Flores e espinhos da senhora DREN

05-11-2015
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Ela entrou na direcção regional a distribuir margaridas, nas reuniões.E foi logo avisando, sem floreados: "Isto agora é a ditadura da margarida." Houve dúvidas se a mensagem era para ler com maiúscula ou sem. E os funcionários interrogavam-se: viria aí uma lady ou um bulldozer em figura de gente? Logo se percebeu que, se dependesse dela, flores... nem cheiro!

O estilo "quero, posso e mando" fez de Margarida Moreira uma mulher temível e temida, no interior da Direcção Regional de Educação do Norte. Se o termo DREN é hoje familiar no País, a ela se deve. Por boas e más razões, a sigla cola-se-lhe à pele. Ora porque o PS aplaude o método como um exemplo nacional de aplicação das medidas do Governo, ora porque "a MM", iniciais que a identificam nos corredores da DREN, gere um organismo que dá pretexto para trocadilhos fáceis, em tempo de contestações: "Já é tempo de a drenar", escreveu o professor Santana Castilho, no Público.

Quando vai à guerra, Margarida dá e leva. E os casos sucedem-se.

O último ainda ferve: o facto de 17 alunos de etnia cigana terem aulas à parte, num contentor ou monobloco, instalado na escola básica da Lagoa Negra, Barcelos, fê-la defender a "discriminação positiva" e sujeitar-se ao foguetório público e parlamentar. Nada a que não esteja habituada.

QUANTOS SÃO, QUANTOS SÃO?

Desde que se instalou na direcção regional, há quatro anos, Margarida não usou pinças nem água de rosas. Do "caso" Charrua às supostas "humilhações" ao sacerdote e autarca de Vieira do Minho, Albino Carneiro, a quem terá mandado ir para a sacristia, juntou gasolina ao fogo posto. O caso mais dramático, porém, é o de um cego de nascença, com 16 anos de DREN e "barra" em informática, obrigado a regressar à escola com base em alegadas ameaças feitas à senhora directora.

O próprio desmente as ameaças. Mas, hoje, tem três turmas a seu cargo, em Rio Tinto e precisa do auxílio de outro colega, na sala. "Os alunos são mais complicados e eu já não sou novo. E tudo isto porque a senhora persegue as pessoas, promove atitudes pidescas e decide na base do 'apetece-me'", conta António Queirós que, aos 56 anos, mantém a veia irónica: "Eu, pelo menos, não tenho medo das avaliações. As minhas aulas são todas assistidas." Margarida Moreira entretanto, não parou.

Ameaçou pôr na ordem os conselhos executivos que criassem obstáculos às avaliações, fez gala dos 778 processos disciplinares instaurados em 2007 e impôs a realização de um cortejo de Carnaval em Paredes de Coura, contra a vontade e o tempo disponível dos professores. Associações de pais acusam-na de "irresponsabilidade" e "incompetência", na gestão do ensino especial. Os sindicatos dizem dela o que Maomé não disse do toucinho. E ela?! Impávida. Mas nem sempre serena. Na ânsia de mostrar resultados e contribuir para a estatística governamental, empenhouse em arregimentar funcionários da DREN para as Novas Oportunidades e anda num virote a promover o Magalhães, "obrigando" as autarquias a pagar o custo do acesso à Internet.

Margarida Moreira não manda dizer.Diz.

Fá-lo, normalmente, à bruta, se exceptuarmos a doçura reservada para aqueles de quem gosta e alguma brejeirice entre amigos. O que escreve, sai, por vezes, com os pés, como foi tornado público, nas últimas semanas, através de alguns textos da sua lavra, tais como este excerto: "Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável, acompanharemos de muito perto a defesa do bom nome da escola, dos professores, dos alunos e de toda uma população que muito tem orgulhado o nosso país pela valorização que à escola tem dado." "Revelou-se a mais fervorosa apoiante da política educativa deste Governo.

