Rua da Índia, 76: Dou-vos

07-01-2020
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Agora sei que o Natal da minha infância era uma estranha mistura. Era híbrido, ou se calhar, mulato. Nessa altura não podia imaginar como seriam os outros natais, não pensava no mundo muito para além do meu quintal, embora soubesse que havia parentes lá longe, nunca percebi porque se chamava a Portugal continental "o puto", talvez pelo seu tamanho. Não havia laços, não havia afectos, praticamente toda a família do meu pai se tinha mudado para África e apenas a da minha mãe tinha ficado, ela pouco ou nada falava deles. 

O Natal era uma imensa festa, feita no quintal, com as árvores enfeitadas por luzes de todas as cores, frango assado com piri-piri e muita cerveja. No meio de tudo isto, aparecia um pai natal vestido a preceito, a sufocar com o fato vermelho completo e as barbas feitas de algodão. Pobrezinho, Dezembro, é mês de muito calor. 

Não posso dizer-vos que bebi com o leite materno o sabor do picante, pois a minha mãe não o tinha. Mas lembro-me de gostar desde sempre, mesmo quando me fazia chorar um bocadinho. Sou fascinada pelos vários sabores de picante que os frutos dão e há tantos, mas tantos. Imagino muitos de vós não gostem, por isso deixo-vos estes, têm um picante moderado e doce. E são belos, não são? E as cores combinam tão bem com a época. Bem sei que não conjugam com o bacalhau, mas arrisquem um bocadinho com a carne, vão ver que lhe dá outro toque e se se emocionarem e deitarem uma lágrima, sempre lhe podem atribuir a responsabilidade.

~CC~

Agora sei que o Natal da minha infância era uma estranha mistura. Era híbrido, ou se calhar, mulato. Nessa altura não podia imaginar como seriam os outros natais, não pensava no mundo muito para além do meu quintal, embora soubesse que havia parentes lá longe, nunca percebi porque se chamava a Portugal continental "o puto", talvez pelo seu tamanho. Não havia laços, não havia afectos, praticamente toda a família do meu pai se tinha mudado para África e apenas a da minha mãe tinha ficado, ela pouco ou nada falava deles. 

O Natal era uma imensa festa, feita no quintal, com as árvores enfeitadas por luzes de todas as cores, frango assado com piri-piri e muita cerveja. No meio de tudo isto, aparecia um pai natal vestido a preceito, a sufocar com o fato vermelho completo e as barbas feitas de algodão. Pobrezinho, Dezembro, é mês de muito calor. 

Não posso dizer-vos que bebi com o leite materno o sabor do picante, pois a minha mãe não o tinha. Mas lembro-me de gostar desde sempre, mesmo quando me fazia chorar um bocadinho. Sou fascinada pelos vários sabores de picante que os frutos dão e há tantos, mas tantos. Imagino muitos de vós não gostem, por isso deixo-vos estes, têm um picante moderado e doce. E são belos, não são? E as cores combinam tão bem com a época. Bem sei que não conjugam com o bacalhau, mas arrisquem um bocadinho com a carne, vão ver que lhe dá outro toque e se se emocionarem e deitarem uma lágrima, sempre lhe podem atribuir a responsabilidade.

~CC~

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