Mente Despenteada: Castanheira Barros quer liderar o PSD

01-06-2020
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Se é verdade que é sempre bom reencontrar amigos e pessoas cuja lembrança nos inspira um sorriso, é ainda melhor perceber que essas pessoas continuam activas na sua coerência e na sua militância, lutando pelo futuro daquilo em que acreditam. O advogado Jorge Castanheira Barros, de Coimbra, é uma dessas pessoas, que felizmente tenho como amigo. No momento em que acaba de anunciar a sua disponibilidade para avançar na corrida à liderança do PSD, se conseguir reunir os “apoios humanos e financeiros” suficientes para sustentar “uma forte probabilidade de vitória”, não me resta alternativa a apoiá-lo nessa pretensão, com a certeza de que a sua eleição representaria uma lufada de ar fresco num partido cuja história recente tem registado uma embaraçosa curva descendente.
Conheci o cidadão e o advogado, antes de conhecer o político. Empenhado na sua luta contra o avanço do processo de co-incineração, vi sempre nele um homem de causas, sério, certeiro, atento e dedicado. Castanheira Barros não vira a cara a um desafio, e se já em 2007 anunciou a sua disponibilidade para assumir a presidência do partido, numa candidatura minada ainda numa fase embrionária, precisamente por falta de apoios materiais para a sua concretização, é com bons olhos que o vejo agora reincidir nessa intenção. Nessa altura, enfrentaria Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, duas figuras de peso no partido. Hoje, consumando-se esta candidatura, enfrentará Manuela Ferreira Leite, uma decrépita sombra do que já foi, desgastada pelas recentes derrotas eleitorais, e Pedro Passos Coelho, o “eterno jovem” a que muitos social-democratas hesitam ainda dar o seu voto de confiança.
Para já, são estes os dois putativos candidatos à liderança do PSD. Adivinha-se um combate de titãs, disputado e interessante. Castanheira Barros afirma que, se a actual líder do partido continuar “agarrada ao poder”, será necessário “mostrar-lhe, quanto antes, a porta da saída, através da convocação de um congresso extraordinário e da consequente apresentação de uma moção de censura à actual Comissão Política Nacional”. Creio que Pedro Passos Coelho não discorda desta análise. Numa conferência de imprensa realizada há poucos dias, Castanheira Barros recordou que é “opositor de Manuela Ferreira Leite desde a primeira hora” (e eu sou testemunha disso!), garantindo que não ficará a assistir à corrida para a presidência. “As condições actuais são bem diferentes das do Verão de 2007, em que surgi como um candidato outsider posicionado entre Marques Mendes e Filipe Menezes”, explicou. Sobre aquele que é actualmente o seu único opositor, considerou que, “ao contrário daquilo que defende Pedro Passos Coelho, o PSD deve hoje procurar afirmar-se como um partido eminentemente social-democrata, e não como um partido liberal”.

Os dados estão lançados...

Para traçar um pouco do perfil de Castanheira Barros, enquadrando no tempo algumas das suas declarações, deixo-vos duas reportagens que publiquei em Junho de 2008. A primeira, de antecipação ao congresso, foi publicada no jornal «O Primeiro de Janeiro» no dia 18, e a segunda, realizada em pleno conclave social-democrata, no dia 23. A posição do advogado é bem reveladora da sua visão política.

Castanheira Barros quer apresentar “lista de oposição” a Manuela Ferreira Leite - “FOI UMA VITÓRIA FRÁGIL”

Diz que “o Conselho Nacional é que decide quem é candidato a primeiro-ministro”, mas não esconde a convicção de que Ferreira Leite é a militante mais mal colocada para esse combate. Castanheira Barros está a recrutar elementos para uma lista de oposição à líder do partido...

