o tempo das cerejas*: Não tenho outra maneira de dizer

20-05-2011
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Um «post» infeliz e umareceita para o suicídio eleitoralRicardo Pais Mamede assinou ontem no «ladrões de bicicletas» um «post» dramaticamente intitulado (repare-se no meu sublinhado) «Momento da verdade para a esquerda portuguesa» que considero profundamente erróneo e equivocado e que, por isso mesmo, não posso deixar de comentar antes mesmo de se conhecer o desfecho parlamentar de logo à tarde, e que passo a citar com generosidade (sublinhados meus): «(...) E a esquerda? PCP e BE estão mais uma vez encurralados. Num cenário em que a situação interna e os constrangimentos externos deixam pouco espaço de manobra, não têm conseguido fazer muito mais do que anunciar que vem aí o desastre. Podem até ter razão. Mas para a maioria das pessoas, inclusive muitos dos seus eleitores, serão vistos ou como parte do problema (contribuindo para a ingovernabilidade) ou, pelo menos, como não sendo parte de qualquer solução. Mas PCP e BE poderiam dar um sinal diferente. Poderiam ter a iniciativa de se apresentar com uma plataforma comum, propondo ao PS um conjunto de condições mínimas para apoiar uma solução para a crise assente numa maioria de esquerda no Parlamento. Uma solução que mostrasse que existem outros caminhos possíveis, mesmo com todos os constrangimentos internos e externos. Dificilmente o PS de Sócrates estaria interessado ou capacitado para aceitar o que seriam as condições mínimas da decência – aumentar a progressividade do sistema fiscal, abdicar das mordomias e da distribuição de empregos e favores, renegociar as PPP e as concessões predatórias, e prosseguir uma estratégia credível de contenção orçamental (que só pode assentar na prioridade ao crescimento). Mas os portugueses ficariam mais convencidos que o país não tem de ser o que é – e o ónus ficaria nas mãos do PS.»Sobre isto e sobre o que lhe subjaz, quero anotar o seguinte, sem preocupações de hierarquia ou sequência lógica de argumentos :Começa desde logo por que Ricardo Pais Mamede pergunta «E a esquerda ?» e logo de seguida ocupa-se a falar só do PCP e do BE e passadas umas linhas, já está a dizer que estes dois partidos deviam dar a sua contribuição (matéria que discutirei mais à frente) para «apoiar uma solução para a crise assente numa maioria de esquerda no Parlamento», o que suponho querer dizer sem recurso a eleições. Eu até posso compreender as dificuldades que, ao nível semântico, assaltam Ricardo Pais Mamede mas o que não creio é que se possa escrever seriamente sobre estas coisas tirando o PS da esquerda numas linhas e incluindo-o nela noutras linhas.Não posso deixar de rejeitar vigorosamente a ligeira observação de R.P.M. de que PCP e BE «não têm conseguido fazer muito mais do que anunciar que vem aí o desastre», observação que, formulada por outra pessoa, me mereceria o duro epíteto de preguiçosa. O ponto está em que uma pessoa com o perfil e as responsabilidades de Ricardo Pais Mamede tem obrigação de conhecer mais do que as ideias feitas não inocentemente circulantes e do que os títulos ou curtas notícias dos media, antes tendo a elementar obrigação de conhecer extensos documentos e intervenções parlamentares na íntegra. E se os conhecer, até pode discordar de parte pequena ou grande das orientações alternativas persistentemente propostas mas o que não pode é fazer de conta que não existem ou não foram um componente essencial da actividade e intervenção de partidos à esquerda do PS.Acontece que, neste seu «post», Ricardo Pais Mamede, talvez sem se dar conta disso, regressa a um dos mais velhos sofismas que, volta não volta, encharcam o pensamento de certos sectores de esquerda. Trata-se nem mais nem menos da ideia de que o diálogo entre forças políticas ou ensaios para a sua convergência só existem quando existem actos políticos formalizados ou listas de «condições mínimas» (ou máximas, diria eu !) apresentadas a outro partido. Não, a vida política não é assim a modos que um conjunto de meros rituais (ainda por cima apresentados, como se verá, como encenações). O diálogo político e a verificação da existência oi inescistência de condições de convergência verificam-se também e sobretudo no dia a dia da vida política e decorrem das políticas e medidas que uns decidem e concretizam no governo e nas orientações e medidas alternativas que outros propõem e que os primeiros sistematicamente rejeitam. Como, por exemplo, poderá ser visto hoje no confronto e comparação entre os projectos de Resolução apresentados na AR a propósito do PEC IV.E agora chegamos ao ponto nodal e nuclear da fórmula usada por Ricardo Pais Mamede das «condições mínimas». É que eu preferia de longe que o autor, antes de usar a fórmula, tivesse passado em revista tudo quanto nos últimos anos foi escrito no seu blogue sobre a política dos governos do PS. E sobretudo preferia que, correspondendo a um apelo que sem resultado tenho dirigido a outras personalidades, nos fizesse o supremo favor de exemplificar, na vasta panóplia das polticas do PS, tudo quanto estaria disposto a engolir, a tolerar ou a fechar os olhos que não coubesse nas chamadas «condições mínimas» que, se "mínimas" são, pressupõem um "resto" imenso.