Largo das Calhandreiras: Circo Político

15-10-2009
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Nem nas minhas piores expectativas, há dois anos atrás, poderia pensar que a Marinha Grande chegaria a este lamentável espectáculo político.Comecemos pelo princípio. Em Portugal não temos uma verdadeira classe Política. Temos sim um grupo de pseudo-ilustrados, bem-nascidos e formados nas escolas partidárias que se vão digladiando pelo exercício do poder como instrumento de fácil e rápido acesso à glória pessoal (que para uns será o mero exercício do poder, para outros os juros acumulados dos euros roubados aos contribuintes). Por isso, dizia e bem o Dr. Mário Soares que o aconteceu recentemente no interior do Partido Social Democrata era uma desgraça para a Democracia. Porque o que aconteceu na luta pelo poder no interior do Partido Social Democrata não é mais do que o reflexo, à escala nacional, do que acontece em todos os Partidos, em todos os sectores da vida política concelhia, distrital e nacional. Este facto por si só justifica o que todos sabemos: a Marinha Grande padece desde sempre da ausência de uma verdadeira alternativa política no exercício do governo autárquico. Entre os executivos comunistas e socialistas, tem-se assistido apenas a sempre mais do mesmo, e com os mesmos.Há em seguida na classe partidária nacional, com consequências inegáveis na vida quotidiana das autarquias (concelhos e freguesias), uma enorme falta de respeito pelos Cidadãos, pelo Povo que dizem ser soberano. Quando põem e dispõem, manipulam e instrumentalizam o próprio Voto popular para apenas servirem os seus interesses próprios. Se é verdade que em qualquer eleição (com excepção da Presidencial) se vota em Partidos e não nas pessoas, não é menos verdade que é essa é apenas uma teoria que na prática não tem correspondência. Em eleições Autárquicas, nestas mais que nas Legislativas, o Rosto do candidato é crucial para o bom/mau resultado eleitoral do Partido. Como compreender assim que, à posteriori, eleito o Candidato, o mesmo seja compelido a renunciar ao seu mandato por ‘instrução’ superior do Partido (algo que é mesmo inconstitucional)? Não é este facto, por si só, um claro desrespeito pela vontade popular?Os acontecimentos recentes da política marinhense são apenas mais uma diversão neste circo que é a política à boa maneira portuguesa.Em 2005 o Partido Comunista Português ganhou, bem ou mal não interessa agora, as eleições autárquicas. Esse facto só foi possível, todos o sabemos, quer pela situação desastrosa em que o Partido à altura no poder (Partido Socialista) se deixou enredar internamente, quer, e significativamente, pelo Rosto que liderou o projecto comunista: João Barros Duarte. O Comité Central do PCP sabia que, se alguma hipótese havia de ganhar estas eleições, este era o único homem capaz de o concretizar. Por isso, e apesar da sua idade, ele regressou. E ganhou. Ganhou as eleições para exercer um mandato de 4 anos que lhe foi confiado pelo Voto do Povo, não por uma decisão do Comité Central do PCP. Sendo que só quem dá pode retirar o que antes deu, só o Povo pode alterar, em novas eleições, a decisão de 2005. Qualquer outro discurso, por mais bem fundamentado que esteja em termos políticos ou de Direito Constitucional, irá sempre esbarrar com o senso comum.O que esconde então esta intromissão do Comité Central do PCP na vida política da Marinha Grande? Primeiro, mais que esconder, revela que a escolha de João Barros Duarte para encabeçar a Lista de 2005 não foi inocente. Ao Partido permitiu-lhe aspirar, e efectivamente, (re)conquistar a Autarquia e ao próprio a possibilidade de regressar ao exercício do Poder e ter assim a oportunidade de fazer pagar caro aos seus ‘inimigos’ (dentro e fora do Partido) a humilhação de há doze anos. Revela ainda que, desde sempre, foi intenção do PCP provocar esta saída ‘airosa’ de João Barros Duarte a meio do mandato, preparando assim a sua sucessão nas próximas eleições autárquicas de 2009. Assim se revela que desde um início o PCP iludiu o eleitorado, para não dizer que mentiram descaradamente. A teimosia de João Barros Duarte em não ‘acatar’ a instrução superior do Comité Central, revela que este suposto acordo pré-eleitoral não estava assim tão certo quanto isso… ou então João Barros Duarte, algures no decurso destes dois anos, sentiu-se traído pelo seu próprio Partido, pelos seus próprios Camaradas, e faz-lhes agora ‘pagar caro’, à sua maneira, a sua traição. João Barros Duarte será, em futuras campanhas eleitorais, o bode expiatório do PCP local que, apesar das palavras elogiosas, mas nitidamente de circunstância, não se inibirá de fazer cair sobre o Autarca renegado