O Misantropo Enjaulado: Marcello, com 2 ll

22-12-2009
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Já que foi esse o tema principal abordado no televisionado comentário, tenho de deixar aqui a minha muito negativa opinião sobre o político que foi Marcello Caetano. A ideia de «um homem bom e fraco que tinha querido operar mudanças necessárias, sem forças para o empreender» tem de ser aqui corrigida. A tal bondade talvez pudesse ter existido pessoalmente, porém a sua actuação pública foi sempre no sentido de preparar a substituição de Salazar por si, quer insinuando-se como Delfim junto de personagens como Craveiro Lopes que chegaram a propor a Salazar a consagração oficial do estatuto, quer defendendo o chuto para cima, para a Presidência da República, do Velho António, ocupando ele a Presidência no Conselho. Mas há mais, a prudente expectativa com que seguiu as tardias tentativas de derrrubamento do Chefe de Governo, a utilização da defesa da independêrncia universitária e a aparentemente ingénua "solução federal" para o Ultramar tinham todas em vista a criação de uma vida política própria que criasse as ilusões da dimensão de Estadista. A sua actuação como Reitor em Lisboa nunca procurou pôr em causa o regime que queria para si, visou, isso sim, rodear-se de auxiliares intelectualmente capazes e de fidelidade canina que, na Universidade como nos orgãos de informação, lhe facilitassem a ascensão, chegado o momento. E não creio que por um só instante haja acreditado que americanos e soviéticos, como os seus peões no terreno, se contentassem com uma retirada parcial, quando ambicionavam deitar a mão a tudo, o que seria prejudicado por qualquer continuidade da ligação a Portugal.O principal problema de Caetano não foi ser «bom e fraco». Foi centrar o futuro político do País na sua ambição pessoal, esquecendo os princípios doutrinários em que se formara. E sabe-se que quem se olha demasiado ao espelho fica, muitas vezes, cego, mesmo que o vulto reflectido não emita grande dose de luz.

Já que foi esse o tema principal abordado no televisionado comentário, tenho de deixar aqui a minha muito negativa opinião sobre o político que foi Marcello Caetano. A ideia de «um homem bom e fraco que tinha querido operar mudanças necessárias, sem forças para o empreender» tem de ser aqui corrigida. A tal bondade talvez pudesse ter existido pessoalmente, porém a sua actuação pública foi sempre no sentido de preparar a substituição de Salazar por si, quer insinuando-se como Delfim junto de personagens como Craveiro Lopes que chegaram a propor a Salazar a consagração oficial do estatuto, quer defendendo o chuto para cima, para a Presidência da República, do Velho António, ocupando ele a Presidência no Conselho. Mas há mais, a prudente expectativa com que seguiu as tardias tentativas de derrrubamento do Chefe de Governo, a utilização da defesa da independêrncia universitária e a aparentemente ingénua "solução federal" para o Ultramar tinham todas em vista a criação de uma vida política própria que criasse as ilusões da dimensão de Estadista. A sua actuação como Reitor em Lisboa nunca procurou pôr em causa o regime que queria para si, visou, isso sim, rodear-se de auxiliares intelectualmente capazes e de fidelidade canina que, na Universidade como nos orgãos de informação, lhe facilitassem a ascensão, chegado o momento. E não creio que por um só instante haja acreditado que americanos e soviéticos, como os seus peões no terreno, se contentassem com uma retirada parcial, quando ambicionavam deitar a mão a tudo, o que seria prejudicado por qualquer continuidade da ligação a Portugal.O principal problema de Caetano não foi ser «bom e fraco». Foi centrar o futuro político do País na sua ambição pessoal, esquecendo os princípios doutrinários em que se formara. E sabe-se que quem se olha demasiado ao espelho fica, muitas vezes, cego, mesmo que o vulto reflectido não emita grande dose de luz.

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