Rui Riso. “Criou-se um mito à volta do crédito ao consumo”

29-11-2018
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O Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), um dos maiores do país, enfrenta hoje um dos seus maiores desafios. Vai saber se os filiados aceitam a unificação dos cinco sindicatos da Febase. A ideia é falar a uma única voz para facilitar as negociações. A estrutura liderada por Rui Riso também enfrenta hoje a greve dos SAMS, que acusam o SBSI de querer acabar com direitos e com a contratação coletiva.

Um dos principais objetivos do SBSI é a fusão de todos os sindicatos da Febase. Como está a correr?

Somos cinco sindicatos que formaram a Febase. Aliás, a Febase, enquanto federação, formou-se como resposta à impossibilidade de se unificar esses sindicatos. Este projeto de unificação, nomeadamente o dos bancários, já tem 32 anos.

Ficam de fora outros sindicatos do setor financeiro?

Sim, porque têm outra matriz e não pertencem a este arco que são os sindicatos da UGT.

Qual é o peso dos cinco sindicatos?

Temos mais de 60 mil filiados, que representam 60 a 70% do setor.

Esta unificação seria importante para falar a uma única voz?

A ideia é mesmo essa: falar a uma única voz. Existem algumas áreas em que trabalhamos em conjunto mas, perante o emagrecimento do setor financeiro, é necessário responder às novas necessidades e ajustar a estrutura a uma realidade nova. O setor esteve em crescimento durante muitos anos, sobretudo na década de 80 e 90, quando se verificou um crescimento muito acelerado; depois assistiu-se a um período de estabilização e, mais tarde, a um período de consolidação dos bancos, o que obrigatoriamente diminuiu a dimensão do setor - com menos trabalhadores e agências - e, consequentemente, a dimensão dos sindicatos. Os sindicatos, em termos relativos, têm mais ou menos o mesmo peso porque quando se perdem sócios perdem-se em todos, mas em termos absolutos representamos menos trabalhadores. Além disso, concorrem para o produto bancário muitas outras atividades que normalmente não têm qualquer cobertura sindical. Ou seja, faz todo o sentido ir buscar essas pessoas, independentemente de trabalharem para a banca ou para outras empresas. É o caso, por exemplo, do setor das tecnologias de informação. Há cada vez mais engenheiros informáticos a trabalharem para os bancos e para as companhias de seguros e, por maioria de razão, esse capital humano que participa na produção do produto do sistema financeiro deve ser protegido em termos sindicais. Neste momento, já é possível, desde que trabalhem para os bancos, mas queremos ir mais além. Além disso, o que identificamos é que as pessoas não se revêem nos sindicatos mas, se calhar, podem rever-se num que abranja várias áreas profissionais e que tenha nos seus corpos dirigentes representantes dessas mesmas áreas. Isto significa que temos aqui várias oportunidades: são as pessoas que trabalham para o setor financeiro, são pessoas que precisam de uma proteção e são as que pessoas que não se revêem nos sindicatos.

E com este leque mais alargado podem captar mais associados?

Naturalmente. E a consulta que estamos a fazer hoje é sobre o alargamento no âmbito geográfico e no âmbito profissional. Por exemplo, tivemos recentemente um evento e uma colega espanhola disse-me que tinha uma consultora espanhola a trabalhar em Portugal, e perguntou-me qual era o sindicato em que devia filiar-se. Não há um sindicato para consultores, terá de escolher um sindicato da área de serviços. O que pretendemos é ter também estas áreas que são muito conexas com o sistema financeiro em geral e que estão totalmente à margem. Até porque existe um preconceito na nossa sociedade de que as pessoas, por serem quadros ou por ocuparem um lugar mais acima nas estruturas das empresas, não devem ser sindicalizadas. Isso é um preconceito e não é isso que acontece no norte ou no centro da Europa, onde reconhecem a importância de estarem sindicalizadas para o desenvolvimento da sociedade.

Como pode funcionar o novo sindicato?

Com a unificação dos sindicatos da Febase, mandará o bom senso que haja representantes de todas as áreas geográficas e de todas as áreas profissionais que tenham no seu seio. Não se pode querer representar determinados universos sem ter representantes desses próprios universos. Neste momento somos três sindicatos bancários e dois sindicatos de seguros. O que queremos é que, no futuro, o novo sindicato tenha esses mesmos representantes destes sindicatos e mais alguns. Agora, temos uma dificuldade que é saber de que forma é que nos vamos juntar. Em primeiro lugar, é necessário que os sócios digam que sim, e vão pronunciar-se hoje; em segundo lugar, saber qual é o modelo. E ainda não sabemos o modelo porque ainda não sabemos a resposta dos sócios. Só depois de sabermos quais são os sindicatos que querem juntar-se é que teremos os elementos disponíveis para ir à procura de alguém que nos ajude nesse projeto. A empresa já está identificada e conta com muita experiência em fusões e aquisições.

E se os sócios disserem que não?

O projeto para.

De que resposta está à espera?

