Abébia Vadia: Porfírio Silva Arquivo

03-04-2019
marcar artigo

Virar a página? Qual página? Vitor Cruz, segundos após a comunicação do PR, vem tentar passar uma esponja sobre a guerrilha institucional que o PSD-oficial promoveu nos últimos dias e explicar que o seu inimigo são "os outros". A sua expressão foi "virar a página".

Aproveito, então, para citar Boudjemaâ Ghechir, presidente da Liga Argelina dos Direitos do Homem. É que o Presidente Bouteflika declarou a necessidade de uma amnistia geral aos crimes cometidos desde 1994 pelos terroristas islamistas ... e também pelo regime. Era preciso, pois, "virar a página". E, a isso, Ghechir disse: "Antes de virar a página, primeiro é preciso lê-la". Ou seja: não tratem de meter as responsabilidades para trás das costas, porque esquecer não resolve os problemas.

Concordo. Companheiro Vitor Cruz: virar a página, sim - mas não para esquecer as malfeitorias que vossas mercês fizeram... nesta página! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:41 PM

Sugestões para Sampaio à boca do discurso O nosso actual PR, com o seu apurado sentido do formalismo, por vezes esquece-se da política. Da última vez fez-nos esperar quinze dias por uma decisão que ninguém sabia qual seria. Desta feita, faz-nos esperar quase o mesmo tempo por uma decisão que todos sabemos qual será. Senhor Presidente: isto não é um jogo de damas, é o país, não se esqueça de que existem alguns portugueses que não trabalham no Palácio! Mas está por minutos, razão pela qual não tenho muito tempo para apurar este meu esfoço de contribuir para o bem da nação.

É que, como sempre se pode tentar aproveitar o lado bom das coisas más, aproveito o efeito da demora para umas breves e humildes sugestões a Sua Excelência. A saber:

(i) anuncie que vai dissolver a Assembleia daqui a dias, mas que para já demite o governo: o que eles fizeram nos últimos dias, só por si, é suficiente;

(ii) nomeie para PM outro militante do PSD, por exemplo a Manuela F. Leite e mande-a à AR apresentar um programa de governo. (Quinze dias a mais, quinze dias a menos - dá o mesmo.)

(iii) Termine a receita dissolvendo a Assembleia.

Se tiver a lata de seguir estas minhas sugestões, amanhã forneço mais, sim?

PS: Não pense que estou a brincar!

PS2: Em vez de PS (Post Scriptum) vou passar a escrever JS (José Sócrates) ... apenas porque ele se candidata a ser o próximo alvo desta blogolândia tão agitada. Uff. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:41 PM

Acabou o governo Sampaio-Lopes-Portas 1. O PR vai dissolver a AR. Certo. A noção de um pingo de dignidade institucional obrigava. Escrevemos aqui que este era o governo "Sampaio-Lopes-Portas", por estar este governo devedor de um acto explícito do PR, sem o qual nem à incubadora teria chegado. Era nossa dúvida, na altura, se o PR poderia cumprir a sua promessa de "vigiar" o governo. Tenho de admitir que, nesse ponto, errei. "O homem" vigiou mesmo. E tirou daí certas conclusões, que agora estão à vista. Mas nem tudo é simples.

2. Muitos dizem agora: "porque não dissolveu há quatro meses, se o resultado só podia ser este?". Discordo em absoluto dessa análise. A situação é agora politicamente muito diferente do que era então. Foi PSL, pelo seu próprio pé, que se atirou ao poço - não foi o PR que o impediu de tentar a sua sorte. Foi PSL que demonstrou que uma maioria não é condição suficiente de estabilidade - não foi o PR que cortou por sua vontade a legislatura a meio. Hoje o PR mostrou que pensa pela sua cabeça, mesmo quando há quatro meses desagradou à esquerda e agora desagrada a certa direita. Tudo isso faz toda a diferença. Dizer que já todos sabíamos onde "aquilo" ía dar é um argumento politicamente inaceitável: para "vidente" já nos basta o PSL.

3. Penso agora em Ferro Rodrigues, que foi o verdadeiro perdedor deste episódio. É injusto que lhe tenha passado ao lado a possibilidade de governar o país. Teria oportunidade de mostrar que tem muito mais visão do que alguns "espertos em espuma dos dias" que não têm qualquer noção do que é servir o país. E atenção: se a intenção do PR foi dar "a possibilidade" ao PS de se "livrar" de Ferro, nesse ponto o PR extravasou as suas competências, cometeu um erro de avaliação e talvez tenha caído numa armadilha que qualquer advogado de segunda categoria desmontaria (não andava aí uma sombra de Casa Pia?).

4. Estou agora curioso para ver se José Sócrates vai cair na armadilha do centrismo. Estou para ver, a prazo, o resultado do "solitos hasta la muerte"... no caso de o PS não ter maioria absoluta. Mas, sobre isso, vou cruzar os dedos, "rezar para que tudo corra bem" e... calar-me, não vá o diabo tecê-las e ressuscitar o fantasma do guterrismo: vamos em frente e logo se vêêêêêêêêêêê...... gaita, caí no abismo!

Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 04:29 PM

Escrever direitos por linhas tortas O El País é, como se sabe, um reaccionaríssimo diário do país vizinho. Passo a resumir um texto do seu editorialista Hermann Tertsch, publicado há alguns dias. Desde há pelo menos 20 anos que países como a Alemanha ou a Holanda tudo faziam para que os imigrantes muçulmanos não renunciassem à sua cultura. Tudo o que não fosse nesse sentido era considerado racista e xenófobo. Nessa linha, racistas eram os que pugnavam por um esforço de integração por parte dos imigrantes. Os partidos democráticos desinteressaram-se do problema. As elites pregavam a tolerância, mesmo com os intolerantes.

Foi preciso o assassínio de Theo van Ghog para que se afundasse a grande mentira. Na Holanda contam-se já vinte atentados anti-muçulmanos desde aquela morte. Em França, os jovens muçulmanos são a ponta de lança do anti-semitismo europeu. Há pouco tempo o Der Spiegel publicava um dossier acabrunhante sobre os maus-tratos, as torturas e os sequestros que sofrem milhares de mulheres no seio das suas famílias na Alemanha. Em certos países europeus há bairros onde já não se aplica a Constituição, mas a sharia. Tal como em muitos lares.

Seria cruel dizer que merecemos as consequências do nosso relativismo. Mas temos uma responsabilidade evidente: o nosso erro não foi o de exercer os nossos direitos, mas sim o de não os fazer respeitar. Tanto repetimos ao longo dos anos que todas as ideias são boas, que acabámos por convencer disso aqueles que matam e morrem por valores diametralmente opostos aos nossos.

Convém sempre lembrar que a imensa maioria dos imigrados muçulmanos na Europa são gente de bem. E que há muitos indesejáveis “cristãos”. Mas a polícia holandesa calcula que 5% dos imigrantes muçulmanos nesse país são fanáticos preparados para a violência. Isto é: 50.000.

E que tal um combinação inteligente de firmeza e tolerância, a par com a consciência dos perigos que realmente corremos?

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 02:16 PM

Sinais de fogo É normal um primeiro-ministro, usando da palavra em público no exercício das suas funções, falar como líder partidário, apelar explicitamente aos seus correlegionários para que ajam contra a oposição, tecer considerações exclusivamente partidárias? Foi isso que fez ontem, segundo pude ver na SIC Notícias, Santana Lopes. Isso não é, simplesmente, um crime? Ou será que já ninguém consegue lembrar-se que ele é primeiro-ministro e, portanto, ninguém consegue encaixar essa premissa em qualquer raciocínio (político ou legal) acerca do espécime?

Já agora, senhor Presidente da República: o senhor parecia muito descansado por a nova direcção do PS ter "acalmado" o tom no que toca às suas responsabilidades face a este governo. Mas, ou muito me engano, ou o melhor seria ter cautela: não me parece que o licenciado em engenharia José Sócrates vá deixar que o PR passeie a sua impotência impunemente, por muito mais tempo, sem começar a dizer com clareza que o país não se preside com sinais de fumo. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 01:55 PM

Minorias Depois de tudo o que envolveu, na Holanda, o realizador Van Gogh, é agora a vez de a maré passar para a Bélgica. Mimount Bousakla, 32 anos, senadora belga filha de marroquinos, criticou uma organização-de-organizações muçulmanas por não ter tomado posição sobre o caso van Gogh. Foi ameaçada de "assassínio ritual".

Entretanto, o PM Holandês, presidente em exercício do Conselho Europeu, foi dizer ao Parlamento Europeu que a Europa tem de fazer mais pela integração das minorias. É particularmente relevante que o diga quando isso implica uma (auto-)crítica ao seu próprio governo. É o contrário do que a generalidade dos governos faz, que de tudo se desculpam regularmente com "Bruxelas", como se eles não tivessem nada a ver com Bruxelas.

Dois pontos quero sublinhar a propósito.

(1) Vamos lá a ver se tratamos a questão das minorias e a questão da liberdade com a seriedade que a coisa impõe. Quero ser claro. Defendo que todos os que habitam legalmente na Europa tenham os mesmos direitos que os cidadãos dos países onde habitam. Defendo que todos os que têm um trabalho legal num país tenham automaticamente direito a residência legal nesse país. Defendo que a forma de acabar com os clandestinos não é atacar os clandestinos: é prendendo os traficantes de carne humana e castigando duramente os patrões que exploram imigrantes ilegais. Defendo uma política de imigração activa, para irmos buscar os que precisamos - porque precisamos de muitos e só aos que precisamos podemos dar o acolhimento que eles esperam e merecem.

(2) Deixemo-nos de folclore pós-moderno: não podemos prescindir das nossas liberdades e dos nossos direitos à custa da falsa "tolerância" com "outras culturas" que pregam e praticam a violência contra os seus - e, agora cada vez mais, contra nós. Os fundamentalistas de qualquer religião ou ideologia têm de respeitar as nossas leis e não há nenhuma acepção de tolerância que possa dar cobertura a fraquezas nesse ponto. Eu sou pela integração: tenham os mesmos direitos que nós. Sou contra o relativismo: não quero impor a ninguém as minhas ideias, mas quero defender a sociedade aberta que tanto custou (e custa) a criar e defender. Quando me deixarem entrar livremente na Arábia Saudita e aí defender as minhas ideias por todos os meios pacíficos que estejam ao meu alcance, voltaremos a conversar. Até lá, não hesito: é preciso matar a serpente no ninho. Depressa, que se faz tarde. E a serpente está entre nós. Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 04:24 PM

Mundo 1. Bush parece que venceu. Não me surpreende. Nem me parece que a alternativa fosse muito alternativa. Já estou como aquela capa de uma revista internacional: escolher entre a incompetência de um (Presidente) e a incoerência de outro (postulante).

Para mim fica outra questão, uma questão que a esquerda europeia devia responder em vez de fazer floreados retóricos. É esta: se estão tão preocupados com o mundo, porque não fazem o necessário para que a Europa se torne, a prazo, uma potência alternativa? Para que a Europa tenha o poder efectivo para influenciar decisivamente as soluções a dar aos assuntos internacionais, o que passa por ter poder militar e passa por gastar dinheiro e vontade política nisso?

É que a esquerda europeia, pelo menos as suas vozes dominantes, é ingénua ou cínica em matéria internacional: chora muito pelos males do mundo, mas faz pouco para explicar às opiniões públicas os sacrifícios que seria preciso fazer para mudar as coisas. Enquanto assim for, não vale a pena terem pesadelos.

2. Discordo da tentação de falar da prestação política de José Manuel Barroso como presidente indigitado da Comissão Europeia como se o problema fossem os defeitos pessoais do homem. Mesmo que o criticado sejam os tiques políticos do seu modo de operar, essa análise é curta.

O que, a meu ver, está em causa na prestação de Barroso é a politização da Comissão Europeia, no seguinte sentido: os que julgam ter a maioria política nas instituições pretendem levar a cabo o seu programa, em vez de tentarem a "via central" do consenso possível entre as grandes famílias. O que Barroso está a fazer (ou estava, até a coisa descarrilar) é afirmar que a "maioria de governo" nas instituições europeias é da direita que está no PPE, e que essa maioria deve "governar" sem dar grande atenção aos liberais e aos socialistas. Essa jogada correu-lhe mal, porque analisou mal a correlação de forças e subestimou a determinação dos que não se deixaram encantar pelos seus lindos olhos.

Entretanto, devo dizer que vejo com muito bons olhos esta nova forma de encarar a "política de governação europeia". Isto é: sou favorável a que mande quem ganha, que a maioria do Parlamento Europeu se imponha no desenho das políticas comunitárias, que a Comissão Europeia assuma uma linha de rumo clara e que não seja uma mistura de várias políticas contraditórias. E que, passados cinco anos, se façam as contas, se louve ou se condene o resultado das políticas seguidas e os eleitores votem para ter mais do mesmo ou para ter uma alternativa. Só se os eleitores europeus perceberem que votar A ou B dá resultados diferentes para as políticas concretas, é que se conseguirá verdadeira legitimidade democrática para a UE.

3. E só se a Europa for uma grande democracia, e não apenas uma grande burocracia, é que podemos aspirar a dizer alguma coisa ao mundo, em vez de nos limitarmos a depositar vãs esperanças num qualquer Kerry. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:21 PM

Uma explicação pessoal Há quem me critique por há muito tempo não escrever neste espaço. Uma palavra só para dizer que esse absentismo é por respeito pelos combloguistas e pelos leitores. Estou por uns tempos metido numa "guerra" que não quero misturar com este espaço. Havendo curiosidade, pode satisfazer-se aqui . Isso não impede que não venha aqui dar uma bicada uma vez por outra. Mas, em velocidade cruzeiro, só voltarei passado o princípio de Outubro. Até lá, boa disposição é o que eu desejo. Post Scriptum: Não resisto a esta. O P.R. diz que vai pedir esclarecimentos ao governo sobre o "barco do aborto". O P.M. diz que informou de tudo com antecedência e que estranha que o P.R. divulgue com antecipação a agenda dos encontros de quinta-feira. Estranha-me a mim que tenham começado tão cedo os diferendos no seio do governo Sampaio-Lopes-Portas... Afinal, para que serve a estabilidade?!?! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:47 PM

Soares II, o persistente Termino hoje o tríptico sobre os candidatos a secretário-geral do PS, com um comentário à candidatura de João Soares. Algumas pessoas perguntaram-me se não seria demasiado pesado falar tanto do PS neste blogue. A minha opinião é que o congresso do PS é um acontecimento importante da vida nacional e, por isso, merece um tratamento adequado. Comentar o desempenho dos candidatos está, para mim, dentro desse enquadramento. João Soares (JS) há muito tempo que é candidato a secretário-geral do PS, no sentido em que há muito tempo a sua “tendência” se apresenta aos congressos nacionais sob a bandeira de uma alternativa global para o partido. A sua postura, no essencial, não tem mudado. Ela incide fundamentalmente numa operação sobre o que JS pensa serem os grandes símbolos da vida colectiva dos socialistas. O objectivo essencial dessa operação é convencer os militantes de que as sucessivas direcções do PS falham por perderem as referências simbólicas da família socialista. Daí, por exemplo, a sua ideia de voltar à “mãozinha” original como símbolo do PS.

Com esse tipo de abordagem, a mensagem que JS pretende fazer passar é que ele “está à esquerda” e quer que o Partido “vire à esquerda”. Não há nada de muito concreto por trás dessa abordagem simbólica, não se vislumbram propriamente propostas para o futuro, saídas para os impasses dos socialistas ou do país. Apenas a confusão entre “esquerda” e “passado”. Parte dessa mensagem reside num apelo às solidariedades que já foram estruturantes nas lutas internas do PS (“soaristas” contra “ex-secretariado”, por exemplo) e que, em meu modesto entender, são águas passadas que não deviam mover moinhos.

Contudo, para quem joga quase exclusivamente no tabuleiro do simbólico, é demasiado pesado que a sua própria existência como candidato tenha uma carga simbólica tão pesada. A candidatura de JS a SG do PS remete para uma espécie de monarquia hereditária em versão socialista que é perfeitamente anacrónica. No meu entender, isto é verdade mesmo que seja injusto para JS. Se JS é um grande socialista (não vou aqui disputar essa sua convicção), deveria ter a lucidez de compreender as responsabilidades que lhe cabem em compreender os seus próprios circunstancialismos. E deveria ver que o país só compreenderia essa “sucessão monárquica” no PS se as qualidades próprias de Soares filho brilhassem tanto, mesmo à luz do dia, que tornassem cristalino que a sua pretensão à sucessão é completamente independente do facto de ser filho de quem é. O apoio de Soares-pai à sua candidatura não ajuda nada a esse desiderato.

Infelizmente, não vejo em JS as grandes qualidades que serviriam de antídoto a essa marca simbólica de anacronismo. Contudo, observo com estupefacção os comentários de pura má educação com que certos animadores de feira do PS têm brindado este candidato a líder do seu partido. Estará o PS a tentar perder desde já as próximas legislativas, graças a um congresso que dê ao país a imagem de um partido desastrado?

(Reli recentemente um artigo que publiquei no Diário de Notícias, nos idos de 1985, intitulado "DA VIRTUOSA BENFEITORIA À DEMOCRACIA HEREDITÁRIA". O tema era precisamente o problema da sucessão de sabor monárquico dentro do PS. Pasmo com o facto de esse texto se manter actual na observação da realidade do PS, quase 20 anos depois.) Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:41 AM

Uma alegre esquerda Na quinta-feira 29/07/04, Manuel Alegre apresentou publicamente a sua candidatura a secretário-geral do PS e foi entrevistado na RTP1. Muitos socialistas de que sou amigo (pertencentes a alguma das muitas “esquerdas do PS”) gostaram muito da entrevista. Segundo eles, ainda bem que Alegre põe de novo a ideologia à frente, faz um discurso marcadamente político, se demarca da tecnocracia. Não gostei daquela entrevista porque nela nada se mostrou de um pensamento concreto para o país. Como é que alguém que se candidata (indirectamente, é certo – e neste caso a contragosto), que se candidata, dizia, a primeiro-ministro em nome do maior partido da oposição, pode perder a oportunidade de dar ao país uma ideia, uma breve antevisão, do que seria um governo presidido pelas suas ideias?

