Tem a palavra a ciência
Os nossos melhores psicopatologistas descrevem-no como uma charada embrulhada num mistério escondido dentro de um enigma: o caso RAF desafia a ciência, que não encontra explicação para que um jovem na aparência cordato e prazenteiro figure num blogue assanhado e trauliteiro, onde pontifica a Aliança Anticomunista Argentina (ou seja lá o que se acoberta sob as iniciais AAA) e se descreve o jovem e inocente 5dias desta forma lapidar e que já entrou para a história da blogosfera:
“…Cinco Dias, um blogue de extrema-esquerda onde a promoção da agenda LGBT e outras causas fracturantes se combina de forma notavelmente apropriada com a ignorância, o ressentimento marxista e a defesa do totalitarismoâ€â€¦
Que razões se ocultam por detrás dessa aliança contra-natura? Porquê essa estranha cumplicidade? Aonde procurar a raiz do mal? A referência à sinistra “Triple A†(que nos anos 70 e 80, não o esqueçamos, raptou, torturou, estuprou e matou milhares e milhares de jovens tão inocentes como nós) continha uma inequÃvoca alusão latino-americana, e essa logo apontou para…
A pista cubana
Porque tudo parece começar e acabar em Cuba: é um informe do camarada xatoo que primeiro despoleta a ira d’O Insurgente e depois RAF regressa ao locus criminis quando refere, com uma casualidade que não ilude o observador mais atento (eu), que é useiro e vezeiro em Bacardi lima. Ora RAF não pode deixar de saber que a horrÃvel Bacardi foi expulsa de Cuba por Castro, Che & Companhia, que decretaram que os mojitos eram do povo, e que agora está feita com os fascistas de Miami, e fabrica a mistela a que chama rum na República Dominicana, em Porto Rico e na p-q-p, mas em Cuba é que não, e que beber Bacardi a julgar que é rum é como fumar Cohibas com tabaco das Canárias ou enganar-se na garrafa e beber Larios no lugar de Gordon’s, é coisa de finalista dos liceus à solta em Benidorme (ainda é para lá que eles vão?), quem quer mesmo beber rum vai à Festa do Avante!, come poeira à brava mas bebe rum a sério. Portanto, Cuba, no.
Os vapores do álcool
Mas se o rum era da corda, os vapores alcoólicos estavam lá na mesma, com a agravante de o potencial ressacante e perturbador do entendimento da mistela reaccionária ser muito mais elevado que o da real thing. De resto, RAF abre o jogo e confessa-se dado à “borracheira†(sic). É certo que, conforme se recorda numa página imorredoura da literatura pátria que todos deverÃamos ter presente, todos os homens de gosto e de honra já um dia se embebedaram, na Roma Antiga a bebedeira era uma higiene e um luxo, em Inglaterra era tão chique que os grandes homens públicos não discursavam nos Comuns sem ser aos bordos e pode bem afirmar-se que a história, a literatura e a polÃtica fervilham de bêbados; é igualmente certo que a ideia da carraspana como ritual iniciático da juventude se ajusta como uma luva a castiços da espécie que se acoita n’O Insurgente; mas não obstante, o retrato que este blogue faz de nós é muito mais a obra de poderosos alucinogénicos do que de álcoois entorpecedores. Portanto, os copos também não são.
A experiência kolkhoziana
Enfim, RAF fornece uma terceira hipótese, que os estudiosos designam como “a tese ruralâ€. Num passo obscuro da sua obra, ele refere ser um trauma passado com uma experiência kolkhoziana não identificada da sua infância que o leva a acampar sempre do lado dos maus e a recusar a companhia dos bons. Porém, como o incontornável xatoo também já tornou claro, a passagem em causa resulta de uma evidente incompreensão de qual é a verdadeira natureza do kolkhoz e do que o distingue do menos reputado sovkhoz. Como escreveu Djirivitch, no seu “Précis d’économie rurale soviétique”, a gestão kolkhoziana não comporta, como supõe RAF, a aplicação dos princÃpios leninistas de organização do Partido, nomeadamente do centralismo democrático que tanto o assusta; Karanine, por seu lado, no seu célebre “Fêtons le vrai esprit kolkhosien !”, refere mesmo a importância formadora da experiência kolkhoziana para a juventude, enquanto Bergutchev, autor de “Le Kolkhoz : hier, aujourd’hui et demain”, salienta a importância desta instituição central da vida soviética na criação e consolidação de laços de sã e sólida camaradagem entre os mais jovens.