Temos a plena convicção, pelas informações que têm sido partilhadas connosco, que querem a unificação dos sindicatos. É óbvio que nestes processos não há unanimidade e é natural que surjam questões como se a sede deve ficar em Lisboa. Mas isso está definido há sete anos e vai ser em Lisboa por questões operacionais. É aqui que os bancos têm as sedes, e as companhias de seguros também. Se os bancos começarem a descentralizar e as seguradoras também, então aí poderemos responder de outra forma, mas não podemos esquecer-nos que agora contamos com meios eletrónicos. Além disso, apesar de não querermos reduzir o quadro de pessoal com despedimentos, há uma coisa que se percebe claramente: não devemos contratar pessoas para substituir todas aquelas que vão chegando à idade da reforma, porque temos menos sócios. A nova estrutura tem de ser mais ligeira, mais apertada, mais ágil e também mais digital.

Quem poderá dirigir essa nova estrutura?

Quem for eleito pelos bancários. As formas do processo de fusão vão obrigar-nos a ter eleições e, se todos votarem no sentido da unificação dos sindicatos, quem apresentar uma lista terá de ter uma preocupação clara que é a de ter representantes dos outros setores. Não fazia sentido ter uma lista só de bancários e não ter dos seguros. Já hoje procuramos nos nossos corpos dirigentes ter representatividade de vários bancos para ter inputs dos problemas específicos de um banco e até para fazer os acordos de empresa.

Está a pensar candidatar-se ao novo sindicato?

Só hoje é que vamos saber se sempre vai haver só um sindicato ou não. Mas estarei sempre disponível para avançar. É preciso ter sempre em mente que vamos continuar a ter uma grande retração do setor e poucas perspetivas de crescimento nos próximos anos, face ao aumento da digitalização e à falta de intervenção da banca noutras áreas. Costumo dizer que a banca teve necessidade de se reinventar no momento próprio e, como isso não aconteceu, convive com este problema. Existem hoje novas soluções que disputam o mercado bancário e o que é exigido à banca tradicional em termos de regulação e de supervisão não é exigido a essas novas empresas. Por outro lado, temos um atraso na digitalização. Mas isso não é igual em todos os países. Na Holanda e nos países do norte da Europa, cerca de 90% dos serviços bancários são feitos por via eletrónica, enquanto nos países do sul estamos a menos de 50%, o que quer dizer que ainda não acomodámos todo o impacto que essa digitalização vai ter.

E é um caminho inevitável...

Sim. E vamos ter de estar preparados para isso.

E a banca portuguesa estará preparada para isso?

Em Portugal temos bancos com características diferentes mas, no dia em que tiverem de reforçar a sua digitalização, irão fazê-lo. Não sei porque é que existe essa diferença entre os países do norte e do sul da Europa quando o processo começou em todo o lado ao mesmo tempo.

Se calhar, os clientes do sul da Europa não querem?

Não sei se é porque os clientes não aderem se é porque são mais conservadores ou se é porque os bancos não puseram todos os meios ao dispor ao mesmo tempo e para todos os clientes. Mas também não podemos esquecer-nos que tivemos nos últimos dez anos uma crise profunda que atingiu sobretudo os países do sul da Europa.

E por causa dessa crise, nos últimos anos, o setor tem apostado no fecho de balcões e despedimentos de trabalhadores….

A banca, hoje, trabalha com menos 16 ou 18% das pessoas com que trabalhava em 2008. Ou seja, perdeu pelo menos 12 mil trabalhadores. E o problema não são só os trabalhadores que saíram, são também aqueles que não entraram. Mas os portugueses não deixaram de ter os serviços bancários. Tirando alguns casos específicos em que o banco público fechou balcões em determinados locais, a verdade é que as operações financeiras continuaram a existir e, nalguns casos, até aumentaram.

Outro problema que afeta os bancários diz respeito ao aumento do stresse e da ansiedade...

Participámos nesse estudo, mas ainda não sabemos os resultados. Mas posso garantir que as consultas de psiquiatria têm tido uma procura redobrada nos últimos anos. Se me perguntar se o aumento da procura que tivemos estará relacionado com o stresse dos bancários, não sou capaz de responder, mas provavelmente terá porque essas coisas não aparecem do nada.

A redução de postos de trabalho e a pressão em torno dos objetivos para vender produtos financeiros devem ter ajudado…

Acredito mais na pressão das vendas. Às vezes, os produtos são tão maus que nós próprios, quando estamos a vendê-los, não acreditamos neles. Mas na minha vida profissional sempre dei toda a informação ao cliente, avisei-os de todos os riscos, e, ainda assim, havia pessoas que estavam disponíveis para aceitar aquele nível de risco. Se atingi sempre os objetivos na venda de produtos? Às vezes, não, mas procurei sempre fazer com que as pessoas soubessem o que estavam a fazer. Não me dei mal comigo próprio nem me dei mal com os clientes. Se, em determinados momentos, a pressão é exagerada e a solução para cumprir os objetivos é vender a qualquer preço, então lamento que isso aconteça.

Mas se calhar há bancos que pressionam mais…

Não sou capaz de dizer isso. E naquela altura (queda do BES) vi muitos prospetos sobre os produtos financeiros, e aquilo que dizem que aconteceu, não vi em lado nenhum. Se deram instruções verbais a um determinado trabalhador que para vender aquele produto teria de omitir três, quatro ou cinco parágrafos do que estava escrito nos riscos e o trabalhador omitiu? Não sei responder. E é essa a grande dificuldade quando temos de fazer a análise do que correu mal.

Acha que os clientes estão agora mais atentos?

Espero que as pessoas, face a tudo aquilo a que se assistiu, estejam suficientemente atentas. Já diz o ditado: gato escaldado, de água fria tem medo. Pese embora a apetência pelo risco, sobretudo em altura de taxas de juro negativas, continue a existir.

