Equipa da Rádio Comercial lança livro infantil solidário

08-06-2016
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Beatriz arranja sempre maneira de que todos se sintam felizes. E até parece fácil. Um livro ilustrado por Nuno Markl e escrito por não escritores, para ajudar a Fundação Gil

Eu Ajudo! é o título do livro que 20 colaboradores da Rádio Comercial escreveram a pensar em mobilizar o seu milhão e meio de ouvintes para ajudar quem precisa. Locutores, sonoplastas e produtores criaram histórias protagonizadas pela pequena Beatriz, personagem a que o actor César Mourão deu nome, “mas foi sem querer”. O autor da primeira história do livro pensou que a equipa já tivesse definido um outro nome. Enganou-se.

Ilustrador de serviço: Nuno Markl. “Foi demente passar um fim-de-semana inteiro a fazer os 20 desenhos”, contou o humorista ao PÚBLICO no lançamento, simbolicamente realizado no Dia da Criança, em Lisboa, na Casa do Gil, fundação para que reverterão os direitos de autor, a que se somam 2% das vendas.

A ideia de materializar em livro a plataforma solidária já existente Eu Ajudo! foi de Rita Rugeroni, que assina o texto da página 25 (as histórias não têm títulos) e que nos fala da importância da separação do lixo: “Para o meu planeta salvar, vou continuar a reciclar.”

O responsável pelas manhãs da Comercial, Pedro Ribeiro, explicou um pouco o processo de trabalho: “Depois de estar decidido que [no livro] havia uma menina sempre disponível para ajudar, reunimo-nos à volta de uma mesa e cada um escolheu o tema sobre que gostaria de escrever.” Os textos foram depois entregues a Nuno Markl. “Abri uma história de cada vez, devagarinho e pensava: espero que não me apareçam cavalos, os meus cavalos saem-me muito mal, parecem cães”, descreve o também cartoonista. “Com os meus problemas de autoconfiança, receei que achassem que estava tudo péssimo. Mas gostaram”, diz satisfeito e revela que até se imagina a “fazer vida” da escrita de livros infantis. Neste volume, “só” desenhou, mas num próximo talvez já assine alguma história.

Entre os 20 “episódios” de Eu Ajudo! (que tem Prefácio de Mário Cordeiro), há um rapaz hospitalizado a quem Beatriz oferece um jogo (texto de João Vaz), um menino perdido na praia e que a protagonista consegue levar até aos pais (Wilson Honrado), um amigo de cadeira de rodas que é levado até a um campo de papoilas para melhor se imaginar no prado “onde todos os dinossauros vão apanhar sol” (Patrícia Pereira), um menino com “uma cor de pele tão diferente” e a precisar de amigos (Vasco Palmeirim) ou uma amiga que é desafiada a passear de bicicleta sempre que possível, para que deixe de ser conhecida como a “gordinha” (Marta Santos).

Paula Prata, responsável pela Plátano Editora, descreve assim a obra que aceitou publicar: “As histórias têm o princípio comum da ajuda ao próximo e mostram-nos como de forma diferente e com pequenos gestos simples é tão fácil ajudar.”

Levar “o hospital” a casa

Pedro Ribeiro, que assina a Introdução de Eu Ajudo!, explica que escolheram ajudar a Casa do Gil, mas poderiam ter optado por outra instituição. Contraria a ideia de esta ser “uma fundação do croquete”, sublinha “o [seu] trabalho notável com as crianças” e lembra as “dificuldades por que passa, como todas as fundações, que viram reduzidos os seus apoios”.

Patrícia Boura, presidente da Fundação Gil, teve oportunidade de explicar resumidamente as acções da instituição: “Temos carrinhas equipadas, como se fossem um hospital, e levamos ‘o hospital’ a casa das crianças que têm doenças crónicas. Temos também a Casa do Gil, que acolhe crianças dos zero aos 12 anos em risco social e com questões clínicas. Através de uma equipa multidisciplinar, tentamos acelerar o regresso à sua vida normal, aos pais ou a uma família que os acolha com o amor que lhes damos, que é muito.” A fundação tem parcerias com os hospitais São João do Porto, Amadora-Sintra, Santa Maria e Dona Estefânia.

Luís Cabral, administrador da Media Capital Rádios, diz que a Rádio Comercial tem uma “missão/obrigação”: “Usar para outras coisas essa ferramenta que temos de falar com milhão e meio de pessoas. Temos uma missão de solidariedade, como esta que está aqui a acontecer.” E informou que este é o primeiro de outros produtos que irão lançar: mais livros e discos.