Carla Teixeira
Foi adversário de Marques Mendes e de Luís Filipe Menezes na corrida à liderança do PSD no âmbito das segundas eleições directas do partido, que tiveram lugar em Outubro do ano passado, com o lema «Unir o partido, devolver o poder às bases e restaurar o espírito ganhador». A apenas três dias do XXXI Congresso Nacional do PSD, agendado para o próximo fim-de-semana no Pavilhão Multiusos, na cidade de Guimarães, Castanheira Barros recorre ao mesmo argumento – a unidade no seio da social-democracia –, para justificar o desejo de apresentar uma lista de “frontal oposição” à nova presidente do partido, a quem não reconhece “potencial eleitoral para garantir a vitória nas legislativas de 2009”. Em declarações a O PRIMEIRO DE JANEIRO, o advogado de Coimbra explicou que, para vencer as eleições em 2009 e resgatar ao PS de José Sócrates a governação do País, “é preciso capitalizar os votos da Função Pública”, e “Manuela Ferreira Leite é a militante social-democrata mais mal posicionada para conquistar esses votos, porque foi ela, enquanto estava no Governo, que pôs em causa expectativas legítimas e direitos consagrados dos funcionários públicos”.
Na opinião de Castanheira Barros, o passado político e de governação de Manuela Ferreira Leite – que foi ministra da Educação e das Finanças, tendo protagonizado, na última daquelas missões, algumas políticas de rigor que não caíram bem no seio da Função Pública e da sociedade em geral – funciona como “handicap”, tornando muito difícil a sua eleição para o cargo de primeira-ministra, ainda que o advogado concretize que “o Conselho Nacional é que decide quem é o candidato a primeiro-ministro”, e não o presidente do partido”, apesar de ser tradição ser o responsável máximo pela estrutura a assumir os combates eleitorais com os outros partidos. No entanto, Castanheira Barros recorda que Manuela Ferreira Leite não tem a “ampla representatividade partidária” necessária a quem se assume como candidato a um cargo de tal responsabilidade para o País. E diz mais: “A vitória que alcançou nas últimas eleições directas é uma vitória democrática, mas muito frágil”, posto que se a nova líder obteve cerca de 37 por cento dos votos, é também certo que quase o dobro daqueles militantes votaram num dos outros candidatos.
Por isso, o antigo candidato à presidência avisa que Manuela Ferreira Leite “tem de ter noção de que a sua vitória é muito frágil”, sendo útil a apresentação de ideias e projectos de uma ala que se assuma como oposição dentro do partido, sempre com frontalidade e no âmbito da “tradição vincadamente pluralista que é um património do PSD”. Nessa linha de pensamento, adiantou ao JANEIRO, está a desdobrar-se em contactos com “figuras proeminentes que apoiaram as outras candidaturas à presidência do partido”, tendo ontem estado reunido com delegados ao congresso da zona da Figueira da Foz, e tendo para hoje agendados “encontros importantes” para a formalização da lista que pretende apresentar em Guimarães. Reconhece que “são pessoas muito ocupadas e os contactos não são fáceis”, e acrescenta que “o tempo também é escasso”, mas avisa que “até sábado às 20 horas” é possível que apresente a relação das pessoas que o acompanham neste desafio.
Instado a comentar se, tendo os candidatos derrotados nas directas feito um apelo no sentido da unidade do partido e da união em torno da nova presidente, não será a apresentação de uma lista de oposição vista como uma afronta a Ferreira Leite, o advogado considerou que “ainda estão por eleger três órgãos nacionais do partido”, que vai muito além do seu presidente, e que a sua concepção política é “inversa” à da actual líder, que “quer recuperar o PSD a partir das cúpulas e barões”, enquanto Castanheira Barros defende a necessidade de “devolver o partido às bases. É uma pirâmide invertida”, ilustrou.
Entretanto, alguns apoiantes da candidatura de Pedro Santana Lopes reuniram-se ontem na Figueira da Foz para “um jantar seguido de uma pequena reunião”, como explicou à Agência Lusa o ex-deputado social-democrata Luís Cirilo, concretizando que “foram convidados todos os mandatários distritais, quem trabalhou na direcção de campanha e os delegados eleitos pela candidatura” do ex-autarca da localidade. Por decidir continua, pelo menos oficialmente, a possível apresentação de uma lista daquela equipa ao Conselho Nacional do PSD, que Luís Cirilo diz ser “largamente provável”.

