ABRUPTO

21-01-2012
marcar artigo

ÍNDICE DO SITUACIONISMO (61): É ASSIM QUE SE FAZEM AS COISAS

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.

E, nalguns casos, de respiração assistida.

Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no Diário de Notícias . Vinha de lá, ia para lá.

Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no Diário de Notícias . Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (no Público aparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, no Diário de Notícias são escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico).

A "notícia" é esta:

Marcelo Rebelo de Sousa não está disponível para ser o cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 7 de Junho. Ao DN, o antigo presidente social-democrata antecipa-se a um eventual convite e é taxativo na recusa em liderar as listas do seu partido para o Parlamento Europeu: "Não estou para aí virado, sempre fui muito mais uma pessoa de tarefas executivas".

A resposta de Marcelo Rebelo de Sousa surge após movimentações crescentes de militantes do PSD durante esta semana e após ter sido tornado público o nome do cabeça de lista do PS, Vital Moreira, no fim de semana passado, durante o congresso socialista, em Espinho. Vários sectores do partido dirigido por Manuela Ferreira Leite torcem pela solução Marcelo, tendo inclusivamente sido lançada esta semana uma petição online com o intuito de impulsionar uma eventual candidatura: "O PSD não pode ceder ao tacticismo interno nem a lógicas de equilíbrios e deve escolher sem hesitações o melhor candidato possível. E o melhor candidato possível, nas actuais circunstâncias, é Marcelo Rebelo de Sousa".

Na petição - disponível no endereço http/www.petitiononline.com/mrsPE/petition.html -, Marcelo é descrito como um candidato que "tem tudo o que é preciso para protagonizar um debate europeu elevado e mobilizador na sociedade portuguesa". Segundo os peticionistas, na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers , Marcelo é visto como um político com "uma estatura intelectual ímpar, que alia a capacidade de tornar simples de entender assuntos complexos".

Ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet e era apresentado como um "Apelo à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa às Europeias 2009". Os destinatários do apelo são óbvios: Manuela Ferreira Leite, como presidente do PSD e a pessoa que, em última análise teria que fazer a escolha, e também o desejado pelos peticionistas, o actual comentador político da RTP1 e professor catedrático de Direito.

Mas a vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009 )", similar ao que o secretário-geral do PS e actual primeiro-ministro lançou este fim de semana ("Sócrates 2009"), e também à nova moda na Internet: as redes sociais. No Twitter, o nome de Marcelo Rebelo de Sousa surge também associado a um movimento que o quer lançar como candidato nas europeias.

Acresce que Marcelo é bem visto em várias tendências internas do partido , desde os cavaquistas e barrosistas, passando por alguns apoiantes da actual direcção, até às hostes afectas a Pedro Passos Coelho, Luís Marques Mendes e até de Luís Filipe Menezes. Só que Marcelo não está disponível. Fontes próximas do antigo presidente do PSD acrescentam aos motivos para a recusa o facto de a actividade de eurodeputado estar hoje em dia "fragilizada e sem poder efectivo para fazer coisas". Mais: Marcelo, segundo as mesmas fontes próximas, não pretende afastar-se cinco anos do País - a duração do mandato de um eurodeputado.

Manuela Ferreira Leite não deve decidir qual o cabeça de lista do partido antes de Abril. Para já, os nomes de quem se fala no PSD são os de Luís Marques Mendes, que poderá, à semelhança de Marcelo mostrar-se indisponível, e de José Pedro Aguiar-Branco, deputado e um dos vice-presidentes da Comissão Política Nacional. Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A " vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009 ", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de um site na rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do Diário de Notícias . As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia".

Mas há mais. A "notícia" está cheio de sugestio falsi . Por exemplo: " ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet ". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra sugestio falsi , destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: " segundo os peticionistas, [repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa] na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers " e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa, blogger , jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar.

A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco. Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no. Vinha de lá, ia para lá.Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no. Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (noaparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, nosão escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico).A "notícia" é esta:Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A "", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de umna rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do. As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia".Mas há mais. A "notícia" está cheio de. Por exemplo: "". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra, destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: "[repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa]e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa,, jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar.A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco.