Não estou com isto a acusar Alegre de não ter ideias para o país. Ele e os seus apoiantes têm, certamente, muitas e boas ideias para o país. O que estou a dizer é que não conhece o mundo de hoje quem pensa que se podem passar mensagens ao eleitorado sem apresentar exemplos concretos do significado das palavras que usamos. O sistema político está viciado pelo rotativismo: a ideia que as pessoas têm da política é que os partidos dizem coisas diferentes uns dos outros quando estão na oposição, mas fazem todos mais ou menos o mesmo quando estão no poder. Assim sendo, as proclamações ideológicas de pouco valem se não as traduzirmos em projectos claros para políticas concretas. O discurso ideológico puro é apenas um discurso vago: acredita quem está predisposto a acreditar, não acredita quem está desconfiado. Ignorar isso é querer virar a cara às realidades que tem de enfrentar a política democrática dos nossos dias.

Quererá isto dizer que estou contra a ideologia e o discurso marcadamente ideológico? Não, de modo nenhum. Só que a ideologia pode ser um filtro que só nos deixa ver certas marcas da realidade. Ou pode, muito diversamente, ser um instrumento de análise que nos ajuda a ver mais fundo. Não quero a ideologia que funciona como filtro e nos afasta da realidade. Quero a ideologia que ajuda a ver mais e, por isso, ajuda a transformar. Quero uma ideologia que resista ao contacto com a vida e ajude a apresentar propostas. Quero propostas de raiz ideológica que sejam concretas e possam ser julgadas pelos seus méritos próprios. Quero políticas de esquerda de que as pessoas compreendam o significado e que possam ser avaliadas e julgadas. Não quero meras proclamações, porque elas escondem muitas vezes a saudade de um mundo que já não existe, em vez da capacidade de construir um mundo melhor do que o que temos.

Quero uma esquerda que fale de coisas concretas, se não for pedir muito Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 03:40 PM

Sócrates e a esquerda tecnológica Na sua edição de 2/08/04, o jornal Público publica um artigo de José Sócrates intitulado “Um plano tecnológico para uma alternativa”. Esse texto é muito significativo. Tratando-se de um candidato a secretário-geral de um grande partido português, cabe aqui um comentário. O cerne da questão suscitada por Sócrates tem interesse: para convergirmos com os outros países europeus em termos de desenvolvimento, sem descurar a redução das desigualdades, temos de crescer em média a uma taxa muito superior àquilo que historicamente tem sido o caso. Isso só é possível com aquilo a que se tem chamado “um choque tecnológico”. Nesse ponto, não vale a pena repetir o que se diz no artigo, porque não se desvia do que já foi dito muitas outras vezes.

Na verdade, grande parte do artigo dedica-se a apresentar algumas ramificações da tese do plano tecnológico: ideias gerais correctas (importância da educação e formação, combate ao abandono escolar, estimular comunidade científica nacional, ). Mas, logo aí, é clara a persistência no que já foi dito inúmeras vezes por inúmeras pessoas – tal como é claro que se ignoram os “pormenores” que fazem com que essas ideias brilhantes não sejam tão simples nem tão milagrosas como parecem à primeira vista.

Avancemos apenas um exemplo: para que as empresas reais (as que existem no país e não as que moram na imaginação dos candidatos) incorporem pessoal qualificado e inovação tecnológica, não basta que esses ingredientes estejam disponíveis ao cimo da terra. Muitos “patrões” simplesmente não contratam técnicos qualificados, porque não querem partilhar com eles o poder real dentro da empresa. Em muitos casos isso acontece porque, tendo uma noção arcaica de “autoridade”, são incapazes de entregar efectivos meios de decisão a quem, não sendo o dono, detém conhecimento e faz opções não condicionadas pelo estatuto simbólico dos intervenientes.

Do mesmo modo, a inovação tecnológica deve ir, em geral, de par com transformações organizacionais mais ou menos profundas, as quais passam por vezes pela distribuição das decisões segundo modelos mais “democráticos” e participativos do que “autocráticos” – e isso é incompreensível para muitos “patrões”.

O que está em causa, muitas vezes, vai muito para além da noção estreita de “qualificação” usada na divulgação de programas políticos. O que está em causa é a qualificação das instituições.

Ora, para falar de instituições é preciso é preciso ultrapassar o sonho tecnológico do engenheiro Sócrates. A seguinte frase, que serve de resumo do seu texto, é clarificadora: “Um plano tecnológico: eis a proposta de uma esquerda moderna para uma alternativa política”. Pelos vistos, a “esquerda tecnológica” quer liofilizar a política. Isso é mau, porque passa ao lado dos verdadeiros problemas.

Uma esquerda realmente moderna não esquece as instituições. O salto de crescimento não é possível sem instituições mais fortes e mais abertas, capazes de querer e de concretizar a inovação, mobilizando as pessoas envolvidas e premiando os resultados. Não estamos aqui (apenas) a falar das grandes instituições democráticas. Estamos a falar concretamente das empresas e de outros agentes do mundo do trabalho (como as associações empresariais e os sindicatos).

Para tocar apenas um ponto nesse domínio: se os trabalhadores organizados tivessem mais responsabilidades na gestão das empresas, sendo tratados como cidadãos produtores e não como meros “factores de produção”; se por essa via fossem mais associados aos bons e aos maus resultados e às respectivas consequências; se essa co-responsabilização fosse estruturada a um nível supra-empresarial (por sectores de actividade, por exemplo); se a esses trabalhadores organizados fossem dados meios para uma participação bem informada e atempada (se não fossem chamados apenas nos momentos difíceis para receberem as más notícias) – isso certamente acrescentaria, a prazo, racionalidade às empresas e à economia. Por via de um reforço da sua base institucional, tornando as empresas organizações mais racionais: como muitos países europeus descobriram há décadas, sem por isso se desviarem um milímetro da economia de mercado, dando uma conformação à relação empresas/sindicatos completamente diferente da que existe entre nós. Essa relação implicaria maior partilha de responsabilidades na decisão e nos resultados, dando uma forma concreta ao princípio abstracto de uma certa convergência estratégica entre empregadores e trabalhadores. Essa é que é a marca dos países desenvolvidos com justiça e sem desigualdades gritantes. É claro que isso obrigaria a enormes mutações na forma de estar dos sindicatos (e até de muitos trabalhadores) – mas esse seria mais um efeito positivo dessa nova concepção das entidades económicas como instituições a precisar de modernização.

Entretanto, a “esquerda tecnológica” não percebe isto e ainda pensa que a “esquerda moderna” se calcula com as máquinas das ciências exactas – como se fosse possível modernizar o país sem mudar as relações sociais e, em particular, a forma das relações de poder na economia real.

Não haverá nenhum sobressalto de crescimento sem mudanças societais que façam do produtor um cidadão empenhado em objectivos que ele próprio ajudou a desenhar, de cujo resultado faz seu interesse próprio.

Propor esses caminhos será a responsabilidade da esquerda – desde que o seu programa político não seja uma proposta tecnológica. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 11:33 PM

Anúncio Anúncio publicado hoje num órgão da imprensa escrita. Não, não foi no "Acção Socialista". Foi em "A Capital". Ele há uns mecânicos com uma queda para a publicidade oportunista! Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 12:31 PM

Vitorino, ploff... Acerca de Vitorino declarar não ser candidato a líder do PS, hesito entre duas posições (ou serão dois sentimentos?) contraditórios:

(A) Cada um deve ter direito a seguir o seu caminho.

(B) O sentido do dever em político é algo que murchou quase até à extinção.

Contudo, a malvada irritação que se apossou de mim há alguns dias leva-me a esta reacção mal-disposta: será que foi a Faculdade de Direito que colocou Vitorino em comissário europeu? ou foi por obra e graça do espírito santo? ou terá sido por ele ser alto e espadaúdo e de olhos azuis, sendo que assim não deve nada a ninguém? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:43 PM

Convite

Isto não é um comentário político! É só uma brincadeira que me chegou por correio electrónico. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 05:41 PM

Um observatório do "governo Sampaio" 1. Manifestámos discordância com a "saída" para a crise encontrada pelo PR. Mantemos essa posição. Além do mais, se o que se passou foi que desde o início, no resguardo dos gabinetes, o PR "abriu demais a boca" e prometeu a Barroso que não criaria problemas, ficando depois sem margem para uma verdadeira decisão política que devia ser tomada em plena liberdade e responsabilidade - isso é muito grave, porque significa(ria) que o PR alienou os seus poderes num momento grave da crise nacional.

2. Mantemos a discordância, isso é claro. Contudo, dou razão àqueles que chamam a atenção para a necessidade de manter o respeito ao PR: enquanto PR, que tinha o direito de fazer aquela opção política; e enquanto homem de esquerda, crédito que o seu passado sobejamente merece e não se evaporou agora por milagre. Até por uma razão política importante: tomada a decisão que está tomada, o mundo não acabou aqui e agora; mais do que antes, é preciso verificar quais eram (são) de facto os pressupostos da grave decisão que tomou. Devemos concentrar-nos, pois, no acompanhamento da sequência que Sampaio dará a esta sua decisão.

3. O que importa agora é: como vai Sampaio, com os instrumentos constitucionais e políticos que detém, concretizar a vigilância da política europeia, da política externa, da defesa, da justiça, das finanças? É sobre isso que temos de concentrar-nos. Precisamos de um "observatório do governo Sampaio", centrado especialmente nessas áreas. Esse observatório deverá continuadamente chamar a atenção da opinião para as práticas governativas nesses sectores. E, caso a caso, pedir contas ao Presidente.

4. Duvido de que Sampaio tenha os meios para fazer o que prometeu. Aliás, o PM indigitado está a empurrá-lo para esse canto, nomeadamente quando exagera no vozeamento da "vontade de cooperação institucional". Como fica o papel de Sampaio quando Lopes faz saber que até aceita de bom grado o veto presidencial a ministros que em concreto não lhe agradem? O sr. Lopes, como seria de esperar, não é tonto e já está a explorar as fraquezas do plano anunciado por Belém. É, por isso, ainda mais importante que funcione bem na opinião o "observatório do governo Sampaio". Comentários (3) Publicado por Porfírio Silva em 06:24 PM

O governo "Sampaio e outros" politicamente promover um governo chefiado por Lopes e Portas. Prometeu, até, vigilância para garantir a continuidade das políticas em várias áreas da governação. Ficamos atentos. Vamos ficar a ver se Jorge Sampaio vai vigiar o que quer que seja. Vamos ver se, no mínimo, vigia tanto o governo do sr. Lopes como vigiou os governos de António Guterres. Diz-se por aí que, nesses tempos, até chegou a exigir a demissão de certos ministros. A partir daqui, o julgamento do governo será o julgamento do Presidente. 1. Jorge Sampaio falou. E disse: o país vai ter um governo Sampaio-Lopes-Portas. Isto é: quando a Constituição lhe garantia outra opção, decidiupromover um governo chefiado por Lopes e Portas. Prometeu, até, vigilância para garantir a continuidade das políticas em várias áreas da governação. Ficamos atentos. Vamos ficar a ver se Jorge Sampaio vai vigiar o que quer que seja. Vamos ver se, no mínimo, vigia tanto o governo do sr. Lopes como vigiou os governos de António Guterres. Diz-se por aí que, nesses tempos, até chegou a exigir a demissão de certos ministros. A partir daqui, o julgamento do governo será o julgamento do Presidente. 2. Jorge Sampaio foi eleito PR com os votos da esquerda. Contra os votos da direita. Isso serviu para quê? As eleições presidenciais estão destinadas a ser despolitizadas? Quando os candidatos dizem que vão ser presidentes de todos os portugueses, isso quer dizer que vão marimbar-se nos seus eleitores? Para a próxima temos de ter cuidado: não podemos votar em candidatos que querem os votos da esquerda e os governos da direita. 3. Ferro Rodrigues demitiu-se. Fez bem. Tudo lhe aconteceu. A tentativa de “golpe de Estado” vinda de alguns agentes judiciais (o chamado processo Casa Pia). A morte de Sousa Franco, uma magnífica escolha de Ferro para liderar a candidatura ao PE. Agora, a perda de uma oportunidade soberana para ser primeiro-ministro, devido a uma opção exclusivamente política do seu (ex?) amigo Sampaio, depois de ter obtido uma vitória histórica nas eleições europeias. Ferro não teve sorte. 4. Mas Ferro terá tido também algumas culpas neste final. Imagino que o principal receio de Sampaio tenha sido: vou convocar eleições para quê? para o eleitoralista Santana Lopes derrotar nas urnas um Ferro Rodrigues com falta de ânimo, de força política, de ideias mobilizadoras, fechado no seu núcleo (demasiado) duro? Se Sampaio dissolvesse e Santana ganhasse a Ferro as próximas legislativas, o Presidente passaria o resto do seu mandato sentado a um canto do seu palácio e a esquerda passaria, por longos anos, um mau bocado. Talvez a chave desta decisão de Sampaio esteja no seu receio de que o PS não estivesse preparado. Na verdade, em política é preciso estar sempre preparado. Os últimos acontecimentos foram demasiado rápidos. Apanharam o PS a pensar que tinha tempo para pensar na vida – quando não tinha. 5. O ponto principal dos próximos tempos será: como vai Sampaio tomar as rédeas à comissão eleitoral presidida por Lopes e Portas? 6. Será que a ida de Barroso para Bruxelas resolveu o problema do PS, já que Vitorino tem de voltar? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 10:21 PM

Abruptamente Deixe de estudar o comunismo. Acho ridículo. É algo que nunca percebi: um homem que se assume de centro-direita perder tanto tempo a estudar aquilo que mais veementemente critica. Fizesse antes uma biografia séria sobre Sá Carneiro, ao invés daquela que fez sobre Álvaro Cunhal, e teria tido um muito maior reconhecimento. Não sei se se conseque aperceber, mas a esquerda começa a gostar de si. Vê em si um aliado. Em meia dúzia de palavras, que magnífico auto-retrato de certa direita (que talvez não ande muito longe, no esquema mental, de certa esquerda). Cada palavra, um disparate. Que choldra! O Pacheco Pereira tem por hábito publicar "cartas dos leitores" no Abrupto . No dia 6 de Julho publicou uma carta de Tiago Geraldo, que a certa altura reza assim:Em meia dúzia de palavras, que magnífico auto-retrato de certa direita (que talvez não ande muito longe, no esquema mental, de certa esquerda). Cada palavra, um disparate. Que choldra! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:55 PM

António Rodrigues ou Ferro Guterres? 1. À saída de Belém, o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, perguntado acerca da presumível disponibilidade do BE para uma "maioria de esquerda", respondeu o que já é clássico no PS: se houver eleições, vamos pedir maioria absoluta para governar. É curto. Muito curto. Temo que o PS esteja prestes a cometer de novo o erro fatal de Guterres.

2. O grande erro de António Guterres não foi ter "fugido", porque não fugiu (tomou uma atitude política, que alguns míopes parece que ainda não perceberam). O grande erro de António Guterres foi não ter percebido que numa democracia representativa moderna não é possível governar com visão de futuro sem uma maioria. Tentou, durante tempo demais, governar sem maioria. A certa altura confundiu "maioria" com "voto conjuntural de um deputado isolado". Inevitavelmente, caiu. Voltamos agora à mesma história?

3. Sou dos que pensam que o PS e o PSD têm afinidades fundamentais no que toca à estruturação profunda do sistema democrático. Não é o PCP, e muito menos o BE, que pode fazer com o PS o "bloco constitucional" de garantia da democracia representativa - quanto mais não seja por razões históricas, mas também por razões ideológicas. Um entendimento estratégico entre o PS e o PSD, em questões que designo genericamente por "constitucionais", é necessário ao país.

4. Coisa muito diferente é fazer funcionar o sistema de alternativas dentro do regime. Se o PS e o PSD não garantirem que o eleitorado tenha por onde escolher, constituindo verdadeiros projectos políticos alternativos, de que serve haver eleições? O PS tem, pois, obrigação de oferecer uma alternativa de governação, sendo diferente (nesse plano) do PSD. Não podendo exigir ao eleitorado uma maioria absoluta (embora possa pedi-la), que fazer? Voltar ao erro do governo minoritário? Penso que não. Havendo eleições, o PS deve dizer claramente ao país que, se não tiver maioria para governar, fará as alianças necessárias. À esquerda, pois claro.

5. A pergunta seguinte é: que políticas pode o PS fazer se levar consigo para o governo o PCP, o BE ou ambos? Isso é outro problema, essencial. O PS tem de colocar esse debate à esquerda. Mas colocá-lo como debate público, debate de políticas responsáveis para um país mais desenvolvido e mais solidário, a fazer à luz do dia. Para que o eleitorado possa escolher e saiba o que escolhe. Sobre os temas centrais desse debate, voltaremos aqui noutro dia.

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 03:59 PM

Expectativas na saída de um PM Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 09:22 AM

A isto se chama formar governo democraticamente... Depois de ouvir PSL na RTP-1 não há nada para dizer. Estou assustado, só isso. Retrato fiel do que ele considera "ser responsável" é ir para a televisão discutir critérios para a formação do "seu governo"... isso, claro, ao mesmo tempo que jura a pés juntos que a decisão acerca de quem será PM está (de)pendente da decisão do PR. Deduz-se que ele seria capaz de discutir na TV os ministros de outro PM. Já não lhe basta discutir os "seus" ministros na praça pública... Sugiro aos tablóides que façam já uma votação (se possível on line) para escolher ministros para o Sr. Lopes: certamente não sairá daí pior do que ele próprio escolheria. Contudo, afinal, talvez a Judite tenha feito um jeito ao país: deixar o Sr. Lopes falar é capaz de ter ajudado à ponderação de Sexa o PR. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:06 AM

Petição em linha por eleições agora Eu não acredito na "democracia electrónica", mas acredito que as novas tecnologias fazem parte da democracia. Pode assinar-se em linha uma petição ao Presidente da República para que devolva a palavra aos eleitores. Está aqui Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:54 PM

Também é importante salvar o PSD Não estou a brincar.