«O Primeiro de Janeiro»18 de Junho de 2008

Líder do Governo Regional da Madeira foi “a grande ausência em Guimarães” - JARDIM CHAMADO À LIDERANÇA

Manuela Ferreira Leite acaba de ser eleita, mas a união em torno da presidente do PSD parece ter falhado em toda a linha. Castanheira Barros instou os militantes a formar uma lista de “frontal oposição” à líder, e ontem apontou Alberto João Jardim como o líder desejado.

Carla Teixeira
Ainda Manuela Ferreira Leite não esquentou o lugar de presidente do PSD e já nos bastidores do partido se equaciona a sua sucessão, defraudando a tentada imagem de unidade que foi mais convincente nos dois primeiros dias de trabalhos do XXXI Congresso Nacional do PSD reunido em Guimarães. À baila vem, segundo afirmou a O PRIMEIRO DE JANEIRO fonte interna social-democrata, a possibilidade de, ao cabo de poucos meses, a ex-ministra decida abdicar da liderança do partido a favor de Rui Rio, seu vice-presidente, que assim será chamado ao confronto directo com José Sócrates nas legislativas de 2009, mas Castanheira de Barros, o advogado de Coimbra que tentou constituir uma lista de “frontal oposição” à nova presidente, crê que as mudanças não se ficarão por aí, e lança o nome do presidente do Governo Regional da Madeira para a sucessão de Ferreira Leite.
À margem do congresso, e em declarações ao JANEIRO, Castanheira Barros disse que vê Alberto João Jardim como “o mais vitorioso dos social-democratas”, aferindo que “só quem não conhece a Madeira não é fã de Jardim”, que tem, frisou aquele militante, “a capacidade de falar com o povo, mas também um discurso de grande erudição, que estranhamente não passa para a Comunicação Social”. Castanheira Barros acredita que o líder madeirense seria bem aceite pelas hostes nacionais do PSD, justamente por esse discurso, que não é de oposição ao Continente. “Ele é o maior concretizador de objectivos que conheço, e a Madeira tem o maior índice de desenvolvimento da Europa nas últimas décadas, e estes são sinais evidentes de progresso, quer na chamada política do cimento, quer na vertente social”.
Pela mais-valia política que Alberto João Jardim representa para o partido laranja, o militante Castanheira Barros afirmou que “houve condições para que ele avançasse para a liderança do partido – só ele saberá por que não o fez –, mas voltará a haver condições para isso no futuro”. Quanto à hipotética passagem de testemunho entre Manuela Ferreira Leite e Rui Rio, o apoiante de Santana Lopes acredita que “é um cenário possível, mas insiste que “essa ideia resulta se pensarmos na possibilidade de colocar Jardim na presidência do partido”, porque, “ao contrário do que passa na Comunicação Social, a aceitação de Jardim no seio do partido é muito ampla, como ficou demonstrado com os apoios que reuniria, se tivesse avançado nas directas de 31 de Maio para a presidência do partido”.
Castanheira Barros falhou na pretensão de constituir uma lista própria, de oposição a Manuela Ferreira Leite, de que chegou a dar conta a O PRIMEIRO DE JANEIRO dias antes do conclave de Guimarães, mas ontem, à margem dos trabalhos, fez um ponto da situação e explicou por que aceitou integrar a lista de Santana Lopes para a Mesa do Congresso. Explicou que, no dia em que aquelas declarações chegaram às bancas, recebeu, numa reunião de apoiantes de Santana Lopes, um convite do próprio ex-candidato à liderança: “Pretendia congregar numa lista única os esforços de apoiantes de Passos Coelho e Santana Lopes, num consenso alargado entre os dois grupos de militantes, mas não foi possível”. Questionado sobre o resultado dos apelos à união no partido respondeu, laconicamente, que “nem por sombras” se vê essa unidade no seio da social-democracia.