À beira do fim, acresce que Ricardo Pais Mamede, ao ter a honestidade de reconhecer que o PS nem sequer aceitaria tais «condições mínimas» está a reconduzir a sua proposta a um mero instrumento ou golpe táctico do género para ver quem fica com a culpa como se o primeiro dever das forças à esquerda não fosse o de, se há - e haverá - ideias feitas e insuficiente informação por parte de muitos cidadãos, travar denodamente o combate de esclarecimento e de reposição da verdade, desvendando e insistindo numa culpa e responsabilidades que, até aos limites do imaginável, pertencem todinhas às opções ideológicas e políticas do PS.Mas, mesmo como mera jogada táctica, a ideia de Ricardo Pais Mamede é, quanto a mim insensata e quase suicidária quando se pode estar na iminência de legislativas antecipadas. Se tal proposta de «condições mínimas» fosse feita para assegurar uma solução sem recurso a eleições e dado que, como diz R.P.M. o PS a recusaria, então o que teríamos era uma campanha eleitoral da CDU e do BE ferida na autonomia das suas propostas e projectos pelo anterior vínculo às tais «condições mínimas» e oferecendo à direita o pretexto para conduzir uma campanha de fingido confronto não com o PS mas com um fantasioso «conjunto da esquerda». Certamente que são muitas as dificuldades, incertezas e complexidades da situação mas há uma coisa que é preciso ter absolutamente claro nesta precisa hora, caso se vá para as eleições: é que as pré-campanhas as campanhas eleitorais, por natureza e definição, não são um território para negociações entre partidos por via da comunicação social, antes são, por excelência, o território central da exposição dos projectos e propostas de cada partido, do seu diálogo directo com os eleitores e do esforço tenaz, combativo e confiante para conquistar uma influência maior e criar uma diferente correlação de forças que influencie a evolução da vida política e das soluções políticas e governativas após as eleições.P.S.: Não devia ser necessário dizê-lo mas talvez valha a pena acrescentar uma coisa que porventura terá a sua importância e fará alguma diferença: é que este «post» não é de um analista ou comentador político, é de um combatente político que também o é através da escrita.


Um «post» infeliz e umareceita para o suicídio eleitoralRicardo Pais Mamede assinou ontem no «ladrões de bicicletas» um «post» dramaticamente intitulado (repare-se no meu sublinhado) «Momento da verdade para a esquerda portuguesa» que considero profundamente erróneo e equivocado e que, por isso mesmo, não posso deixar de comentar antes mesmo de se conhecer o desfecho parlamentar de logo à tarde, e que passo a citar com generosidade (sublinhados meus): «(...) E a esquerda? PCP e BE estão mais uma vez encurralados. Num cenário em que a situação interna e os constrangimentos externos deixam pouco espaço de manobra, não têm conseguido fazer muito mais do que anunciar que vem aí o desastre. Podem até ter razão. Mas para a maioria das pessoas, inclusive muitos dos seus eleitores, serão vistos ou como parte do problema (contribuindo para a ingovernabilidade) ou, pelo menos, como não sendo parte de qualquer solução. Mas PCP e BE poderiam dar um sinal diferente. Poderiam ter a iniciativa de se apresentar com uma plataforma comum, propondo ao PS um conjunto de condições mínimas para apoiar uma solução para a crise assente numa maioria de esquerda no Parlamento. Uma solução que mostrasse que existem outros caminhos possíveis, mesmo com todos os constrangimentos internos e externos. Dificilmente o PS de Sócrates estaria interessado ou capacitado para aceitar o que seriam as condições mínimas da decência – aumentar a progressividade do sistema fiscal, abdicar das mordomias e da distribuição de empregos e favores, renegociar as PPP e as concessões predatórias, e prosseguir uma estratégia credível de contenção orçamental (que só pode assentar na prioridade ao crescimento). Mas os portugueses ficariam mais convencidos que o país não tem de ser o que é – e o ónus ficaria nas mãos do PS.»Sobre isto e sobre o que lhe subjaz, quero anotar o seguinte, sem preocupações de hierarquia ou sequência lógica de argumentos :Começa desde logo por que Ricardo Pais Mamede pergunta «E a esquerda ?» e logo de seguida ocupa-se a falar só do PCP e do BE e passadas umas linhas, já está a dizer que estes dois partidos deviam dar a sua contribuição (matéria que discutirei mais à frente) para «apoiar uma solução para a crise assente numa maioria de esquerda no Parlamento», o que suponho querer dizer sem recurso a eleições. Eu até posso compreender as dificuldades que, ao nível semântico, assaltam Ricardo Pais Mamede mas o que não creio é que se possa