Um dos aspectos centrais a ponderar na actual crise política tem a ver com a necessidade de salvaguardar o papel do PSD na democracia portuguesa. Entregar o PSD de mão beijada, por via de um malabarismo formalista, ao Sr. Lopes, significa prescindir de uma força central do regime. Interessa à democracia a saúde do PSD e seria um sinal de alto alarme que esse partido, depois de ter deixado de ser social-democrata, deixasse pura e simplesmente de ser democrata para passar a ser populista. Sobre esse ponto recomenda-se o artigo de Pacheco Pereira no Público de hoje.

Aliás, só assim se compreende que distintos sociais-democratas, menos obcecados com as minudências da pequena política, façam declarações que visam favorecer a convocação de eleições antecipadas. É que preferem correr o risco de uma vitória do PS no país, a entregar o seu partido a um salteador de estrada.

Assim, além do mais, se o PR fizer o gosto ao Sr. Lopes, ficará associado à destruição do PSD como partido democrático e à sua conversão em máquina de serviço para populistas. E, note-se, que o Sr. Lopes certamente não será o último populista da dinastia: na sua esteira outros virão e a lógica das coisas diz que o seguinte será sempre pior. Basta ter dado o primeiro passo no mau caminho. Comentários (4) Publicado por Porfírio Silva em 10:11 AM

Vamos chumbar Durão na Comissão Perguntaram a Ferro Rodrigues se os eurodeputados do PS votariam Durão para Presidente da Comissão no Parlamento Europeu. Ferro, temendo que venham a dizer que o PS na Europa se opõe a um português, respondeu qualquer coisa diplomática. Discordo. O que há que dizer é: se o Durão na Comissão for tão incompetente como o Durão no governo, e se defender as mesmas políticas, devemos votar contra ele em qualquer lado. Ou o que é mau para nós feito em Lisboa torna-se bom feito em Bruxelas? Ou "para que saibam o que nós amargámos, agora os outros que o aturem"? Acabemos com os falsos patriotismos. Só é possível pensar de outro modo se Durão for para Bruxelas fazer tudo o contrário do que fez e disse em Portugal. Caso contrário, a minha palavra de ordem é: vamos chumbar Durão na Comissão! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:26 PM

E que tal uma batalha campal? Se se realizam duas manifestações, no mesmo local e à mesma hora, uma contra e outra a favor de Lopes, a coisa pode tornar-se numa batalha campal. Voltamos aos bons velhos tempos em que as disputas políticas se resolviam terçando armas? Talvez fosse conveniente que se compreendesse que esta luta política não se vai resolver na base do "quem grita mais alto". Prefiro os argumentos. O SG do PS deu um bom, a seu favor: da última vez que a questão se colocou (demissão de A. Guterres), o PS preferiu eleições, sabendo que podia perdê-las, em vez de tentar aguentar-se no poder a qualquer preço. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 02:13 PM

Vamos sair da União Europeia? Parece que íamos ter um referendo sobre o Tratado Constitucional da União Europeia. Se viermos a ter um governo Sampaio-Lopes-Portas, quem vai protagonizar em nome da direita a batalha do referendo? Lopes e Portas? Lopes só quer ouvir falar em facilidades e, mesmo que quisesse algo mais, não saberia como explicar qual a razão para partilharmos a soberania com outros 24. Portas, agora à vontade com o seu amigo Lopes (e talvez como ministro dos estrangeiros), daria largas ao seu anti-europeísmo militante.

Pensam que exagero? Vejam como, ainda há pouco tempo, Portas tentou boicotar uma política europeia de defesa e segurança que pudesse não andar sempre a reboque dos americanos. Fez isso bloqueando um acordo sobre a agência europeia de desarmamento. A ministra dos estrangeiros, a doce Teresa, queria votar a favor, mas o nacionalista pró-americano-conservador aproveitou ser ministro da defesa e não deixou. Podemos vir a ter mais disso no futuro próximo. Num cenário desses, pode perfeitamente acontecer que Lopes e Portas nos levem para o magnífico cenário de sermos colocados à porta da UE. Com coisas sérias não se brinca. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:59 AM

Um governo Sampaio-Lopes-Portas? 1. Aquilo que muitas vezes se diz ser a crescente instabilidade (e até volatilidade) das democracias representativas tem, a meu ver, uma explicação: cada vez mais a "legalidade" é insuficiente para a "legitimidade". Cada vez mais, "o povo" condena soluções políticas que, mesmo que sejam perfeitamente conformes aos códigos, não se conformam com o contrato difuso que tornou aceitável determinada solução num dado momento. Um dos desafios das democracias representativas é encontrar uma resposta para esta mutação - coisa de que, aliás, não têm sido capazes.

2. Esta busca constante, casuística e desordenada de legitimação de cada reviravolta política faz com que os seus actores não se possam esconder atrás da mera legalidade dos seus actos. Um acto político apreciado à luz de considerações de legitimidade não permite a remissão para o plano da mera legalidade. Em democracia saudável, todos os actos legítimos são legais, mas nem todos os actos legais são legítimos. Assim, quem confere legitimidade a um acto que não a teria de outro modo, torna-se co-obreiro político desse mesmo acto, em toda a extensão da responsabilidade inerente.

3. É assim que, se o Presidente da República se apoiar na legalidade constitucional para permitir, para a crise que se avizinha, uma solução política que os portugueses consideram torta, o PR ficará inelutavelmente vinculado a essa solução. Se o PR der, a um governo liderado por gente que os portugueses não sintam ter sufragado, um apoio que viabilize um aborto que de outro modo se evitaria, o PR será parte integrante dessa solução. Isto é: o PR tem de pensar se quer que o próximo governo se deva chamar, para todos os efeitos políticos, o governo Sampaio-Lopes-Portas. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 08:52 PM

Portugal ganha por ter o presidente da Comissão? Não se pode menosprezar a importância de um português ocupar um alto lugar nas instituições da União Europeia, onde os pequenos países têm mais dificuldades em colocar peões. Se Durão Barroso vier a ser presidente da Comissão Europeia, isso terá importância para Portugal. Mas dizer que "será importante" é diferente de dizer que "será bom". Se ele se revelar tão mau presidente como foi Jacques Santer, por exemplo, isso será desastroso para Portugal. Se Durão Barroso não revelar, como presidente da Comissão, dotes que vão muito para além dos que revelou com primeiro-ministro de Portugal, isso será desastroso para o peso do nosso país no concerto europeu. É por isso que ter António Vitorino como presidente (desejado pelas suas qualidades) ou ter Durão Barroso (desejado pelo seu apagamento), são coisas completamente diferentes para os interesses de Portugal. Digo, pois: espero bem que Durão Barroso saiba coisas e tenha qualidades que nunca revelou na política portuguesa. Caso contrário, vamos ser bem gozados... Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:50 PM

O "jogador" Finalmente percebi porque é que o senhor primeiro-ministro dizia ontem às televisões, depois de Portugal ter ganho um jogo de futebol à Espanha, que estava num dos seus dias mais felizes em termos desportivos. Percebi isso quando passou por mim na rua um rapazinho com uma camisola "da selecção nacional", com o número 12, em que o nome do "jogador" era D. Barroso. A falta de vergonha só não ultrapassa o descaramento maoísta de sua excelência. Felizmente, para passar esta fase não foi preciso ganhar à Grécia na véspera das eleições. Fomos, assim, sem prejuízo, poupados aos arraiais de campanha eleitoral proibida pelo espírito de todas as leis, mas que a "letra" do facto consumado tornaria inoperantes perante o truque de querer ganhar disputas eleitorais nos relvados. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 07:42 PM

EUA pretendem ocupar P.S. sem mandato da ONU 1. Um dos exercícios que aprecio na observação dos processos democráticos consiste em olhar para os partidos políticos nos processos de ajustamento a modificações de ambiente. É o que se passa neste momento no PS. Último desenvolvimento: candidatura de José Lamego.

2. Se eu algum dia viesse a ser militante de um partido político liderado por um ex-administador de uma ocupação ilegal de um país, proporcionada por uma guerra ilegal e ilegítima, pintava a cara de preto. Que José Lamego anuncie que se candidata a secretário-geral do PS, é prenúncio de uma de duas coisas: ou ele não percebeu o que as pessoas pensam da guerra do Iraque ou acredita que os militantes do PS são desmemoriados.

3. Mas há sempre uma hipótese mais interessante: a proliferação de candidatozinhos a chefes do PS contra Ferro Rodrigues destina-se apenas a abrir as portas a um verdadeiro candidato dos chamados "moderados". Se aparecer, por exemplo, um Sócrates, apenas terá de dizer: bom, já que todos dão a sua bicada, porque não hei-de eu dar também a minha? Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 08:54 AM

Do "natural" em política Há um aspecto curioso dos comentários às recentes eleições para o Parlamento Europeu. É o dizer-se, como se isso explicasse tudo: na generalidade dos Estados Membros os governos foram penalizados, qualquer que fosse a sua cor e as suas opções políticas concretas. Não deixa de haver um grão de verdade nessa análise, que aliás revela algo preocupante: é que a Europa, no seu conjunto, tem uma política que os cidadãos ou não compreendem ou não apoiam. Havemos de voltar aqui a esse ponto. Mas essa análise, no tocante a Portugal, faz sorrir. Porque revela uma amnésia súbita.

Quando Ferro Rodrigues anunciou a candidatura de Sousa Franco, não faltou quem a criticasse duramente, considerando-a alguns até disparatada. Parece que convinha esconder o que alguns socialistas mais permeáveis a propagandas adversas consideravam a pesada herança guterrista. Alguns consideravam Sousa Franco muito à direita. Enfim: como de costume, quando o secretário-geral do PS faz alguma coisa, eleva-se um coro de iluminados ululando "que horror!". (Eu, pelo meu lado, horrorizo-me mais quando ele não faz nada...)

Agora, todos acham que a vitória era natural ! Mas é claro que uma vitória, especialmente com a dimensão que teve, não foi nada natural. Foi o fruto de uma aposta política acertada. Isto apesar de termos de reconhecer que Sousa Franco foi melhor na batalha política de terreno do que se podia esperar de qualquer um nas actuais circunstâncias. Mas isso não retira mérito à escolha de Ferro Rodrigues. E aponta, ao próprio Ferro Rodrigues, caminhos que ele tem de trilhar. A isso voltaremos depois.

De momento gostaria que aqueles dirigentes socialistas que, se o PS tivesse perdido (ou ganho mal) estas eleições estariam agora a pedir a cabeça de Ferro Rodrigues, tenham de momento um pingo de decência e deixem de reclamar para si uma quota da vitória. O que em nada diminui, é claro, que tenham todo o direito - e talvez até o dever - de propor alternativas de políticas e de pessoas para o PS. Para que, no congresso de Novembro, o País fique a saber com o que conta (desse lado) para o próximo ciclo eleitoral. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:47 AM

Estados Unidos da Europa 1. Não seria ilegítimo (como fazem quase todos) falar das eleições europeias como se de eleições nacionais se tratasse. Contudo, opto hoje por considerar um aspecto efectivamente europeu do assunto.

2. José Manuel Fernandes escrevia ontem no seu jornal: «se qualquer eleitor europeu quiser, nas eleições que estão a decorrer, "votar" contra Verhofstadt e, por exemplo, a favor de Vitorino [para presidente da Comissão Europeia], como é que deve fazer? E se esse eleitor for português, como deve comportar-se hoje? Esta pergunta não tem resposta, nem podia ter.» Esta afirmação mostra a gravidade da (recorrente) ignorância (não acredito que seja má fé...) de algumas das pessoas com responsabilidades políticas e/ou cívicas na nossa praça.

3. Em primeiro lugar, actualmente, Vitorino (sendo socialista) só pode aspirar a ser presidente da Comissão Europeia se os socialistas europeus tiverem um papel importante na solução para o próximo ciclo Parlamento/Comissão a nível da União. Por isso, "votar seguramente Vitorino" seria, goste-se ou não (parece que JMF não gosta), votar socialista. O facto de o PSD ter votado, no seio do PPE, contra a exigência dos seus parceiros europeus de terem o presidente da Comissão no caso de ganharem as eleições, nada muda a esse facto: pela simples razão de que o PSD (mesmo que seja sincero no apoio a Vitorino) não tem, no seio do PPE, força para contrariar aquela pretensão.

4. Em segundo lugar, o que JMF escreve ignora que há uma luta política especificamente europeia e que é nesse xadrez próprio que se joga (também) o papel de Vitorino. O PPE venceu as eleições a nível europeu, mas, por um lado, não tem maioria absoluta e, por outro lado, o PPE está bastante dividido acerca de muitas questões importantes para a Europa. Por isso continua em aberto a questão de saber que maioria dominará a próxima legislatura europeia. Uma hipótese é voltar ao antigo esquema: um acordo entre os socialistas e o PPE para garantir uma gestão "centrista" e europeísta de todos os assuntos e poderes nos próximos anos.

5. Outra hipótese (que Isabel Arriaga e Cunha explica hoje no Público) é que se forme uma aliança entre os socialistas e alguns dos seus aliados, mais os liberais e uma parte do PPE (descontente com o peso dos antieuropeístas nesse partido europeu). Teríamos, assim, uma nova maioria política no PE. As declarações de Vitorino, ontem à noite, apontando a necessidade de se formar uma coligação de progresso para a União, são um claro apelo a uma solução desse tipo. Vitorino mostra assim que é um político a sério: isto é, que joga a sua voz na construção de soluções políticas para os problemas, em vez de ficar sentado à espera de que lhe caiam no colo (por obra e graça do benevolente destino) os lugares cimeiros.

6. Resta alguma esperança à Europa quando se vê que ainda há política na Europa. Fico orgulhoso de ver Vitorino (um socialista português) jogar um papel na procura de soluções políticas, ao arrepio dos que pensam que a política é a gestão corrente do que já se sabia antes. A única escapatória para a decadência é essa mesma: mais política (e não menos) e melhores políticos (em vez de melhores publicitários). Na Europa como em Portugal. Mas disso falaremos depois.

Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:52 AM

Bandeiras nacionais Bandeiras de Portugal por todo o lado. Acho muito bem. Não que eu seja particularmente atreito a símbolos nacionais, que não sou. Nem isso me parece necessário para ser patriota. Que sou. E não me distraio de um pormenor que ninguém quer lembrar: é que a esmagadora maioria das bandeiras que por aí andam foram oferecidas ou compradas à pressa. Não estavam guardadas em casa, em permanência, como coisa natural. Mas, enfim, há duas coisas que me agradam nesta revoada de bandeiras nacionais. A primeira, é que ela chegou ao terreno por ideia de um brasileiro. Mais irmão ou menos irmão, um estrangeiro. Para os que desconfiam dos estrangeiros, enfiem o barrete. A segunda, é que a vaga de bandeiras portuguesas começou a ter como resposta – minoritária, mas mesmo assim, bonita de se ver – uma pequena onda de outras bandeiras: dos países de alguns dos imigrantes que enriquecem a nossa comunidade e que esperam que umas vitórias das suas equipas amaciem um pouco os dias difíceis. Digo, pois: vivam as bandeiras empunhadas! Todas elas! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:04 PM

Homenagem à Política Morreu um cidadão. Sousa Franco era insusceptível de um rótulo. Insusceptível de ser acantonado em qualquer lugar pré-marcado de uma bancada de espectadores. Irredutível a uma marca. Sem medo de ter ideias. Sem medo de ter mau feitio (quando a alguns apenas interessa o feitio do fato). Descobrindo-se agora de novo, perante o país, na alegria da luta política. Dizendo, com a simplicidade da inteligência, as coisas que passam pelo meio da banalidade dos slogans sem se sujarem. Sousa Franco estava a mostrar que a coragem dos políticos democratas não passa pela fanfarronada, pelo chavão fácil, pelo falso heroísmo - mas sim pela humildade de ser lúcido, de saber que o caminho estreito só se descobre atendendo aos pequenos detalhes das coisas bem feitas. Que Sousa Franco tenha morrido a fazer política, na alegria (e nas dificuldades) da coisa pública, é uma homenagem à Política. Mas, certamente, não a todos os políticos. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:12 PM

Celibato para os médicos, já ! Parece que o Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, terá considerado que a dedicação exigida pela profissão de médico é incompatível com as responsabilidades da vida familiar e doméstica. Daí que a ideia de proteger a profissão de médico com quotas para homens aparecesse como não sendo de descartar completamente.

Eu, pessoalmente, não acredito que ele tenha dito isso. De certeza que a culpa dessa atoarda é de algum estagiário de jornalista um pouco verde. Se um ministro de um governo de um país civilizado tivesse dito realmente tal coisa, certamente seria demitido de imediato por qualquer primeiro-ministro com uma pinga de vergonha na cara. Não acredito, pois, que ele tenha dito isso.

Contudo, se o ministro da saúde disse tal coisa, isso revela - além de um desprezo deslocado pelo papel da mulher na sociedade - uma concepção inaceitável do papel do homem na família. Ou será que a lógica dele é que não há qualquer problema que o homem-médico não possa dar toda a sua presença à vida familiar?

A única saída possível, sugerimos nós, é exigir o celibato eterno para qualquer médico! E, já agora, para que não haja qualquer confusão, seria preferível mesmo acabar com os "médicos de família"... Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 02:24 PM

"Deus" em greve na blogosfera (Hipertexto 5)

Além das reacções que estão acessíveis nos comentários que lá se encontram, eu escrevi o seguinte ao autor em causa: Que se pode fazer para convencê-lo a outra forma de expressão? Não conhece o conceito de greve de zelo? Na greve de zelo todos trabalham, mas seguem rigorosamente todos os regulamentos. Contrariamente ao que os distraídos hiper-racionalistas poderiam pensar, nas organizações humanas reais se toda a gente cumprir escrupulosamente todos os regulamentos - nada funciona! Este tipo de greve caiu um pouco em desuso, pelo menos em Portugal. Mas porque não "Deus" optar por essa forma em vez de "desaparecer"?

