Vivemos um tempo transitório

07-06-2016
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Há onze anos almocei com Pedro Santana Lopes em S. Bento. Ele era primeiro-ministro, e o país estava em polvorosa.

Vivia-se um ambiente malsão.

Marcelo Rebelo de Sousa acabara de sair da TVI, depois de críticas do ministro Rui Gomes da Silva ao facto de fazer análise política “sem contraditório”, e o Governo era acusado de lidar mal com a liberdade de opinião.

Quase ao mesmo tempo, José Rodrigues dos Santos era demitido de diretor de informação da RTP pelo ministro Morais Sarmento, e Fernando Lima era afastado da direção do Diário de Notícias.

Por outro lado, a descoordenação entre os ministros era grande, e alguns mostravam a sua falta de preparação.

A juntar a tudo isto, o primeiro-ministro tinha um problema, um pecado original: não fora legitimado nas urnas e sentia isso como uma fragilidade.

O período que vivemos nas duas últimas semanas lembrou-me subitamente aquele tempo.

Tal como Santana Lopes, António Costa não foi sufragado nas urnas - e é primeiro-ministro em consequência de acordos feitos no Parlamento.

Há muita agitação no ar.

Pressionado pelo PCP e pelo BE, o Governo tem vindo a reverter impiedosamente as medidas tomadas pelo anterior Governo, provocando a desconfiança dos credores europeus e das agências de rating.

O próprio presidente do BCE vem a Lisboa dizer: tenham cuidado, não percam a competitividade que ganharam nos últimos quatro anos.

Todos os dias são tomadas novas medidas que aumentam a despesa, sem se saber de onde virá o dinheiro; e os tímidos cortes que o ministro das Finanças vai tentando fazer voltam logo para trás, por pressão dos visados.

O consumo disparou e a balança comercial voltou a ser negativa - o que se traduzirá no crescimento da dívida externa.

Mas há mais. Umas semanas depois de se ter envolvido num caso polémico - a demissão do responsável do CCB sem razão aparente -, o ministro da Cultura demitiu-se após umas afirmações infelizes contra uns colunistas.

O chefe do Exército também se demitiu, em virtude de um inusitado pedido público de explicações por parte do ministro da Defesa.

O secretário de Estado da Juventude e Desporto seguiu o mesmo caminho, “em profundo desacordo com o modo de estar [do ministro] em cargos públicos”.

O primeiro-ministro parece andar sempre em campanha eleitoral, organizando cerimónias insólitas como aquela que encenou com os lesados do BES - em que o governador do Banco de Portugal foi colocado numa situação altamente vexatória - ou outra destinada a assinalar a reposição dos feriados.

No meio disto tudo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mantém uma atividade frenética, contribuindo para a ideia de que o país não vive tempos normais.

Temos, de facto, a sensação de viver um tempo transitório.

Um tempo em que o primeiro-ministro António Costa não é visto bem como primeiro-ministro - parecendo antes o líder da oposição, pois dedica mais tempo a atacar os adversários do que a defender o Governo.

E em que o líder da oposição Passos Coelho não é visto bem como líder da oposição - parecendo antes o primeiro-ministro, pois mantém uma postura criticada no seu próprio partido por não ser suficientemente agressiva.

Dir-se-ia estarmos num intermezzo: ‘Passos Coelho segue dentro de momentos’.

Foi primeiro-ministro durante quatro anos, está neste momento com o cargo suspenso, voltará a ser primeiro-ministro no futuro.

É uma espécie de ex-futuro primeiro-ministro.

Nesse almoço em S. Bento em 2005, Santana Lopes disse-me que queria ficar ali 10 anos e depois deixaria a política.

Pensei que ele estava completamente fora da realidade.

O Governo rebentava por todos lados e o primeiro-ministro falava em 10 anos no poder?

Claro que apenas durou uns curtos meses.

Agora, as demissões de João Soares e do CEME, a agitação na tropa, as polémicas do Governo com o governador do Banco de Portugal, os avisos de Bruxelas, o ambiente de campanha eleitoral - tudo isto me faz pensar que esta situação não vai durar muito.

Para Passos Coelho, porém, isso será péssimo.

O que interessa ao PSD é que o Governo dure o suficiente para que os eventuais maus resultados desta política se manifestem e fiquem à vista de toda a gente.