O futuro da banca continua a ser uma preocupação?

Continua a ser uma preocupação, mas de menor dimensão.

Mas os bancos continuam a ser muito criticados por continuarem a estar muito virados para o crédito ao consumo…

Criou-se um mito à volta do crédito ao consumo. O que os portugueses fizeram antes e depois foi aproveitar as condições que tinham ao seu dispor para melhorar as suas vidas. Se as pessoas melhoraram as suas condições de vida, é natural que queiram mudar de automóvel, comprar casa ou comprar equipamentos para a casa, e é isso que têm de fazer. Então vão ao banco e ele responde que não porque diz que estão a ser consumistas? Não pode ser. O que aconteceu antes da crise de 2008 é que nunca disseram aos portugueses é que poderiam todos ficar sem emprego ao mesmo tempo. Houve famílias inteiras desempregadas e isso não foi consequência de ação individual de cada um para arrasar a economia. Não estou a falar de pessoas que estouram o ordenado e vários cartões de crédito - isso, para mim, é uma doença, pelo menos uma doença financeira. Estamos aqui a procurar uma responsabilização das pessoas que recorrem ao crédito quase lhes chamando inconscientes.

Mas as regras já estão mais apertadas…

Mas o Banco de Portugal deve restringir sempre que os parâmetros estejam a ser ultrapassados.

O certo é vai surgindo cada vez mais a ideia de que quando os bancos perdem, são os contribuintes que pagam, mas quando ganham vai para os acionistas…

Não sou capaz de ver isso assim. O que está mal contado é que quando os bancos têm problemas, quem paga são os contribuintes. O Fundo de Resolução é suportado pelos bancos e, quando ele foi chamado a intervir no BES, o governo teve de emprestar dinheiro ao fundo porque, como era um mecanismo relativamente recente, não tinha fundos. Como tal, o Estado teve de pôr lá dinheiro e os bancos estão a pagar. Como emprestou, teve impacto no défice daquele ano. Agora, se emprestou a cinco, dez, 15 ou 20 anos, isso foi a decisão que foi tomada naquela altura. Pode também dizer-se que a CGD está no Fundo de Resolução, mas já vai pagar dividendos este ano. Também se pode dizer que, além daquele valor, foi necessário injetar mais dinheiro no Novo Banco, mas, se não fosse injetado mais dinheiro, quais seriam as consequências para a economia portuguesa? Dizer-se que os portugueses estão a pagar só é verdade se houver défice, porque o Estado fica com menos margem para cumprir o seu papel. Mas também não é menos verdade que, se fosse decretada falência, o impacto seria para todos nós. Em cada momento destes é preciso decidir qual é o mal menor. Mas há coisas que nos entram pelos olhos adentro e que sabemos que não devem acontecer, como acabar com a Caixa, quando o governo anterior disse que era impossível recapitalizar o banco porque a Europa não deixava. A Europa deixou e a Caixa, hoje, depois de ter sido recapitalizada, já deu lucros significativos.

Mas tem sido uma das vozes críticas em relação à Caixa.

O que tenho dito é que temos de procurar assegurar que as pessoas disponham dos serviços bancários. Provavelmente, a Caixa, porque foi obrigada a perder mercado, foi obrigada a encerrar balcões onde não queria e tem balcões abertos onde não queria. Aquilo que se pediu à Caixa é que tenha uma intervenção de igualdade com os outros players. Há aqui um outro aspeto que não podemos esquecer que é o facto de a DGCom ter exigido a todos os bancos que foram intervencionados que diminuíssem a sua dimensão e presença no mercado, e isso traduziu--se em reduzir agências, logo trabalhadores, e foi isso que todos fizeram. O pressuposto está errado porque a DGCom achava os bancos tinham de reduzir a sua estrutura para permitir o aparecimento de novos players. Se os bancos todos tivessem sido intervencionados, haveria áreas de negócio e áreas geográficas onde não haveria presença e entrariam outros, e é aqui que está o equívoco da Dgcom que, aliás percebeu isso muito cedo, porque em Portugal não apareceram novos players e o espaço ficou aberto para as ditas empresas de internet que prestam serviços financeiros, destruindo o negócio da banca tal como o conhecemos porque, se amanhã existir algum problema, vão-se embora e ninguém sabe quem são. E não só não apareceram novos bancos como ainda se assistiu a um processo de consolidação. Alguém pensava que o La Caixa iria integrar a totalidade do BPI, como fez? E que o Santander ficasse primeiro com o Banif e depois com o Popular?

E como vê o facto de a banca estar na mão de entidades estrangeiras?

Todos gostávamos muito de ter os centros de decisão em Portugal. Já passámos por isso noutras atividades, mas quando nos pomos a jeito para sermos comprados por outros, isso acaba por acontecer.

E, por não estarem em mãos portuguesas, dificultam as negociações com os sindicatos?

Isso dificulta porque os representantes dos bancos em Portugal não têm a mesma postura que têm, por exemplo, em Espanha. E basta ver o rendimento dos bancários espanhóis e ver o rendimento dos bancários portugueses para concluir isso. Tenho de perguntar aos bancos, nomeadamente ao Santander, que tem uma política remuneratória mais generosa do que outros bancos, porque é que nalguns locais pode pagar muito mais e noutros não pode. E porque é que, em Espanha, o La Caixa tem determinada despesa com pessoal e em Portugal diz que não pode ter. É claro que o produto bancário é diferente e a estrutura é diferente. Ou seja, as remunerações não são iguais, nem as regalias.