Para além da questão de fundo que coloca a atitude de deixar de escrever é mais interventivo do que continuar a escrever? Ou até, numa versão cínica, até que ponto deixar de escrever é melhor para as audiências do que continuar a escrever?

(Esta série "Hipertexto" é publicada simultaneamente na Turing Machine e na Abébia Vadia.) e deus tornou-se visível... (II) entrou em greve contra a guerra, tal como declara neste post Além das reacções que estão acessíveis nos comentários que lá se encontram, eu escrevi o seguinte ao autor em causa:Para além da questão de fundo que coloca a atitude de e deus tornou-se visível... (II) - e essa questão de fundo é o mais importante -, há outro aspecto que atrai a minha curiosidade. É como se isto fosse uma espécie de experiência: até que pontoé mais interventivo do que? Ou até, numa versão cínica, até que ponto deixar de escrever édo que continuar a escrever? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 03:17 PM

Ainda a espuma dos dias O filósofo Desidério Murcho, na sua coluna "Valia a pena traduzir" no suplemento Mil Folhas do Público, escreveu no sábado passado sobre o livro de Peter Singer The President of Good & Evil: Taking George W. Bush Seriously . Às tantas, pode ler-se: Os jornais parecem obcecados com duas coisas: a informação em cima do acontecimento e sem maior profundidade do que o que se pode saber estando a assistir aos acontecimentos ao vivo; e os artigos de opinião de reputados analistas que mais não fazem do que aplicar as suas ideologias aos acontecimentos correntes, sem a mínima investigação nem reflexão.

Retenho apenas um dos aspectos interessantes desta frase: há mais para saber acerca do mundo do que "o que se pode saber estando a assistir aos acontecimentos ao vivo". Muito mais. Há um mundo para lá do que se vê "claramente visto", ali à frente dos olhos, um mundo cuja densidade espacial (geográfica) e temporal (histórica) é enorme. Aqueles que julgam o contrário - e por isso se entusiasmam tanto com aquilo a que alguns chamam "a sociedade da informação" - estão contentinhos da vida em serem espectadores omníveros. Dos que comem de tudo. E comem tudo. Qualquer coisa que esteja à mão. Mas apenas espectadores. E os outros que façam o espectáculo, não é? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:44 AM

Finalmente vamos poder malhar o ferro

1. O chamado "caso Casa Pia" toca-me de duas formas muito diferentes. Primeiro, do ponto de vista pessoal. Nesse plano, escrevi ontem

2. O golpe de estado que consistia em conseguir decapitar um grande partido da oposição por via de uma investigação judicial conduzida sem a mínima preocupação de respeito pelo estado democrático - falhou. Tentaram prender o líder do PS e só não o conseguiram porque ele reagiu à bruta - como muitos parece que pensavam que ele não seria capaz de fazer. Tentaram manchá-lo e só não o conseguiram porque ele não se calou e denunciou os objectivos políticos da manobra. Uma parte do PS foi suficientemente ingénua para não perceber isso, ou suficientemente miserável para se tentar aproveitar mesmo percebendo. Ferro prestou, deste modo, um serviço - difícil mas irrenunciável - à democracia. Não podíamos ter deixado de o apoiar nessa ocasião, independentemente do custo eleitoral imediato associado.

3. Agora que a borrasca passou - se passou - pode finalmente falar-se do que é sério. A saber: (a) o facto de a actual direcção do PS ser nuclearmente um pequeno grupo de amigos, mal enraízado no partido, que conhece mal o partido, que dirige o partido com sentido de grupúsculo, que tem dificuldades em aproveitar todos os recursos disponíveis; (b) o facto de não se ver o PS fazer oposição concreta, de andar sempre a ver passar os comboios, de deixar o trabalho de casa ao BE; (c) o facto de o PS demasiadas vezes sugerir que está insatisfeito com o Presidente da República, como se o PR pudesse ser a muleta do PS - em vez de aproveitar a sério o que o PR diz para apresentar posições compreensíveis; (d) o facto de o próprio Ferro passar grandes temporadas invisível e, quando fala, muitas vezes não se perceber bem o que quer dizer. A decisão de entregar a Vera Jardim todos os comentários sobre o processo Casa Pia libertou Ferro Rodrigues da permanente exposição nesse dossier difícil. A ideia funcionou tão bem que Ferro Rodrigues parece ter decidido generalizá-la: agora, em vez de apenas não falar sobre a Casa Pia, não fala sobre nada - e talvez esteja à espera de que isso melhore a sua imagem. Entretanto, a ideia de governar este país à esquerda continua à espera. E tem inimigos fora e dentro do PS.

4. Na parte política deste problema também Paulo Pedroso tem responsabilidades. Dizê-lo com clareza é saudar o seu regresso anunciado à política, festejar que a sua morte cívica não se tenha consumado, trabalhar para que o consumo mediático não valha mais do que a justiça. Espera-se que a definitiva libertação de Paulo Pedroso traga normalidade política à esquerda portuguesa e possamos começar a falar livremente. Passar ao ataque. Aprofundar as alternativas. Encontrar os melhores caminhos. Mesmo que isso passe por "malhar no ferro". Ou mesmo "malhar no Paulo". Viva a normalidade!

1. O chamado "caso Casa Pia" toca-me de duas formas muito diferentes. Primeiro, do ponto de vista pessoal. Nesse plano, escrevi ontem noutro sítio sobre os sentimentos despertados em mim pela decisão (ainda não definitiva, cuide-se) de não pronunciar Paulo Pedroso. Segundo, do ponto de vista político: que consequências teve e terá este "caso" para a vida política portuguesa. Vejamos a vertente política.2. O golpe de estado que consistia em conseguir decapitar um grande partido da oposição por via de uma investigação judicial conduzida sem a mínima preocupação de respeito pelo estado democrático - falhou. Tentaram prender o líder do PS e só não o conseguiram porque ele reagiu à bruta - como muitos parece que pensavam que ele não seria capaz de fazer. Tentaram manchá-lo e só não o conseguiram porque ele não se calou e denunciou os objectivos políticos da manobra. Uma parte do PS foi suficientemente ingénua para não perceber isso, ou suficientemente miserável para se tentar aproveitar mesmo percebendo. Ferro prestou, deste modo, um serviço - difícil mas irrenunciável - à democracia. Não podíamos ter deixado de o apoiar nessa ocasião, independentemente do custo eleitoral imediato associado.3. Agora que a borrasca passou - se passou - pode finalmente falar-se do que é sério. A saber: (a) o facto de a actual direcção do PS ser nuclearmente um pequeno grupo de amigos, mal enraízado no partido, que conhece mal o partido, que dirige o partido com sentido de grupúsculo, que tem dificuldades em aproveitar todos os recursos disponíveis; (b) o facto de não se ver o PS fazer oposição concreta, de andar sempre a ver passar os comboios, de deixar o trabalho de casa ao BE; (c) o facto de o PS demasiadas vezes sugerir que está insatisfeito com o Presidente da República, como se o PR pudesse ser a muleta do PS - em vez de aproveitar a sério o que o PR diz para apresentar posições compreensíveis; (d) o facto de o próprio Ferro passar grandes temporadas invisível e, quando fala, muitas vezes não se perceber bem o que quer dizer. A decisão de entregar a Vera Jardim todos os comentários sobre o processo Casa Pia libertou Ferro Rodrigues da permanente exposição nesse dossier difícil. A ideia funcionou tão bem que Ferro Rodrigues parece ter decidido generalizá-la: agora, em vez de apenas não falar sobre a Casa Pia, não fala sobre nada - e talvez esteja à espera de que isso melhore a sua imagem. Entretanto, a ideia de governar este país à esquerda continua à espera. E tem inimigos fora e dentro do PS.4. Na parte política deste problema também Paulo Pedroso tem responsabilidades. Dizê-lo com clareza é saudar o seu regresso anunciado à política, festejar que a sua morte cívica não se tenha consumado, trabalhar para que o consumo mediático não valha mais do que a justiça. Espera-se que a definitiva libertação de Paulo Pedroso traga normalidade política à esquerda portuguesa e possamos começar a falar livremente. Passar ao ataque. Aprofundar as alternativas. Encontrar os melhores caminhos. Mesmo que isso passe por "malhar no ferro". Ou mesmo "malhar no Paulo". Viva a normalidade! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:48 PM

Faça lá esta experiência

Sguedno um etsduo da Uinvesriadde de Cmabgirde, a oderm das lertas nas pavralas não tem ipmortnacia qsuae nnhuema. O que ipmrtoa é que a prmiiera e a utlima lreta etsajem no lcoal cetro. De rseto, pdoe ler tduo sem gardnes dfiilcuddaes... Itso é prouqe o crebéro lê as pavralas cmoo um tdoo e nao lreta por lerta. Incursões linka-nos. É simpático e já retribuímos. Além disso, encontrei lá uma posta muito interessante. Intitulada Fenómeno linguístico , reza assim: Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 07:19 PM

O menino que fazia chichi na cama Está quase a começar a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Parece que os partidos políticos portugueses consideram que o que está em questão é saber a cor do cartão que nessas eleições os eleitores mostrarão ao governo. Os eleitores, esses, em geral, pensam que no pasa nada.

A minha opinião pessoal é ligeiramente diferente. Estas eleições são mesmo para o governo de Portugal. Não, não é uma metáfora. É que áreas decisivas da governação dependem do que todos (os 25 países) decidimos em Bruxelas. E se temos uma visão deslocada do governo da Europa, só podemos ter uma visão desfocada do governo de Portugal. Assim, há várias perguntas à procura de resposta.

À direita, convinha saber se Portugal deixou de ter uma direita nacionalista que se opõe à integração europeia por todos os meios (isto é, se o PP se converteu) e, talvez mais importante, convinha saber se temos uma direita europeia capaz de oferecer uma alternativa democrática que não esteja refém de nenhum discurso populista anti-Bruxelas. A opção do PPD/PSD por esta coligação contra-natura faz-nos temer que Portugal esteja em risco de perder essa direita - que, goste-se ou não, tanta falta faz ao país. E que todos os outros Estados Membros têm.

À esquerda, convinha saber se os partidos "do extremo" (PCP e BE) continuam a ser fundamentalmente anti-europeus (como é sua tradição), se continuam a pensar a política europeia à luz de uma visão das relações internacionais centrada no anti-americanismo, se continuam a pensar que a única maneira de manter a independência económica num espaço integrado é o proteccionismo, se continuam incapazes de integrar uma aliança de progresso para a Europa (se vão acantonar-se, no PE, nos grupelhos de resistentes a tudo e a todos). Se o PCP e o BE continuarem assim, a possibilidade de que algum dia venham a dar um contributo para a governação é, simplesmente, nula. Ainda à esquerda, convinha saber se o PS - o único partido que vai a estas eleições sem rabos de palha - tem coragem de fazer uma campanha esclarecedora dos termos da equação que acima se traça.

Adicionalmente, estas eleições podem ter um outro picante. Se a direita cair no disparate de tentar crucificar Sousa Franco como responsável pelas finanças no governo Guterres - e se Sousa Franco responder sempre com tanta clareza como até agora -, esta pode ser a oportunidade para se saber se o país está preparado para aceitar as explicações sobre o passado que Guterres ainda não deu e que o PS tem sido frouxo em dar por ele. Ponto que pode vir a ter alguma importância em batalhas futuras (como as presidenciais).

Entretanto, como tudo isto é pouco, parece que a maior parte dos "pensadores de serviço" andam mais virados para a magna questão de saber como se chama o menino que fazia chichi na cama. Comentários (3) Publicado por Porfírio Silva em 05:05 PM

Procura-se legenda para uma imagem (3) Em que medida o nosso viver em sociedade não passa de uma incessante tentativa de desenhar o nosso retrato, aos poucos, pincelada a pincelada? E se a mão que desenha não é nossa?

Guston Philip, The Studio Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 09:49 AM

Santo António Champalimaud indispensável ler: Um tema a que temos dado atenção (e de que não largaremos a mão) é a vaga de revisionismo que tem assolado a sociedade portuguesa nos últimos tempos. Refiro-me à sistemática tentativa de, aos poucos, reescrever a história do 25 de Abril (do seu antes, do seu durante e do seu depois). Aparentemente, o que se pretende é fazer vingar a ideia de que afinal antes é que era bom e que o processo que nos trouxe à democracia é o culpado de todos os males reais e imaginários. A última vaga dessa maré foi a recente operação de guindar o senhor António Champalimau a herói, não sei bem de quê. Às tantas, começo a ficar baralhado e até começo a duvidar do que vi e li no passado. Começo a pensar que eu é que andei a viver na estratosfera. Por isso, quanto a esta última questão, tenho de agradecer a Mário Mesquita por, num dos seus magistrais textos do Público de domingo, lembrar o que a má consciência de alguns anda a tentar fazer esquecer. Éler: Santo António Champalimaud Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 10:14 AM

Procura-se legenda para uma imagem (2) (Por favor, enviem sugestões de legendas para esta foto.) Comentários (5) Publicado por Porfírio Silva em 03:14 PM

However No passado dia 11, o Conselho dos Ministros da Economia e das Finanças da União Europeia decidiu pôr termo ao procedimento por deficit excessivo que tinha aberto contra Portugal em Novembro de 2002. O Governo português cantou vitória aos quatro ventos, como se isso confirmasse a justeza da sua política. O próprio Primeiro-Ministro deu a cara por essa interpretação dos factos (pelo menos na entrevista que concedeu à SIC).

Ora, a verdade é que essa leitura do que aconteceu é uma mistificação. A decisão do Conselho tem lugar com base numa recomendação da Comissão. O relatório da Comissão que suporta essa recomendação conclui que Portugal reduziu o deficit, mas acrescenta um “However ”. Isto é: os resultados alcançados por Portugal tiveram por base medidas (venda de património imobiliário) que são pontuais e irrepetíveis, pelo que o Governo de Portugal é instado a “substituir todas as medidas pontuais por medidas de carácter mais permanente, de modo a assentar a consolidação numa base mais duradoura”. Não podia ser mais claro: o artificialismo da gestão financeira do nosso país é claramente identificado pelas instâncias comunitárias. O Governo de Portugal não tem, pois, nenhuma razão para estar satisfeito. Nem nós.

Além do mais, a nossa postura de “aluno falsamente bem comportado” (que pensa fazer boa figura mascarando os problemas) foi mais uma vez ridicularizada. É que a Itália, devido à situação orçamental a que chegou, devia ter sido objecto dos mesmos “mimos” que Portugal mereceu, mas esse assunto foi adiado em troca da mera promessa do ministro italiano de que posteriormente explicaria que medidas vai tomar para equilibrar o orçamento. O governo português, esse, sempre preferiu manobrar este assunto à luz da mera conveniência da propaganda partidária para consumo interno.

Uma outra pergunta se impõe: e a oposição, em particular o PS, o que anda a fazer? Porque não explicou isto ao povo português? Será que não sabia? Não leu? Não fez o trabalho de casa? É uma lástima que as descaradas mentiras e meias verdades dos nossos governantes passem tantas vezes impunes por causa da falta de profissionalismo da oposição.

Uma Ministra das Finanças a tentar isolar-se do mundo? Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:06 PM

Procura-se legenda para uma imagem (Por favor, enviem sugestões de legendas para esta foto - ou pequenos-curtos textos que, de algum modo, nela encontrem uma boa ilustração.) Comentários (8) Publicado por Porfírio Silva em 03:17 PM

Campanha para salvar o "Expresso" Expresso em assuntos relativos à União Europeia. Não é que ele não tenha razão: aquilo é mesmo uma vergonha. Contudo, preocupa-me a perspectiva do terrível impacte que essa posta do Paulo Godinho possa ter nos já elevados níveis de desemprego entre os trabalhadores da comunicação. Sugiro, face a tamanho perigo, uma campanha para salvar o Expresso.

