Da Literatura: O regresso do populismo

19-12-2009
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A vitória de Paulo Portas nas eleições do CDS/PP mostra bem que este partido já só existe na segunda parte da sua sigla. Na verdade, o CDS, enquanto partido pensado em 1974 por Freitas do Amaral e Amaro da Costa como ancorado ao centro e aberto à direita, à maneira dos democratas­‑cristãos europeus, já não existia desde que Portas o deixou há dois anos. O consulado de Ribeiro e Castro não poderia acabar de outro modo, porque não passava de uma ilusão, assente numa base de apoio que fora progressivamente extinta durante o tempo em que Portas fora o caudilho do partido. Agora, regressa à cena política portuguesa o populismo e a demagogia que a infestaram em período bem recente. Note­‑se que Ribeiro e Castro, um conservador, é estruturalmente um democrata, e bastaria lembrar a sua frontal oposição à perseguição racista aos ciganos no norte do país, há alguns anos (em que até uma certa esquerda participou), manifestada nos textos que então publicou na imprensa, para que dessa categoria não subsistam dúvidas. Quanto ao novo chefe do PP, a sua aparente aceitação de princípios democráticos deve­‑se à consciência da capacidade de os subverter através da estratégia populista que o caracteriza. Recusá­‑los, aliás, teria custos políticos que Portas não desconhece. Essa hipocrisia, mascarada com o sorriso púdico do ofendido, tem ainda outro perigo, o de afectar, por contágio, todo o sistema partidário. Espero bem que o PSD não tenha a pretensão de aproximar o seu discurso da orientação demagógica que o seu vizinho da direita vai começar a exibir. Se o fizer, até a esquerda democrática pode ir no engodo, o que seria realmente muito grave. A campanha para as eleições presidenciais francesas serviu para demonstrar como esse efeito de dominó pode ir bem mais longe do que inicialmente se supunha.

A vitória de Paulo Portas nas eleições do CDS/PP mostra bem que este partido já só existe na segunda parte da sua sigla. Na verdade, o CDS, enquanto partido pensado em 1974 por Freitas do Amaral e Amaro da Costa como ancorado ao centro e aberto à direita, à maneira dos democratas­‑cristãos europeus, já não existia desde que Portas o deixou há dois anos. O consulado de Ribeiro e Castro não poderia acabar de outro modo, porque não passava de uma ilusão, assente numa base de apoio que fora progressivamente extinta durante o tempo em que Portas fora o caudilho do partido. Agora, regressa à cena política portuguesa o populismo e a demagogia que a infestaram em período bem recente. Note­‑se que Ribeiro e Castro, um conservador, é estruturalmente um democrata, e bastaria lembrar a sua frontal oposição à perseguição racista aos ciganos no norte do país, há alguns anos (em que até uma certa esquerda participou), manifestada nos textos que então publicou na imprensa, para que dessa categoria não subsistam dúvidas. Quanto ao novo chefe do PP, a sua aparente aceitação de princípios democráticos deve­‑se à consciência da capacidade de os subverter através da estratégia populista que o caracteriza. Recusá­‑los, aliás, teria custos políticos que Portas não desconhece. Essa hipocrisia, mascarada com o sorriso púdico do ofendido, tem ainda outro perigo, o de afectar, por contágio, todo o sistema partidário. Espero bem que o PSD não tenha a pretensão de aproximar o seu discurso da orientação demagógica que o seu vizinho da direita vai começar a exibir. Se o fizer, até a esquerda democrática pode ir no engodo, o que seria realmente muito grave. A campanha para as eleições presidenciais francesas serviu para demonstrar como esse efeito de dominó pode ir bem mais longe do que inicialmente se supunha.

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