O país esdrúxulo

21-01-2011
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Primeiro, a notícia era que o Governo tencionava reduzir a velocidade nas auto-estradas nacionais de 120 para 118 km/hora, e aí muita gente achou que esta medida revolucionária poderia mudar em apenas poucos meses a face de Portugal, e que depois, inspiradas no luminoso exemplo das auto-estradas, as escolas passariam a dar início à s aulas não já à s 8h30, como antigamente, mas à s 8h23, os telejornais, que antes abriam à s 20h, começariam agora à s 19h57, enquanto a Carris e o Metropolitano de Lisboa, fartos também de vender os seus bilhetes a €0,70, alterariam o seu custo para €0,71 – e que enfim os portugueses, quando descobrissem a nova e surpreendente liberdade de viver num país esdrúxulo, se perguntariam como tinham conseguido resistir tantos séculos à tirania opressiva da normalidade…Â

Mas depois o Governo esclareceu que não queria baixar a velocidade máxima nas auto-estradas (que de resto é de 130 km/h) mas apenas reduzir a velocidade média , que actualmente se estima em 120 km/h, para 118 km/h, a fim de limitar as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, e que esta medida, que consta do Programa Nacional de Alterações Climáticas (PNAC), não vai portanto obrigar à mudança dos sinais de limitação de velocidade por esse país fora. Ainda assim, e apesar do esclarecimento, a dúvida persiste nos espíritos sobre a forma como a medida vai ser aplicada, existindo fundadas suspeitas de que o seu simples anúncio é revelador de que as autoridades se conformam com a ilegalidade reinante nas nossas auto-estradas (e não só) e as medidas que adoptam são larga e consabidamente faz-de-conta. Senão vejamos: se a velocidade média é de 120 km/h, e tendo em conta a existência de muitos carros que circulam abaixo dessa velocidade, torna-se forçoso reconhecer que muitos circulam também acima dela, e acima igualmente do máximo permitido. Quando as autoridades, num determinado período de tempo ou ponto do território, anunciam com grande fúria moralizadora uma política de “tolerância zero” para com os infractores, estão implicitamente a admitir que, no resto do tempo e nos outros pontos do país, a tolerância é cem ou mil.Â

Primeiro, a notícia era que o Governo tencionava reduzir a velocidade nas auto-estradas nacionais de 120 para 118 km/hora, e aí muita gente achou que esta medida revolucionária poderia mudar em apenas poucos meses a face de Portugal, e que depois, inspiradas no luminoso exemplo das auto-estradas, as escolas passariam a dar início à s aulas não já à s 8h30, como antigamente, mas à s 8h23, os telejornais, que antes abriam à s 20h, começariam agora à s 19h57, enquanto a Carris e o Metropolitano de Lisboa, fartos também de vender os seus bilhetes a €0,70, alterariam o seu custo para €0,71 – e que enfim os portugueses, quando descobrissem a nova e surpreendente liberdade de viver num país esdrúxulo, se perguntariam como tinham conseguido resistir tantos séculos à tirania opressiva da normalidade…Â

Mas depois o Governo esclareceu que não queria baixar a velocidade máxima nas auto-estradas (que de resto é de 130 km/h) mas apenas reduzir a velocidade média , que actualmente se estima em 120 km/h, para 118 km/h, a fim de limitar as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, e que esta medida, que consta do Programa Nacional de Alterações Climáticas (PNAC), não vai portanto obrigar à mudança dos sinais de limitação de velocidade por esse país fora. Ainda assim, e apesar do esclarecimento, a dúvida persiste nos espíritos sobre a forma como a medida vai ser aplicada, existindo fundadas suspeitas de que o seu simples anúncio é revelador de que as autoridades se conformam com a ilegalidade reinante nas nossas auto-estradas (e não só) e as medidas que adoptam são larga e consabidamente faz-de-conta. Senão vejamos: se a velocidade média é de 120 km/h, e tendo em conta a existência de muitos carros que circulam abaixo dessa velocidade, torna-se forçoso reconhecer que muitos circulam também acima dela, e acima igualmente do máximo permitido. Quando as autoridades, num determinado período de tempo ou ponto do território, anunciam com grande fúria moralizadora uma política de “tolerância zero” para com os infractores, estão implicitamente a admitir que, no resto do tempo e nos outros pontos do país, a tolerância é cem ou mil.Â

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