Mas está em negociações com o BPI?

Estamos num processo de revisão das tabelas salariais, mas tem sido um processo muito complicado. Alterou-se a forma de negociar e passámos a ter um representante que não tem capacidade de decisão, o que torna tudo muito difícil porque ouve-nos e depois tem de falar com os outros. É um modelo que claramente não serve. As negociações arrastam-se, nunca se tiram conclusões, mas há um momento em que as pessoas têm de se decidir e vir à mesa para tomar decisões. Nunca negociámos assim no BPI.

Já o BCP prometeu compensar os trabalhadores...

O BCP tem um acordo assinado connosco que diz que quando começar a distribuir dividendos, tem de recomeçar a repor os rendimentos que foram retidos durante um período longo. Foi um compromisso que assinámos com o anterior presidente.

Mas tem agora outro presidente…

Os presidentes vinculam as instituições, nem quero pensar que seja de outra maneira.

Como vê os balcões móveis?

Não considero que isso seja uma alternativa, nem é uma solução com futuro. A solução desse tipo que conheço mais perfeita é na Colômbia. Um banco privado arranjou umas carrinhas para explicar os riscos dos produtos financeiros. Mas Portugal tem outras dimensões e seria preferível arranjar uma alternativa diferente. Por exemplo, as agências poderiam trabalhar x dias por semana a horas marcadas, de acordo com o número de movimentos que as pessoas fazem, e isso é fácil de avaliar porque os clientes não vão aos bancos todos os dias. Também preferia ver alguma mobilidade por parte dos profissionais para que pudessem deslocar-se numa determinada área em determinadas horas e dias da semana. E naturalmente que, perante esse cenário, teriam de ser dadas condições aos trabalhadores para fazer isso, não é o trabalhador dar tudo e depois não haver nada em troca. Acho que vale a pena fazer esse esforço. É preciso é estudar a melhor solução para cada caso porque, mesmo que se esteja a avançar para a digitalização, ainda vai demorar uns 15 anos até que os serviços presenciais quase não sejam necessários. Além disso, nas carrinhas há questões de segurança subjacentes, nomeadamente para os trabalhadores. Como se protege as carrinhas? Não são carrinhas da Prosegur. Provavelmente terão um cofre, mas com facilidade podem ser assaltadas.

Os trabalhadores do SAMS têm agendada uma paralisação para hoje e acusam o SBSI de querer acabar com direitos e com a contratação coletiva...

Não é verdade. O sindicato está a respeitar tudo o que tem de respeitar. A greve está a ser feita por outros motivos. Somos uma organização de saúde, temos 1400 trabalhadores, 1300 dos quais dedicados apenas à área da saúde. Muitos dos direitos que os trabalhadores têm na nossa organização são direitos que foram transpostos da negociação do setor bancário, só que isto não é um banco. Hoje disputamos o mercado da saúde com outros players e há um conjunto de direitos, que têm servido de litigância permanente nos tribunais contra nós, a que os trabalhadores nunca teriam direito mas, que por interpretações específicas, fazem com que estejamos constantemente em tribunal. O que queremos é criar instrumentos de regulamentação equiparados às organizações de saúde. É a única maneira de continuarmos a assegurar 1400 postos de trabalho de uma organização que presta serviços a bancários e onde há cada vez menos bancários. Quando vivíamos em circuito fechado, era uma coisa. Com mais bancários, com mais rendimentos, podíamos assegurar isso; agora, não. Fora isso, tudo aquilo que somos obrigados a cumprir é cumprido de forma escrupulosa. Por exemplo, uma das coisas que eles referem é que fechámos a maternidade sem consultarmos a comissão de trabalhadores - isso não é verdade. Convocámos a comissão de trabalhadores e entregámos documentos que provavam que a maternidade é um foco com custos muito elevados porque não nasciam bebés suficientes para suportar essa despesa. Mas também temos a perfeita consciência de que o facto de ter um sindicato filiado numa central sindical e eles serem maioritariamente filiados noutra central sindical vai alimentando este conflito. Pior que isso: um dos sindicatos que mais litiga contra nós não tem qualquer acordo assinado connosco. Isto precisa de ser clarificado e não podemos continuar a ter regras de bancários aplicadas ao setor de saúde, não faz sentido. Outra coisa: aquilo que o sindicato dos enfermeiros considera que é bom para os enfermeiros do Hospital da Luz e outros que trabalham 40 horas, porque é que acha que para nós é mau trabalhando 35 horas? Também dizem que não estão a ser aumentados, mas os bancários também não o são. É que, antigamente, os trabalhadores desta casa eram aumentados de acordo com aquilo que acontecia no setor financeiro; só que estes só foram aumentados duas vezes em 0,75% nos últimos anos. Mais: os trabalhadores desta casa têm um subsídio de refeição perto dos dez euros, quando os outros hospitais têm cinco euros, e porque é que têm dez euros? Porque é o subsídio de refeição dos bancários, porque foi para compensar outras coisas que não conseguimos atualizar e foi uma forma de compensação. Só aqui, faça as contas de quanto é que isso custa para 1300 trabalhadores, e eles também têm SAMS pago por nós. São tudo coisas a mais que temos necessariamente de rever, sob pena de não conseguirmos responder.

O Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), um dos maiores do país, enfrenta hoje um dos seus maiores desafios. Vai saber se os filiados aceitam a unificação dos cinco sindicatos da Febase. A ideia é falar a uma única voz para facilitar as negociações. A estrutura liderada por Rui Riso também enfrenta hoje a greve dos SAMS, que acusam o SBSI de querer acabar com direitos e com a contratação coletiva.

Um dos principais objetivos do SBSI é a fusão de todos os sindicatos da Febase. Como está a correr?

Somos cinco sindicatos que formaram a Febase. Aliás, a Febase, enquanto federação, formou-se como resposta à impossibilidade de se unificar esses sindicatos. Este projeto de unificação, nomeadamente o dos bancários, já tem 32 anos.

Ficam de fora outros sindicatos do setor financeiro?

Sim, porque têm outra matriz e não pertencem a este arco que são os sindicatos da UGT.

Qual é o peso dos cinco sindicatos?

Temos mais de 60 mil filiados, que representam 60 a 70% do setor.

Esta unificação seria importante para falar a uma única voz?

A ideia é mesmo essa: falar a uma única voz. Existem algumas áreas em que trabalhamos em conjunto mas, perante o emagrecimento do setor financeiro, é necessário responder às novas necessidades e ajustar a estrutura a uma realidade nova. O setor esteve em crescimento durante muitos anos, sobretudo na década de 80 e 90, quando se verificou um crescimento muito acelerado; depois assistiu-se a um período de estabilização e, mais tarde, a um período de consolidação dos bancos, o que obrigatoriamente diminuiu a dimensão do setor - com menos trabalhadores e agências - e, consequentemente, a dimensão dos sindicatos. Os sindicatos, em termos relativos, têm mais ou menos o mesmo peso porque quando se perdem sócios perdem-se em todos, mas em termos absolutos representamos menos trabalhadores. Além disso, concorrem para o produto bancário muitas outras atividades que normalmente não têm qualquer cobertura sindical. Ou seja, faz todo o sentido ir buscar essas pessoas, independentemente de trabalharem para a banca ou para outras empresas. É o caso, por exemplo, do setor das tecnologias de informação. Há cada vez mais engenheiros informáticos a trabalharem para os bancos e para as companhias de seguros e, por maioria de razão, esse capital humano que participa na produção do produto do sistema financeiro deve ser protegido em termos sindicais. Neste momento, já é possível, desde que trabalhem para os bancos, mas queremos ir mais além. Além disso, o que identificamos é que as pessoas não se revêem nos sindicatos mas, se calhar, podem rever-se num que abranja várias áreas profissionais e que tenha nos seus corpos dirigentes representantes dessas mesmas áreas. Isto significa que temos aqui várias oportunidades: são as pessoas que trabalham para o setor financeiro, são pessoas que precisam de uma proteção e são as que pessoas que não se revêem nos sindicatos.

E com este leque mais alargado podem captar mais associados?

Naturalmente. E a consulta que estamos a fazer hoje é sobre o alargamento no âmbito geográfico e no âmbito profissional. Por exemplo, tivemos recentemente um evento e uma colega espanhola disse-me que tinha uma consultora espanhola a trabalhar em Portugal, e perguntou-me qual era o sindicato em que devia filiar-se. Não há um sindicato para consultores, terá de escolher um sindicato da área de serviços. O que pretendemos é ter também estas áreas que são muito conexas com o sistema financeiro em geral e que estão totalmente à margem. Até porque existe um preconceito na nossa sociedade de que as pessoas, por serem quadros ou por ocuparem um lugar mais acima nas estruturas das empresas, não devem ser sindicalizadas. Isso é um preconceito e não é isso que acontece no norte ou no centro da Europa, onde reconhecem a importância de estarem sindicalizadas para o desenvolvimento da sociedade.

Como pode funcionar o novo sindicato?

Com a unificação dos sindicatos da Febase, mandará o bom senso que haja representantes de todas as áreas geográficas e de todas as áreas profissionais que tenham no seu seio. Não se pode querer representar determinados universos sem ter representantes desses próprios universos. Neste momento somos três sindicatos bancários e dois sindicatos de seguros. O que queremos é que, no futuro, o novo sindicato tenha esses mesmos representantes destes sindicatos e mais alguns. Agora, temos uma dificuldade que é saber de que forma é que nos vamos juntar. Em primeiro lugar, é necessário que os sócios digam que sim, e vão pronunciar-se hoje; em segundo lugar, saber qual é o modelo. E ainda não sabemos o modelo porque ainda não sabemos a resposta dos sócios. Só depois de sabermos quais são os sindicatos que querem juntar-se é que teremos os elementos disponíveis para ir à procura de alguém que nos ajude nesse projeto. A empresa já está identificada e conta com muita experiência em fusões e aquisições.

E se os sócios disserem que não?

O projeto para.

De que resposta está à espera?

Temos a plena convicção, pelas informações que têm sido partilhadas connosco, que querem a unificação dos sindicatos. É óbvio que nestes processos não há unanimidade e é natural que surjam questões como se a sede deve ficar em Lisboa. Mas isso está definido há sete anos e vai ser em Lisboa por questões operacionais. É aqui que os bancos têm as sedes, e as companhias de seguros também. Se os bancos começarem a descentralizar e as seguradoras também, então aí poderemos responder de outra forma, mas não podemos esquecer-nos que agora contamos com meios eletrónicos. Além disso, apesar de não querermos reduzir o quadro de pessoal com despedimentos, há uma coisa que se percebe claramente: não devemos contratar pessoas para substituir todas aquelas que vão chegando à idade da reforma, porque temos menos sócios. A nova estrutura tem de ser mais ligeira, mais apertada, mais ágil e também mais digital.