Tanto na substância como na forma", diz o professor Paulo Guinote, do blogue A Educação do Meu Umbigo. "Se a substância pode ser objecto de discussão, por se tratar, em parte, de matéria de natureza política, já a forma é injustificável pelo grau de interferência e abuso de poder que revela. Isto para não falar em tantos outros episódios que, adequadamente, acontecem de maneira a não deixar rasto documental", refere este docente e bloguista, cujas páginas recebem 15 a 16 mil visitantes diários.

QUEM SE METE COM O PS...

Quem se mete com Margarida pode ter o destino virado do avesso. Quem se mete com o PS e o Governo, vai vê-la a assumir as dores. Tirando "um ou outro caso infeliz ", Renato Sampaio, líder dos socialistas do Porto, aprova. "É de antes quebrar que torcer. Tem sido determinada, em circunstâncias difíceis e de contravapor, a aplicar as políticas do Governo." Narciso Miranda, às avessas com o partido, tem-na como amiga e "apoiante de sempre", na lota ou nos salões. "Agora é mais discreta.

Ou distante. Mas, ao contrário de outros, tem sido exemplar comigo." António Ventura, socialista da Associação dos Trabalhadores da Educação, vê em Margarida "um coração de ouro", mas seria "incapaz de lhe pedir um favor". Há, todavia, quem outrora lhe tenha apanhado tiques que, às vezes, borram a pintura: "Era conflituosa e problemática. Nunca tive afinidade com o grupo dela, muito ambicioso. Eu sempre me orgulhei de servir o partido e de nunca me servir dele", afirma José Ribeiro, coordenador da secção da Foz do PS, onde Margarida militou, há 20 anos.

Na DREN, conhecem bem o jeito desta educadora de infância de formação, ex-líder da JS-Porto e antiga adjunta do ministro Augusto Santos Silva, na Educação. Vários funcionários e até ex-funcionários da DREN admitiram fazer declarações sobre ela à VISÃO. Mas, nos dias seguintes, sucederam-se telefonemas a pedir o anonimato "por receio de represálias", num ambiente "de bajulação e bufaria instalado e incentivado ".

O servilismo, dizem, só se nota em relação aos grandes poderes e influências no PS "que ela sabe serem-lhe úteis". Várias pessoas abandonaram a DREN, forçadas ou desgastadas, algumas sob forte medicação.

"Leva já com um processo disciplinar! " é uma frase ouvida amiúde na sua boca. As reprimendas são célebres.

"E algumas pessoas já saíram do gabinete a chorar." A directora regional é ainda impaciente com burocracias. Detesta obstáculos a uma "gestão flexível", nem que isso implique dar ordens por sms ou despachar de forma imprudente. Por vezes, os funcionários perdem dias a espremer as vontades e decisões de Margarida, nos limites da lei e da contabilidade da administração pública.

Algo que, a julgar pelas denúncias do professor Fernando Charrua (ver entrevista na pág. 50), nem sempre terá sido conseguido.

FUTURO BEM PASSADO

Antiga dirigente sindical de relevo na Fenprof e no Sindicato dos Professores do Norte, a actual directora da DREN fez escola e deixou saudades. Era então a Margarida Elisa "guerreira", seguida e admirada. Integrou a comissão negociadora do anterior Estatuto da Carreira Docente pelo qual se bateu com o mesmo entusiasmo com que, agora, defende o actual, gerador de conflitualidade no ensino.

As contradições não a impedem, porém, de se manter como sócia n.º 4 do SPN, com as quotas em dia, apesar de isenta, e votar, como fez nas últimas eleições.

Socialista desde sempre, foi apoiante de Alegre contra Sócrates, em 2004, deputada municipal em Matosinhos, é tida como incansável faz despachos madrugada dentro e autêntica self made woman. Mesmo quem dela não gosta elogia o facto de ser "excelente mãe e filha" e boa compincha, tratando-se de prazeres da mesa.

Por agora, Margarida ainda é uma espécie de flor de estufa do PS, da ministra e do Governo.

Mas há quem não esqueça o seu contributo para os espinhos da "rosa". Dos possíveis amanhãs da senhora directora, fala o amigo Renato Sampaio: "Na política é tudo tão efémero e voraz que é difícil falar de futuros."