O contributo “de um órgão de comunicação social poderoso na promoção da leitura e na difusão dos princípios de solidariedade e de participação activa” agrada ao subdirector da Direcção-Geral de Livros Arquivos e Bibliotecas, José Manuel Cortês, presente no lançamento em representação do ministro da Cultura. Lembrou que “é nos mais pequenos que se enraíza os hábitos de leitura” e saudou o comissário do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral, que se encontrava na assistência.

Antes dos computadores, livros

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, mostrou-se feliz “por estar num ambiente distendido e agradável, praticamente idílico por estar a falar de algo importante como um livro, com crianças a brincar no Dia da Criança”. Cenário e atmosfera “muito diferentes de outras intervenções públicas ou conferências de imprensa”, disse. E já tinha lido o livro: “Enterneci-me com o que entendi como histórias normais e banais, mas no melhor sentido da palavra. Sentir que cada um de nós passou na juventude e criancice por histórias como estas: poder ajudar o vizinho, um familiar.”

Tiago Brandão Rodrigues disse-se “melómano e amante da rádio de forma muito especial”. Contou ainda que foi voluntário na Expo-98 “nos tempos da juventude” e que seguiu “com atenção a criação da Fundação Gil”.

Tendo visitado naquela manhã uma escola, invocou uma citação de Bill Gates, que viu afixada na biblioteca: “Claro que darei computadores aos meus filhos, mas antes terão livros.” Lembrou “a grande aventura que significa ler” e referiu-se ao 10.º aniversário do Plano Nacional de Leitura e aos 20 anos da Rede de Bibliotecas Escolares. Para concluir “o quão fantástico podem ser os livros no avançar de aventuras diárias, pequenas tropelias que podem fazer com que os mais pequenos entendam conceitos básicos de solidariedade, de ajuda, de entreajuda e de como podem ser referentes e referenciais para aventuras futuras pessoais”.

Findos os breves discursos, chegava o momento de Nuno Markl desenhar a Beatriz em ponto grande num painel branco atrás do palco, ao mesmo tempo que César Mourão lia a sua história, que termina assim: “A minha avó vê com o coração. Os olhos dela chamam-se Beatriz. E Beatriz é o meu nome.” Sem querer ou por querer, o nome fica-lhe bem.

“O que encontrei neste livro é enternecedor”, tinha dito antes o ministro da Educação. E estava a falar verdade.

Eu Ajudo!

Texto: equipa da Rádio Comercial

Ilustração: Nuno Markl

Edição: Plátano Editora

Cartonado, 52 págs., 10,60€

Beatriz arranja sempre maneira de que todos se sintam felizes. E até parece fácil. Um livro ilustrado por Nuno Markl e escrito por não escritores, para ajudar a Fundação Gil

Eu Ajudo! é o título do livro que 20 colaboradores da Rádio Comercial escreveram a pensar em mobilizar o seu milhão e meio de ouvintes para ajudar quem precisa. Locutores, sonoplastas e produtores criaram histórias protagonizadas pela pequena Beatriz, personagem a que o actor César Mourão deu nome, “mas foi sem querer”. O autor da primeira história do livro pensou que a equipa já tivesse definido um outro nome. Enganou-se.

Ilustrador de serviço: Nuno Markl. “Foi demente passar um fim-de-semana inteiro a fazer os 20 desenhos”, contou o humorista ao PÚBLICO no lançamento, simbolicamente realizado no Dia da Criança, em Lisboa, na Casa do Gil, fundação para que reverterão os direitos de autor, a que se somam 2% das vendas.

A ideia de materializar em livro a plataforma solidária já existente Eu Ajudo! foi de Rita Rugeroni, que assina o texto da página 25 (as histórias não têm títulos) e que nos fala da importância da separação do lixo: “Para o meu planeta salvar, vou continuar a reciclar.”

O responsável pelas manhãs da Comercial, Pedro Ribeiro, explicou um pouco o processo de trabalho: “Depois de estar decidido que [no livro] havia uma menina sempre disponível para ajudar, reunimo-nos à volta de uma mesa e cada um escolheu o tema sobre que gostaria de escrever.” Os textos foram depois entregues a Nuno Markl. “Abri uma história de cada vez, devagarinho e pensava: espero que não me apareçam cavalos, os meus cavalos saem-me muito mal, parecem cães”, descreve o também cartoonista. “Com os meus problemas de autoconfiança, receei que achassem que estava tudo péssimo. Mas gostaram”, diz satisfeito e revela que até se imagina a “fazer vida” da escrita de livros infantis. Neste volume, “só” desenhou, mas num próximo talvez já assine alguma história.

