PONTE EUROPA: O debate

27-05-2011
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Ontem, o País assistiu ao debate televisivo entre os 2 candidatos à governação do País: José Sócrates e Pedro Passos Coelho.Grande parte do tempo dispendido foi “gasto” na procura de responsabilidades pela actual crise política, económica, financeira e social, em detrimento de perspectivas para o futuro.José Sócrates enfatizou a crise política e quis demonstrar profundas preocupações sociais. Correlacionou o agravamento da crise económica e financeira com o “chumbo” do PEC IV. Responsabilizou o PSD pelo despoletar da crise política [ânsia de conquistar o poder] e pela necessidade de pedir auxílio financeiro externo. No campo social acentuou as suas diferenças em relação ao Estado Social, sublinhando [questionando] as “não assumidas” [mas presentes] opções neoliberais do programa do PSD, em relação à Saúde, à Educação e à Segurança Social.Pedro Passos Coelho atirou-se à má governação socialista a que atribui a responsabilidade pela intervenção externa e não perdeu a oportunidade para insistir no chavão da “bancarrota”. Centrou a sua prestação sobre as opções financeiras e fiscais insistindo na incapacidade do actual governo em combater o défice orçamental e o endividamento excessivo [como se elas fossem opções governamentais e não ditakts de Bruxelas, Berlim, Frankfurt…]. No aspecto social esteve mais interessado em valorizar o flagelo do desemprego que imbricou na incapacidade estratégica de promover o crescimento económico [baixo crescimento nos últimos 6 anos].E assim por diante…Na realidade, assistimos a um debate muito focalizado sobre hipóteses diagnósticas referentes ao passado recente [os últimos 6 anos de governação]. Foi o desfile de múltiplas análises [diferenciais] sobre as causas [próximas ou longínquas] da situação em que nos encontramos ignorando que a realidade, entretanto, já é outra.O próximo governo [qualquer que seja] tem um programa escrito e uma actuação balizada [e supervisionada] – o memorando UE/BCE/FMI. É esse guião que comandará a política, a economia e as finanças, nos próximos 3 anos [a quase totalidade do mandato governamental em disputa]. Existe pouco espaço para improvisar – qualquer que seja o governo - embora a “questão social” possa vir a ser perturbadora. Sobre este candente assunto o debate andou muito pela rama. Não basta apregoar “mais sociedade”, como também não chega proclamar a defesa do “modelo social europeu”. Quando a sociedade se manifestar [e não estará longe disso] o PSD, se estiver no poder, gritará por ordem e segurança e imporá a autoridade [tão cara para a Direita] se não for a repressão. Quando a clique neoliberal europeia impuser [mais] restrições ao modelo europeu o PS, se continuar no poder, não terá autonomia para resistir a essas progressivas “pressões” [exigências].Na verdade, os ditos mercados decidiram “atacar” o euro. E a Euro Zona, ou mais alargadamente a UE, para defender a moeda única desse “ataque”, optou por enterrar a social-democracia [que sustentou politicamente o dito modelo social europeu]. Este o espectro que – subliminarmente - pairou sobre o debate e nunca veio à superfície.De facto, não é importante tecer palpites – como ontem sucedeu no pós-debate envolvendo grande número de analistas e os habituais comentadores de serviço - sobre quem terá vencido ou perdido o frente-a-frente. O futuro de grande número de portugueses – desde que a intervenção externa se tornou uma realidade - deixou de passar por estas picardias. Mau grado os floreados retóricos e argumentativos e os programas partidários específicos ou supletivos [perante o memorando da troika] será a primeira vez que o eleitorado está confrontado com uma escolha restrita. Na realidade, as exigências e os calendários impostos pelo programa de resgate pouco tempo e nenhum espaço deixarão para improvisos ou aventuras políticas protagonizados pelos seus subscritores.O futuro é já amanhã e parece só ter dois desfechos: ou conseguimos vencer a crise [com o programa da troika], ou comprometemos o futuro. É esta visão maniqueísta que nos perturba. Não há espaço para alegorias…Segundo creio nem uma só vez a palavra “futuro” ecoou neste tão aguardado debate. Até 5 de Junho mais vale ficarmos por aqui.