«O Primeiro de Janeiro»23 de Junho de 2008

Se é verdade que é sempre bom reencontrar amigos e pessoas cuja lembrança nos inspira um sorriso, é ainda melhor perceber que essas pessoas continuam activas na sua coerência e na sua militância, lutando pelo futuro daquilo em que acreditam. O advogado Jorge Castanheira Barros, de Coimbra, é uma dessas pessoas, que felizmente tenho como amigo. No momento em que acaba de anunciar a sua disponibilidade para avançar na corrida à liderança do PSD, se conseguir reunir os “apoios humanos e financeiros” suficientes para sustentar “uma forte probabilidade de vitória”, não me resta alternativa a apoiá-lo nessa pretensão, com a certeza de que a sua eleição representaria uma lufada de ar fresco num partido cuja história recente tem registado uma embaraçosa curva descendente.
Conheci o cidadão e o advogado, antes de conhecer o político. Empenhado na sua luta contra o avanço do processo de co-incineração, vi sempre nele um homem de causas, sério, certeiro, atento e dedicado. Castanheira Barros não vira a cara a um desafio, e se já em 2007 anunciou a sua disponibilidade para assumir a presidência do partido, numa candidatura minada ainda numa fase embrionária, precisamente por falta de apoios materiais para a sua concretização, é com bons olhos que o vejo agora reincidir nessa intenção. Nessa altura, enfrentaria Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, duas figuras de peso no partido. Hoje, consumando-se esta candidatura, enfrentará Manuela Ferreira Leite, uma decrépita sombra do que já foi, desgastada pelas recentes derrotas eleitorais, e Pedro Passos Coelho, o “eterno jovem” a que muitos social-democratas hesitam ainda dar o seu voto de confiança.
Para já, são estes os dois putativos candidatos à liderança do PSD. Adivinha-se um combate de titãs, disputado e interessante. Castanheira Barros afirma que, se a actual líder do partido continuar “agarrada ao poder”, será necessário “mostrar-lhe, quanto antes, a porta da saída, através da convocação de um congresso extraordinário e da consequente apresentação de uma moção de censura à actual Comissão Política Nacional”. Creio que Pedro Passos Coelho não discorda desta análise. Numa conferência de imprensa realizada há poucos dias, Castanheira Barros recordou que é “opositor de Manuela Ferreira Leite desde a primeira hora” (e eu sou testemunha disso!), garantindo que não ficará a assistir à corrida para a presidência. “As condições actuais são bem diferentes das do Verão de 2007, em que surgi como um candidato outsider posicionado entre Marques Mendes e Filipe Menezes”, explicou. Sobre aquele que é actualmente o seu único opositor, considerou que, “ao contrário daquilo que defende Pedro Passos Coelho, o PSD deve hoje procurar afirmar-se como um partido eminentemente social-democrata, e não como um partido liberal”.

Os dados estão lançados...

Para traçar um pouco do perfil de Castanheira Barros, enquadrando no tempo algumas das suas declarações, deixo-vos duas reportagens que publiquei em Junho de 2008. A primeira, de antecipação ao congresso, foi publicada no jornal «O Primeiro de Janeiro» no dia 18, e a segunda, realizada em pleno conclave social-democrata, no dia 23. A posição do advogado é bem reveladora da sua visão política.

Castanheira Barros quer apresentar “lista de oposição” a Manuela Ferreira Leite - “FOI UMA VITÓRIA FRÁGIL”

Diz que “o Conselho Nacional é que decide quem é candidato a primeiro-ministro”, mas não esconde a convicção de que Ferreira Leite é a militante mais mal colocada para esse combate. Castanheira Barros está a recrutar elementos para uma lista de oposição à líder do partido...

