendedor helvético: Favre-Jacot percebeu que um relógio não tinha necessariamente de ser apenas um relógio - até porque o tempo não é contínuo: pára, arranca e volta a parar na medida das necessidades de sua medição. A fábrica tornou-se por isso um ninho de inovações que foram emprestando à Zenith um carácter único - pelo menos até ser adoptado pela generalidade da indústria.

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