Ontem, o País assistiu ao debate televisivo entre os 2 candidatos à governação do País: José Sócrates e Pedro Passos Coelho.Grande parte do tempo dispendido foi “gasto” na procura de responsabilidades pela actual crise política, económica, financeira e social, em detrimento de perspectivas para o futuro.José Sócrates enfatizou a crise política e quis demonstrar profundas preocupações sociais. Correlacionou o agravamento da crise económica e financeira com o “chumbo” do PEC IV. Responsabilizou o PSD pelo despoletar da crise política [ânsia de conquistar o poder] e pela necessidade de pedir auxílio financeiro externo. No campo social acentuou as suas diferenças em relação ao Estado Social, sublinhando [questionando] as “não assumidas” [mas presentes] opções neoliberais do programa do PSD, em relação à Saúde, à Educação e à Segurança Social.Pedro Passos Coelho atirou-se à má governação socialista a que atribui a responsabilidade pela intervenção externa e não perdeu a oportunidade para insistir no chavão da “bancarrota”. Centrou a sua prestação sobre as opções financeiras e fiscais insistindo na incapacidade do actual governo em combater o défice orçamental e o endividamento excessivo [como se elas fossem opções governamentais e não ditakts de Bruxelas, Berlim, Frankfurt…]. No aspecto social esteve mais interessado em valorizar o flagelo do desemprego que imbricou na incapacidade estratégica de promover o crescimento económico [baixo crescimento nos últimos 6 anos].E assim por diante…Na realidade, assistimos a um debate muito focalizado sobre hipóteses diagnósticas referentes ao passado recente [os últimos 6 anos de governação]. Foi o desfile de múltiplas análises [diferenciais] sobre as causas [próximas ou longínquas] da situação em que nos encontramos ignorando que a realidade, entretanto, já é outra.O próximo governo [qualquer que seja] tem um programa escrito e uma actuação balizada [e supervisionada] – o memorando UE/BCE/FMI. É esse guião que comandará a política, a economia e as finanças, nos próximos 3 anos [a quase totalidade do mandato governamental em disputa]. Existe pouco espaço para improvisar – qualquer que seja o governo - embora a “questão social” possa vir a ser perturbadora. Sobre este candente assunto o debate andou muito pela rama. Não basta apregoar “mais sociedade”, como também não chega proclamar a defesa do “modelo social europeu”. Quando a sociedade se manifestar [e não estará longe disso] o PSD, se estiver no poder, gritará por ordem e segurança e imporá a autoridade [tão cara para a Direita] se não for a repressão. Quando a clique neoliberal europeia impuser [mais] restrições ao modelo europeu o PS, se continuar no poder, não terá autonomia para resistir a essas progressivas “pressões” [exigências].Na verdade, os ditos mercados decidiram “atacar” o euro. E a Euro Zona, ou mais alargadamente a UE, para defender a moeda única desse “ataque”, optou por enterrar a social-democracia [que sustentou politicamente o dito modelo social europeu]. Este o espectro que – subliminarmente - pairou sobre o debate e nunca veio à superfície.De facto, não é importante tecer palpites – como ontem sucedeu no pós-debate envolvendo grande número de analistas e os habituais comentadores de serviço - sobre quem terá vencido ou perdido o frente-a-frente. O futuro de grande número de portugueses – desde que a intervenção externa se tornou uma realidade - deixou de passar por estas picardias. Mau grado os floreados retóricos e argumentativos e os programas partidários específicos ou supletivos [perante o memorando da troika] será a primeira vez que o eleitorado está confrontado com uma escolha restrita. Na realidade, as exigências e os calendários impostos pelo programa de resgate pouco tempo e nenhum espaço deixarão para improvisos ou aventuras políticas protagonizados pelos seus subscritores.O futuro é já amanhã e parece só ter dois desfechos: ou conseguimos vencer a crise [com o programa da troika], ou comprometemos o futuro. É esta visão maniqueísta que nos perturba. Não há espaço para alegorias…Segundo creio nem uma só vez a palavra “futuro” ecoou neste tão aguardado debate. Até 5 de Junho mais vale ficarmos por aqui.

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