a responsabilidade política dos erros da gestão camarária… prometendo ao mesmo tempo que com o novo líder, um novo PCP surgirá (não é inocente a referência à idade de João Barros Duarte como justificação para a alternância)!Mas, este decadente espectáculo da nossa Democracia (?) só é possível porque há outros actores que o encobrem e justificam. Assim como a desgraça da Democracia está (no pensamento do Dr. Mário Soares) numa Oposição enfraquecida pelas suas próprias querelas internas, a desgraça da Marinha Grande está de igual modo numa Oposição que saiu enfraquecida pelo mesmo tipo de ‘guerrilha’ interna e pelo seu adormecimento face à catastrófica gestão autárquica do actual executivo.Todos os Partidos da Oposição local sofrem todos deste mal, mas é sem dúvida ao Partido Socialista que cabe sacar a maior quota de responsabilidade. A responsabilidade de não ter sabido corresponder à confiança que os Marinhenses depositaram em si durante 12 anos. A responsabilidade de ter permitido que os lobbies políticos e económicos, as questiúnculas entre ‘famílias’ dentro do próprio Partido, dominasse e condicionasse a acção do seu executivo camarário. A responsabilidade de não se ter unido e empenhado decididamente em torno de uma candidatura viável em 2005 e, por isso, de ter perdido o seu lugar de governo. A responsabilidade de, actualmente, como Oposição viver apenas na gestão da denúncia das fraquezas do adversário, em vez de mostrar aos Marinhenses que se prepara e tem gente com credibilidade a preparar-se para assumir os destinos da Autarquia em eleições próximas.Neste momento há diversos cenários plausíveis.O primeiro é, sem dúvida, a permanência do actual Executivo, eleito em 2005. João Barros Duarte não tem de obrigatoriamente aceitar a indicação superior do Partido. Tem toda a legitimidade, a que lhe é conferida pelo Voto popular, para continuar, bem ou mal, à frente dos destinos da Autarquia.Um segundo cenário, mais que provável, é a bem ‘encenada’ renúncia ao Mandato por parte de João Barros Duarte, sendo então substituído pelo Vice-Presidente, entretanto já indiciado para o lugar pelo Partido. Uma remodelação ‘cosmética’, sabendo-se que a política de gestão autárquica não sofreria grande alteração. E espera-se, sofridamente, pelas eleições de 2009.Eleições antecipadas na Marinha Grande, o terceiro cenário possível, se bem que seja o legitimamente expectável, a confirmar-se o afastamento de João Barros Duarte, será ao mesmo tempo a desgraça maior da Autarquia. Porque facilmente iríamos assistir a um regresso ao passado recente: O Partido Socialista voltaria ao Executivo, mas dada a pressa em formar governo, iria socorrer-se dos mesmos de sempre. Seria mais do mesmo! Não haveria a oportunidade para uma verdadeira ‘revolução’ no interior do próprio Partido, dando lugar e voz àqueles, militantes ou independentes, que são verdadeiramente uma mais-valia, não apenas às pretensões do Partido, ou dos ‘donos’ locais do Partido, mas muito mais às necessidades reais da Autarquia.Porque acredito que está na hora de alguém dar uma verdadeira lição às estruturas de liderança dos Partidos Políticos, espero que João Barros Duarte se mantenha no Executivo camarário até 2009. Mas, porque sei que isso não irá acontecer, então que venha Alberto Cascalho e prossiga a missão.Os próximos dois anos são por isso decisivos para a Marinha Grande. É a oportunidade de os Cidadãos Marinhenses se unirem em torno de um Projecto que tenha verdadeiramente em conta as reais preocupações e necessidades da População. Tal poderá passar por um projecto partidário, sendo neste caso ao Partido Socialista que em primeiro lugar cabe essa responsabilidade, mas não se deve descartar a possibilidade de um Movimento de Cidadãos se unir e construir um Projecto alternativo: uma Candidatura Independente. E não falta neste Concelho o Rosto de alguém que possa liderar e unir uma maioria dos Marinhenses num projecto sério e credível.Um aviso final à navegação (aos Internautas… comentadores de bancada como eu!): não basta escrever comunicados ou críticas, por melhor e mais realistas que sejam, mas sempre anónimas para se poder dizer que se contribui para a dignificação da Política, para a verdadeira mudança do estado de coisas na Autarquia. Numa hora como esta, é importante saber dar também a cara, assinar por baixo o que se escreve, e na hora H estar lá… presente, de corpo e alma, com a voz e o voto! Nenhum Movimento, partidário ou independente, tem viabilidade se não tiver este apoio declarado e explícito de todos os que são uma mais-valia de credibilidade ao próprio projecto.Pela Marinha Grande. Pelos Marinhenses. Pela Democracia. Por todos nós.Nélson José Nunes AraújoCidadão