Carla Teixeira
Foi adversário de Marques Mendes e de Luís Filipe Menezes na corrida à liderança do PSD no âmbito das segundas eleições directas do partido, que tiveram lugar em Outubro do ano passado, com o lema «Unir o partido, devolver o poder às bases e restaurar o espírito ganhador». A apenas três dias do XXXI Congresso Nacional do PSD, agendado para o próximo fim-de-semana no Pavilhão Multiusos, na cidade de Guimarães, Castanheira Barros recorre ao mesmo argumento – a unidade no seio da social-democracia –, para justificar o desejo de apresentar uma lista de “frontal oposição” à nova presidente do partido, a quem não reconhece “potencial eleitoral para garantir a vitória nas legislativas de 2009”. Em declarações a O PRIMEIRO DE JANEIRO, o advogado de Coimbra explicou que, para vencer as eleições em 2009 e resgatar ao PS de José Sócrates a governação do País, “é preciso capitalizar os votos da Função Pública”, e “Manuela Ferreira Leite é a militante social-democrata mais mal posicionada para conquistar esses votos, porque foi ela, enquanto estava no Governo, que pôs em causa expectativas legítimas e direitos consagrados dos funcionários públicos”.
Na opinião de Castanheira Barros, o passado político e de governação de Manuela Ferreira Leite – que foi ministra da Educação e das Finanças, tendo protagonizado, na última daquelas missões, algumas políticas de rigor que não caíram bem no seio da Função Pública e da sociedade em geral – funciona como “handicap”, tornando muito difícil a sua eleição para o cargo de primeira-ministra, ainda que o advogado concretize que “o Conselho Nacional é que decide quem é o candidato a primeiro-ministro”, e não o presidente do partido”, apesar de ser tradição ser o responsável máximo pela estrutura a assumir os combates eleitorais com os outros partidos. No entanto, Castanheira Barros recorda que Manuela Ferreira Leite não tem a “ampla representatividade partidária” necessária a quem se assume como candidato a um cargo de tal responsabilidade para o País. E diz mais: “A vitória que alcançou nas últimas eleições directas é uma vitória democrática, mas muito frágil”, posto que se a nova líder obteve cerca de 37 por cento dos votos, é também certo que quase o dobro daqueles militantes votaram num dos outros candidatos.
Por isso, o antigo candidato à presidência avisa que Manuela Ferreira Leite “tem de ter noção de que a sua vitória é muito frágil”, sendo útil a apresentação de ideias e projectos de uma ala que se assuma como oposição dentro do partido, sempre com frontalidade e no âmbito da “tradição vincadamente pluralista que é um património do PSD”. Nessa linha de pensamento, adiantou ao JANEIRO, está a desdobrar-se em contactos com “figuras proeminentes que apoiaram as outras candidaturas à presidência do partido”, tendo ontem estado reunido com delegados ao congresso da zona da Figueira da Foz, e tendo para hoje agendados “encontros importantes” para a formalização da lista que pretende apresentar em Guimarães. Reconhece que “são pessoas muito ocupadas e os contactos não são fáceis”, e acrescenta que “o tempo também é escasso”, mas avisa que “até sábado às 20 horas” é possível que apresente a relação das pessoas que o acompanham neste desafio.
Instado a comentar se, tendo os candidatos derrotados nas directas feito um apelo no sentido da unidade do partido e da união em torno da nova presidente, não será a apresentação de uma lista de oposição vista como uma afronta a Ferreira Leite, o advogado considerou que “ainda estão por eleger três órgãos nacionais do partido”, que vai muito além do seu presidente, e que a sua concepção política é “inversa” à da actual líder, que “quer recuperar o PSD a partir das cúpulas e barões”, enquanto Castanheira Barros defende a necessidade de “devolver o partido às bases. É uma pirâmide invertida”, ilustrou.
Entretanto, alguns apoiantes da candidatura de Pedro Santana Lopes reuniram-se ontem na Figueira da Foz para “um jantar seguido de uma pequena reunião”, como explicou à Agência Lusa o ex-deputado social-democrata Luís Cirilo, concretizando que “foram convidados todos os mandatários distritais, quem trabalhou na direcção de campanha e os delegados eleitos pela candidatura” do ex-autarca da localidade. Por decidir continua, pelo menos oficialmente, a possível apresentação de uma lista daquela equipa ao Conselho Nacional do PSD, que Luís Cirilo diz ser “largamente provável”.

