O PS tem um Mourinho para as Finanças

14-10-2019
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A obsessão da análise exaustiva de dados e a forma metódica para traçar fórmulas que se pretendem de sucesso é coisa de família, está visto. Há dois Mourinho assim: um para o futebol – o José que os portugueses (e o mundo) já conhecem – e outro para a economia, o Ricardo. Quem? O Mourinho de Mário Centeno, o special one do PS. Vá, o homem que puxou do excel a cada reunião técnica com a esquerda para entrosar meio campo e frente de ataque, ou seja, a disponibilidade orçamental e a política.

Ricardo Mourinho Félix é o deputado que já fez correr tinta por ser primo direito (os pais são irmãos) do treinador do Chelsea. Fica chateado com as constantes associações? “Incomoda mais o Rui, que é o outro primo e ninguém fala dele.” Ricardo Mourinho ri-se ao mesmo tempo que ele mesmo estabelece paralelismo entre a sua acção na ciência económica e a do científico Mourinho no futebol. “Ele também tem ciência, analisa dados e resultados e alia isso à comunicação, que é o que falta aos economistas, a capacidade de explicar.”

Durante o último mês teve um trabalho invisível. Esteve em praticamente todas as reuniões técnicas do PS com os partidos da esquerda para chegar a um acordo político, que dependia do entendimento para a aprovação de pelo menos um Orçamento do Estado, o de 2016. Foi Mário Centeno que o convidou para a equipa onde estava também Pedro Nuno Santos (o pivô político de António Costa nestas negociações), que Ricardo conheceu no ISEG quando ambos estudavam Economia, em anos diferentes.

Vindo do Departamento de Estudos do Banco de Portugal (que Centeno dirigia), Ricardo Mourinho estava habituado à técnica de que o PS precisava para a sua táctica. As folhas de excel estiveram quase sempre abertas à sua frente nas reuniões com a esquerda, conta o próprio, a postos para perceber as possibilidades. “Mário Centeno convidou-me para a esquipa técnica porque precisava de alguém que calculasse os impactos que as alterações ao programa teriam no quadro macroeconómico.”

Como diz o (quase certo) futuro ministro das Finanças do PS, Ricardo “é o homem da Bimby”. O faz-tudo na cozinha serviu a Ricardo Araújo Pereira para fazer uma piada sobre o cenário macroeconómico do PS: foi como misturar tudo na Bimby. Centeno aproveitou a graça para meter o seu Mourinho. Ainda há duas semanas, no parlamento, o coordenador do programa económico do PS estava prestes a reunir-se com o PCP para acertar ideias quanto aos resultados dos testes de stresse à banca. O deputado comunista Miguel Tiago já estava à espera para o encontro, mas Centeno precisava do seu braço-direito:“Onde é que está o Ricardo?” Saiu da sala e voltou com o colega deputado. “Temos grande afinidade na forma de pensar e trabalhar.” Mourinho diz-se “pró-economia de mercado”, mas não se vê como “um liberal puro”, defendendo “o intervencionismo do Estado em sectores fundamentais”.

Descoberta de Gaspar Antes disto foram colegas no Banco de Portugal (BdP), onde Centeno dirigiu o Departamento de Estudos Económicos. Ricardo era coordenador do grupo da Economia Nacional, mas estava na instituição desde 1998. Na verdade pisou-a pela primeira vez em 1996, acabado de sair da universidade. Na altura, Vítor Gaspar (sim, esse mesmo) era chefe do departamento e disse--lhe que só não ficava porque não havia vaga, mas aquele que havia de ser ministro das Finanças acabou por chamar Ricardo pouco depois (em 1998) para o grupo de Modelos e Previsão do BdP.

A experiência política não é tão vasta como a económica, mas também não é novidade para este socialista de 41 anos, militante desde os 18 e que entre 2000 e 2001 fez mesmo parte da comissão política nacional do PS. Já tinha passado pelo secretariado da JS e foi também deputado municipal em Setúbal, capital do distrito pelo qual Ana Catarina Mendes (líder da federação distrital) o convidou para ser candidato a deputado desta vez. Aceitou sem dúvidas. “Sempre gostei da actividade política. Não vim agora para ir para o governo, já estou muito satisfeito com a vida como deputado.” Mas é provável que integre a equipa das Finanças. “Não me espanta, disse desde o início que estava disponível para o que fosse necessário.”

A carreira no BdPficou suspensa. “Agora estou na política.” Este ano, aliás, tem sido mais político, já que tem estado desde o início a colaborar (e desde aí a pedido de Centeno) com o grupo de economistas que esteva a fazer as contas para António Costa. Nessa fase teve de pedir ao banco central, que autorizou a colaboração, exigindo máxima discrição e não utilização de meios. Mas agora diz estar “aqui como político, e não técnico”, ainda que reconheça ser importante que os “técnicos tragam essa mais-valia para a política, para que a política não fique só pela eloquência”. A táctica primeiro, diria Mourinho. O outro Mourinho.

