Montepio. Intervenção política atrasa banco social

09-12-2018
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O negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) está prestes a ser fechado. Ao que ...

O negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) está prestes a ser fechado. Ao que o SOL apurou, tudo indica que estará concluído até ao final do mês de abril. A entrada em simultâneo de entre 20 e 30 entidades – Santa Casa, misericórdias e IPSS – numa primeira fase, assim como o envolvimento político em torno deste dossiê, têm vindo a atrasar o processo, que já poderia estar concluído há largas semanas.
A entidade liderada por Edmundo Martinho deverá investir 18 milhões de euros para ficar com 1% do capital. Um valor que vai ao encontro do que já tinha sido avançado pelo i e que apontava para um investimento até 20 milhões de euros. O mesmo caminho será seguido pelas restantes misericórdias e IPSS, apesar dos montantes serem mais «simbólicos».
Apesar da entrada destas instituições ainda não estar formalizada, os seus representantes já contam com assento no conselho de administração da instituição financeira. Um desses casos é António Tavares, presidente da Misericórdia do Porto, que já viu o seu nome aprovado pelo Banco de Portugal (BdP) para presidir à mesa da assembleia-geral.
Um cargo que não tem funções executivas e que só é chamado a atuar quando se realizam as reuniões de acionistas (por norma, uma vez por ano). Para breve está o investimento de 10 mil euros, considerado pelo porta-voz do governo sombra de Rui Rio «como simbólico» e inferior a um carro utilitário, mas que, ainda assim é justificado pela «importância do papel social do Montepio» e pela «ligação natural» que pode haver entre instituições como a Santa Casa e este tipo de bancos.
Uma estratégia que vai contra a forte contestação do PSD em relação a este negócio. Ainda esta semana, no Parlamento, o deputado Adão Silva garantiu que o partido «tudo fará para obstar este propósito da Santa Casa da Misericórdia. No dia 19 de Abril haverá debate no Parlamento sobre projeto de resolução que vise proibir a Santa Casa da Misericórdia entrar na Caixa Económica Montepio Geral», afirmou durante a audição de Edmundo Martinho.
O próprio líder do PSD já enumerou três grandes eixos de atuação, com o Montepio a ser considerado uma das prioridades da oposição, a par dos incêndios e da saúde.
Participação estratégica
Para o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, esta aposta é estratégica e aos deputados deixou uma garantia: «Estamos muito determinados em ser parte de um processo que contribua para consolidar a economia social», recusando estar a entrar numa aventura. «Não estamos em nenhuma aventura. Aventura já tivemos, e grandes, no passado, e que tiveram impactos muito significativos na vida da Santa Casa», salientou Martinho. Ainda assim, garantiu que «não há investimentos sem riscos», mas lembrou que este tem sido estudado com prudência e cautela.
O provedor referiu ainda que no passado houve investimentos muito maiores da SCML, caso da compra de ações do banco BCP, dos CTT – Correios de Portugal e da REN, que não causaram debate e que tiveram mesmo o apoio da tutela, então ocupada por algumas das pessoas que estão atualmente contra o negócio.
Além disso, afirmou que a «Caixa Económica Montepio Geral não é um banco qualquer», uma vez que é propriedade de 600 mil pessoas.
O montante a investir e a posição a deter ficam aquém do que estava inicialmente previsto – cerca de 200 milhões de euros para ficar com 10% do capital do Banco, ma, para Edmundo Martinho, a estratégia mantém-se: «A opção continua a ser estratégica para a Santa Casa. Estamos presentes, queremos estar presentes e estamos disponíveis para sermos contribuintes e beneficiários nos órgãos de gestão do banco», declarou, mostrando que este investimento não é apenas simbólico.
O provedor afastou também as acusações do deputado bloquista, que questionou se a entrada da Santa Casa no capital do banco é para salvar a instituição financeira. «Nunca seria um investimento deste tipo que salvaria seja o que fosse». Acrescentou ainda que «o banco não precisa de ser salvo. Pelo contrário. A informação financeira que existe aponta para uma grande solidez dos vários rácios». 
Sindicatos aplaudem projeto
Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), vê com naturalidade a entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Ao SOL, o responsável admite que esta aposta «nada tem que ver com a situação económico-financeira do banco, que cumpre todos os rácios e matérias regulamentares, mas somente com um reforço estratégico da Associação Mutualista e com o fertilizar de projetos de cariz mais cooperativo e social».
O responsável vai mais longe e lembra que bancos de cariz mutualista podem apostar em áreas onde outros se sentem ou sentiram mais desconfortáveis. Paulo Marcos sublinha ainda que, ao contrário do que acontece com a Europa – em que um em cada seis europeus é cliente de um banco com este perfil –, em Portugal os bancos mutualistas perderam grande parte do seu protagonismo. Considera, por isso, que «uma boa conjunção de esforços das entidades do setor social/ mutualista em instituições financeiras com a mesma filosofia e estratégia, faz todo o sentido».
Também Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), vê com naturalidade a entrada da Santa Casa no capital do Montepio e lamenta que o nome da instituição financeira esteja a ser afetado pelo debate político em torno do negócio. «O banco é supervisionado pelo Banco de Portugal, cumpriu as condições impostas pelo regulador ao separar o banco da associação, foi nomeado Carlos Tavares para administrador com reconhecimento intocável, não entendo a grande resistência, nomeadamente política que se tem assistido em torno desta operação», declara ao SOL.
O responsável questiona ainda qual seria o comportamento da oposição «caso Pedro Passos Coelho se mantivesse na Santa Casa ou se tivesse ganho a liderança do PSD».
Rui Riso lembra ainda a importância que os bancos sociais têm na Europa e lamenta «a falta dessa cultura em Portugal».
Mudanças em marcha
Carlos Tavares que assumiu funções há pouco mais de duas semanas – acumulando temporariamente o cargo de chairman e de CEO – do banco já veio admitir que a instituição financeira precisa «criticamente de percorrer um caminho de mudança e reforma para se adequar às exigências dos clientes», revelou numa carta enviada aos trabalhadores.
Para o responsável, será necessário a CEMG adaptar os «modelos de negócio com o recurso à inovação tecnológica» para «combinar o aumento da eficiência operacional com a preservação da relação personalizada com os clientes». Já sobre o acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral, o novo presidente diz que a instituição financeira tem «um dever de lealdade e cooperação com os acionistas, sem prejuízo da necessária autonomia de atuação e de lhe proporcionar remuneração adequada».
Da equipa executiva constam ainda Nuno Mota Pinto, que veio do Banco Mundial para o Montepio – apontado inicialmente para assumir a liderança mas que foi afastado devido a um crédito em incumprimento no valor de 80 mil euros –, Carlos Leiria Pinto, também vindo do Banco Mundial, José Sequeira Mateus, diretor do Montepio, Pedro Ventaneira, com passado no BESI, e Helena Costa Pina, fazem parte da equipa.
Nos vogais não executivos estão Luís Henriques Guimarães, Vítor Martins e Rui Heitor, que já se encontravam no extinto conselho geral e de supervisão da Caixa Económica, juntando-se Amadeu Ferreira de Paiva, membro do conselho geral da associação mutualista, e ainda Manuel Ferreira Teixeira, ex-secretário de Estado da Saúde e um nome indicado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

