Da Literatura: CALCANHAR DE AQUILES

19-12-2009
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Parece que, se por hipótese o PSD ganhar as legislativas de Setembro, Manuela Ferreira Leite pretende governar sozinha, ora com apoio parlamentar do CDS-PP, ora com apoio parlamentar do PS. Há um porém. Manuela deve ter memória: nas legislativas de 2002, quem impôs condições foi Paulo Portas. Foi o líder do CDS-PP quem lembrou a Barroso que, sem ele, a direita não tinha maioria. Foi essa aliança, imposta por Portas na noite das eleições, que obrigou Barroso ao governo de coligação. Perante a evidência, Sampaio deu luz verde à maioria PSD/CDS-PP. Portanto, se daqui a três meses o PSD obtiver 38% e o CDS-PP 7%, é provável que a direita do arco governativo consiga eleger 116 deputados. Mas Portas terá de ser tido em conta, como em 2002. Bem pode o baronato do PSD pensar o contrário, que Portas exigirá, no mínimo, ser ministro de Estado.Eu, se fosse votante PSD (não sou), começava a tomar doses cavalares de sertralina. É que um hipotético futuro governo do PSD vai ter de explicar muito bem explicada a necessidade do TGV para Madrid — o qual se fará com Sócrates, com Manuela ou outros quaisquer —; a desnecessidade (como diria Mia Couto) do TGV para o Porto; o novo aeroporto de Lisboa (até porque o lobby que o mudou da Ota para Alcochete vai apresentar a factura); vai ter de lidar com os bonés dos polícias; vai ter de aguentar o sr. Mário Nogueira e as manifs da Fenprof (outra factura incómoda); vai ser obrigado à dança do ventre por cada Quimonda ou Autoeuropa que fechar de vez; vai ter de convencer 700 mil funcionários públicos da necessidade de lhes congelar os salários — MFL teve a coragem de dizer que o faria —; vai ficar com o mono do BPN nas mãos; vai ter de entender-se com os clientes do BPP; e ainda vai ter de aturar por mais dois anos (salvo erro) o dr. Vítor Constâncio, o qual, se não sair pelo seu pé, de livre vontade, não pode ser demitido. É muita areia para a camioneta da Buenos Aires. Paulo Rangel admite com veemência uma coligação com o CDS-PP, partido onde militou; mas Nuno Morais Sarmento pensa exactamente o contrário. O economista Daniel Bessa, um independente conotado com a ala direita do PS, que foi ministro da Economia do primeiro governo de Guterres, abandonou o cargo ao fim de seis meses. Mas, quem diria!, foi Bessa que MFL escolheu para coordenar o Fórum Portugal de Verdade. Verdade que o primeiro governo de Cavaco (1985-87) não tinha maioria; nem os dois de Guterres (1995-2002), mas Guterres fugiu assim que sentiu o fedor do pântano. Et pour cause. E a procissão ainda vai no adro.Adenda. Um leitor atento e amigo lembra-me, com propriedade, que um resultado de 45% de um partido, ou de uma coligação, pode garantir maioria absoluta, sim senhor; mas isso já não é verdade se os 45% resultarem (como exemplifico em cima) da soma de 38% com 7%. Fica feita a correcção matemática, tendo em vista as regras do sistema eleitoral vigente. Em todo o caso, o meu exemplo é meramente retórico.Etiquetas: Política nacional

Parece que, se por hipótese o PSD ganhar as legislativas de Setembro, Manuela Ferreira Leite pretende governar sozinha, ora com apoio parlamentar do CDS-PP, ora com apoio parlamentar do PS. Há um porém. Manuela deve ter memória: nas legislativas de 2002, quem impôs condições foi Paulo Portas. Foi o líder do CDS-PP quem lembrou a Barroso que, sem ele, a direita não tinha maioria. Foi essa aliança, imposta por Portas na noite das eleições, que obrigou Barroso ao governo de coligação. Perante a evidência, Sampaio deu luz verde à maioria PSD/CDS-PP. Portanto, se daqui a três meses o PSD obtiver 38% e o CDS-PP 7%, é provável que a direita do arco governativo consiga eleger 116 deputados. Mas Portas terá de ser tido em conta, como em 2002. Bem pode o baronato do PSD pensar o contrário, que Portas exigirá, no mínimo, ser ministro de Estado.Eu, se fosse votante PSD (não sou), começava a tomar doses cavalares de sertralina. É que um hipotético futuro governo do PSD vai ter de explicar muito bem explicada a necessidade do TGV para Madrid — o qual se fará com Sócrates, com Manuela ou outros quaisquer —; a desnecessidade (como diria Mia Couto) do TGV para o Porto; o novo aeroporto de Lisboa (até porque o lobby que o mudou da Ota para Alcochete vai apresentar a factura); vai ter de lidar com os bonés dos polícias; vai ter de aguentar o sr. Mário Nogueira e as manifs da Fenprof (outra factura incómoda); vai ser obrigado à dança do ventre por cada Quimonda ou Autoeuropa que fechar de vez; vai ter de convencer 700 mil funcionários públicos da necessidade de lhes congelar os salários — MFL teve a coragem de dizer que o faria —; vai ficar com o mono do BPN nas mãos; vai ter de entender-se com os clientes do BPP; e ainda vai ter de aturar por mais dois anos (salvo erro) o dr. Vítor Constâncio, o qual, se não sair pelo seu pé, de livre vontade, não pode ser demitido. É muita areia para a camioneta da Buenos Aires. Paulo Rangel admite com veemência uma coligação com o CDS-PP, partido onde militou; mas Nuno Morais Sarmento pensa exactamente o contrário. O economista Daniel Bessa, um independente conotado com a ala direita do PS, que foi ministro da Economia do primeiro governo de Guterres, abandonou o cargo ao fim de seis meses. Mas, quem diria!, foi Bessa que MFL escolheu para coordenar o Fórum Portugal de Verdade. Verdade que o primeiro governo de Cavaco (1985-87) não tinha maioria; nem os dois de Guterres (1995-2002), mas Guterres fugiu assim que sentiu o fedor do pântano. Et pour cause. E a procissão ainda vai no adro.Adenda. Um leitor atento e amigo lembra-me, com propriedade, que um resultado de 45% de um partido, ou de uma coligação, pode garantir maioria absoluta, sim senhor; mas isso já não é verdade se os 45% resultarem (como exemplifico em cima) da soma de 38% com 7%. Fica feita a correcção matemática, tendo em vista as regras do sistema eleitoral vigente. Em todo o caso, o meu exemplo é meramente retórico.Etiquetas: Política nacional

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