«O Primeiro de Janeiro»18 de Junho de 2008

Líder do Governo Regional da Madeira foi “a grande ausência em Guimarães” - JARDIM CHAMADO À LIDERANÇA

Manuela Ferreira Leite acaba de ser eleita, mas a união em torno da presidente do PSD parece ter falhado em toda a linha. Castanheira Barros instou os militantes a formar uma lista de “frontal oposição” à líder, e ontem apontou Alberto João Jardim como o líder desejado.

Carla Teixeira
Ainda Manuela Ferreira Leite não esquentou o lugar de presidente do PSD e já nos bastidores do partido se equaciona a sua sucessão, defraudando a tentada imagem de unidade que foi mais convincente nos dois primeiros dias de trabalhos do XXXI Congresso Nacional do PSD reunido em Guimarães. À baila vem, segundo afirmou a O PRIMEIRO DE JANEIRO fonte interna social-democrata, a possibilidade de, ao cabo de poucos meses, a ex-ministra decida abdicar da liderança do partido a favor de Rui Rio, seu vice-presidente, que assim será chamado ao confronto directo com José Sócrates nas legislativas de 2009, mas Castanheira de Barros, o advogado de Coimbra que tentou constituir uma lista de “frontal oposição” à nova presidente, crê que as mudanças não se ficarão por aí, e lança o nome do presidente do Governo Regional da Madeira para a sucessão de Ferreira Leite.
À margem do congresso, e em declarações ao JANEIRO, Castanheira Barros disse que vê Alberto João Jardim como “o mais vitorioso dos social-democratas”, aferindo que “só quem não conhece a Madeira não é fã de Jardim”, que tem, frisou aquele militante, “a capacidade de falar com o povo, mas também um discurso de grande erudição, que estranhamente não passa para a Comunicação Social”. Castanheira Barros acredita que o líder madeirense seria bem aceite pelas hostes nacionais do PSD, justamente por esse discurso, que não é de oposição ao Continente. “Ele é o maior concretizador de objectivos que conheço, e a Madeira tem o maior índice de desenvolvimento da Europa nas últimas décadas, e estes são sinais evidentes de progresso, quer na chamada política do cimento, quer na vertente social”.
Pela mais-valia política que Alberto João Jardim representa para o partido laranja, o militante Castanheira Barros afirmou que “houve condições para que ele avançasse para a liderança do partido – só ele saberá por que não o fez –, mas voltará a haver condições para isso no futuro”. Quanto à hipotética passagem de testemunho entre Manuela Ferreira Leite e Rui Rio, o apoiante de Santana Lopes acredita que “é um cenário possível, mas insiste que “essa ideia resulta se pensarmos na possibilidade de colocar Jardim na presidência do partido”, porque, “ao contrário do que passa na Comunicação Social, a aceitação de Jardim no seio do partido é muito ampla, como ficou demonstrado com os apoios que reuniria, se tivesse avançado nas directas de 31 de Maio para a presidência do partido”.
Castanheira Barros falhou na pretensão de constituir uma lista própria, de oposição a Manuela Ferreira Leite, de que chegou a dar conta a O PRIMEIRO DE JANEIRO dias antes do conclave de Guimarães, mas ontem, à margem dos trabalhos, fez um ponto da situação e explicou por que aceitou integrar a lista de Santana Lopes para a Mesa do Congresso. Explicou que, no dia em que aquelas declarações chegaram às bancas, recebeu, numa reunião de apoiantes de Santana Lopes, um convite do próprio ex-candidato à liderança: “Pretendia congregar numa lista única os esforços de apoiantes de Passos Coelho e Santana Lopes, num consenso alargado entre os dois grupos de militantes, mas não foi possível”. Questionado sobre o resultado dos apelos à união no partido respondeu, laconicamente, que “nem por sombras” se vê essa unidade no seio da social-democracia.

«O Primeiro de Janeiro»23 de Junho de 2008

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