A obsessão da análise exaustiva de dados e a forma metódica para traçar fórmulas que se pretendem de sucesso é coisa de família, está visto. Há dois Mourinho assim: um para o futebol – o José que os portugueses (e o mundo) já conhecem – e outro para a economia, o Ricardo. Quem? O Mourinho de Mário Centeno, o special one do PS. Vá, o homem que puxou do excel a cada reunião técnica com a esquerda para entrosar meio campo e frente de ataque, ou seja, a disponibilidade orçamental e a política.

Ricardo Mourinho Félix é o deputado que já fez correr tinta por ser primo direito (os pais são irmãos) do treinador do Chelsea. Fica chateado com as constantes associações? “Incomoda mais o Rui, que é o outro primo e ninguém fala dele.” Ricardo Mourinho ri-se ao mesmo tempo que ele mesmo estabelece paralelismo entre a sua acção na ciência económica e a do científico Mourinho no futebol. “Ele também tem ciência, analisa dados e resultados e alia isso à comunicação, que é o que falta aos economistas, a capacidade de explicar.”

Durante o último mês teve um trabalho invisível. Esteve em praticamente todas as reuniões técnicas do PS com os partidos da esquerda para chegar a um acordo político, que dependia do entendimento para a aprovação de pelo menos um Orçamento do Estado, o de 2016. Foi Mário Centeno que o convidou para a equipa onde estava também Pedro Nuno Santos (o pivô político de António Costa nestas negociações), que Ricardo conheceu no ISEG quando ambos estudavam Economia, em anos diferentes.

Vindo do Departamento de Estudos do Banco de Portugal (que Centeno dirigia), Ricardo Mourinho estava habituado à técnica de que o PS precisava para a sua táctica. As folhas de excel estiveram quase sempre abertas à sua frente nas reuniões com a esquerda, conta o próprio, a postos para perceber as possibilidades. “Mário Centeno convidou-me para a esquipa técnica porque precisava de alguém que calculasse os impactos que as alterações ao programa teriam no quadro macroeconómico.”

Como diz o (quase certo) futuro ministro das Finanças do PS, Ricardo “é o homem da Bimby”. O faz-tudo na cozinha serviu a Ricardo Araújo Pereira para fazer uma piada sobre o cenário macroeconómico do PS: foi como misturar tudo na Bimby. Centeno aproveitou a graça para meter o seu Mourinho. Ainda há duas semanas, no parlamento, o coordenador do programa económico do PS estava prestes a reunir-se com o PCP para acertar ideias quanto aos resultados dos testes de stresse à banca. O deputado comunista Miguel Tiago já estava à espera para o encontro, mas Centeno precisava do seu braço-direito:“Onde é que está o Ricardo?” Saiu da sala e voltou com o colega deputado. “Temos grande afinidade na forma de pensar e trabalhar.” Mourinho diz-se “pró-economia de mercado”, mas não se vê como “um liberal puro”, defendendo “o intervencionismo do Estado em sectores fundamentais”.

Descoberta de Gaspar Antes disto foram colegas no Banco de Portugal (BdP), onde Centeno dirigiu o Departamento de Estudos Económicos. Ricardo era coordenador do grupo da Economia Nacional, mas estava na instituição desde 1998. Na verdade pisou-a pela primeira vez em 1996, acabado de sair da universidade. Na altura, Vítor Gaspar (sim, esse mesmo) era chefe do departamento e disse--lhe que só não ficava porque não havia vaga, mas aquele que havia de ser ministro das Finanças acabou por chamar Ricardo pouco depois (em 1998) para o grupo de Modelos e Previsão do BdP.

A experiência política não é tão vasta como a económica, mas também não é novidade para este socialista de 41 anos, militante desde os 18 e que entre 2000 e 2001 fez mesmo parte da comissão política nacional do PS. Já tinha passado pelo secretariado da JS e foi também deputado municipal em Setúbal, capital do distrito pelo qual Ana Catarina Mendes (líder da federação distrital) o convidou para ser candidato a deputado desta vez. Aceitou sem dúvidas. “Sempre gostei da actividade política. Não vim agora para ir para o governo, já estou muito satisfeito com a vida como deputado.” Mas é provável que integre a equipa das Finanças. “Não me espanta, disse desde o início que estava disponível para o que fosse necessário.”

A carreira no BdPficou suspensa. “Agora estou na política.” Este ano, aliás, tem sido mais político, já que tem estado desde o início a colaborar (e desde aí a pedido de Centeno) com o grupo de economistas que esteva a fazer as contas para António Costa. Nessa fase teve de pedir ao banco central, que autorizou a colaboração, exigindo máxima discrição e não utilização de meios. Mas agora diz estar “aqui como político, e não técnico”, ainda que reconheça ser importante que os “técnicos tragam essa mais-valia para a política, para que a política não fique só pela eloquência”. A táctica primeiro, diria Mourinho. O outro Mourinho.

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