Entre os 20 “episódios” de Eu Ajudo! (que tem Prefácio de Mário Cordeiro), há um rapaz hospitalizado a quem Beatriz oferece um jogo (texto de João Vaz), um menino perdido na praia e que a protagonista consegue levar até aos pais (Wilson Honrado), um amigo de cadeira de rodas que é levado até a um campo de papoilas para melhor se imaginar no prado “onde todos os dinossauros vão apanhar sol” (Patrícia Pereira), um menino com “uma cor de pele tão diferente” e a precisar de amigos (Vasco Palmeirim) ou uma amiga que é desafiada a passear de bicicleta sempre que possível, para que deixe de ser conhecida como a “gordinha” (Marta Santos).

Paula Prata, responsável pela Plátano Editora, descreve assim a obra que aceitou publicar: “As histórias têm o princípio comum da ajuda ao próximo e mostram-nos como de forma diferente e com pequenos gestos simples é tão fácil ajudar.”

Levar “o hospital” a casa

Pedro Ribeiro, que assina a Introdução de Eu Ajudo!, explica que escolheram ajudar a Casa do Gil, mas poderiam ter optado por outra instituição. Contraria a ideia de esta ser “uma fundação do croquete”, sublinha “o [seu] trabalho notável com as crianças” e lembra as “dificuldades por que passa, como todas as fundações, que viram reduzidos os seus apoios”.

Patrícia Boura, presidente da Fundação Gil, teve oportunidade de explicar resumidamente as acções da instituição: “Temos carrinhas equipadas, como se fossem um hospital, e levamos ‘o hospital’ a casa das crianças que têm doenças crónicas. Temos também a Casa do Gil, que acolhe crianças dos zero aos 12 anos em risco social e com questões clínicas. Através de uma equipa multidisciplinar, tentamos acelerar o regresso à sua vida normal, aos pais ou a uma família que os acolha com o amor que lhes damos, que é muito.” A fundação tem parcerias com os hospitais São João do Porto, Amadora-Sintra, Santa Maria e Dona Estefânia.

Luís Cabral, administrador da Media Capital Rádios, diz que a Rádio Comercial tem uma “missão/obrigação”: “Usar para outras coisas essa ferramenta que temos de falar com milhão e meio de pessoas. Temos uma missão de solidariedade, como esta que está aqui a acontecer.” E informou que este é o primeiro de outros produtos que irão lançar: mais livros e discos.

O contributo “de um órgão de comunicação social poderoso na promoção da leitura e na difusão dos princípios de solidariedade e de participação activa” agrada ao subdirector da Direcção-Geral de Livros Arquivos e Bibliotecas, José Manuel Cortês, presente no lançamento em representação do ministro da Cultura. Lembrou que “é nos mais pequenos que se enraíza os hábitos de leitura” e saudou o comissário do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral, que se encontrava na assistência.

Antes dos computadores, livros

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, mostrou-se feliz “por estar num ambiente distendido e agradável, praticamente idílico por estar a falar de algo importante como um livro, com crianças a brincar no Dia da Criança”. Cenário e atmosfera “muito diferentes de outras intervenções públicas ou conferências de imprensa”, disse. E já tinha lido o livro: “Enterneci-me com o que entendi como histórias normais e banais, mas no melhor sentido da palavra. Sentir que cada um de nós passou na juventude e criancice por histórias como estas: poder ajudar o vizinho, um familiar.”

Tiago Brandão Rodrigues disse-se “melómano e amante da rádio de forma muito especial”. Contou ainda que foi voluntário na Expo-98 “nos tempos da juventude” e que seguiu “com atenção a criação da Fundação Gil”.

Tendo visitado naquela manhã uma escola, invocou uma citação de Bill Gates, que viu afixada na biblioteca: “Claro que darei computadores aos meus filhos, mas antes terão livros.” Lembrou “a grande aventura que significa ler” e referiu-se ao 10.º aniversário do Plano Nacional de Leitura e aos 20 anos da Rede de Bibliotecas Escolares. Para concluir “o quão fantástico podem ser os livros no avançar de aventuras diárias, pequenas tropelias que podem fazer com que os mais pequenos entendam conceitos básicos de solidariedade, de ajuda, de entreajuda e de como podem ser referentes e referenciais para aventuras futuras pessoais”.

Findos os breves discursos, chegava o momento de Nuno Markl desenhar a Beatriz em ponto grande num painel branco atrás do palco, ao mesmo tempo que César Mourão lia a sua história, que termina assim: “A minha avó vê com o coração. Os olhos dela chamam-se Beatriz. E Beatriz é o meu nome.” Sem querer ou por querer, o nome fica-lhe bem.

“O que encontrei neste livro é enternecedor”, tinha dito antes o ministro da Educação. E estava a falar verdade.

Eu Ajudo!

Texto: equipa da Rádio Comercial

Ilustração: Nuno Markl

Edição: Plátano Editora

Cartonado, 52 págs., 10,60€

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