Banco Corrido.: A propósito do corte do rating da Moody's: depois do mortal à frente, o choque de realidade.

06-07-2011
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A Europa, talvez tarde demais, percebeu que o ataque é mesmo ao conjunto da zona Euro e não às moedas periféricas. As agências de rating iam deixando-o escrito nas entrelinhas mas a direita europeia, com os governos socialistas a arder e risco de contágio demasiado longínquo não se preocupava. Pelo contrário, alimentava o populismo da "preguiça" do sul, mesmo contra as evidências. Em Portugal, o PSD viu nessa culpabilização a sua oportunidade e fez um mortal à frente: chumbou o PEC IV, precipitou a ajuda externa, fez campanha na base da negação da crise mundial e na culpabilização do governo, descredibilizou o memorando que assinou como insuficiente.
Agora vem o choque de realidade, para a zona Euro e para o governo português. Objectivamente, o plano francês para a reestruturação da dívida da Grécia esconde mal que é uma operação de branqueamento de activos tóxicos da banca exposta à Grécia enquanto virmos a dívida soberana grega como um problema grego. Os "mercados" não mudaram de orientação, continuam a atacar o Euro. A França e a Alemanha é que estão a mudar de discurso.
O mesmo choque de realidade sofre o governo português. O que diria há dois meses o PSD de um comunicado do Ministério das Finanças sobre um downgrade do rating em que se dissesse que a Moody's "não terá tido em devida conta (...) [o] amplo consenso político que suporta a execução das medidas acordadas com a troika" ou que "o downgrade ora anunciado revela o ambiente adverso da crise da dívida soberana e as vulnerabilidades da economia portuguesa neste contexto"? O que dirão os dois candidatos a líderes do PS?
Depois do mortal à frente do PSD e a sofrer o choque da realidade, a direita e a esquerda portuguesa ou aproveitam para se deixar de ofensivas ideológicas fracturantes como a privatização do Estado social, de retóricas populistas como a do "estado de choque" ou a do "assalto ao bolso" dos contribuintes e trabalham juntas para resolver o problema que todos reconhecem - o da retoma da competividade da economia - ou deitam, cada uma para seu lado, gasolina aos "mercados".
Do ponto e vista europeu, se Portugal caír ainda é uma peça do dominó suportável, mesmo que já se tenha percebido que não cai sózinha, mas do ponto de vista português seria uma tragédia.
Temo pela cegueira estratégica de todos. O Primeiro-Ministro ainda não deu sinal de perceber que não é tempo para os liberais se vingarem dos anos oitenta e noventa. O PCP e o BE ainda parecem sorrir ante a ideia de uma manifestação com muita participação e um par de greves gerais e vejo no PS gente muito destacada, tentando ganhar o partido, que pensa que pode trocar de papel com o PSD e pôr agora o PS a fazer de conta que não há crise internacional, apenas incapacidade da governação.
Quero estar enganado, que o PSD caia em si, que o PS não caia no populismo de esquerda e que o PCP e o BE não julguem que vem aí a melhor oportunidade de ruptura desde o PREC. Mas não vejo nada disso no horizonte. 


A Europa, talvez tarde demais, percebeu que o ataque é mesmo ao conjunto da zona Euro e não às moedas periféricas. As agências de rating iam deixando-o escrito nas entrelinhas mas a direita europeia, com os governos socialistas a arder e risco de contágio demasiado longínquo não se preocupava. Pelo contrário, alimentava o populismo da "preguiça" do sul, mesmo contra as evidências. Em Portugal, o PSD viu nessa culpabilização a sua oportunidade e fez um mortal à frente: chumbou o PEC IV, precipitou a ajuda externa, fez campanha na base da negação da crise mundial e na culpabilização do governo, descredibilizou o memorando que assinou como insuficiente.
Agora vem o choque de realidade, para a zona Euro e para o governo português. Objectivamente, o plano francês para a reestruturação da dívida da Grécia esconde mal que é uma operação de branqueamento de activos tóxicos da banca exposta à Grécia enquanto virmos a dívida soberana grega como um problema grego. Os "mercados" não mudaram de orientação, continuam a atacar o Euro. A França e a Alemanha é que estão a mudar de discurso.
O mesmo choque de realidade sofre o governo português. O que diria há dois meses o PSD de um comunicado do Ministério das Finanças sobre um downgrade do rating em que se dissesse que a Moody's "não terá tido em devida conta (...) [o] amplo consenso político que suporta a execução das medidas acordadas com a troika" ou que "o downgrade ora anunciado revela o ambiente adverso da crise da dívida soberana e as vulnerabilidades da economia portuguesa neste contexto"? O que dirão os dois candidatos a líderes do PS?
Depois do mortal à frente do PSD e a sofrer o choque da realidade, a direita e a esquerda portuguesa ou aproveitam para se deixar de ofensivas ideológicas fracturantes como a privatização do Estado social, de retóricas populistas como a do "estado de choque" ou a do "assalto ao bolso" dos contribuintes e trabalham juntas para resolver o problema que todos reconhecem - o da retoma da competividade da economia - ou deitam, cada uma para seu lado, gasolina aos "mercados".
Do ponto e vista europeu, se Portugal caír ainda é uma peça do dominó suportável, mesmo que já se tenha percebido que não cai sózinha, mas do ponto de vista português seria uma tragédia.
Temo pela cegueira estratégica de todos. O Primeiro-Ministro ainda não deu sinal de perceber que não é tempo para os liberais se vingarem dos anos oitenta e noventa. O PCP e o BE ainda parecem sorrir ante a ideia de uma manifestação com muita participação e um par de greves gerais e vejo no PS gente muito destacada, tentando ganhar o partido, que pensa que pode trocar de papel com o PSD e pôr agora o PS a fazer de conta que não há crise internacional, apenas incapacidade da governação.
Quero estar enganado, que o PSD caia em si, que o PS não caia no populismo de esquerda e que o PCP e o BE não julguem que vem aí a melhor oportunidade de ruptura desde o PREC. Mas não vejo nada disso no horizonte. 

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