Quem poderá dirigir essa nova estrutura?

Quem for eleito pelos bancários. As formas do processo de fusão vão obrigar-nos a ter eleições e, se todos votarem no sentido da unificação dos sindicatos, quem apresentar uma lista terá de ter uma preocupação clara que é a de ter representantes dos outros setores. Não fazia sentido ter uma lista só de bancários e não ter dos seguros. Já hoje procuramos nos nossos corpos dirigentes ter representatividade de vários bancos para ter inputs dos problemas específicos de um banco e até para fazer os acordos de empresa.

Está a pensar candidatar-se ao novo sindicato?

Só hoje é que vamos saber se sempre vai haver só um sindicato ou não. Mas estarei sempre disponível para avançar. É preciso ter sempre em mente que vamos continuar a ter uma grande retração do setor e poucas perspetivas de crescimento nos próximos anos, face ao aumento da digitalização e à falta de intervenção da banca noutras áreas. Costumo dizer que a banca teve necessidade de se reinventar no momento próprio e, como isso não aconteceu, convive com este problema. Existem hoje novas soluções que disputam o mercado bancário e o que é exigido à banca tradicional em termos de regulação e de supervisão não é exigido a essas novas empresas. Por outro lado, temos um atraso na digitalização. Mas isso não é igual em todos os países. Na Holanda e nos países do norte da Europa, cerca de 90% dos serviços bancários são feitos por via eletrónica, enquanto nos países do sul estamos a menos de 50%, o que quer dizer que ainda não acomodámos todo o impacto que essa digitalização vai ter.

E é um caminho inevitável...

Sim. E vamos ter de estar preparados para isso.

E a banca portuguesa estará preparada para isso?

Em Portugal temos bancos com características diferentes mas, no dia em que tiverem de reforçar a sua digitalização, irão fazê-lo. Não sei porque é que existe essa diferença entre os países do norte e do sul da Europa quando o processo começou em todo o lado ao mesmo tempo.

Se calhar, os clientes do sul da Europa não querem?

Não sei se é porque os clientes não aderem se é porque são mais conservadores ou se é porque os bancos não puseram todos os meios ao dispor ao mesmo tempo e para todos os clientes. Mas também não podemos esquecer-nos que tivemos nos últimos dez anos uma crise profunda que atingiu sobretudo os países do sul da Europa.

E por causa dessa crise, nos últimos anos, o setor tem apostado no fecho de balcões e despedimentos de trabalhadores….

A banca, hoje, trabalha com menos 16 ou 18% das pessoas com que trabalhava em 2008. Ou seja, perdeu pelo menos 12 mil trabalhadores. E o problema não são só os trabalhadores que saíram, são também aqueles que não entraram. Mas os portugueses não deixaram de ter os serviços bancários. Tirando alguns casos específicos em que o banco público fechou balcões em determinados locais, a verdade é que as operações financeiras continuaram a existir e, nalguns casos, até aumentaram.

Outro problema que afeta os bancários diz respeito ao aumento do stresse e da ansiedade...

Participámos nesse estudo, mas ainda não sabemos os resultados. Mas posso garantir que as consultas de psiquiatria têm tido uma procura redobrada nos últimos anos. Se me perguntar se o aumento da procura que tivemos estará relacionado com o stresse dos bancários, não sou capaz de responder, mas provavelmente terá porque essas coisas não aparecem do nada.

A redução de postos de trabalho e a pressão em torno dos objetivos para vender produtos financeiros devem ter ajudado…

Acredito mais na pressão das vendas. Às vezes, os produtos são tão maus que nós próprios, quando estamos a vendê-los, não acreditamos neles. Mas na minha vida profissional sempre dei toda a informação ao cliente, avisei-os de todos os riscos, e, ainda assim, havia pessoas que estavam disponíveis para aceitar aquele nível de risco. Se atingi sempre os objetivos na venda de produtos? Às vezes, não, mas procurei sempre fazer com que as pessoas soubessem o que estavam a fazer. Não me dei mal comigo próprio nem me dei mal com os clientes. Se, em determinados momentos, a pressão é exagerada e a solução para cumprir os objetivos é vender a qualquer preço, então lamento que isso aconteça.

Mas se calhar há bancos que pressionam mais…

Não sou capaz de dizer isso. E naquela altura (queda do BES) vi muitos prospetos sobre os produtos financeiros, e aquilo que dizem que aconteceu, não vi em lado nenhum. Se deram instruções verbais a um determinado trabalhador que para vender aquele produto teria de omitir três, quatro ou cinco parágrafos do que estava escrito nos riscos e o trabalhador omitiu? Não sei responder. E é essa a grande dificuldade quando temos de fazer a análise do que correu mal.

Acha que os clientes estão agora mais atentos?

Espero que as pessoas, face a tudo aquilo a que se assistiu, estejam suficientemente atentas. Já diz o ditado: gato escaldado, de água fria tem medo. Pese embora a apetência pelo risco, sobretudo em altura de taxas de juro negativas, continue a existir.