Nem nas minhas piores expectativas, há dois anos atrás, poderia pensar que a Marinha Grande chegaria a este lamentável espectáculo político.Comecemos pelo princípio. Em Portugal não temos uma verdadeira classe Política. Temos sim um grupo de pseudo-ilustrados, bem-nascidos e formados nas escolas partidárias que se vão digladiando pelo exercício do poder como instrumento de fácil e rápido acesso à glória pessoal (que para uns será o mero exercício do poder, para outros os juros acumulados dos euros roubados aos contribuintes). Por isso, dizia e bem o Dr. Mário Soares que o aconteceu recentemente no interior do Partido Social Democrata era uma desgraça para a Democracia. Porque o que aconteceu na luta pelo poder no interior do Partido Social Democrata não é mais do que o reflexo, à escala nacional, do que acontece em todos os Partidos, em todos os sectores da vida política concelhia, distrital e nacional. Este facto por si só justifica o que todos sabemos: a Marinha Grande padece desde sempre da ausência de uma verdadeira alternativa política no exercício do governo autárquico. Entre os executivos comunistas e socialistas, tem-se assistido apenas a sempre mais do mesmo, e com os mesmos.Há em seguida na classe partidária nacional, com consequências inegáveis na vida quotidiana das autarquias (concelhos e freguesias), uma enorme falta de respeito pelos Cidadãos, pelo Povo que dizem ser soberano. Quando põem e dispõem, manipulam e instrumentalizam o próprio Voto popular para apenas servirem os seus interesses próprios. Se é verdade que em qualquer eleição (com excepção da Presidencial) se vota em Partidos e não nas pessoas, não é menos verdade que é essa é apenas uma teoria que na prática não tem correspondência. Em eleições Autárquicas, nestas mais que nas Legislativas, o Rosto do candidato é crucial para o bom/mau resultado eleitoral do Partido. Como compreender assim que, à posteriori, eleito o Candidato, o mesmo seja compelido a renunciar ao seu mandato por ‘instrução’ superior do Partido (algo que é mesmo inconstitucional)? Não é este facto, por si só, um claro desrespeito pela vontade popular?Os acontecimentos recentes da política marinhense são apenas mais uma diversão neste circo que é a política à boa maneira portuguesa.Em 2005 o Partido Comunista Português ganhou, bem ou mal não interessa agora, as eleições autárquicas. Esse facto só foi possível, todos o sabemos, quer pela situação desastrosa em que o Partido à altura no poder (Partido Socialista) se deixou enredar internamente, quer, e significativamente, pelo Rosto que liderou o projecto comunista: João Barros Duarte. O Comité Central do PCP sabia que, se alguma hipótese havia de ganhar estas eleições, este era o único homem capaz de o concretizar. Por isso, e apesar da sua idade, ele regressou. E ganhou. Ganhou as eleições para exercer um mandato de 4 anos que lhe foi confiado pelo Voto do Povo, não por uma decisão do Comité Central do PCP. Sendo que só quem dá pode retirar o que antes deu, só o Povo pode alterar, em novas eleições, a decisão de 2005. Qualquer outro discurso, por mais bem fundamentado que esteja em termos políticos ou de Direito Constitucional, irá sempre esbarrar com o senso comum.O que esconde então esta intromissão do Comité Central do PCP na vida política da Marinha Grande? Primeiro, mais que esconder, revela que a escolha de João Barros Duarte para encabeçar a Lista de 2005 não foi inocente. Ao Partido permitiu-lhe aspirar, e efectivamente, (re)conquistar a Autarquia e ao próprio a possibilidade de regressar ao exercício do Poder e ter assim a oportunidade de fazer pagar caro aos seus ‘inimigos’ (dentro e fora do Partido) a humilhação de há doze anos. Revela ainda que, desde sempre, foi intenção do PCP provocar esta saída ‘airosa’ de João Barros Duarte a meio do mandato, preparando assim a sua sucessão nas próximas eleições autárquicas de 2009. Assim se revela que desde um início o PCP iludiu o eleitorado, para não dizer que mentiram descaradamente. A teimosia de João Barros Duarte em não ‘acatar’ a instrução superior do Comité Central, revela que este suposto acordo pré-eleitoral não estava assim tão certo quanto isso… ou então João Barros Duarte, algures no decurso destes dois anos, sentiu-se traído pelo seu próprio Partido, pelos seus próprios Camaradas, e faz-lhes agora ‘pagar caro’, à sua maneira, a sua traição. João Barros Duarte será, em futuras campanhas eleitorais, o bode expiatório do PCP local que, apesar das palavras elogiosas, mas nitidamente de circunstância, não se inibirá de fazer cair sobre o Autarca renegado a responsabilidade política dos erros da gestão camarária… prometendo ao