(url) © José Pacheco Pereira

ÍNDICE DO SITUACIONISMO (61): É ASSIM QUE SE FAZEM AS COISAS

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.

E, nalguns casos, de respiração assistida.

Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no Diário de Notícias . Vinha de lá, ia para lá.

Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no Diário de Notícias . Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (no Público aparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, no Diário de Notícias são escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico).

A "notícia" é esta:

Marcelo Rebelo de Sousa não está disponível para ser o cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 7 de Junho. Ao DN, o antigo presidente social-democrata antecipa-se a um eventual convite e é taxativo na recusa em liderar as listas do seu partido para o Parlamento Europeu: "Não estou para aí virado, sempre fui muito mais uma pessoa de tarefas executivas".

A resposta de Marcelo Rebelo de Sousa surge após movimentações crescentes de militantes do PSD durante esta semana e após ter sido tornado público o nome do cabeça de lista do PS, Vital Moreira, no fim de semana passado, durante o congresso socialista, em Espinho. Vários sectores do partido dirigido por Manuela Ferreira Leite torcem pela solução Marcelo, tendo inclusivamente sido lançada esta semana uma petição online com o intuito de impulsionar uma eventual candidatura: "O PSD não pode ceder ao tacticismo interno nem a lógicas de equilíbrios e deve escolher sem hesitações o melhor candidato possível. E o melhor candidato possível, nas actuais circunstâncias, é Marcelo Rebelo de Sousa".

Na petição - disponível no endereço http/www.petitiononline.com/mrsPE/petition.html -, Marcelo é descrito como um candidato que "tem tudo o que é preciso para protagonizar um debate europeu elevado e mobilizador na sociedade portuguesa". Segundo os peticionistas, na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers , Marcelo é visto como um político com "uma estatura intelectual ímpar, que alia a capacidade de tornar simples de entender assuntos complexos".

Ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet e era apresentado como um "Apelo à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa às Europeias 2009". Os destinatários do apelo são óbvios: Manuela Ferreira Leite, como presidente do PSD e a pessoa que, em última análise teria que fazer a escolha, e também o desejado pelos peticionistas, o actual comentador político da RTP1 e professor catedrático de Direito.

Mas a vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009 )", similar ao que o secretário-geral do PS e actual primeiro-ministro lançou este fim de semana ("Sócrates 2009"), e também à nova moda na Internet: as redes sociais. No Twitter, o nome de Marcelo Rebelo de Sousa surge também associado a um movimento que o quer lançar como candidato nas europeias.

Acresce que Marcelo é bem visto em várias tendências internas do partido , desde os cavaquistas e barrosistas, passando por alguns apoiantes da actual direcção, até às hostes afectas a Pedro Passos Coelho, Luís Marques Mendes e até de Luís Filipe Menezes. Só que Marcelo não está disponível. Fontes próximas do antigo presidente do PSD acrescentam aos motivos para a recusa o facto de a actividade de eurodeputado estar hoje em dia "fragilizada e sem poder efectivo para fazer coisas". Mais: Marcelo, segundo as mesmas fontes próximas, não pretende afastar-se cinco anos do País - a duração do mandato de um eurodeputado.

Manuela Ferreira Leite não deve decidir qual o cabeça de lista do partido antes de Abril. Para já, os nomes de quem se fala no PSD são os de Luís Marques Mendes, que poderá, à semelhança de Marcelo mostrar-se indisponível, e de José Pedro Aguiar-Branco, deputado e um dos vice-presidentes da Comissão Política Nacional. Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A " vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009 ", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de um site na rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do Diário de Notícias . As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia".

Mas há mais. A "notícia" está cheio de sugestio falsi . Por exemplo: " ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet ". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra sugestio falsi , destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: " segundo os peticionistas, [repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa] na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers " e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa, blogger , jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar.

A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco. Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no. Vinha de lá, ia para lá.Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no. Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (noaparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, nosão escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico).A "notícia" é esta:Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A "", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de umna rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do. As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia".Mas há mais. A "notícia" está cheio de. Por exemplo: "". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra, destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: "[repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa]e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa,, jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar.A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco.

(url) © José Pacheco Pereira

marcar artigo