Ela entrou na direcção regional a distribuir margaridas, nas reuniões.E foi logo avisando, sem floreados: "Isto agora é a ditadura da margarida." Houve dúvidas se a mensagem era para ler com maiúscula ou sem. E os funcionários interrogavam-se: viria aí uma lady ou um bulldozer em figura de gente? Logo se percebeu que, se dependesse dela, flores... nem cheiro!

O estilo "quero, posso e mando" fez de Margarida Moreira uma mulher temível e temida, no interior da Direcção Regional de Educação do Norte. Se o termo DREN é hoje familiar no País, a ela se deve. Por boas e más razões, a sigla cola-se-lhe à pele. Ora porque o PS aplaude o método como um exemplo nacional de aplicação das medidas do Governo, ora porque "a MM", iniciais que a identificam nos corredores da DREN, gere um organismo que dá pretexto para trocadilhos fáceis, em tempo de contestações: "Já é tempo de a drenar", escreveu o professor Santana Castilho, no Público.

Quando vai à guerra, Margarida dá e leva. E os casos sucedem-se.

O último ainda ferve: o facto de 17 alunos de etnia cigana terem aulas à parte, num contentor ou monobloco, instalado na escola básica da Lagoa Negra, Barcelos, fê-la defender a "discriminação positiva" e sujeitar-se ao foguetório público e parlamentar. Nada a que não esteja habituada.

QUANTOS SÃO, QUANTOS SÃO?

Desde que se instalou na direcção regional, há quatro anos, Margarida não usou pinças nem água de rosas. Do "caso" Charrua às supostas "humilhações" ao sacerdote e autarca de Vieira do Minho, Albino Carneiro, a quem terá mandado ir para a sacristia, juntou gasolina ao fogo posto. O caso mais dramático, porém, é o de um cego de nascença, com 16 anos de DREN e "barra" em informática, obrigado a regressar à escola com base em alegadas ameaças feitas à senhora directora.

O próprio desmente as ameaças. Mas, hoje, tem três turmas a seu cargo, em Rio Tinto e precisa do auxílio de outro colega, na sala. "Os alunos são mais complicados e eu já não sou novo. E tudo isto porque a senhora persegue as pessoas, promove atitudes pidescas e decide na base do 'apetece-me'", conta António Queirós que, aos 56 anos, mantém a veia irónica: "Eu, pelo menos, não tenho medo das avaliações. As minhas aulas são todas assistidas." Margarida Moreira entretanto, não parou.

Ameaçou pôr na ordem os conselhos executivos que criassem obstáculos às avaliações, fez gala dos 778 processos disciplinares instaurados em 2007 e impôs a realização de um cortejo de Carnaval em Paredes de Coura, contra a vontade e o tempo disponível dos professores. Associações de pais acusam-na de "irresponsabilidade" e "incompetência", na gestão do ensino especial. Os sindicatos dizem dela o que Maomé não disse do toucinho. E ela?! Impávida. Mas nem sempre serena. Na ânsia de mostrar resultados e contribuir para a estatística governamental, empenhouse em arregimentar funcionários da DREN para as Novas Oportunidades e anda num virote a promover o Magalhães, "obrigando" as autarquias a pagar o custo do acesso à Internet.

Margarida Moreira não manda dizer.Diz.

Fá-lo, normalmente, à bruta, se exceptuarmos a doçura reservada para aqueles de quem gosta e alguma brejeirice entre amigos. O que escreve, sai, por vezes, com os pés, como foi tornado público, nas últimas semanas, através de alguns textos da sua lavra, tais como este excerto: "Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável, acompanharemos de muito perto a defesa do bom nome da escola, dos professores, dos alunos e de toda uma população que muito tem orgulhado o nosso país pela valorização que à escola tem dado." "Revelou-se a mais fervorosa apoiante da política educativa deste Governo.

