O banho de lama dos candidatos pequeninos

10-07-2011
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Nem quero acreditar, de tão absurdo que é, que o que mais interessa os candidatos saltitantes e a comunicação social nesta campanha para as presidênciais é a velhinha notícia das acções que Cavaco Silva teve da SLN, ex-propietária do BPN. Passemos ao lado do facto de isto ser o reconhecimento pelos vários candidatozinhos que as presidênciais são um referendo a Cavaco Silva, o que só o beneficia, e que nem se deram ao trabalho de preparar uns temas para a campanha (além da lama que Defensor de Moura entendeu introduzir) – e olhem que os eleitores não gostam de quem nem se quer esforçar um bocadinho para os seduzir – para anotar uns pequeninos detalhes. No meio da irrelevância em que os pseudo-candidatos se colocam (uma ideia! o meu armário de sapatos por uma ideia!) há alegações que se ouvem e lêem que, além de mentiras chapadas, demonstram uma ausência de familiaridade com os mais usuais mecanismos de mercado e uma preferência pelos mecanismos das economias sem mercado que, lá está, também não são desejáveis num PR. (Não, ninguém em Portugal, tirando meia dúzia de maluquinhos, está interessado em voltar aos tempos pré-soviéticos do PREC.)

1. Além de não ser ilegal nem sequer sintoma de ilegalidade a existência de sociedades anónimas não cotadas em bolsa e de se proceder diariamente à compra e venda de acções de empresas não cotadas em bolsa, convém esclarecer os candidatos a oponentes de Cavaco Silva que numa grande empresa deter cento e poucas mil acções não deixa que mandemos nada nessa empresa, pelo que proclamarem que Cavaco teve responsabilidades na condução da empresa proprietária do BPN é revelação de que estão sobretudo familiarizados com a organização dos sovkozes ou que são pessoas com relações conturbadas com a verdade.

2. Não se pode deixar de notar que a verve acusatória de Alegre quando acusa Cavaco Silva por interposto meio de comunicação social não é a mesma que tem quando está cara-a-cara com o visado, em que se torna mansinho e o mais que consegue é uma ou duas insinuações. Acho que assim perde o eleitorado marialva.

3. Cheguemos ao caso. Cavaco Silva comprou em 2001 acções ao preço em que à época se compravam e vendiam acções da SLN e vendeu em 2003 acções ao preço em que à época se compravam e vendiam acções da SLN. Não foi favorecido na compra nem na venda face a outros accionistas; as mais valias estavam disponíveis para todos os accionistas que compraram e venderam.

4. A única questão que se poderia colocar a Cavaco Silva é: o que o levou a investir na SLN? Mas essa pergunta não pode ser feita, porque lembraria que ligados à SLN, e neste caso com responsabilidades efectivas na gestão do Banco Efisa, controlado pelo BPN, estiveram personalidades do PS ou da área do PS como Guilherme de Oliveira Martins ou José Lamego.

5. Não se pode exigir a Cavaco Silva, enquanto professor universitário, que previsse em 2001-2003 o que se veio a descobrir em 2008 sobre uma empresa da SLN (isto se não atribuirmos ao actual PR poderes de semi-deus, o que, pelos vistos, é o que os candidatos a seus oponentes pensam do PR, novamente com benefício para Cavaco) , sendo que durante anos o Banco de Portugal se sentiu descansado quanto ao BPN e descansava os seus depositantes. E o governo, que me parece ter mais meios de informação sobre um banco comercial do que um professor universitário, também estava tão descansado com o BPN que lá abriu conta para a Segurança Social em 1999 (ano de governo Guterres) e lá tinha 500 milhões de euros em 2008 (ao arrepio de todas as cautelas) e de lá retirou 300 milhões de euros pouco antes de rebentar o escândalo – questionam-se alguns se não precisamente com a intenção de precipitar a ‘queda’ do BPN.

6. Ainda estou à espera que jugulares e amigos – que tanto se incomodaram com a revelação de escutas interceptadas numa investigação criminal envolvendo José Sócrates – se indignem e repudiem a violação da correspondência de Cavaco Silva que levou à notícia do Expresso. Até porque no caso de José Sócrates as escutas indiciavam, entenderam alguns que a elas tiveram acesso, um possível crime de atentado ao estado de direito devido a uma vergonhosa tentativa de controle dos grupos de comunicação social. E no caso de Cavaco Silva a revelação da correspondência apenas mostrou a venda de acções, acto inocente, legítimo e legal, que levou à realização de uma mais-valia, o que costuma ser o objectivo (também inocente, legítimo e legal) da venda de acções.

7. Além de demonstrar a irrelevância política dos vários candidatos a oponentes de Cavaco Silva, as notícias sobre as acções da SLN revelam também o calibre dos jornalistas. Não porque estes não devam noticiar as atoardas dos vários candidatos sobre a SLN se estes as entendem proferir, mas porque não lhes perguntam exactamente o que vêem de errado na transacção, já que esta foi noticiada como sem irregularidades; foi Cavaco ter ganho dinheiro? e, se sim, qual o problema disso? têm conhecimento de alguma irregularidade não noticiada na transacção? ou desconfiam de favorecimento? É que repetirem a compra e a venda de umas acções, assim sem mais, como se de um crime se tratasse também lhes dá um ar um tanto tolinho. Ou então não perguntam querendo proteger os candidatos: como se viu no debate Cavaco-Alegre, este último nem soube listar quem esteve ligado ao BPN e foi politicamente próximo de Cavaco.