mesmo tempo que com o novo líder, um novo PCP surgirá (não é inocente a referência à idade de João Barros Duarte como justificação para a alternância)!Mas, este decadente espectáculo da nossa Democracia (?) só é possível porque há outros actores que o encobrem e justificam. Assim como a desgraça da Democracia está (no pensamento do Dr. Mário Soares) numa Oposição enfraquecida pelas suas próprias querelas internas, a desgraça da Marinha Grande está de igual modo numa Oposição que saiu enfraquecida pelo mesmo tipo de ‘guerrilha’ interna e pelo seu adormecimento face à catastrófica gestão autárquica do actual executivo.Todos os Partidos da Oposição local sofrem todos deste mal, mas é sem dúvida ao Partido Socialista que cabe sacar a maior quota de responsabilidade. A responsabilidade de não ter sabido corresponder à confiança que os Marinhenses depositaram em si durante 12 anos. A responsabilidade de ter permitido que os lobbies políticos e económicos, as questiúnculas entre ‘famílias’ dentro do próprio Partido, dominasse e condicionasse a acção do seu executivo camarário. A responsabilidade de não se ter unido e empenhado decididamente em torno de uma candidatura viável em 2005 e, por isso, de ter perdido o seu lugar de governo. A responsabilidade de, actualmente, como Oposição viver apenas na gestão da denúncia das fraquezas do adversário, em vez de mostrar aos Marinhenses que se prepara e tem gente com credibilidade a preparar-se para assumir os destinos da Autarquia em eleições próximas.Neste momento há diversos cenários plausíveis.O primeiro é, sem dúvida, a permanência do actual Executivo, eleito em 2005. João Barros Duarte não tem de obrigatoriamente aceitar a indicação superior do Partido. Tem toda a legitimidade, a que lhe é conferida pelo Voto popular, para continuar, bem ou mal, à frente dos destinos da Autarquia.Um segundo cenário, mais que provável, é a bem ‘encenada’ renúncia ao Mandato por parte de João Barros Duarte, sendo então substituído pelo Vice-Presidente, entretanto já indiciado para o lugar pelo Partido. Uma remodelação ‘cosmética’, sabendo-se que a política de gestão autárquica não sofreria grande alteração. E espera-se, sofridamente, pelas eleições de 2009.Eleições antecipadas na Marinha Grande, o terceiro cenário possível, se bem que seja o legitimamente expectável, a confirmar-se o afastamento de João Barros Duarte, será ao mesmo tempo a desgraça maior da Autarquia. Porque facilmente iríamos assistir a um regresso ao passado recente: O Partido Socialista voltaria ao Executivo, mas dada a pressa em formar governo, iria socorrer-se dos mesmos de sempre. Seria mais do mesmo! Não haveria a oportunidade para uma verdadeira ‘revolução’ no interior do próprio Partido, dando lugar e voz àqueles, militantes ou independentes, que são verdadeiramente uma mais-valia, não apenas às pretensões do Partido, ou dos ‘donos’ locais do Partido, mas muito mais às necessidades reais da Autarquia.Porque acredito que está na hora de alguém dar uma verdadeira lição às estruturas de liderança dos Partidos Políticos, espero que João Barros Duarte se mantenha no Executivo camarário até 2009. Mas, porque sei que isso não irá acontecer, então que venha Alberto Cascalho e prossiga a missão.Os próximos dois anos são por isso decisivos para a Marinha Grande. É a oportunidade de os Cidadãos Marinhenses se unirem em torno de um Projecto que tenha verdadeiramente em conta as reais preocupações e necessidades da População. Tal poderá passar por um projecto partidário, sendo neste caso ao Partido Socialista que em primeiro lugar cabe essa responsabilidade, mas não se deve descartar a possibilidade de um Movimento de Cidadãos se unir e construir um Projecto alternativo: uma Candidatura Independente. E não falta neste Concelho o Rosto de alguém que possa liderar e unir uma maioria dos Marinhenses num projecto sério e credível.Um aviso final à navegação (aos Internautas… comentadores de bancada como eu!): não basta escrever comunicados ou críticas, por melhor e mais realistas que sejam, mas sempre anónimas para se poder dizer que se contribui para a dignificação da Política, para a verdadeira mudança do estado de coisas na Autarquia. Numa hora como esta, é importante saber dar também a cara, assinar por baixo o que se escreve, e na hora H estar lá… presente, de corpo e alma, com a voz e o voto! Nenhum Movimento, partidário ou independente, tem viabilidade se não tiver este apoio declarado e explícito de todos os que são uma mais-valia de credibilidade ao próprio projecto.Pela Marinha Grande. Pelos Marinhenses. Pela Democracia. Por todos nós.Nélson José Nunes AraújoCidadão

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