by Sónia Peres Pinto via Jornal i

O negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) está prestes a ser fechado. Ao que ...

O negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) está prestes a ser fechado. Ao que o SOL apurou, tudo indica que estará concluído até ao final do mês de abril. A entrada em simultâneo de entre 20 e 30 entidades – Santa Casa, misericórdias e IPSS – numa primeira fase, assim como o envolvimento político em torno deste dossiê, têm vindo a atrasar o processo, que já poderia estar concluído há largas semanas.
A entidade liderada por Edmundo Martinho deverá investir 18 milhões de euros para ficar com 1% do capital. Um valor que vai ao encontro do que já tinha sido avançado pelo i e que apontava para um investimento até 20 milhões de euros. O mesmo caminho será seguido pelas restantes misericórdias e IPSS, apesar dos montantes serem mais «simbólicos».
Apesar da entrada destas instituições ainda não estar formalizada, os seus representantes já contam com assento no conselho de administração da instituição financeira. Um desses casos é António Tavares, presidente da Misericórdia do Porto, que já viu o seu nome aprovado pelo Banco de Portugal (BdP) para presidir à mesa da assembleia-geral.
Um cargo que não tem funções executivas e que só é chamado a atuar quando se realizam as reuniões de acionistas (por norma, uma vez por ano). Para breve está o investimento de 10 mil euros, considerado pelo porta-voz do governo sombra de Rui Rio «como simbólico» e inferior a um carro utilitário, mas que, ainda assim é justificado pela «importância do papel social do Montepio» e pela «ligação natural» que pode haver entre instituições como a Santa Casa e este tipo de bancos.
Uma estratégia que vai contra a forte contestação do PSD em relação a este negócio. Ainda esta semana, no Parlamento, o deputado Adão Silva garantiu que o partido «tudo fará para obstar este propósito da Santa Casa da Misericórdia. No dia 19 de Abril haverá debate no Parlamento sobre projeto de resolução que vise proibir a Santa Casa da Misericórdia entrar na Caixa Económica Montepio Geral», afirmou durante a audição de Edmundo Martinho.
O próprio líder do PSD já enumerou três grandes eixos de atuação, com o Montepio a ser considerado uma das prioridades da oposição, a par dos incêndios e da saúde.
Participação estratégica
Para o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, esta aposta é estratégica e aos deputados deixou uma garantia: «Estamos muito determinados em ser parte de um processo que contribua para consolidar a economia social», recusando estar a entrar numa aventura. «Não estamos em nenhuma aventura. Aventura já tivemos, e grandes, no passado, e que tiveram impactos muito significativos na vida da Santa Casa», salientou Martinho. Ainda assim, garantiu que «não há investimentos sem riscos», mas lembrou que este tem sido estudado com prudência e cautela.
O provedor referiu ainda que no passado houve investimentos muito maiores da SCML, caso da compra de ações do banco BCP, dos CTT – Correios de Portugal e da REN, que não causaram debate e que tiveram mesmo o apoio da tutela, então ocupada por algumas das pessoas que estão atualmente contra o negócio.
Além disso, afirmou que a «Caixa Económica Montepio Geral não é um banco qualquer», uma vez que é propriedade de 600 mil pessoas.
O montante a investir e a posição a deter ficam aquém do que estava inicialmente previsto – cerca de 200 milhões de euros para ficar com 10% do capital do Banco, ma, para Edmundo Martinho, a estratégia mantém-se: «A opção continua a ser estratégica para a Santa Casa. Estamos presentes, queremos estar presentes e estamos disponíveis para sermos contribuintes e beneficiários nos órgãos de gestão do banco», declarou, mostrando que este investimento não é apenas simbólico.