Nem quero acreditar, de tão absurdo que é, que o que mais interessa os candidatos saltitantes e a comunicação social nesta campanha para as presidênciais é a velhinha notícia das acções que Cavaco Silva teve da SLN, ex-propietária do BPN. Passemos ao lado do facto de isto ser o reconhecimento pelos vários candidatozinhos que as presidênciais são um referendo a Cavaco Silva, o que só o beneficia, e que nem se deram ao trabalho de preparar uns temas para a campanha (além da lama que Defensor de Moura entendeu introduzir) – e olhem que os eleitores não gostam de quem nem se quer esforçar um bocadinho para os seduzir – para anotar uns pequeninos detalhes. No meio da irrelevância em que os pseudo-candidatos se colocam (uma ideia! o meu armário de sapatos por uma ideia!) há alegações que se ouvem e lêem que, além de mentiras chapadas, demonstram uma ausência de familiaridade com os mais usuais mecanismos de mercado e uma preferência pelos mecanismos das economias sem mercado que, lá está, também não são desejáveis num PR. (Não, ninguém em Portugal, tirando meia dúzia de maluquinhos, está interessado em voltar aos tempos pré-soviéticos do PREC.)

1. Além de não ser ilegal nem sequer sintoma de ilegalidade a existência de sociedades anónimas não cotadas em bolsa e de se proceder diariamente à compra e venda de acções de empresas não cotadas em bolsa, convém esclarecer os candidatos a oponentes de Cavaco Silva que numa grande empresa deter cento e poucas mil acções não deixa que mandemos nada nessa empresa, pelo que proclamarem que Cavaco teve responsabilidades na condução da empresa proprietária do BPN é revelação de que estão sobretudo familiarizados com a organização dos sovkozes ou que são pessoas com relações conturbadas com a verdade.

2. Não se pode deixar de notar que a verve acusatória de Alegre quando acusa Cavaco Silva por interposto meio de comunicação social não é a mesma que tem quando está cara-a-cara com o visado, em que se torna mansinho e o mais que consegue é uma ou duas insinuações. Acho que assim perde o eleitorado marialva.

3. Cheguemos ao caso. Cavaco Silva comprou em 2001 acções ao preço em que à época se compravam e vendiam acções da SLN e vendeu em 2003 acções ao preço em que à época se compravam e vendiam acções da SLN. Não foi favorecido na compra nem na venda face a outros accionistas; as mais valias estavam disponíveis para todos os accionistas que compraram e venderam.

4. A única questão que se poderia colocar a Cavaco Silva é: o que o levou a investir na SLN? Mas essa pergunta não pode ser feita, porque lembraria que ligados à SLN, e neste caso com responsabilidades efectivas na gestão do Banco Efisa, controlado pelo BPN, estiveram personalidades do PS ou da área do PS como Guilherme de Oliveira Martins ou José Lamego.

5. Não se pode exigir a Cavaco Silva, enquanto professor universitário, que previsse em 2001-2003 o que se veio a descobrir em 2008 sobre uma empresa da SLN (isto se não atribuirmos ao actual PR poderes de semi-deus, o que, pelos vistos, é o que os candidatos a seus oponentes pensam do PR, novamente com benefício para Cavaco) , sendo que durante anos o Banco de Portugal se sentiu descansado quanto ao BPN e descansava os seus depositantes. E o governo, que me parece ter mais meios de informação sobre um banco comercial do que um professor universitário, também estava tão descansado com o BPN que lá abriu conta para a Segurança Social em 1999 (ano de governo Guterres) e lá tinha 500 milhões de euros em 2008 (ao arrepio de todas as cautelas) e de lá retirou 300 milhões de euros pouco antes de rebentar o escândalo – questionam-se alguns se não precisamente com a intenção de precipitar a ‘queda’ do BPN.

6. Ainda estou à espera que jugulares e amigos – que tanto se incomodaram com a revelação de escutas interceptadas numa investigação criminal envolvendo José Sócrates – se indignem e repudiem a violação da correspondência de Cavaco Silva que levou à notícia do Expresso. Até porque no caso de José Sócrates as escutas indiciavam, entenderam alguns que a elas tiveram acesso, um possível crime de atentado ao estado de direito devido a uma vergonhosa tentativa de controle dos grupos de comunicação social. E no caso de Cavaco Silva a revelação da correspondência apenas mostrou a venda de acções, acto inocente, legítimo e legal, que levou à realização de uma mais-valia, o que costuma ser o objectivo (também inocente, legítimo e legal) da venda de acções.

7. Além de demonstrar a irrelevância política dos vários candidatos a oponentes de Cavaco Silva, as notícias sobre as acções da SLN revelam também o calibre dos jornalistas. Não porque estes não devam noticiar as atoardas dos vários candidatos sobre a SLN se estes as entendem proferir, mas porque não lhes perguntam exactamente o que vêem de errado na transacção, já que esta foi noticiada como sem irregularidades; foi Cavaco ter ganho dinheiro? e, se sim, qual o problema disso? têm conhecimento de alguma irregularidade não noticiada na transacção? ou desconfiam de favorecimento? É que repetirem a compra e a venda de umas acções, assim sem mais, como se de um crime se tratasse também lhes dá um ar um tanto tolinho. Ou então não perguntam querendo proteger os candidatos: como se viu no debate Cavaco-Alegre, este último nem soube listar quem esteve ligado ao BPN e foi politicamente próximo de Cavaco.

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