a Barbearia do Senhor Luís

24-01-2012
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Dão-nos um lírio e um canivete / e uma alma para ir à escola / mais um letreiro que promete / raízes, hastes e corolaDão-nos um mapa imaginário / que tem a forma de uma cidade / mais um relógio e um calendário / onde não vem a nossa idadeDão-nos a honra de manequim / para dar corda à nossa ausência. / Dão-nos um prémio de ser assim / sem pecado e sem inocênciaDão-nos um barco e um chapéu / para tirarmos o retrato / Dão-nos bilhetes para o céu / levado à cena num teatroPenteiam-nos os crânios ermos / com as cabeleiras das avós / para jamais nos parecermos / conosco quando estamos sósDão-nos um bolo que é a história / da nossa historia sem enredo / e não nos soa na memória / outra palavra que o medoTemos fantasmas tão educados / que adormecemos no seu ombro / somos vazios despovoados / de personagens de assombroDão-nos a capa do evangelho / e um pacote de tabaco / dão-nos um pente e um espelho / pra pentearmos um macacoDão-nos um cravo preso à cabeça / e uma cabeça presa à cintura / para que o corpo não pareça / a forma da alma que o procuraDão-nos um esquife feito de ferro / com embutidos de diamante / para organizar já o enterro / do nosso corpo mais adianteDão-nos um nome e um jornal / um avião e um violino / mas não nos dão o animal / que espeta os cornos no destinoDão-nos marujos de papelão / com carimbo no passaporte / por isso a nossa dimensão / não é a vida, nem é a morteNatália CorreiaLNT[0.055/2010]


Dão-nos um lírio e um canivete / e uma alma para ir à escola / mais um letreiro que promete / raízes, hastes e corolaDão-nos um mapa imaginário / que tem a forma de uma cidade / mais um relógio e um calendário / onde não vem a nossa idadeDão-nos a honra de manequim / para dar corda à nossa ausência. / Dão-nos um prémio de ser assim / sem pecado e sem inocênciaDão-nos um barco e um chapéu / para tirarmos o retrato / Dão-nos bilhetes para o céu / levado à cena num teatroPenteiam-nos os crânios ermos / com as cabeleiras das avós / para jamais nos parecermos / conosco quando estamos sósDão-nos um bolo que é a história / da nossa historia sem enredo / e não nos soa na memória / outra palavra que o medoTemos fantasmas tão educados / que adormecemos no seu ombro / somos vazios despovoados / de personagens de assombroDão-nos a capa do evangelho / e um pacote de tabaco / dão-nos um pente e um espelho / pra pentearmos um macacoDão-nos um cravo preso à cabeça / e uma cabeça presa à cintura / para que o corpo não pareça / a forma da alma que o procuraDão-nos um esquife feito de ferro / com embutidos de diamante / para organizar já o enterro / do nosso corpo mais adianteDão-nos um nome e um jornal / um avião e um violino / mas não nos dão o animal / que espeta os cornos no destinoDão-nos marujos de papelão / com carimbo no passaporte / por isso a nossa dimensão / não é a vida, nem é a morteNatália CorreiaLNT[0.055/2010]

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