O futuro da banca continua a ser uma preocupação?

Continua a ser uma preocupação, mas de menor dimensão.

Mas os bancos continuam a ser muito criticados por continuarem a estar muito virados para o crédito ao consumo…

Criou-se um mito à volta do crédito ao consumo. O que os portugueses fizeram antes e depois foi aproveitar as condições que tinham ao seu dispor para melhorar as suas vidas. Se as pessoas melhoraram as suas condições de vida, é natural que queiram mudar de automóvel, comprar casa ou comprar equipamentos para a casa, e é isso que têm de fazer. Então vão ao banco e ele responde que não porque diz que estão a ser consumistas? Não pode ser. O que aconteceu antes da crise de 2008 é que nunca disseram aos portugueses é que poderiam todos ficar sem emprego ao mesmo tempo. Houve famílias inteiras desempregadas e isso não foi consequência de ação individual de cada um para arrasar a economia. Não estou a falar de pessoas que estouram o ordenado e vários cartões de crédito - isso, para mim, é uma doença, pelo menos uma doença financeira. Estamos aqui a procurar uma responsabilização das pessoas que recorrem ao crédito quase lhes chamando inconscientes.

Mas as regras já estão mais apertadas…

Mas o Banco de Portugal deve restringir sempre que os parâmetros estejam a ser ultrapassados.

O certo é vai surgindo cada vez mais a ideia de que quando os bancos perdem, são os contribuintes que pagam, mas quando ganham vai para os acionistas…

Não sou capaz de ver isso assim. O que está mal contado é que quando os bancos têm problemas, quem paga são os contribuintes. O Fundo de Resolução é suportado pelos bancos e, quando ele foi chamado a intervir no BES, o governo teve de emprestar dinheiro ao fundo porque, como era um mecanismo relativamente recente, não tinha fundos. Como tal, o Estado teve de pôr lá dinheiro e os bancos estão a pagar. Como emprestou, teve impacto no défice daquele ano. Agora, se emprestou a cinco, dez, 15 ou 20 anos, isso foi a decisão que foi tomada naquela altura. Pode também dizer-se que a CGD está no Fundo de Resolução, mas já vai pagar dividendos este ano. Também se pode dizer que, além daquele valor, foi necessário injetar mais dinheiro no Novo Banco, mas, se não fosse injetado mais dinheiro, quais seriam as consequências para a economia portuguesa? Dizer-se que os portugueses estão a pagar só é verdade se houver défice, porque o Estado fica com menos margem para cumprir o seu papel. Mas também não é menos verdade que, se fosse decretada falência, o impacto seria para todos nós. Em cada momento destes é preciso decidir qual é o mal menor. Mas há coisas que nos entram pelos olhos adentro e que sabemos que não devem acontecer, como acabar com a Caixa, quando o governo anterior disse que era impossível recapitalizar o banco porque a Europa não deixava. A Europa deixou e a Caixa, hoje, depois de ter sido recapitalizada, já deu lucros significativos.

Mas tem sido uma das vozes críticas em relação à Caixa.

O que tenho dito é que temos de procurar assegurar que as pessoas disponham dos serviços bancários. Provavelmente, a Caixa, porque foi obrigada a perder mercado, foi obrigada a encerrar balcões onde não queria e tem balcões abertos onde não queria. Aquilo que se pediu à Caixa é que tenha uma intervenção de igualdade com os outros players. Há aqui um outro aspeto que não podemos esquecer que é o facto de a DGCom ter exigido a todos os bancos que foram intervencionados que diminuíssem a sua dimensão e presença no mercado, e isso traduziu--se em reduzir agências, logo trabalhadores, e foi isso que todos fizeram. O pressuposto está errado porque a DGCom achava os bancos tinham de reduzir a sua estrutura para permitir o aparecimento de novos players. Se os bancos todos tivessem sido intervencionados, haveria áreas de negócio e áreas geográficas onde não haveria presença e entrariam outros, e é aqui que está o equívoco da Dgcom que, aliás percebeu isso muito cedo, porque em Portugal não apareceram novos players e o espaço ficou aberto para as ditas empresas de internet que prestam serviços financeiros, destruindo o negócio da banca tal como o conhecemos porque, se amanhã existir algum problema, vão-se embora e ninguém sabe quem são. E não só não apareceram novos bancos como ainda se assistiu a um processo de consolidação. Alguém pensava que o La Caixa iria integrar a totalidade do BPI, como fez? E que o Santander ficasse primeiro com o Banif e depois com o Popular?

E como vê o facto de a banca estar na mão de entidades estrangeiras?

Todos gostávamos muito de ter os centros de decisão em Portugal. Já passámos por isso noutras atividades, mas quando nos pomos a jeito para sermos comprados por outros, isso acaba por acontecer.

E, por não estarem em mãos portuguesas, dificultam as negociações com os sindicatos?

Isso dificulta porque os representantes dos bancos em Portugal não têm a mesma postura que têm, por exemplo, em Espanha. E basta ver o rendimento dos bancários espanhóis e ver o rendimento dos bancários portugueses para concluir isso. Tenho de perguntar aos bancos, nomeadamente ao Santander, que tem uma política remuneratória mais generosa do que outros bancos, porque é que nalguns locais pode pagar muito mais e noutros não pode. E porque é que, em Espanha, o La Caixa tem determinada despesa com pessoal e em Portugal diz que não pode ter. É claro que o produto bancário é diferente e a estrutura é diferente. Ou seja, as remunerações não são iguais, nem as regalias.

