António Guterres nas Nações Unidas

05-07-2016
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Como republicano, católico e não socialista, confio nele, e que a ser eleito para a ONU levará consigo alguns valores civilizacionais que são os meus

“Indiscutivelmente, tem o perfil, a inteligência e os conhecimentos para o cargo.”

Aníbal Cavaco Silva

O governo português formalizou no início do mês a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas. Esta candidatura do ex-líder do Alto Comissariado para os Refugiados é classificada pelo recente ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva como “um projeto verdadeiramente nacional”. E tem somado apoios, empenhos e entusiasmos em vários setores da vida política, social e cultural do nosso país. Apoios transversais e alguns muito surpreendentes. Até porque não é despiciendo termos presente a situação política interna, com clivagens e crispações quotidianas. Esta candidatura é neste momento, como assumiu perante o corpo diplomático acreditado em Lisboa o novel Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um desafio nacional.

E, como ele, o atual governo, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, a generalidade dos partidos políticos, a diplomacia portuguesa, figuras de renome internacional como José Manuel Durão Barroso, diplomatas como António Monteiro estão, não só a apoiar, mas também a colaborar para que seja uma candidatura vencedora.

E neste particular é de bom senso termos presente que é uma candidatura que tem concorrentes de peso. E no quadro concorrencial, como já chegou a dizer António Guterres algumas vezes, quando lhe dizem que só lhe falta uma coisa para ser o candidato perfeito (ser mulher!), ele diz e bem: “Mas sobre isso não posso fazer nada.”

Porque efetivamente assim é. Os seus principais adversários ao cargo, para além de serem do leste da Europa, são mulheres. Sobretudo Irina Bokova, búlgara, diretora da UNESCO, que é a adversária mais difícil. Mas adversários como Vesna Pusic (croata), Natalia Gherman (moldava), Danilo Turk (esloveno), insider na ONU, Srgjan Kerim (macedónio) e Igor Lukic (montenegrino) são, todos eles, adversários de peso.

A decisão final irá ocorrer após um rito procedimental mais “democrático” e onde é muito importante não receber um cartão vermelho dos países com direito de veto (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França). E, aqui, António Guterres poderá ter vantagem sobre os concorrentes do leste europeu em relação a Vladimir Putin. Caberá ao conselho escolher o “distinguido” e submetê-lo a votação na assembleia-geral. Os 15 membros do Conselho das Nações Unidas vão ter um papel importante usando o método straw polls, com votações não eliminatórias.

Eu estou confiante que António Guterres está à altura deste desafio. Como republicano, católico e não socialista, confio nele, e que a ser eleito para as Nações Unidas levará consigo alguns valores civilizacionais que são os meus. Em especial os valores do humanismo cristão, da vida e da dignidade da pessoa humana, da importância da democracia demoliberal, da crítica da atual política europeia e ocidental na relação com o mundo, da necessidade de regressar aos princípios de Vestefália em detrimento da exclusiva unipolaridade normativa ocidental, da necessidade de um novo direito internacional dos refugiados e de políticas de imigração mais inclusivas, e não assentes apenas no pilar securitário. Nunca fui, não sou nem nunca serei socialista. Mas se tivesse direito a votar, votava nele. Porque o nosso mundo ficará melhor com ele e o nosso país fará boa figura. Mais sincero não posso ser.

Escreve à segunda-feira

Como republicano, católico e não socialista, confio nele, e que a ser eleito para a ONU levará consigo alguns valores civilizacionais que são os meus

“Indiscutivelmente, tem o perfil, a inteligência e os conhecimentos para o cargo.”

Aníbal Cavaco Silva

O governo português formalizou no início do mês a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas. Esta candidatura do ex-líder do Alto Comissariado para os Refugiados é classificada pelo recente ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva como “um projeto verdadeiramente nacional”. E tem somado apoios, empenhos e entusiasmos em vários setores da vida política, social e cultural do nosso país. Apoios transversais e alguns muito surpreendentes. Até porque não é despiciendo termos presente a situação política interna, com clivagens e crispações quotidianas. Esta candidatura é neste momento, como assumiu perante o corpo diplomático acreditado em Lisboa o novel Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um desafio nacional.

E, como ele, o atual governo, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, a generalidade dos partidos políticos, a diplomacia portuguesa, figuras de renome internacional como José Manuel Durão Barroso, diplomatas como António Monteiro estão, não só a apoiar, mas também a colaborar para que seja uma candidatura vencedora.

E neste particular é de bom senso termos presente que é uma candidatura que tem concorrentes de peso. E no quadro concorrencial, como já chegou a dizer António Guterres algumas vezes, quando lhe dizem que só lhe falta uma coisa para ser o candidato perfeito (ser mulher!), ele diz e bem: “Mas sobre isso não posso fazer nada.”

Porque efetivamente assim é. Os seus principais adversários ao cargo, para além de serem do leste da Europa, são mulheres. Sobretudo Irina Bokova, búlgara, diretora da UNESCO, que é a adversária mais difícil. Mas adversários como Vesna Pusic (croata), Natalia Gherman (moldava), Danilo Turk (esloveno), insider na ONU, Srgjan Kerim (macedónio) e Igor Lukic (montenegrino) são, todos eles, adversários de peso.

A decisão final irá ocorrer após um rito procedimental mais “democrático” e onde é muito importante não receber um cartão vermelho dos países com direito de veto (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França). E, aqui, António Guterres poderá ter vantagem sobre os concorrentes do leste europeu em relação a Vladimir Putin. Caberá ao conselho escolher o “distinguido” e submetê-lo a votação na assembleia-geral. Os 15 membros do Conselho das Nações Unidas vão ter um papel importante usando o método straw polls, com votações não eliminatórias.

Eu estou confiante que António Guterres está à altura deste desafio. Como republicano, católico e não socialista, confio nele, e que a ser eleito para as Nações Unidas levará consigo alguns valores civilizacionais que são os meus. Em especial os valores do humanismo cristão, da vida e da dignidade da pessoa humana, da importância da democracia demoliberal, da crítica da atual política europeia e ocidental na relação com o mundo, da necessidade de regressar aos princípios de Vestefália em detrimento da exclusiva unipolaridade normativa ocidental, da necessidade de um novo direito internacional dos refugiados e de políticas de imigração mais inclusivas, e não assentes apenas no pilar securitário. Nunca fui, não sou nem nunca serei socialista. Mas se tivesse direito a votar, votava nele. Porque o nosso mundo ficará melhor com ele e o nosso país fará boa figura. Mais sincero não posso ser.

Escreve à segunda-feira

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