Por favor, consultem

PS: Não deve enviar-se mais do que um par pergunta/resposta em cada mensagem, não vá algum famoso editorialista misturar tudo e vir na próxima semana dizer que no ano 6 da era cristã entrou para a CEE um número exacto de 1957 países. Fiquei muito triste por o Paulo Godinho (ver entrada abaixo) ter vindo a terreiro mostrar a ignorância de altas patentes do jornalem assuntos relativos à União Europeia. Não é que ele não tenha razão: aquilo é mesmo uma vergonha. Contudo, preocupa-me a perspectiva do terrível impacte que essa posta do Paulo Godinho possa ter nos já elevados níveis de desemprego entre os trabalhadores da comunicação. Sugiro, face a tamanho perigo, uma campanha para salvar oPor favor, consultem EuropaQuiz e enviem mensagens para qualquer redactor daquele semanário que mereça a vossa simpatia. Cada mensagem deve conter uma pergunta sobre a UE e uma resposta correcta à mesma pergunta. Estou certo de que qualquer redactor que seja chamado ao Director para um teste de cultura europeia e tenha decorado pelo menos três perguntas-com-resposta sobre a temática, terá uma quase garantia de emprego vitalício naquela instituição nacional. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:52 AM

Abébia de palha Segundo o Público, Manuela Ferreira Leite terá afirmado numa reunião partidária: "Deus nos defenda que os socialistas voltem ao poder, mesmo que seja daqui a muitos anos." Ora, segundo os ensinamentos da Santa Madre Igreja, a invocação do santo nome de Deus em vão é um pecado. Não há dúvidas de que se trata aqui de uma vã invocação: porque Deus nada tem a ver com o assunto (nem sequer vota, só se for em branco); porque de nada vale a Manuela mostrar os dentes da pretensão totalitária (não morde quem quer, morde quem pode). Em todo o caso, isto mostra bem o nível de (in)cultura democrática dos dirigentes do momento. Os magníficos admiradores do além-Atlântico farão uma pequena ideia do que aconteceria a um membro da Administração americana se tivesse o desplante de vozear um desejo de fim da alternância no governo da nação? Pegando na deixa de Sempre à coca, esse autor mistério desta Abébia Vadia, proponho atribuir uma Abébia de Palha à Manuela. Pelo menos, com isso, ela já terá qualquer coizita para roer quando passar ao caixote do lixo da história. Fará assim boa companhia aos que têm de empenhar as medalhas para aguentar a crise. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:16 AM

O pequeno revisionista Vasco Pulido Valente, no DN de 25-04-04, assina Imitar a Revolução. Com parangonas. Atento o motivo (a história recente de Portugal), a pretensão (um "ensaio") e a tese a defender (não houve revolução), decidi-me a ler a coisa. Vejamos. A "tese" central. A tese central do "ensaio" reduz-se a esta frase: "O "25 de Abril foi uma revolução? Não foi." Este tema desdobra-se em variadas declarações pomposas, como sejam: "A "revolução de Abril", como romântica e fraudulentamente lhe chama a Esquerda, foi um mero pronunciamento clássico." Pronunciamento, portanto. Mas VPV fala depois de "efervescência popular". De "insurreição". De "tentativa de estabelecer um regime soviético". De "rua": "A partir de Julho [de 1975], a "rua", que antes pertencia à Esquerda e à Extrema-Esquerda, passou para o PS e para a inumerável multidão que o seguia." Da "ofensiva contra as "casas de trabalho" (as sedes) do PC", esclarecendo: "Por detrás deste movimento, em grande parte espontâneo, estava a Igreja ( )." Não se vê em lado nenhum a mais pequena tentativa de classificar seriamente o que se passou neste país naquele tempo. VPV começa por explorar um equívoco (ninguém pretende que houve uma revolução NO DIA 25-04-74) e acaba a exibir a sua incapacidade para caracterizar o PROCESSO que se seguiu. Assim, não se percebe porque faz voz tão grossa. Aqueles foram tempos de quê? Ditadura? Pacata democracia burguesa? Evolução? Como classificar todas aquelas movimentações descritas? VPV não diz. Limita-se ao seu slogan. Seriedade analítica, pouca. Haveria que explicar como classificar um processo histórico que incluiu uma ruptura "ilegal" de regime, com substituição de camadas importantes do pessoal dirigente. Maciças movimentações sociais. Profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais. Liberdades. Novos direitos (segurança social, saúde). Novas relações de trabalho. Profundas transformações do "quadro legal dos costumes" (família, mulher). Novo modelo económico (do corporativismo ao capitalismo banal). Etc. Incapaz desse trabalho, a "tese" de VPV não passa de uma brincadeira. Revisionismo débil. Como VPV não explica nada disso - e teria de explicar, para se abalançar a tamanha "tese" - só posso concluir que o seu texto se limita a participar da tendência do momento para reescrever a história ao gosto de certas conveniências e ao arrepio da memória histórica viva. Essa tendência tem um nome: revisionismo. O pessoal do governo tem promovido activamente esse programa. Com tempo. Com meios. Com ferramentas de luta política que o poder de Estado fornece. Tratam de fazer vingar o seu projecto de poder imediato através da luta ideológica e cultural. São, por isso, os grandes revisionistas. VPV vem dar uma ajudazinha: débil quanto à substância, mas tingida pela auréola do intelectual. Contudo, VPV, sem os meios dos revisionistas que estão no poder, não passa de um pequeno revisionista. Uma nota de rodapé na teoria da "evolução". Ele sabe disso - e, portanto, saca de outro instrumento que tanto aprecia: o insulto. O insulto é uma arma. Não é que surpreenda, mas VPV sente-se autorizado ao insulto. Escolho apenas um exemplo: "Melo Antunes, um homem sem formação académica ou outra, que lera o marxismo de rigor na época (principalmente a intrujice francesa) era o "intelectual" do MFA." Melo Antunes talvez não tivesse a formação que VPV estaria inclinado a carimbar como "conveniente", mas teve a suficiente para personificar a própria lucidez em todo o processo. Porque sabia o que havia a fazer para que o turbilhão não descambasse. E soube ter esse papel, porque percebia que uma "revolução", seja lá isso o que for, não é uma experiência de laboratório. Ponto que VPV, tanto tempo depois, ainda não percebeu. VPV limita-se a ser mais um "robot" na revolução (aqui explico o conceito). Há uma frase sua que explica o seu problema: "Retrospectivamente, parece impossível como não se percebeu desde o princípio a estratégia de Cunhal." Pois, "retrospectivamente". VPV parece ter dificuldade em admitir que os processos históricos não se vivem "retrospectivamente". E que o historiador que não percebe isso não passa de um novelista. Por vezes, um mau novelista. Mesmo que sirva para vender papel de jornal.

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 01:55 PM

Acto notarial Abriu. (Assinaturas) Azul. Eduardo Graça. José Rebelo. Marienbad. Nuno Marques. Paulo Godinho. Porfírio Silva. Sempre à coca. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:00 AM

Virar a página? Qual página? Vitor Cruz, segundos após a comunicação do PR, vem tentar passar uma esponja sobre a guerrilha institucional que o PSD-oficial promoveu nos últimos dias e explicar que o seu inimigo são "os outros". A sua expressão foi "virar a página".

Aproveito, então, para citar Boudjemaâ Ghechir, presidente da Liga Argelina dos Direitos do Homem. É que o Presidente Bouteflika declarou a necessidade de uma amnistia geral aos crimes cometidos desde 1994 pelos terroristas islamistas ... e também pelo regime. Era preciso, pois, "virar a página". E, a isso, Ghechir disse: "Antes de virar a página, primeiro é preciso lê-la". Ou seja: não tratem de meter as responsabilidades para trás das costas, porque esquecer não resolve os problemas.

Concordo. Companheiro Vitor Cruz: virar a página, sim - mas não para esquecer as malfeitorias que vossas mercês fizeram... nesta página! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:41 PM

Sugestões para Sampaio à boca do discurso O nosso actual PR, com o seu apurado sentido do formalismo, por vezes esquece-se da política. Da última vez fez-nos esperar quinze dias por uma decisão que ninguém sabia qual seria. Desta feita, faz-nos esperar quase o mesmo tempo por uma decisão que todos sabemos qual será. Senhor Presidente: isto não é um jogo de damas, é o país, não se esqueça de que existem alguns portugueses que não trabalham no Palácio! Mas está por minutos, razão pela qual não tenho muito tempo para apurar este meu esfoço de contribuir para o bem da nação.

É que, como sempre se pode tentar aproveitar o lado bom das coisas más, aproveito o efeito da demora para umas breves e humildes sugestões a Sua Excelência. A saber:

(i) anuncie que vai dissolver a Assembleia daqui a dias, mas que para já demite o governo: o que eles fizeram nos últimos dias, só por si, é suficiente;

(ii) nomeie para PM outro militante do PSD, por exemplo a Manuela F. Leite e mande-a à AR apresentar um programa de governo. (Quinze dias a mais, quinze dias a menos - dá o mesmo.)

(iii) Termine a receita dissolvendo a Assembleia.

Se tiver a lata de seguir estas minhas sugestões, amanhã forneço mais, sim?

PS: Não pense que estou a brincar!

PS2: Em vez de PS (Post Scriptum) vou passar a escrever JS (José Sócrates) ... apenas porque ele se candidata a ser o próximo alvo desta blogolândia tão agitada. Uff. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:41 PM

Acabou o governo Sampaio-Lopes-Portas 1. O PR vai dissolver a AR. Certo. A noção de um pingo de dignidade institucional obrigava. Escrevemos aqui que este era o governo "Sampaio-Lopes-Portas", por estar este governo devedor de um acto explícito do PR, sem o qual nem à incubadora teria chegado. Era nossa dúvida, na altura, se o PR poderia cumprir a sua promessa de "vigiar" o governo. Tenho de admitir que, nesse ponto, errei. "O homem" vigiou mesmo. E tirou daí certas conclusões, que agora estão à vista. Mas nem tudo é simples.

2. Muitos dizem agora: "porque não dissolveu há quatro meses, se o resultado só podia ser este?". Discordo em absoluto dessa análise. A situação é agora politicamente muito diferente do que era então. Foi PSL, pelo seu próprio pé, que se atirou ao poço - não foi o PR que o impediu de tentar a sua sorte. Foi PSL que demonstrou que uma maioria não é condição suficiente de estabilidade - não foi o PR que cortou por sua vontade a legislatura a meio. Hoje o PR mostrou que pensa pela sua cabeça, mesmo quando há quatro meses desagradou à esquerda e agora desagrada a certa direita. Tudo isso faz toda a diferença. Dizer que já todos sabíamos onde "aquilo" ía dar é um argumento politicamente inaceitável: para "vidente" já nos basta o PSL.

3. Penso agora em Ferro Rodrigues, que foi o verdadeiro perdedor deste episódio. É injusto que lhe tenha passado ao lado a possibilidade de governar o país. Teria oportunidade de mostrar que tem muito mais visão do que alguns "espertos em espuma dos dias" que não têm qualquer noção do que é servir o país. E atenção: se a intenção do PR foi dar "a possibilidade" ao PS de se "livrar" de Ferro, nesse ponto o PR extravasou as suas competências, cometeu um erro de avaliação e talvez tenha caído numa armadilha que qualquer advogado de segunda categoria desmontaria (não andava aí uma sombra de Casa Pia?).

4. Estou agora curioso para ver se José Sócrates vai cair na armadilha do centrismo. Estou para ver, a prazo, o resultado do "solitos hasta la muerte"... no caso de o PS não ter maioria absoluta. Mas, sobre isso, vou cruzar os dedos, "rezar para que tudo corra bem" e... calar-me, não vá o diabo tecê-las e ressuscitar o fantasma do guterrismo: vamos em frente e logo se vêêêêêêêêêêê...... gaita, caí no abismo!

Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 04:29 PM

Escrever direitos por linhas tortas O El País é, como se sabe, um reaccionaríssimo diário do país vizinho. Passo a resumir um texto do seu editorialista Hermann Tertsch, publicado há alguns dias. Desde há pelo menos 20 anos que países como a Alemanha ou a Holanda tudo faziam para que os imigrantes muçulmanos não renunciassem à sua cultura. Tudo o que não fosse nesse sentido era considerado racista e xenófobo. Nessa linha, racistas eram os que pugnavam por um esforço de integração por parte dos imigrantes. Os partidos democráticos desinteressaram-se do problema. As elites pregavam a tolerância, mesmo com os intolerantes.

Foi preciso o assassínio de Theo van Ghog para que se afundasse a grande mentira. Na Holanda contam-se já vinte atentados anti-muçulmanos desde aquela morte. Em França, os jovens muçulmanos são a ponta de lança do anti-semitismo europeu. Há pouco tempo o Der Spiegel publicava um dossier acabrunhante sobre os maus-tratos, as torturas e os sequestros que sofrem milhares de mulheres no seio das suas famílias na Alemanha. Em certos países europeus há bairros onde já não se aplica a Constituição, mas a sharia. Tal como em muitos lares.

Seria cruel dizer que merecemos as consequências do nosso relativismo. Mas temos uma responsabilidade evidente: o nosso erro não foi o de exercer os nossos direitos, mas sim o de não os fazer respeitar. Tanto repetimos ao longo dos anos que todas as ideias são boas, que acabámos por convencer disso aqueles que matam e morrem por valores diametralmente opostos aos nossos.

Convém sempre lembrar que a imensa maioria dos imigrados muçulmanos na Europa são gente de bem. E que há muitos indesejáveis “cristãos”. Mas a polícia holandesa calcula que 5% dos imigrantes muçulmanos nesse país são fanáticos preparados para a violência. Isto é: 50.000.

E que tal um combinação inteligente de firmeza e tolerância, a par com a consciência dos perigos que realmente corremos?

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 02:16 PM

Sinais de fogo É normal um primeiro-ministro, usando da palavra em público no exercício das suas funções, falar como líder partidário, apelar explicitamente aos seus correlegionários para que ajam contra a oposição, tecer considerações exclusivamente partidárias? Foi isso que fez ontem, segundo pude ver na SIC Notícias, Santana Lopes. Isso não é, simplesmente, um crime? Ou será que já ninguém consegue lembrar-se que ele é primeiro-ministro e, portanto, ninguém consegue encaixar essa premissa em qualquer raciocínio (político ou legal) acerca do espécime?

Já agora, senhor Presidente da República: o senhor parecia muito descansado por a nova direcção do PS ter "acalmado" o tom no que toca às suas responsabilidades face a este governo. Mas, ou muito me engano, ou o melhor seria ter cautela: não me parece que o licenciado em engenharia José Sócrates vá deixar que o PR passeie a sua impotência impunemente, por muito mais tempo, sem começar a dizer com clareza que o país não se preside com sinais de fumo. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 01:55 PM

Minorias Depois de tudo o que envolveu, na Holanda, o realizador Van Gogh, é agora a vez de a maré passar para a Bélgica. Mimount Bousakla, 32 anos, senadora belga filha de marroquinos, criticou uma organização-de-organizações muçulmanas por não ter tomado posição sobre o caso van Gogh. Foi ameaçada de "assassínio ritual".

Entretanto, o PM Holandês, presidente em exercício do Conselho Europeu, foi dizer ao Parlamento Europeu que a Europa tem de fazer mais pela integração das minorias. É particularmente relevante que o diga quando isso implica uma (auto-)crítica ao seu próprio governo. É o contrário do que a generalidade dos governos faz, que de tudo se desculpam regularmente com "Bruxelas", como se eles não tivessem nada a ver com Bruxelas.

Dois pontos quero sublinhar a propósito.

(1) Vamos lá a ver se tratamos a questão das minorias e a questão da liberdade com a seriedade que a coisa impõe. Quero ser claro. Defendo que todos os que habitam legalmente na Europa tenham os mesmos direitos que os cidadãos dos países onde habitam. Defendo que todos os que têm um trabalho legal num país tenham automaticamente direito a residência legal nesse país. Defendo que a forma de acabar com os clandestinos não é atacar os clandestinos: é prendendo os traficantes de carne humana e castigando duramente os patrões que exploram imigrantes ilegais. Defendo uma política de imigração activa, para irmos buscar os que precisamos - porque precisamos de muitos e só aos que precisamos podemos dar o acolhimento que eles esperam e merecem.

(2) Deixemo-nos de folclore pós-moderno: não podemos prescindir das nossas liberdades e dos nossos direitos à custa da falsa "tolerância" com "outras culturas" que pregam e praticam a violência contra os seus - e, agora cada vez mais, contra nós. Os fundamentalistas de qualquer religião ou ideologia têm de respeitar as nossas leis e não há nenhuma acepção de tolerância que possa dar cobertura a fraquezas nesse ponto. Eu sou pela integração: tenham os mesmos direitos que nós. Sou contra o relativismo: não quero impor a ninguém as minhas ideias, mas quero defender a sociedade aberta que tanto custou (e custa) a criar e defender. Quando me deixarem entrar livremente na Arábia Saudita e aí defender as minhas ideias por todos os meios pacíficos que estejam ao meu alcance, voltaremos a conversar. Até lá, não hesito: é preciso matar a serpente no ninho. Depressa, que se faz tarde. E a serpente está entre nós. Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 04:24 PM

Mundo 1. Bush parece que venceu. Não me surpreende. Nem me parece que a alternativa fosse muito alternativa. Já estou como aquela capa de uma revista internacional: escolher entre a incompetência de um (Presidente) e a incoerência de outro (postulante).

Para mim fica outra questão, uma questão que a esquerda europeia devia responder em vez de fazer floreados retóricos. É esta: se estão tão preocupados com o mundo, porque não fazem o necessário para que a Europa se torne, a prazo, uma potência alternativa? Para que a Europa tenha o poder efectivo para influenciar decisivamente as soluções a dar aos assuntos internacionais, o que passa por ter poder militar e passa por gastar dinheiro e vontade política nisso?

É que a esquerda europeia, pelo menos as suas vozes dominantes, é ingénua ou cínica em matéria internacional: chora muito pelos males do mundo, mas faz pouco para explicar às opiniões públicas os sacrifícios que seria preciso fazer para mudar as coisas. Enquanto assim for, não vale a pena terem pesadelos.

2. Discordo da tentação de falar da prestação política de José Manuel Barroso como presidente indigitado da Comissão Europeia como se o problema fossem os defeitos pessoais do homem. Mesmo que o criticado sejam os tiques políticos do seu modo de operar, essa análise é curta.

O que, a meu ver, está em causa na prestação de Barroso é a politização da Comissão Europeia, no seguinte sentido: os que julgam ter a maioria política nas instituições pretendem levar a cabo o seu programa, em vez de tentarem a "via central" do consenso possível entre as grandes famílias. O que Barroso está a fazer (ou estava, até a coisa descarrilar) é afirmar que a "maioria de governo" nas instituições europeias é da direita que está no PPE, e que essa maioria deve "governar" sem dar grande atenção aos liberais e aos socialistas. Essa jogada correu-lhe mal, porque analisou mal a correlação de forças e subestimou a determinação dos que não se deixaram encantar pelos seus lindos olhos.

Entretanto, devo dizer que vejo com muito bons olhos esta nova forma de encarar a "política de governação europeia". Isto é: sou favorável a que mande quem ganha, que a maioria do Parlamento Europeu se imponha no desenho das políticas comunitárias, que a Comissão Europeia assuma uma linha de rumo clara e que não seja uma mistura de várias políticas contraditórias. E que, passados cinco anos, se façam as contas, se louve ou se condene o resultado das políticas seguidas e os eleitores votem para ter mais do mesmo ou para ter uma alternativa. Só se os eleitores europeus perceberem que votar A ou B dá resultados diferentes para as políticas concretas, é que se conseguirá verdadeira legitimidade democrática para a UE.