Mas está em negociações com o BPI?

Estamos num processo de revisão das tabelas salariais, mas tem sido um processo muito complicado. Alterou-se a forma de negociar e passámos a ter um representante que não tem capacidade de decisão, o que torna tudo muito difícil porque ouve-nos e depois tem de falar com os outros. É um modelo que claramente não serve. As negociações arrastam-se, nunca se tiram conclusões, mas há um momento em que as pessoas têm de se decidir e vir à mesa para tomar decisões. Nunca negociámos assim no BPI.

Já o BCP prometeu compensar os trabalhadores...

O BCP tem um acordo assinado connosco que diz que quando começar a distribuir dividendos, tem de recomeçar a repor os rendimentos que foram retidos durante um período longo. Foi um compromisso que assinámos com o anterior presidente.

Mas tem agora outro presidente…

Os presidentes vinculam as instituições, nem quero pensar que seja de outra maneira.

Como vê os balcões móveis?

Não considero que isso seja uma alternativa, nem é uma solução com futuro. A solução desse tipo que conheço mais perfeita é na Colômbia. Um banco privado arranjou umas carrinhas para explicar os riscos dos produtos financeiros. Mas Portugal tem outras dimensões e seria preferível arranjar uma alternativa diferente. Por exemplo, as agências poderiam trabalhar x dias por semana a horas marcadas, de acordo com o número de movimentos que as pessoas fazem, e isso é fácil de avaliar porque os clientes não vão aos bancos todos os dias. Também preferia ver alguma mobilidade por parte dos profissionais para que pudessem deslocar-se numa determinada área em determinadas horas e dias da semana. E naturalmente que, perante esse cenário, teriam de ser dadas condições aos trabalhadores para fazer isso, não é o trabalhador dar tudo e depois não haver nada em troca. Acho que vale a pena fazer esse esforço. É preciso é estudar a melhor solução para cada caso porque, mesmo que se esteja a avançar para a digitalização, ainda vai demorar uns 15 anos até que os serviços presenciais quase não sejam necessários. Além disso, nas carrinhas há questões de segurança subjacentes, nomeadamente para os trabalhadores. Como se protege as carrinhas? Não são carrinhas da Prosegur. Provavelmente terão um cofre, mas com facilidade podem ser assaltadas.

Os trabalhadores do SAMS têm agendada uma paralisação para hoje e acusam o SBSI de querer acabar com direitos e com a contratação coletiva...

Não é verdade. O sindicato está a respeitar tudo o que tem de respeitar. A greve está a ser feita por outros motivos. Somos uma organização de saúde, temos 1400 trabalhadores, 1300 dos quais dedicados apenas à área da saúde. Muitos dos direitos que os trabalhadores têm na nossa organização são direitos que foram transpostos da negociação do setor bancário, só que isto não é um banco. Hoje disputamos o mercado da saúde com outros players e há um conjunto de direitos, que têm servido de litigância permanente nos tribunais contra nós, a que os trabalhadores nunca teriam direito mas, que por interpretações específicas, fazem com que estejamos constantemente em tribunal. O que queremos é criar instrumentos de regulamentação equiparados às organizações de saúde. É a única maneira de continuarmos a assegurar 1400 postos de trabalho de uma organização que presta serviços a bancários e onde há cada vez menos bancários. Quando vivíamos em circuito fechado, era uma coisa. Com mais bancários, com mais rendimentos, podíamos assegurar isso; agora, não. Fora isso, tudo aquilo que somos obrigados a cumprir é cumprido de forma escrupulosa. Por exemplo, uma das coisas que eles referem é que fechámos a maternidade sem consultarmos a comissão de trabalhadores - isso não é verdade. Convocámos a comissão de trabalhadores e entregámos documentos que provavam que a maternidade é um foco com custos muito elevados porque não nasciam bebés suficientes para suportar essa despesa. Mas também temos a perfeita consciência de que o facto de ter um sindicato filiado numa central sindical e eles serem maioritariamente filiados noutra central sindical vai alimentando este conflito. Pior que isso: um dos sindicatos que mais litiga contra nós não tem qualquer acordo assinado connosco. Isto precisa de ser clarificado e não podemos continuar a ter regras de bancários aplicadas ao setor de saúde, não faz sentido. Outra coisa: aquilo que o sindicato dos enfermeiros considera que é bom para os enfermeiros do Hospital da Luz e outros que trabalham 40 horas, porque é que acha que para nós é mau trabalhando 35 horas? Também dizem que não estão a ser aumentados, mas os bancários também não o são. É que, antigamente, os trabalhadores desta casa eram aumentados de acordo com aquilo que acontecia no setor financeiro; só que estes só foram aumentados duas vezes em 0,75% nos últimos anos. Mais: os trabalhadores desta casa têm um subsídio de refeição perto dos dez euros, quando os outros hospitais têm cinco euros, e porque é que têm dez euros? Porque é o subsídio de refeição dos bancários, porque foi para compensar outras coisas que não conseguimos atualizar e foi uma forma de compensação. Só aqui, faça as contas de quanto é que isso custa para 1300 trabalhadores, e eles também têm SAMS pago por nós. São tudo coisas a mais que temos necessariamente de rever, sob pena de não conseguirmos responder.

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