O Jon Stewart não é burro

10-07-2011
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Ontem ouvi uma entrevista em que o Jon Stewart falava com um ex-subprime lender que terá escrito um livro sobre o assunto. O divertido Jon fazia de conta que não percebia porque raio é que os créditos são tanto mais caros quanto maior o risco. Não é burro mas fica-lhe bem e as manadas aplaudem. Já agora o ex-prestamista tentava explicar porquê mas concordava que sim, que é estúpido cobrar juros de acordo com o risco. E ria-se da estupidez dos sub-prime lenders. Este ou é burro (altamente provável) ou acha que lhe fica bem e ajuda a vender mais uns livros. Enfim. Vem isto a propósito do que me aconteceu hoje. Não foi bem a mim, foi mais à pessoa que foi reclamar uma dívida a um cliente.

Imaginai que vendeis um produto por grosso. Por exemplo (não é o caso): vocês têm uma marca de vinho e fornecem uma loja que o vende ao consumidor. O vosso cliente passa-vos um cheque (pré datado a 60 dias, vão-se foder mais a ilegalidade, arranjem método melhor e aceitável no mercado) para pagamento do fornecimento. Na data acordada o cheque é devolvido. Contactam o animal, ele diz que tem pena, que foi um lapso e tal, pede mais uns dias. Que sim, vá lá, mais uma semana? OK. Uma semana, metem o cheque e…adivinharam, volta p’a trás. “Então caralho?” Perguntais. Meta a cheque na segunda feira sem falta. Que o fim de semana costuma ser bom e não vai haver problema. Segunda-feira eeeeee…taruz! Trave! Vocês metem-se na biatura e vão bater-lhe à porta. A abestunta recebe-vos com um sorriso, muitos beijinhos e tal e “Olá, como está? Vamos então resolver…olhe, dê-me o seu NIB que vou fazendo dep…”. E vocês: “Com certeza que sim mas, já agora, o vinho vendeu-se?” Responde a amostra de primata: “O..o..pois. Não tenho nenhum, já o vendi todo.” Nesta altura pensais: “Fui abduzido* por alienígenas…deixa lá ver…” e como sois gente de bem, tentais mostrar ao verme que das duas três: ou tem o vinho em stock, ou se não o tem recebeu o vosso dinheiro e abutrou-se a ele. Neste caso, que não foi o primeiro, a coisa chegou ao clássico: “Se eu não tenho o dinheiro, como quer que lhe pague?” Aqui já estais dispostos a submeter o porco a toda a espécie de sevícias e é difícil, foda-se que é difícil, não lhe enfiar um estadulho pelo recto acima. E não se resolve nada. Promessas e saís com uma mão à frente outra atrás.

Se não fosse dramático seria ridículo mas é esta a cultura e o país de merda que temos. Se este e outros animais (não são gente, são bestas) não pagarem a bem não temos maneira de receber nada. Nada. Com a justiça anedótica e miserável que temos só há uma maneira: cobrar nos preços um prémio de risco brutal, emperrar todo e qualquer negócio com exigências de garantias e pagamentos em notas. Quem paga é o consumidor. Mas o consumidor merece, ah se merece. O Jon Stewart tem razão não tem? Só que ele não é burro. O consumidor fica chateadíssimo com o preço dos bróculos no El Corte Inglés.

* Andava há que tempos à espreita para escrever abduzido.

Ontem ouvi uma entrevista em que o Jon Stewart falava com um ex-subprime lender que terá escrito um livro sobre o assunto. O divertido Jon fazia de conta que não percebia porque raio é que os créditos são tanto mais caros quanto maior o risco. Não é burro mas fica-lhe bem e as manadas aplaudem. Já agora o ex-prestamista tentava explicar porquê mas concordava que sim, que é estúpido cobrar juros de acordo com o risco. E ria-se da estupidez dos sub-prime lenders. Este ou é burro (altamente provável) ou acha que lhe fica bem e ajuda a vender mais uns livros. Enfim. Vem isto a propósito do que me aconteceu hoje. Não foi bem a mim, foi mais à pessoa que foi reclamar uma dívida a um cliente.

Imaginai que vendeis um produto por grosso. Por exemplo (não é o caso): vocês têm uma marca de vinho e fornecem uma loja que o vende ao consumidor. O vosso cliente passa-vos um cheque (pré datado a 60 dias, vão-se foder mais a ilegalidade, arranjem método melhor e aceitável no mercado) para pagamento do fornecimento. Na data acordada o cheque é devolvido. Contactam o animal, ele diz que tem pena, que foi um lapso e tal, pede mais uns dias. Que sim, vá lá, mais uma semana? OK. Uma semana, metem o cheque e…adivinharam, volta p’a trás. “Então caralho?” Perguntais. Meta a cheque na segunda feira sem falta. Que o fim de semana costuma ser bom e não vai haver problema. Segunda-feira eeeeee…taruz! Trave! Vocês metem-se na biatura e vão bater-lhe à porta. A abestunta recebe-vos com um sorriso, muitos beijinhos e tal e “Olá, como está? Vamos então resolver…olhe, dê-me o seu NIB que vou fazendo dep…”. E vocês: “Com certeza que sim mas, já agora, o vinho vendeu-se?” Responde a amostra de primata: “O..o..pois. Não tenho nenhum, já o vendi todo.” Nesta altura pensais: “Fui abduzido* por alienígenas…deixa lá ver…” e como sois gente de bem, tentais mostrar ao verme que das duas três: ou tem o vinho em stock, ou se não o tem recebeu o vosso dinheiro e abutrou-se a ele. Neste caso, que não foi o primeiro, a coisa chegou ao clássico: “Se eu não tenho o dinheiro, como quer que lhe pague?” Aqui já estais dispostos a submeter o porco a toda a espécie de sevícias e é difícil, foda-se que é difícil, não lhe enfiar um estadulho pelo recto acima. E não se resolve nada. Promessas e saís com uma mão à frente outra atrás.

Se não fosse dramático seria ridículo mas é esta a cultura e o país de merda que temos. Se este e outros animais (não são gente, são bestas) não pagarem a bem não temos maneira de receber nada. Nada. Com a justiça anedótica e miserável que temos só há uma maneira: cobrar nos preços um prémio de risco brutal, emperrar todo e qualquer negócio com exigências de garantias e pagamentos em notas. Quem paga é o consumidor. Mas o consumidor merece, ah se merece. O Jon Stewart tem razão não tem? Só que ele não é burro. O consumidor fica chateadíssimo com o preço dos bróculos no El Corte Inglés.

* Andava há que tempos à espreita para escrever abduzido.

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