Tanto na substância como na forma", diz o professor Paulo Guinote, do blogue A Educação do Meu Umbigo. "Se a substância pode ser objecto de discussão, por se tratar, em parte, de matéria de natureza política, já a forma é injustificável pelo grau de interferência e abuso de poder que revela. Isto para não falar em tantos outros episódios que, adequadamente, acontecem de maneira a não deixar rasto documental", refere este docente e bloguista, cujas páginas recebem 15 a 16 mil visitantes diários.

QUEM SE METE COM O PS...

Quem se mete com Margarida pode ter o destino virado do avesso. Quem se mete com o PS e o Governo, vai vê-la a assumir as dores. Tirando "um ou outro caso infeliz ", Renato Sampaio, líder dos socialistas do Porto, aprova. "É de antes quebrar que torcer. Tem sido determinada, em circunstâncias difíceis e de contravapor, a aplicar as políticas do Governo." Narciso Miranda, às avessas com o partido, tem-na como amiga e "apoiante de sempre", na lota ou nos salões. "Agora é mais discreta.

Ou distante. Mas, ao contrário de outros, tem sido exemplar comigo." António Ventura, socialista da Associação dos Trabalhadores da Educação, vê em Margarida "um coração de ouro", mas seria "incapaz de lhe pedir um favor". Há, todavia, quem outrora lhe tenha apanhado tiques que, às vezes, borram a pintura: "Era conflituosa e problemática. Nunca tive afinidade com o grupo dela, muito ambicioso. Eu sempre me orgulhei de servir o partido e de nunca me servir dele", afirma José Ribeiro, coordenador da secção da Foz do PS, onde Margarida militou, há 20 anos.

Na DREN, conhecem bem o jeito desta educadora de infância de formação, ex-líder da JS-Porto e antiga adjunta do ministro Augusto Santos Silva, na Educação. Vários funcionários e até ex-funcionários da DREN admitiram fazer declarações sobre ela à VISÃO. Mas, nos dias seguintes, sucederam-se telefonemas a pedir o anonimato "por receio de represálias", num ambiente "de bajulação e bufaria instalado e incentivado ".

O servilismo, dizem, só se nota em relação aos grandes poderes e influências no PS "que ela sabe serem-lhe úteis". Várias pessoas abandonaram a DREN, forçadas ou desgastadas, algumas sob forte medicação.

"Leva já com um processo disciplinar! " é uma frase ouvida amiúde na sua boca. As reprimendas são célebres.

"E algumas pessoas já saíram do gabinete a chorar." A directora regional é ainda impaciente com burocracias. Detesta obstáculos a uma "gestão flexível", nem que isso implique dar ordens por sms ou despachar de forma imprudente. Por vezes, os funcionários perdem dias a espremer as vontades e decisões de Margarida, nos limites da lei e da contabilidade da administração pública.

Algo que, a julgar pelas denúncias do professor Fernando Charrua (ver entrevista na pág. 50), nem sempre terá sido conseguido.

FUTURO BEM PASSADO

Antiga dirigente sindical de relevo na Fenprof e no Sindicato dos Professores do Norte, a actual directora da DREN fez escola e deixou saudades. Era então a Margarida Elisa "guerreira", seguida e admirada. Integrou a comissão negociadora do anterior Estatuto da Carreira Docente pelo qual se bateu com o mesmo entusiasmo com que, agora, defende o actual, gerador de conflitualidade no ensino.

As contradições não a impedem, porém, de se manter como sócia n.º 4 do SPN, com as quotas em dia, apesar de isenta, e votar, como fez nas últimas eleições.

Socialista desde sempre, foi apoiante de Alegre contra Sócrates, em 2004, deputada municipal em Matosinhos, é tida como incansável faz despachos madrugada dentro e autêntica self made woman. Mesmo quem dela não gosta elogia o facto de ser "excelente mãe e filha" e boa compincha, tratando-se de prazeres da mesa.

Por agora, Margarida ainda é uma espécie de flor de estufa do PS, da ministra e do Governo.

Mas há quem não esqueça o seu contributo para os espinhos da "rosa". Dos possíveis amanhãs da senhora directora, fala o amigo Renato Sampaio: "Na política é tudo tão efémero e voraz que é difícil falar de futuros."

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