ExcluÃda, pois, esta hipótese também, a dúvida persiste, perturbadora: Vamos ter de dizer adeus a RAF para sempre? Não podemos tê-lo connosco, assim a modos que uma ala direita de estimação? Porque insiste ele numa enervante seriedade, tão deslocada do espÃrito da estação? Tantas perguntas, tão poucas respostas… a ciência confessa-se impotente. (cai o pano)
Tem a palavra a ciência
Os nossos melhores psicopatologistas descrevem-no como uma charada embrulhada num mistério escondido dentro de um enigma: o caso RAF desafia a ciência, que não encontra explicação para que um jovem na aparência cordato e prazenteiro figure num blogue assanhado e trauliteiro, onde pontifica a Aliança Anticomunista Argentina (ou seja lá o que se acoberta sob as iniciais AAA) e se descreve o jovem e inocente 5dias desta forma lapidar e que já entrou para a história da blogosfera:
“…Cinco Dias, um blogue de extrema-esquerda onde a promoção da agenda LGBT e outras causas fracturantes se combina de forma notavelmente apropriada com a ignorância, o ressentimento marxista e a defesa do totalitarismoâ€â€¦
Que razões se ocultam por detrás dessa aliança contra-natura? Porquê essa estranha cumplicidade? Aonde procurar a raiz do mal? A referência à sinistra “Triple A†(que nos anos 70 e 80, não o esqueçamos, raptou, torturou, estuprou e matou milhares e milhares de jovens tão inocentes como nós) continha uma inequÃvoca alusão latino-americana, e essa logo apontou para…
A pista cubana
Porque tudo parece começar e acabar em Cuba: é um informe do camarada xatoo que primeiro despoleta a ira d’O Insurgente e depois RAF regressa ao locus criminis quando refere, com uma casualidade que não ilude o observador mais atento (eu), que é useiro e vezeiro em Bacardi lima. Ora RAF não pode deixar de saber que a horrÃvel Bacardi foi expulsa de Cuba por Castro, Che & Companhia, que decretaram que os mojitos eram do povo, e que agora está feita com os fascistas de Miami, e fabrica a mistela a que chama rum na República Dominicana, em Porto Rico e na p-q-p, mas em Cuba é que não, e que beber Bacardi a julgar que é rum é como fumar Cohibas com tabaco das Canárias ou enganar-se na garrafa e beber Larios no lugar de Gordon’s, é coisa de finalista dos liceus à solta em Benidorme (ainda é para lá que eles vão?), quem quer mesmo beber rum vai à Festa do Avante!, come poeira à brava mas bebe rum a sério. Portanto, Cuba, no.
Os vapores do álcool
Mas se o rum era da corda, os vapores alcoólicos estavam lá na mesma, com a agravante de o potencial ressacante e perturbador do entendimento da mistela reaccionária ser muito mais elevado que o da real thing. De resto, RAF abre o jogo e confessa-se dado à “borracheira†(sic). É certo que, conforme se recorda numa página imorredoura da literatura pátria que todos deverÃamos ter presente, todos os homens de gosto e de honra já um dia se embebedaram, na Roma Antiga a bebedeira era uma higiene e um luxo, em Inglaterra era tão chique que os grandes homens públicos não discursavam nos Comuns sem ser aos bordos e pode bem afirmar-se que a história, a literatura e a polÃtica fervilham de bêbados; é igualmente certo que a ideia da carraspana como ritual iniciático da juventude se ajusta como uma luva a castiços da espécie que se acoita n’O Insurgente; mas não obstante, o retrato que este blogue faz de nós é muito mais a obra de poderosos alucinogénicos do que de álcoois entorpecedores. Portanto, os copos também não são.
A experiência kolkhoziana
Enfim, RAF fornece uma terceira hipótese, que os estudiosos designam como “a tese ruralâ€. Num passo obscuro da sua obra, ele refere ser um trauma passado com uma experiência kolkhoziana não identificada da sua infância que o leva a acampar sempre do lado dos maus e a recusar a companhia dos bons. Porém, como o incontornável xatoo também já tornou claro, a passagem em causa resulta de uma evidente incompreensão de qual é a verdadeira natureza do kolkhoz e do que o distingue do menos reputado sovkhoz. Como escreveu Djirivitch, no seu “Précis d’économie rurale soviétique”, a gestão kolkhoziana não comporta, como supõe RAF, a aplicação dos princÃpios leninistas de organização do Partido, nomeadamente do centralismo democrático que tanto o assusta; Karanine, por seu lado, no seu célebre “Fêtons le vrai esprit kolkhosien !”, refere mesmo a importância formadora da experiência kolkhoziana para a juventude, enquanto Bergutchev, autor de “Le Kolkhoz : hier, aujourd’hui et demain”, salienta a importância desta instituição central da vida soviética na criação e consolidação de laços de sã e sólida camaradagem entre os mais jovens.
ExcluÃda, pois, esta hipótese também, a dúvida persiste, perturbadora: Vamos ter de dizer adeus a RAF para sempre? Não podemos tê-lo connosco, assim a modos que uma ala direita de estimação? Porque insiste ele numa enervante seriedade, tão deslocada do espÃrito da estação? Tantas perguntas, tão poucas respostas… a ciência confessa-se impotente. (cai o pano)