Há onze anos almocei com Pedro Santana Lopes em S. Bento. Ele era primeiro-ministro, e o país estava em polvorosa.

Vivia-se um ambiente malsão.

Marcelo Rebelo de Sousa acabara de sair da TVI, depois de críticas do ministro Rui Gomes da Silva ao facto de fazer análise política “sem contraditório”, e o Governo era acusado de lidar mal com a liberdade de opinião.

Quase ao mesmo tempo, José Rodrigues dos Santos era demitido de diretor de informação da RTP pelo ministro Morais Sarmento, e Fernando Lima era afastado da direção do Diário de Notícias.

Por outro lado, a descoordenação entre os ministros era grande, e alguns mostravam a sua falta de preparação.

A juntar a tudo isto, o primeiro-ministro tinha um problema, um pecado original: não fora legitimado nas urnas e sentia isso como uma fragilidade.

O período que vivemos nas duas últimas semanas lembrou-me subitamente aquele tempo.

Tal como Santana Lopes, António Costa não foi sufragado nas urnas - e é primeiro-ministro em consequência de acordos feitos no Parlamento.

Há muita agitação no ar.

Pressionado pelo PCP e pelo BE, o Governo tem vindo a reverter impiedosamente as medidas tomadas pelo anterior Governo, provocando a desconfiança dos credores europeus e das agências de rating.

O próprio presidente do BCE vem a Lisboa dizer: tenham cuidado, não percam a competitividade que ganharam nos últimos quatro anos.

Todos os dias são tomadas novas medidas que aumentam a despesa, sem se saber de onde virá o dinheiro; e os tímidos cortes que o ministro das Finanças vai tentando fazer voltam logo para trás, por pressão dos visados.

O consumo disparou e a balança comercial voltou a ser negativa - o que se traduzirá no crescimento da dívida externa.

Mas há mais. Umas semanas depois de se ter envolvido num caso polémico - a demissão do responsável do CCB sem razão aparente -, o ministro da Cultura demitiu-se após umas afirmações infelizes contra uns colunistas.

O chefe do Exército também se demitiu, em virtude de um inusitado pedido público de explicações por parte do ministro da Defesa.

O secretário de Estado da Juventude e Desporto seguiu o mesmo caminho, “em profundo desacordo com o modo de estar [do ministro] em cargos públicos”.

O primeiro-ministro parece andar sempre em campanha eleitoral, organizando cerimónias insólitas como aquela que encenou com os lesados do BES - em que o governador do Banco de Portugal foi colocado numa situação altamente vexatória - ou outra destinada a assinalar a reposição dos feriados.

No meio disto tudo, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mantém uma atividade frenética, contribuindo para a ideia de que o país não vive tempos normais.

Temos, de facto, a sensação de viver um tempo transitório.

Um tempo em que o primeiro-ministro António Costa não é visto bem como primeiro-ministro - parecendo antes o líder da oposição, pois dedica mais tempo a atacar os adversários do que a defender o Governo.

E em que o líder da oposição Passos Coelho não é visto bem como líder da oposição - parecendo antes o primeiro-ministro, pois mantém uma postura criticada no seu próprio partido por não ser suficientemente agressiva.

Dir-se-ia estarmos num intermezzo: ‘Passos Coelho segue dentro de momentos’.

Foi primeiro-ministro durante quatro anos, está neste momento com o cargo suspenso, voltará a ser primeiro-ministro no futuro.

É uma espécie de ex-futuro primeiro-ministro.

Nesse almoço em S. Bento em 2005, Santana Lopes disse-me que queria ficar ali 10 anos e depois deixaria a política.

Pensei que ele estava completamente fora da realidade.

O Governo rebentava por todos lados e o primeiro-ministro falava em 10 anos no poder?

Claro que apenas durou uns curtos meses.

Agora, as demissões de João Soares e do CEME, a agitação na tropa, as polémicas do Governo com o governador do Banco de Portugal, os avisos de Bruxelas, o ambiente de campanha eleitoral - tudo isto me faz pensar que esta situação não vai durar muito.

Para Passos Coelho, porém, isso será péssimo.

O que interessa ao PSD é que o Governo dure o suficiente para que os eventuais maus resultados desta política se manifestem e fiquem à vista de toda a gente.

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