O provedor afastou também as acusações do deputado bloquista, que questionou se a entrada da Santa Casa no capital do banco é para salvar a instituição financeira. «Nunca seria um investimento deste tipo que salvaria seja o que fosse». Acrescentou ainda que «o banco não precisa de ser salvo. Pelo contrário. A informação financeira que existe aponta para uma grande solidez dos vários rácios». 
Sindicatos aplaudem projeto
Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), vê com naturalidade a entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Ao SOL, o responsável admite que esta aposta «nada tem que ver com a situação económico-financeira do banco, que cumpre todos os rácios e matérias regulamentares, mas somente com um reforço estratégico da Associação Mutualista e com o fertilizar de projetos de cariz mais cooperativo e social».
O responsável vai mais longe e lembra que bancos de cariz mutualista podem apostar em áreas onde outros se sentem ou sentiram mais desconfortáveis. Paulo Marcos sublinha ainda que, ao contrário do que acontece com a Europa – em que um em cada seis europeus é cliente de um banco com este perfil –, em Portugal os bancos mutualistas perderam grande parte do seu protagonismo. Considera, por isso, que «uma boa conjunção de esforços das entidades do setor social/ mutualista em instituições financeiras com a mesma filosofia e estratégia, faz todo o sentido».
Também Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), vê com naturalidade a entrada da Santa Casa no capital do Montepio e lamenta que o nome da instituição financeira esteja a ser afetado pelo debate político em torno do negócio. «O banco é supervisionado pelo Banco de Portugal, cumpriu as condições impostas pelo regulador ao separar o banco da associação, foi nomeado Carlos Tavares para administrador com reconhecimento intocável, não entendo a grande resistência, nomeadamente política que se tem assistido em torno desta operação», declara ao SOL.
O responsável questiona ainda qual seria o comportamento da oposição «caso Pedro Passos Coelho se mantivesse na Santa Casa ou se tivesse ganho a liderança do PSD».
Rui Riso lembra ainda a importância que os bancos sociais têm na Europa e lamenta «a falta dessa cultura em Portugal».
Mudanças em marcha
Carlos Tavares que assumiu funções há pouco mais de duas semanas – acumulando temporariamente o cargo de chairman e de CEO – do banco já veio admitir que a instituição financeira precisa «criticamente de percorrer um caminho de mudança e reforma para se adequar às exigências dos clientes», revelou numa carta enviada aos trabalhadores.
Para o responsável, será necessário a CEMG adaptar os «modelos de negócio com o recurso à inovação tecnológica» para «combinar o aumento da eficiência operacional com a preservação da relação personalizada com os clientes». Já sobre o acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral, o novo presidente diz que a instituição financeira tem «um dever de lealdade e cooperação com os acionistas, sem prejuízo da necessária autonomia de atuação e de lhe proporcionar remuneração adequada».
Da equipa executiva constam ainda Nuno Mota Pinto, que veio do Banco Mundial para o Montepio – apontado inicialmente para assumir a liderança mas que foi afastado devido a um crédito em incumprimento no valor de 80 mil euros –, Carlos Leiria Pinto, também vindo do Banco Mundial, José Sequeira Mateus, diretor do Montepio, Pedro Ventaneira, com passado no BESI, e Helena Costa Pina, fazem parte da equipa.
Nos vogais não executivos estão Luís Henriques Guimarães, Vítor Martins e Rui Heitor, que já se encontravam no extinto conselho geral e de supervisão da Caixa Económica, juntando-se Amadeu Ferreira de Paiva, membro do conselho geral da associação mutualista, e ainda Manuel Ferreira Teixeira, ex-secretário de Estado da Saúde e um nome indicado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

by Sónia Peres Pinto via Jornal i

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