3. E só se a Europa for uma grande democracia, e não apenas uma grande burocracia, é que podemos aspirar a dizer alguma coisa ao mundo, em vez de nos limitarmos a depositar vãs esperanças num qualquer Kerry. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:21 PM

Uma explicação pessoal Há quem me critique por há muito tempo não escrever neste espaço. Uma palavra só para dizer que esse absentismo é por respeito pelos combloguistas e pelos leitores. Estou por uns tempos metido numa "guerra" que não quero misturar com este espaço. Havendo curiosidade, pode satisfazer-se aqui . Isso não impede que não venha aqui dar uma bicada uma vez por outra. Mas, em velocidade cruzeiro, só voltarei passado o princípio de Outubro. Até lá, boa disposição é o que eu desejo. Post Scriptum: Não resisto a esta. O P.R. diz que vai pedir esclarecimentos ao governo sobre o "barco do aborto". O P.M. diz que informou de tudo com antecedência e que estranha que o P.R. divulgue com antecipação a agenda dos encontros de quinta-feira. Estranha-me a mim que tenham começado tão cedo os diferendos no seio do governo Sampaio-Lopes-Portas... Afinal, para que serve a estabilidade?!?! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:47 PM

Soares II, o persistente Termino hoje o tríptico sobre os candidatos a secretário-geral do PS, com um comentário à candidatura de João Soares. Algumas pessoas perguntaram-me se não seria demasiado pesado falar tanto do PS neste blogue. A minha opinião é que o congresso do PS é um acontecimento importante da vida nacional e, por isso, merece um tratamento adequado. Comentar o desempenho dos candidatos está, para mim, dentro desse enquadramento. João Soares (JS) há muito tempo que é candidato a secretário-geral do PS, no sentido em que há muito tempo a sua “tendência” se apresenta aos congressos nacionais sob a bandeira de uma alternativa global para o partido. A sua postura, no essencial, não tem mudado. Ela incide fundamentalmente numa operação sobre o que JS pensa serem os grandes símbolos da vida colectiva dos socialistas. O objectivo essencial dessa operação é convencer os militantes de que as sucessivas direcções do PS falham por perderem as referências simbólicas da família socialista. Daí, por exemplo, a sua ideia de voltar à “mãozinha” original como símbolo do PS.

Com esse tipo de abordagem, a mensagem que JS pretende fazer passar é que ele “está à esquerda” e quer que o Partido “vire à esquerda”. Não há nada de muito concreto por trás dessa abordagem simbólica, não se vislumbram propriamente propostas para o futuro, saídas para os impasses dos socialistas ou do país. Apenas a confusão entre “esquerda” e “passado”. Parte dessa mensagem reside num apelo às solidariedades que já foram estruturantes nas lutas internas do PS (“soaristas” contra “ex-secretariado”, por exemplo) e que, em meu modesto entender, são águas passadas que não deviam mover moinhos.

Contudo, para quem joga quase exclusivamente no tabuleiro do simbólico, é demasiado pesado que a sua própria existência como candidato tenha uma carga simbólica tão pesada. A candidatura de JS a SG do PS remete para uma espécie de monarquia hereditária em versão socialista que é perfeitamente anacrónica. No meu entender, isto é verdade mesmo que seja injusto para JS. Se JS é um grande socialista (não vou aqui disputar essa sua convicção), deveria ter a lucidez de compreender as responsabilidades que lhe cabem em compreender os seus próprios circunstancialismos. E deveria ver que o país só compreenderia essa “sucessão monárquica” no PS se as qualidades próprias de Soares filho brilhassem tanto, mesmo à luz do dia, que tornassem cristalino que a sua pretensão à sucessão é completamente independente do facto de ser filho de quem é. O apoio de Soares-pai à sua candidatura não ajuda nada a esse desiderato.

Infelizmente, não vejo em JS as grandes qualidades que serviriam de antídoto a essa marca simbólica de anacronismo. Contudo, observo com estupefacção os comentários de pura má educação com que certos animadores de feira do PS têm brindado este candidato a líder do seu partido. Estará o PS a tentar perder desde já as próximas legislativas, graças a um congresso que dê ao país a imagem de um partido desastrado?

(Reli recentemente um artigo que publiquei no Diário de Notícias, nos idos de 1985, intitulado "DA VIRTUOSA BENFEITORIA À DEMOCRACIA HEREDITÁRIA". O tema era precisamente o problema da sucessão de sabor monárquico dentro do PS. Pasmo com o facto de esse texto se manter actual na observação da realidade do PS, quase 20 anos depois.) Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:41 AM

Uma alegre esquerda Na quinta-feira 29/07/04, Manuel Alegre apresentou publicamente a sua candidatura a secretário-geral do PS e foi entrevistado na RTP1. Muitos socialistas de que sou amigo (pertencentes a alguma das muitas “esquerdas do PS”) gostaram muito da entrevista. Segundo eles, ainda bem que Alegre põe de novo a ideologia à frente, faz um discurso marcadamente político, se demarca da tecnocracia. Não gostei daquela entrevista porque nela nada se mostrou de um pensamento concreto para o país. Como é que alguém que se candidata (indirectamente, é certo – e neste caso a contragosto), que se candidata, dizia, a primeiro-ministro em nome do maior partido da oposição, pode perder a oportunidade de dar ao país uma ideia, uma breve antevisão, do que seria um governo presidido pelas suas ideias?

Não estou com isto a acusar Alegre de não ter ideias para o país. Ele e os seus apoiantes têm, certamente, muitas e boas ideias para o país. O que estou a dizer é que não conhece o mundo de hoje quem pensa que se podem passar mensagens ao eleitorado sem apresentar exemplos concretos do significado das palavras que usamos. O sistema político está viciado pelo rotativismo: a ideia que as pessoas têm da política é que os partidos dizem coisas diferentes uns dos outros quando estão na oposição, mas fazem todos mais ou menos o mesmo quando estão no poder. Assim sendo, as proclamações ideológicas de pouco valem se não as traduzirmos em projectos claros para políticas concretas. O discurso ideológico puro é apenas um discurso vago: acredita quem está predisposto a acreditar, não acredita quem está desconfiado. Ignorar isso é querer virar a cara às realidades que tem de enfrentar a política democrática dos nossos dias.

Quererá isto dizer que estou contra a ideologia e o discurso marcadamente ideológico? Não, de modo nenhum. Só que a ideologia pode ser um filtro que só nos deixa ver certas marcas da realidade. Ou pode, muito diversamente, ser um instrumento de análise que nos ajuda a ver mais fundo. Não quero a ideologia que funciona como filtro e nos afasta da realidade. Quero a ideologia que ajuda a ver mais e, por isso, ajuda a transformar. Quero uma ideologia que resista ao contacto com a vida e ajude a apresentar propostas. Quero propostas de raiz ideológica que sejam concretas e possam ser julgadas pelos seus méritos próprios. Quero políticas de esquerda de que as pessoas compreendam o significado e que possam ser avaliadas e julgadas. Não quero meras proclamações, porque elas escondem muitas vezes a saudade de um mundo que já não existe, em vez da capacidade de construir um mundo melhor do que o que temos.

Quero uma esquerda que fale de coisas concretas, se não for pedir muito Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 03:40 PM

Sócrates e a esquerda tecnológica Na sua edição de 2/08/04, o jornal Público publica um artigo de José Sócrates intitulado “Um plano tecnológico para uma alternativa”. Esse texto é muito significativo. Tratando-se de um candidato a secretário-geral de um grande partido português, cabe aqui um comentário. O cerne da questão suscitada por Sócrates tem interesse: para convergirmos com os outros países europeus em termos de desenvolvimento, sem descurar a redução das desigualdades, temos de crescer em média a uma taxa muito superior àquilo que historicamente tem sido o caso. Isso só é possível com aquilo a que se tem chamado “um choque tecnológico”. Nesse ponto, não vale a pena repetir o que se diz no artigo, porque não se desvia do que já foi dito muitas outras vezes.

Na verdade, grande parte do artigo dedica-se a apresentar algumas ramificações da tese do plano tecnológico: ideias gerais correctas (importância da educação e formação, combate ao abandono escolar, estimular comunidade científica nacional, ). Mas, logo aí, é clara a persistência no que já foi dito inúmeras vezes por inúmeras pessoas – tal como é claro que se ignoram os “pormenores” que fazem com que essas ideias brilhantes não sejam tão simples nem tão milagrosas como parecem à primeira vista.

Avancemos apenas um exemplo: para que as empresas reais (as que existem no país e não as que moram na imaginação dos candidatos) incorporem pessoal qualificado e inovação tecnológica, não basta que esses ingredientes estejam disponíveis ao cimo da terra. Muitos “patrões” simplesmente não contratam técnicos qualificados, porque não querem partilhar com eles o poder real dentro da empresa. Em muitos casos isso acontece porque, tendo uma noção arcaica de “autoridade”, são incapazes de entregar efectivos meios de decisão a quem, não sendo o dono, detém conhecimento e faz opções não condicionadas pelo estatuto simbólico dos intervenientes.

Do mesmo modo, a inovação tecnológica deve ir, em geral, de par com transformações organizacionais mais ou menos profundas, as quais passam por vezes pela distribuição das decisões segundo modelos mais “democráticos” e participativos do que “autocráticos” – e isso é incompreensível para muitos “patrões”.

O que está em causa, muitas vezes, vai muito para além da noção estreita de “qualificação” usada na divulgação de programas políticos. O que está em causa é a qualificação das instituições.

Ora, para falar de instituições é preciso é preciso ultrapassar o sonho tecnológico do engenheiro Sócrates. A seguinte frase, que serve de resumo do seu texto, é clarificadora: “Um plano tecnológico: eis a proposta de uma esquerda moderna para uma alternativa política”. Pelos vistos, a “esquerda tecnológica” quer liofilizar a política. Isso é mau, porque passa ao lado dos verdadeiros problemas.

Uma esquerda realmente moderna não esquece as instituições. O salto de crescimento não é possível sem instituições mais fortes e mais abertas, capazes de querer e de concretizar a inovação, mobilizando as pessoas envolvidas e premiando os resultados. Não estamos aqui (apenas) a falar das grandes instituições democráticas. Estamos a falar concretamente das empresas e de outros agentes do mundo do trabalho (como as associações empresariais e os sindicatos).

Para tocar apenas um ponto nesse domínio: se os trabalhadores organizados tivessem mais responsabilidades na gestão das empresas, sendo tratados como cidadãos produtores e não como meros “factores de produção”; se por essa via fossem mais associados aos bons e aos maus resultados e às respectivas consequências; se essa co-responsabilização fosse estruturada a um nível supra-empresarial (por sectores de actividade, por exemplo); se a esses trabalhadores organizados fossem dados meios para uma participação bem informada e atempada (se não fossem chamados apenas nos momentos difíceis para receberem as más notícias) – isso certamente acrescentaria, a prazo, racionalidade às empresas e à economia. Por via de um reforço da sua base institucional, tornando as empresas organizações mais racionais: como muitos países europeus descobriram há décadas, sem por isso se desviarem um milímetro da economia de mercado, dando uma conformação à relação empresas/sindicatos completamente diferente da que existe entre nós. Essa relação implicaria maior partilha de responsabilidades na decisão e nos resultados, dando uma forma concreta ao princípio abstracto de uma certa convergência estratégica entre empregadores e trabalhadores. Essa é que é a marca dos países desenvolvidos com justiça e sem desigualdades gritantes. É claro que isso obrigaria a enormes mutações na forma de estar dos sindicatos (e até de muitos trabalhadores) – mas esse seria mais um efeito positivo dessa nova concepção das entidades económicas como instituições a precisar de modernização.

Entretanto, a “esquerda tecnológica” não percebe isto e ainda pensa que a “esquerda moderna” se calcula com as máquinas das ciências exactas – como se fosse possível modernizar o país sem mudar as relações sociais e, em particular, a forma das relações de poder na economia real.

Não haverá nenhum sobressalto de crescimento sem mudanças societais que façam do produtor um cidadão empenhado em objectivos que ele próprio ajudou a desenhar, de cujo resultado faz seu interesse próprio.

Propor esses caminhos será a responsabilidade da esquerda – desde que o seu programa político não seja uma proposta tecnológica. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 11:33 PM

Anúncio Anúncio publicado hoje num órgão da imprensa escrita. Não, não foi no "Acção Socialista". Foi em "A Capital". Ele há uns mecânicos com uma queda para a publicidade oportunista! Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 12:31 PM

Vitorino, ploff... Acerca de Vitorino declarar não ser candidato a líder do PS, hesito entre duas posições (ou serão dois sentimentos?) contraditórios:

(A) Cada um deve ter direito a seguir o seu caminho.

(B) O sentido do dever em político é algo que murchou quase até à extinção.

Contudo, a malvada irritação que se apossou de mim há alguns dias leva-me a esta reacção mal-disposta: será que foi a Faculdade de Direito que colocou Vitorino em comissário europeu? ou foi por obra e graça do espírito santo? ou terá sido por ele ser alto e espadaúdo e de olhos azuis, sendo que assim não deve nada a ninguém? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:43 PM

Convite

Isto não é um comentário político! É só uma brincadeira que me chegou por correio electrónico. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 05:41 PM

Um observatório do "governo Sampaio" 1. Manifestámos discordância com a "saída" para a crise encontrada pelo PR. Mantemos essa posição. Além do mais, se o que se passou foi que desde o início, no resguardo dos gabinetes, o PR "abriu demais a boca" e prometeu a Barroso que não criaria problemas, ficando depois sem margem para uma verdadeira decisão política que devia ser tomada em plena liberdade e responsabilidade - isso é muito grave, porque significa(ria) que o PR alienou os seus poderes num momento grave da crise nacional.

2. Mantemos a discordância, isso é claro. Contudo, dou razão àqueles que chamam a atenção para a necessidade de manter o respeito ao PR: enquanto PR, que tinha o direito de fazer aquela opção política; e enquanto homem de esquerda, crédito que o seu passado sobejamente merece e não se evaporou agora por milagre. Até por uma razão política importante: tomada a decisão que está tomada, o mundo não acabou aqui e agora; mais do que antes, é preciso verificar quais eram (são) de facto os pressupostos da grave decisão que tomou. Devemos concentrar-nos, pois, no acompanhamento da sequência que Sampaio dará a esta sua decisão.

3. O que importa agora é: como vai Sampaio, com os instrumentos constitucionais e políticos que detém, concretizar a vigilância da política europeia, da política externa, da defesa, da justiça, das finanças? É sobre isso que temos de concentrar-nos. Precisamos de um "observatório do governo Sampaio", centrado especialmente nessas áreas. Esse observatório deverá continuadamente chamar a atenção da opinião para as práticas governativas nesses sectores. E, caso a caso, pedir contas ao Presidente.

4. Duvido de que Sampaio tenha os meios para fazer o que prometeu. Aliás, o PM indigitado está a empurrá-lo para esse canto, nomeadamente quando exagera no vozeamento da "vontade de cooperação institucional". Como fica o papel de Sampaio quando Lopes faz saber que até aceita de bom grado o veto presidencial a ministros que em concreto não lhe agradem? O sr. Lopes, como seria de esperar, não é tonto e já está a explorar as fraquezas do plano anunciado por Belém. É, por isso, ainda mais importante que funcione bem na opinião o "observatório do governo Sampaio". Comentários (3) Publicado por Porfírio Silva em 06:24 PM

O governo "Sampaio e outros" politicamente promover um governo chefiado por Lopes e Portas. Prometeu, até, vigilância para garantir a continuidade das políticas em várias áreas da governação. Ficamos atentos. Vamos ficar a ver se Jorge Sampaio vai vigiar o que quer que seja. Vamos ver se, no mínimo, vigia tanto o governo do sr. Lopes como vigiou os governos de António Guterres. Diz-se por aí que, nesses tempos, até chegou a exigir a demissão de certos ministros. A partir daqui, o julgamento do governo será o julgamento do Presidente. 1. Jorge Sampaio falou. E disse: o país vai ter um governo Sampaio-Lopes-Portas. Isto é: quando a Constituição lhe garantia outra opção, decidiupromover um governo chefiado por Lopes e Portas. Prometeu, até, vigilância para garantir a continuidade das políticas em várias áreas da governação. Ficamos atentos. Vamos ficar a ver se Jorge Sampaio vai vigiar o que quer que seja. Vamos ver se, no mínimo, vigia tanto o governo do sr. Lopes como vigiou os governos de António Guterres. Diz-se por aí que, nesses tempos, até chegou a exigir a demissão de certos ministros. A partir daqui, o julgamento do governo será o julgamento do Presidente. 2. Jorge Sampaio foi eleito PR com os votos da esquerda. Contra os votos da direita. Isso serviu para quê? As eleições presidenciais estão destinadas a ser despolitizadas? Quando os candidatos dizem que vão ser presidentes de todos os portugueses, isso quer dizer que vão marimbar-se nos seus eleitores? Para a próxima temos de ter cuidado: não podemos votar em candidatos que querem os votos da esquerda e os governos da direita. 3. Ferro Rodrigues demitiu-se. Fez bem. Tudo lhe aconteceu. A tentativa de “golpe de Estado” vinda de alguns agentes judiciais (o chamado processo Casa Pia). A morte de Sousa Franco, uma magnífica escolha de Ferro para liderar a candidatura ao PE. Agora, a perda de uma oportunidade soberana para ser primeiro-ministro, devido a uma opção exclusivamente política do seu (ex?) amigo Sampaio, depois de ter obtido uma vitória histórica nas eleições europeias. Ferro não teve sorte. 4. Mas Ferro terá tido também algumas culpas neste final. Imagino que o principal receio de Sampaio tenha sido: vou convocar eleições para quê? para o eleitoralista Santana Lopes derrotar nas urnas um Ferro Rodrigues com falta de ânimo, de força política, de ideias mobilizadoras, fechado no seu núcleo (demasiado) duro? Se Sampaio dissolvesse e Santana ganhasse a Ferro as próximas legislativas, o Presidente passaria o resto do seu mandato sentado a um canto do seu palácio e a esquerda passaria, por longos anos, um mau bocado. Talvez a chave desta decisão de Sampaio esteja no seu receio de que o PS não estivesse preparado. Na verdade, em política é preciso estar sempre preparado. Os últimos acontecimentos foram demasiado rápidos. Apanharam o PS a pensar que tinha tempo para pensar na vida – quando não tinha. 5. O ponto principal dos próximos tempos será: como vai Sampaio tomar as rédeas à comissão eleitoral presidida por Lopes e Portas? 6. Será que a ida de Barroso para Bruxelas resolveu o problema do PS, já que Vitorino tem de voltar? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 10:21 PM

Abruptamente Deixe de estudar o comunismo. Acho ridículo. É algo que nunca percebi: um homem que se assume de centro-direita perder tanto tempo a estudar aquilo que mais veementemente critica. Fizesse antes uma biografia séria sobre Sá Carneiro, ao invés daquela que fez sobre Álvaro Cunhal, e teria tido um muito maior reconhecimento. Não sei se se conseque aperceber, mas a esquerda começa a gostar de si. Vê em si um aliado. Em meia dúzia de palavras, que magnífico auto-retrato de certa direita (que talvez não ande muito longe, no esquema mental, de certa esquerda). Cada palavra, um disparate. Que choldra! O Pacheco Pereira tem por hábito publicar "cartas dos leitores" no Abrupto . No dia 6 de Julho publicou uma carta de Tiago Geraldo, que a certa altura reza assim:Em meia dúzia de palavras, que magnífico auto-retrato de certa direita (que talvez não ande muito longe, no esquema mental, de certa esquerda). Cada palavra, um disparate. Que choldra! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:55 PM

António Rodrigues ou Ferro Guterres? 1. À saída de Belém, o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, perguntado acerca da presumível disponibilidade do BE para uma "maioria de esquerda", respondeu o que já é clássico no PS: se houver eleições, vamos pedir maioria absoluta para governar. É curto. Muito curto. Temo que o PS esteja prestes a cometer de novo o erro fatal de Guterres.