escrever seriamente sobre estas coisas tirando o PS da esquerda numas linhas e incluindo-o nela noutras linhas.Não posso deixar de rejeitar vigorosamente a ligeira observação de R.P.M. de que PCP e BE «não têm conseguido fazer muito mais do que anunciar que vem aí o desastre», observação que, formulada por outra pessoa, me mereceria o duro epíteto de preguiçosa. O ponto está em que uma pessoa com o perfil e as responsabilidades de Ricardo Pais Mamede tem obrigação de conhecer mais do que as ideias feitas não inocentemente circulantes e do que os títulos ou curtas notícias dos media, antes tendo a elementar obrigação de conhecer extensos documentos e intervenções parlamentares na íntegra. E se os conhecer, até pode discordar de parte pequena ou grande das orientações alternativas persistentemente propostas mas o que não pode é fazer de conta que não existem ou não foram um componente essencial da actividade e intervenção de partidos à esquerda do PS.Acontece que, neste seu «post», Ricardo Pais Mamede, talvez sem se dar conta disso, regressa a um dos mais velhos sofismas que, volta não volta, encharcam o pensamento de certos sectores de esquerda. Trata-se nem mais nem menos da ideia de que o diálogo entre forças políticas ou ensaios para a sua convergência só existem quando existem actos políticos formalizados ou listas de «condições mínimas» (ou máximas, diria eu !) apresentadas a outro partido. Não, a vida política não é assim a modos que um conjunto de meros rituais (ainda por cima apresentados, como se verá, como encenações). O diálogo político e a verificação da existência oi inescistência de condições de convergência verificam-se também e sobretudo no dia a dia da vida política e decorrem das políticas e medidas que uns decidem e concretizam no governo e nas orientações e medidas alternativas que outros propõem e que os primeiros sistematicamente rejeitam. Como, por exemplo, poderá ser visto hoje no confronto e comparação entre os projectos de Resolução apresentados na AR a propósito do PEC IV.E agora chegamos ao ponto nodal e nuclear da fórmula usada por Ricardo Pais Mamede das «condições mínimas». É que eu preferia de longe que o autor, antes de usar a fórmula, tivesse passado em revista tudo quanto nos últimos anos foi escrito no seu blogue sobre a política dos governos do PS. E sobretudo preferia que, correspondendo a um apelo que sem resultado tenho dirigido a outras personalidades, nos fizesse o supremo favor de exemplificar, na vasta panóplia das polticas do PS, tudo quanto estaria disposto a engolir, a tolerar ou a fechar os olhos que não coubesse nas chamadas «condições mínimas» que, se "mínimas" são, pressupõem um "resto" imenso.À beira do fim, acresce que Ricardo Pais Mamede, ao ter a honestidade de reconhecer que o PS nem sequer aceitaria tais «condições mínimas» está a reconduzir a sua proposta a um mero instrumento ou golpe táctico do género para ver quem fica com a culpa como se o primeiro dever das forças à esquerda não fosse o de, se há - e haverá - ideias feitas e insuficiente informação por parte de muitos cidadãos, travar denodamente o combate de esclarecimento e de reposição da verdade, desvendando e insistindo numa culpa e responsabilidades que, até aos limites do imaginável, pertencem todinhas às opções ideológicas e políticas do PS.Mas, mesmo como mera jogada táctica, a ideia de Ricardo Pais Mamede é, quanto a mim insensata e quase suicidária quando se pode estar na iminência de legislativas antecipadas. Se tal proposta de «condições mínimas» fosse feita para assegurar uma solução sem recurso a eleições e dado que, como diz R.P.M. o PS a recusaria, então o que teríamos era uma campanha eleitoral da CDU e do BE ferida na autonomia das suas propostas e projectos pelo anterior vínculo às tais «condições mínimas» e oferecendo à direita o pretexto para conduzir uma campanha de fingido confronto não com o PS mas com um fantasioso «conjunto da esquerda». Certamente que são muitas as dificuldades, incertezas e complexidades da situação mas há uma coisa que é preciso ter absolutamente claro nesta precisa hora, caso se vá para as eleições: é que as pré-campanhas as campanhas eleitorais, por natureza e definição, não são um território para negociações entre partidos por via da comunicação social, antes são, por excelência, o território central da exposição dos projectos e propostas de cada partido, do seu diálogo directo com os eleitores e do esforço tenaz, combativo e confiante para conquistar uma influência maior e criar uma diferente correlação de forças que influencie a evolução da vida política e das soluções políticas e governativas após as eleições.P.S.: Não devia ser necessário dizê-lo mas talvez valha a pena acrescentar uma coisa que porventura terá a sua importância e fará alguma diferença: é que este «post» não é de um analista ou comentador político, é de um combatente político que também o é através da escrita.

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