2. O grande erro de António Guterres não foi ter "fugido", porque não fugiu (tomou uma atitude política, que alguns míopes parece que ainda não perceberam). O grande erro de António Guterres foi não ter percebido que numa democracia representativa moderna não é possível governar com visão de futuro sem uma maioria. Tentou, durante tempo demais, governar sem maioria. A certa altura confundiu "maioria" com "voto conjuntural de um deputado isolado". Inevitavelmente, caiu. Voltamos agora à mesma história?

3. Sou dos que pensam que o PS e o PSD têm afinidades fundamentais no que toca à estruturação profunda do sistema democrático. Não é o PCP, e muito menos o BE, que pode fazer com o PS o "bloco constitucional" de garantia da democracia representativa - quanto mais não seja por razões históricas, mas também por razões ideológicas. Um entendimento estratégico entre o PS e o PSD, em questões que designo genericamente por "constitucionais", é necessário ao país.

4. Coisa muito diferente é fazer funcionar o sistema de alternativas dentro do regime. Se o PS e o PSD não garantirem que o eleitorado tenha por onde escolher, constituindo verdadeiros projectos políticos alternativos, de que serve haver eleições? O PS tem, pois, obrigação de oferecer uma alternativa de governação, sendo diferente (nesse plano) do PSD. Não podendo exigir ao eleitorado uma maioria absoluta (embora possa pedi-la), que fazer? Voltar ao erro do governo minoritário? Penso que não. Havendo eleições, o PS deve dizer claramente ao país que, se não tiver maioria para governar, fará as alianças necessárias. À esquerda, pois claro.

5. A pergunta seguinte é: que políticas pode o PS fazer se levar consigo para o governo o PCP, o BE ou ambos? Isso é outro problema, essencial. O PS tem de colocar esse debate à esquerda. Mas colocá-lo como debate público, debate de políticas responsáveis para um país mais desenvolvido e mais solidário, a fazer à luz do dia. Para que o eleitorado possa escolher e saiba o que escolhe. Sobre os temas centrais desse debate, voltaremos aqui noutro dia.

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 03:59 PM

Expectativas na saída de um PM Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 09:22 AM

A isto se chama formar governo democraticamente... Depois de ouvir PSL na RTP-1 não há nada para dizer. Estou assustado, só isso. Retrato fiel do que ele considera "ser responsável" é ir para a televisão discutir critérios para a formação do "seu governo"... isso, claro, ao mesmo tempo que jura a pés juntos que a decisão acerca de quem será PM está (de)pendente da decisão do PR. Deduz-se que ele seria capaz de discutir na TV os ministros de outro PM. Já não lhe basta discutir os "seus" ministros na praça pública... Sugiro aos tablóides que façam já uma votação (se possível on line) para escolher ministros para o Sr. Lopes: certamente não sairá daí pior do que ele próprio escolheria. Contudo, afinal, talvez a Judite tenha feito um jeito ao país: deixar o Sr. Lopes falar é capaz de ter ajudado à ponderação de Sexa o PR. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:06 AM

Petição em linha por eleições agora Eu não acredito na "democracia electrónica", mas acredito que as novas tecnologias fazem parte da democracia. Pode assinar-se em linha uma petição ao Presidente da República para que devolva a palavra aos eleitores. Está aqui Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 06:54 PM

Também é importante salvar o PSD Não estou a brincar.

Um dos aspectos centrais a ponderar na actual crise política tem a ver com a necessidade de salvaguardar o papel do PSD na democracia portuguesa. Entregar o PSD de mão beijada, por via de um malabarismo formalista, ao Sr. Lopes, significa prescindir de uma força central do regime. Interessa à democracia a saúde do PSD e seria um sinal de alto alarme que esse partido, depois de ter deixado de ser social-democrata, deixasse pura e simplesmente de ser democrata para passar a ser populista. Sobre esse ponto recomenda-se o artigo de Pacheco Pereira no Público de hoje.

Aliás, só assim se compreende que distintos sociais-democratas, menos obcecados com as minudências da pequena política, façam declarações que visam favorecer a convocação de eleições antecipadas. É que preferem correr o risco de uma vitória do PS no país, a entregar o seu partido a um salteador de estrada.

Assim, além do mais, se o PR fizer o gosto ao Sr. Lopes, ficará associado à destruição do PSD como partido democrático e à sua conversão em máquina de serviço para populistas. E, note-se, que o Sr. Lopes certamente não será o último populista da dinastia: na sua esteira outros virão e a lógica das coisas diz que o seguinte será sempre pior. Basta ter dado o primeiro passo no mau caminho. Comentários (4) Publicado por Porfírio Silva em 10:11 AM

Vamos chumbar Durão na Comissão Perguntaram a Ferro Rodrigues se os eurodeputados do PS votariam Durão para Presidente da Comissão no Parlamento Europeu. Ferro, temendo que venham a dizer que o PS na Europa se opõe a um português, respondeu qualquer coisa diplomática. Discordo. O que há que dizer é: se o Durão na Comissão for tão incompetente como o Durão no governo, e se defender as mesmas políticas, devemos votar contra ele em qualquer lado. Ou o que é mau para nós feito em Lisboa torna-se bom feito em Bruxelas? Ou "para que saibam o que nós amargámos, agora os outros que o aturem"? Acabemos com os falsos patriotismos. Só é possível pensar de outro modo se Durão for para Bruxelas fazer tudo o contrário do que fez e disse em Portugal. Caso contrário, a minha palavra de ordem é: vamos chumbar Durão na Comissão! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:26 PM

E que tal uma batalha campal? Se se realizam duas manifestações, no mesmo local e à mesma hora, uma contra e outra a favor de Lopes, a coisa pode tornar-se numa batalha campal. Voltamos aos bons velhos tempos em que as disputas políticas se resolviam terçando armas? Talvez fosse conveniente que se compreendesse que esta luta política não se vai resolver na base do "quem grita mais alto". Prefiro os argumentos. O SG do PS deu um bom, a seu favor: da última vez que a questão se colocou (demissão de A. Guterres), o PS preferiu eleições, sabendo que podia perdê-las, em vez de tentar aguentar-se no poder a qualquer preço. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 02:13 PM

Vamos sair da União Europeia? Parece que íamos ter um referendo sobre o Tratado Constitucional da União Europeia. Se viermos a ter um governo Sampaio-Lopes-Portas, quem vai protagonizar em nome da direita a batalha do referendo? Lopes e Portas? Lopes só quer ouvir falar em facilidades e, mesmo que quisesse algo mais, não saberia como explicar qual a razão para partilharmos a soberania com outros 24. Portas, agora à vontade com o seu amigo Lopes (e talvez como ministro dos estrangeiros), daria largas ao seu anti-europeísmo militante.

Pensam que exagero? Vejam como, ainda há pouco tempo, Portas tentou boicotar uma política europeia de defesa e segurança que pudesse não andar sempre a reboque dos americanos. Fez isso bloqueando um acordo sobre a agência europeia de desarmamento. A ministra dos estrangeiros, a doce Teresa, queria votar a favor, mas o nacionalista pró-americano-conservador aproveitou ser ministro da defesa e não deixou. Podemos vir a ter mais disso no futuro próximo. Num cenário desses, pode perfeitamente acontecer que Lopes e Portas nos levem para o magnífico cenário de sermos colocados à porta da UE. Com coisas sérias não se brinca. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:59 AM

Um governo Sampaio-Lopes-Portas? 1. Aquilo que muitas vezes se diz ser a crescente instabilidade (e até volatilidade) das democracias representativas tem, a meu ver, uma explicação: cada vez mais a "legalidade" é insuficiente para a "legitimidade". Cada vez mais, "o povo" condena soluções políticas que, mesmo que sejam perfeitamente conformes aos códigos, não se conformam com o contrato difuso que tornou aceitável determinada solução num dado momento. Um dos desafios das democracias representativas é encontrar uma resposta para esta mutação - coisa de que, aliás, não têm sido capazes.

2. Esta busca constante, casuística e desordenada de legitimação de cada reviravolta política faz com que os seus actores não se possam esconder atrás da mera legalidade dos seus actos. Um acto político apreciado à luz de considerações de legitimidade não permite a remissão para o plano da mera legalidade. Em democracia saudável, todos os actos legítimos são legais, mas nem todos os actos legais são legítimos. Assim, quem confere legitimidade a um acto que não a teria de outro modo, torna-se co-obreiro político desse mesmo acto, em toda a extensão da responsabilidade inerente.

3. É assim que, se o Presidente da República se apoiar na legalidade constitucional para permitir, para a crise que se avizinha, uma solução política que os portugueses consideram torta, o PR ficará inelutavelmente vinculado a essa solução. Se o PR der, a um governo liderado por gente que os portugueses não sintam ter sufragado, um apoio que viabilize um aborto que de outro modo se evitaria, o PR será parte integrante dessa solução. Isto é: o PR tem de pensar se quer que o próximo governo se deva chamar, para todos os efeitos políticos, o governo Sampaio-Lopes-Portas. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 08:52 PM

Portugal ganha por ter o presidente da Comissão? Não se pode menosprezar a importância de um português ocupar um alto lugar nas instituições da União Europeia, onde os pequenos países têm mais dificuldades em colocar peões. Se Durão Barroso vier a ser presidente da Comissão Europeia, isso terá importância para Portugal. Mas dizer que "será importante" é diferente de dizer que "será bom". Se ele se revelar tão mau presidente como foi Jacques Santer, por exemplo, isso será desastroso para Portugal. Se Durão Barroso não revelar, como presidente da Comissão, dotes que vão muito para além dos que revelou com primeiro-ministro de Portugal, isso será desastroso para o peso do nosso país no concerto europeu. É por isso que ter António Vitorino como presidente (desejado pelas suas qualidades) ou ter Durão Barroso (desejado pelo seu apagamento), são coisas completamente diferentes para os interesses de Portugal. Digo, pois: espero bem que Durão Barroso saiba coisas e tenha qualidades que nunca revelou na política portuguesa. Caso contrário, vamos ser bem gozados... Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:50 PM

O "jogador" Finalmente percebi porque é que o senhor primeiro-ministro dizia ontem às televisões, depois de Portugal ter ganho um jogo de futebol à Espanha, que estava num dos seus dias mais felizes em termos desportivos. Percebi isso quando passou por mim na rua um rapazinho com uma camisola "da selecção nacional", com o número 12, em que o nome do "jogador" era D. Barroso. A falta de vergonha só não ultrapassa o descaramento maoísta de sua excelência. Felizmente, para passar esta fase não foi preciso ganhar à Grécia na véspera das eleições. Fomos, assim, sem prejuízo, poupados aos arraiais de campanha eleitoral proibida pelo espírito de todas as leis, mas que a "letra" do facto consumado tornaria inoperantes perante o truque de querer ganhar disputas eleitorais nos relvados. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 07:42 PM

EUA pretendem ocupar P.S. sem mandato da ONU 1. Um dos exercícios que aprecio na observação dos processos democráticos consiste em olhar para os partidos políticos nos processos de ajustamento a modificações de ambiente. É o que se passa neste momento no PS. Último desenvolvimento: candidatura de José Lamego.

2. Se eu algum dia viesse a ser militante de um partido político liderado por um ex-administador de uma ocupação ilegal de um país, proporcionada por uma guerra ilegal e ilegítima, pintava a cara de preto. Que José Lamego anuncie que se candidata a secretário-geral do PS, é prenúncio de uma de duas coisas: ou ele não percebeu o que as pessoas pensam da guerra do Iraque ou acredita que os militantes do PS são desmemoriados.

3. Mas há sempre uma hipótese mais interessante: a proliferação de candidatozinhos a chefes do PS contra Ferro Rodrigues destina-se apenas a abrir as portas a um verdadeiro candidato dos chamados "moderados". Se aparecer, por exemplo, um Sócrates, apenas terá de dizer: bom, já que todos dão a sua bicada, porque não hei-de eu dar também a minha? Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 08:54 AM

Do "natural" em política Há um aspecto curioso dos comentários às recentes eleições para o Parlamento Europeu. É o dizer-se, como se isso explicasse tudo: na generalidade dos Estados Membros os governos foram penalizados, qualquer que fosse a sua cor e as suas opções políticas concretas. Não deixa de haver um grão de verdade nessa análise, que aliás revela algo preocupante: é que a Europa, no seu conjunto, tem uma política que os cidadãos ou não compreendem ou não apoiam. Havemos de voltar aqui a esse ponto. Mas essa análise, no tocante a Portugal, faz sorrir. Porque revela uma amnésia súbita.

Quando Ferro Rodrigues anunciou a candidatura de Sousa Franco, não faltou quem a criticasse duramente, considerando-a alguns até disparatada. Parece que convinha esconder o que alguns socialistas mais permeáveis a propagandas adversas consideravam a pesada herança guterrista. Alguns consideravam Sousa Franco muito à direita. Enfim: como de costume, quando o secretário-geral do PS faz alguma coisa, eleva-se um coro de iluminados ululando "que horror!". (Eu, pelo meu lado, horrorizo-me mais quando ele não faz nada...)

Agora, todos acham que a vitória era natural ! Mas é claro que uma vitória, especialmente com a dimensão que teve, não foi nada natural. Foi o fruto de uma aposta política acertada. Isto apesar de termos de reconhecer que Sousa Franco foi melhor na batalha política de terreno do que se podia esperar de qualquer um nas actuais circunstâncias. Mas isso não retira mérito à escolha de Ferro Rodrigues. E aponta, ao próprio Ferro Rodrigues, caminhos que ele tem de trilhar. A isso voltaremos depois.

De momento gostaria que aqueles dirigentes socialistas que, se o PS tivesse perdido (ou ganho mal) estas eleições estariam agora a pedir a cabeça de Ferro Rodrigues, tenham de momento um pingo de decência e deixem de reclamar para si uma quota da vitória. O que em nada diminui, é claro, que tenham todo o direito - e talvez até o dever - de propor alternativas de políticas e de pessoas para o PS. Para que, no congresso de Novembro, o País fique a saber com o que conta (desse lado) para o próximo ciclo eleitoral. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:47 AM

Estados Unidos da Europa 1. Não seria ilegítimo (como fazem quase todos) falar das eleições europeias como se de eleições nacionais se tratasse. Contudo, opto hoje por considerar um aspecto efectivamente europeu do assunto.

2. José Manuel Fernandes escrevia ontem no seu jornal: «se qualquer eleitor europeu quiser, nas eleições que estão a decorrer, "votar" contra Verhofstadt e, por exemplo, a favor de Vitorino [para presidente da Comissão Europeia], como é que deve fazer? E se esse eleitor for português, como deve comportar-se hoje? Esta pergunta não tem resposta, nem podia ter.» Esta afirmação mostra a gravidade da (recorrente) ignorância (não acredito que seja má fé...) de algumas das pessoas com responsabilidades políticas e/ou cívicas na nossa praça.

3. Em primeiro lugar, actualmente, Vitorino (sendo socialista) só pode aspirar a ser presidente da Comissão Europeia se os socialistas europeus tiverem um papel importante na solução para o próximo ciclo Parlamento/Comissão a nível da União. Por isso, "votar seguramente Vitorino" seria, goste-se ou não (parece que JMF não gosta), votar socialista. O facto de o PSD ter votado, no seio do PPE, contra a exigência dos seus parceiros europeus de terem o presidente da Comissão no caso de ganharem as eleições, nada muda a esse facto: pela simples razão de que o PSD (mesmo que seja sincero no apoio a Vitorino) não tem, no seio do PPE, força para contrariar aquela pretensão.

4. Em segundo lugar, o que JMF escreve ignora que há uma luta política especificamente europeia e que é nesse xadrez próprio que se joga (também) o papel de Vitorino. O PPE venceu as eleições a nível europeu, mas, por um lado, não tem maioria absoluta e, por outro lado, o PPE está bastante dividido acerca de muitas questões importantes para a Europa. Por isso continua em aberto a questão de saber que maioria dominará a próxima legislatura europeia. Uma hipótese é voltar ao antigo esquema: um acordo entre os socialistas e o PPE para garantir uma gestão "centrista" e europeísta de todos os assuntos e poderes nos próximos anos.

5. Outra hipótese (que Isabel Arriaga e Cunha explica hoje no Público) é que se forme uma aliança entre os socialistas e alguns dos seus aliados, mais os liberais e uma parte do PPE (descontente com o peso dos antieuropeístas nesse partido europeu). Teríamos, assim, uma nova maioria política no PE. As declarações de Vitorino, ontem à noite, apontando a necessidade de se formar uma coligação de progresso para a União, são um claro apelo a uma solução desse tipo. Vitorino mostra assim que é um político a sério: isto é, que joga a sua voz na construção de soluções políticas para os problemas, em vez de ficar sentado à espera de que lhe caiam no colo (por obra e graça do benevolente destino) os lugares cimeiros.

6. Resta alguma esperança à Europa quando se vê que ainda há política na Europa. Fico orgulhoso de ver Vitorino (um socialista português) jogar um papel na procura de soluções políticas, ao arrepio dos que pensam que a política é a gestão corrente do que já se sabia antes. A única escapatória para a decadência é essa mesma: mais política (e não menos) e melhores políticos (em vez de melhores publicitários). Na Europa como em Portugal. Mas disso falaremos depois.

Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:52 AM

Bandeiras nacionais Bandeiras de Portugal por todo o lado. Acho muito bem. Não que eu seja particularmente atreito a símbolos nacionais, que não sou. Nem isso me parece necessário para ser patriota. Que sou. E não me distraio de um pormenor que ninguém quer lembrar: é que a esmagadora maioria das bandeiras que por aí andam foram oferecidas ou compradas à pressa. Não estavam guardadas em casa, em permanência, como coisa natural. Mas, enfim, há duas coisas que me agradam nesta revoada de bandeiras nacionais. A primeira, é que ela chegou ao terreno por ideia de um brasileiro. Mais irmão ou menos irmão, um estrangeiro. Para os que desconfiam dos estrangeiros, enfiem o barrete. A segunda, é que a vaga de bandeiras portuguesas começou a ter como resposta – minoritária, mas mesmo assim, bonita de se ver – uma pequena onda de outras bandeiras: dos países de alguns dos imigrantes que enriquecem a nossa comunidade e que esperam que umas vitórias das suas equipas amaciem um pouco os dias difíceis. Digo, pois: vivam as bandeiras empunhadas! Todas elas! Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 04:04 PM

Homenagem à Política Morreu um cidadão. Sousa Franco era insusceptível de um rótulo. Insusceptível de ser acantonado em qualquer lugar pré-marcado de uma bancada de espectadores. Irredutível a uma marca. Sem medo de ter ideias. Sem medo de ter mau feitio (quando a alguns apenas interessa o feitio do fato). Descobrindo-se agora de novo, perante o país, na alegria da luta política. Dizendo, com a simplicidade da inteligência, as coisas que passam pelo meio da banalidade dos slogans sem se sujarem. Sousa Franco estava a mostrar que a coragem dos políticos democratas não passa pela fanfarronada, pelo chavão fácil, pelo falso heroísmo - mas sim pela humildade de ser lúcido, de saber que o caminho estreito só se descobre atendendo aos pequenos detalhes das coisas bem feitas. Que Sousa Franco tenha morrido a fazer política, na alegria (e nas dificuldades) da coisa pública, é uma homenagem à Política. Mas, certamente, não a todos os políticos. Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:12 PM

Celibato para os médicos, já ! Parece que o Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, terá considerado que a dedicação exigida pela profissão de médico é incompatível com as responsabilidades da vida familiar e doméstica. Daí que a ideia de proteger a profissão de médico com quotas para homens aparecesse como não sendo de descartar completamente.

Eu, pessoalmente, não acredito que ele tenha dito isso. De certeza que a culpa dessa atoarda é de algum estagiário de jornalista um pouco verde. Se um ministro de um governo de um país civilizado tivesse dito realmente tal coisa, certamente seria demitido de imediato por qualquer primeiro-ministro com uma pinga de vergonha na cara. Não acredito, pois, que ele tenha dito isso.

Contudo, se o ministro da saúde disse tal coisa, isso revela - além de um desprezo deslocado pelo papel da mulher na sociedade - uma concepção inaceitável do papel do homem na família. Ou será que a lógica dele é que não há qualquer problema que o homem-médico não possa dar toda a sua presença à vida familiar?

A única saída possível, sugerimos nós, é exigir o celibato eterno para qualquer médico! E, já agora, para que não haja qualquer confusão, seria preferível mesmo acabar com os "médicos de família"... Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 02:24 PM

"Deus" em greve na blogosfera (Hipertexto 5)

Além das reacções que estão acessíveis nos comentários que lá se encontram, eu escrevi o seguinte ao autor em causa: Que se pode fazer para convencê-lo a outra forma de expressão? Não conhece o conceito de greve de zelo? Na greve de zelo todos trabalham, mas seguem rigorosamente todos os regulamentos. Contrariamente ao que os distraídos hiper-racionalistas poderiam pensar, nas organizações humanas reais se toda a gente cumprir escrupulosamente todos os regulamentos - nada funciona! Este tipo de greve caiu um pouco em desuso, pelo menos em Portugal. Mas porque não "Deus" optar por essa forma em vez de "desaparecer"?

Para além da questão de fundo que coloca a atitude de deixar de escrever é mais interventivo do que continuar a escrever? Ou até, numa versão cínica, até que ponto deixar de escrever é melhor para as audiências do que continuar a escrever?

(Esta série "Hipertexto" é publicada simultaneamente na Turing Machine e na Abébia Vadia.) e deus tornou-se visível... (II) entrou em greve contra a guerra, tal como declara neste post Além das reacções que estão acessíveis nos comentários que lá se encontram, eu escrevi o seguinte ao autor em causa:Para além da questão de fundo que coloca a atitude de e deus tornou-se visível... (II) - e essa questão de fundo é o mais importante -, há outro aspecto que atrai a minha curiosidade. É como se isto fosse uma espécie de experiência: até que pontoé mais interventivo do que? Ou até, numa versão cínica, até que ponto deixar de escrever édo que continuar a escrever? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 03:17 PM

Ainda a espuma dos dias O filósofo Desidério Murcho, na sua coluna "Valia a pena traduzir" no suplemento Mil Folhas do Público, escreveu no sábado passado sobre o livro de Peter Singer The President of Good & Evil: Taking George W. Bush Seriously . Às tantas, pode ler-se: Os jornais parecem obcecados com duas coisas: a informação em cima do acontecimento e sem maior profundidade do que o que se pode saber estando a assistir aos acontecimentos ao vivo; e os artigos de opinião de reputados analistas que mais não fazem do que aplicar as suas ideologias aos acontecimentos correntes, sem a mínima investigação nem reflexão.

Retenho apenas um dos aspectos interessantes desta frase: há mais para saber acerca do mundo do que "o que se pode saber estando a assistir aos acontecimentos ao vivo". Muito mais. Há um mundo para lá do que se vê "claramente visto", ali à frente dos olhos, um mundo cuja densidade espacial (geográfica) e temporal (histórica) é enorme. Aqueles que julgam o contrário - e por isso se entusiasmam tanto com aquilo a que alguns chamam "a sociedade da informação" - estão contentinhos da vida em serem espectadores omníveros. Dos que comem de tudo. E comem tudo. Qualquer coisa que esteja à mão. Mas apenas espectadores. E os outros que façam o espectáculo, não é? Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 08:44 AM

Finalmente vamos poder malhar o ferro

1. O chamado "caso Casa Pia" toca-me de duas formas muito diferentes. Primeiro, do ponto de vista pessoal. Nesse plano, escrevi ontem

2. O golpe de estado que consistia em conseguir decapitar um grande partido da oposição por via de uma investigação judicial conduzida sem a mínima preocupação de respeito pelo estado democrático - falhou. Tentaram prender o líder do PS e só não o conseguiram porque ele reagiu à bruta - como muitos parece que pensavam que ele não seria capaz de fazer. Tentaram manchá-lo e só não o conseguiram porque ele não se calou e denunciou os objectivos políticos da manobra. Uma parte do PS foi suficientemente ingénua para não perceber isso, ou suficientemente miserável para se tentar aproveitar mesmo percebendo. Ferro prestou, deste modo, um serviço - difícil mas irrenunciável - à democracia. Não podíamos ter deixado de o apoiar nessa ocasião, independentemente do custo eleitoral imediato associado.

3. Agora que a borrasca passou - se passou - pode finalmente falar-se do que é sério. A saber: (a) o facto de a actual direcção do PS ser nuclearmente um pequeno grupo de amigos, mal enraízado no partido, que conhece mal o partido, que dirige o partido com sentido de grupúsculo, que tem dificuldades em aproveitar todos os recursos disponíveis; (b) o facto de não se ver o PS fazer oposição concreta, de andar sempre a ver passar os comboios, de deixar o trabalho de casa ao BE; (c) o facto de o PS demasiadas vezes sugerir que está insatisfeito com o Presidente da República, como se o PR pudesse ser a muleta do PS - em vez de aproveitar a sério o que o PR diz para apresentar posições compreensíveis; (d) o facto de o próprio Ferro passar grandes temporadas invisível e, quando fala, muitas vezes não se perceber bem o que quer dizer. A decisão de entregar a Vera Jardim todos os comentários sobre o processo Casa Pia libertou Ferro Rodrigues da permanente exposição nesse dossier difícil. A ideia funcionou tão bem que Ferro Rodrigues parece ter decidido generalizá-la: agora, em vez de apenas não falar sobre a Casa Pia, não fala sobre nada - e talvez esteja à espera de que isso melhore a sua imagem. Entretanto, a ideia de governar este país à esquerda continua à espera. E tem inimigos fora e dentro do PS.

4. Na parte política deste problema também Paulo Pedroso tem responsabilidades. Dizê-lo com clareza é saudar o seu regresso anunciado à política, festejar que a sua morte cívica não se tenha consumado, trabalhar para que o consumo mediático não valha mais do que a justiça. Espera-se que a definitiva libertação de Paulo Pedroso traga normalidade política à esquerda portuguesa e possamos começar a falar livremente. Passar ao ataque. Aprofundar as alternativas. Encontrar os melhores caminhos. Mesmo que isso passe por "malhar no ferro". Ou mesmo "malhar no Paulo". Viva a normalidade!

1. O chamado "caso Casa Pia" toca-me de duas formas muito diferentes. Primeiro, do ponto de vista pessoal. Nesse plano, escrevi ontem noutro sítio sobre os sentimentos despertados em mim pela decisão (ainda não definitiva, cuide-se) de não pronunciar Paulo Pedroso. Segundo, do ponto de vista político: que consequências teve e terá este "caso" para a vida política portuguesa. Vejamos a vertente política.2. O golpe de estado que consistia em conseguir decapitar um grande partido da oposição por via de uma investigação judicial conduzida sem a mínima preocupação de respeito pelo estado democrático - falhou. Tentaram prender o líder do PS e só não o conseguiram porque ele reagiu à bruta - como muitos parece que pensavam que ele não seria capaz de fazer. Tentaram manchá-lo e só não o conseguiram porque ele não se calou e denunciou os objectivos políticos da manobra. Uma parte do PS foi suficientemente ingénua para não perceber isso, ou suficientemente miserável para se tentar aproveitar mesmo percebendo. Ferro prestou, deste modo, um serviço - difícil mas irrenunciável - à democracia. Não podíamos ter deixado de o apoiar nessa ocasião, independentemente do custo eleitoral imediato associado.3. Agora que a borrasca passou - se passou - pode finalmente falar-se do que é sério. A saber: (a) o facto de a actual direcção do PS ser nuclearmente um pequeno grupo de amigos, mal enraízado no partido, que conhece mal o partido, que dirige o partido com sentido de grupúsculo, que tem dificuldades em aproveitar todos os recursos disponíveis; (b) o facto de não se ver o PS fazer oposição concreta, de andar sempre a ver passar os comboios, de deixar o trabalho de casa ao BE; (c) o facto de o PS demasiadas vezes sugerir que está insatisfeito com o Presidente da República, como se o PR pudesse ser a muleta do PS - em vez de aproveitar a sério o que o PR diz para apresentar posições compreensíveis; (d) o facto de o próprio Ferro passar grandes temporadas invisível e, quando fala, muitas vezes não se perceber bem o que quer dizer. A decisão de entregar a Vera Jardim todos os comentários sobre o processo Casa Pia libertou Ferro Rodrigues da permanente exposição nesse dossier difícil. A ideia funcionou tão bem que Ferro Rodrigues parece ter decidido generalizá-la: agora, em vez de apenas não falar sobre a Casa Pia, não fala sobre nada - e talvez esteja à espera de que isso melhore a sua imagem. Entretanto, a ideia de governar este país à esquerda continua à espera. E tem inimigos fora e dentro do PS.4. Na parte política deste problema também Paulo Pedroso tem responsabilidades. Dizê-lo com clareza é saudar o seu regresso anunciado à política, festejar que a sua morte cívica não se tenha consumado, trabalhar para que o consumo mediático não valha mais do que a justiça. Espera-se que a definitiva libertação de Paulo Pedroso traga normalidade política à esquerda portuguesa e possamos começar a falar livremente. Passar ao ataque. Aprofundar as alternativas. Encontrar os melhores caminhos. Mesmo que isso passe por "malhar no ferro". Ou mesmo "malhar no Paulo". Viva a normalidade! Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:48 PM

Faça lá esta experiência

Sguedno um etsduo da Uinvesriadde de Cmabgirde, a oderm das lertas nas pavralas não tem ipmortnacia qsuae nnhuema. O que ipmrtoa é que a prmiiera e a utlima lreta etsajem no lcoal cetro. De rseto, pdoe ler tduo sem gardnes dfiilcuddaes... Itso é prouqe o crebéro lê as pavralas cmoo um tdoo e nao lreta por lerta. Incursões linka-nos. É simpático e já retribuímos. Além disso, encontrei lá uma posta muito interessante. Intitulada Fenómeno linguístico , reza assim: Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 07:19 PM

O menino que fazia chichi na cama Está quase a começar a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Parece que os partidos políticos portugueses consideram que o que está em questão é saber a cor do cartão que nessas eleições os eleitores mostrarão ao governo. Os eleitores, esses, em geral, pensam que no pasa nada.

A minha opinião pessoal é ligeiramente diferente. Estas eleições são mesmo para o governo de Portugal. Não, não é uma metáfora. É que áreas decisivas da governação dependem do que todos (os 25 países) decidimos em Bruxelas. E se temos uma visão deslocada do governo da Europa, só podemos ter uma visão desfocada do governo de Portugal. Assim, há várias perguntas à procura de resposta.

À direita, convinha saber se Portugal deixou de ter uma direita nacionalista que se opõe à integração europeia por todos os meios (isto é, se o PP se converteu) e, talvez mais importante, convinha saber se temos uma direita europeia capaz de oferecer uma alternativa democrática que não esteja refém de nenhum discurso populista anti-Bruxelas. A opção do PPD/PSD por esta coligação contra-natura faz-nos temer que Portugal esteja em risco de perder essa direita - que, goste-se ou não, tanta falta faz ao país. E que todos os outros Estados Membros têm.

À esquerda, convinha saber se os partidos "do extremo" (PCP e BE) continuam a ser fundamentalmente anti-europeus (como é sua tradição), se continuam a pensar a política europeia à luz de uma visão das relações internacionais centrada no anti-americanismo, se continuam a pensar que a única maneira de manter a independência económica num espaço integrado é o proteccionismo, se continuam incapazes de integrar uma aliança de progresso para a Europa (se vão acantonar-se, no PE, nos grupelhos de resistentes a tudo e a todos). Se o PCP e o BE continuarem assim, a possibilidade de que algum dia venham a dar um contributo para a governação é, simplesmente, nula. Ainda à esquerda, convinha saber se o PS - o único partido que vai a estas eleições sem rabos de palha - tem coragem de fazer uma campanha esclarecedora dos termos da equação que acima se traça.

Adicionalmente, estas eleições podem ter um outro picante. Se a direita cair no disparate de tentar crucificar Sousa Franco como responsável pelas finanças no governo Guterres - e se Sousa Franco responder sempre com tanta clareza como até agora -, esta pode ser a oportunidade para se saber se o país está preparado para aceitar as explicações sobre o passado que Guterres ainda não deu e que o PS tem sido frouxo em dar por ele. Ponto que pode vir a ter alguma importância em batalhas futuras (como as presidenciais).

Entretanto, como tudo isto é pouco, parece que a maior parte dos "pensadores de serviço" andam mais virados para a magna questão de saber como se chama o menino que fazia chichi na cama. Comentários (3) Publicado por Porfírio Silva em 05:05 PM

Procura-se legenda para uma imagem (3) Em que medida o nosso viver em sociedade não passa de uma incessante tentativa de desenhar o nosso retrato, aos poucos, pincelada a pincelada? E se a mão que desenha não é nossa?

Guston Philip, The Studio Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 09:49 AM

Santo António Champalimaud indispensável ler: Um tema a que temos dado atenção (e de que não largaremos a mão) é a vaga de revisionismo que tem assolado a sociedade portuguesa nos últimos tempos. Refiro-me à sistemática tentativa de, aos poucos, reescrever a história do 25 de Abril (do seu antes, do seu durante e do seu depois). Aparentemente, o que se pretende é fazer vingar a ideia de que afinal antes é que era bom e que o processo que nos trouxe à democracia é o culpado de todos os males reais e imaginários. A última vaga dessa maré foi a recente operação de guindar o senhor António Champalimau a herói, não sei bem de quê. Às tantas, começo a ficar baralhado e até começo a duvidar do que vi e li no passado. Começo a pensar que eu é que andei a viver na estratosfera. Por isso, quanto a esta última questão, tenho de agradecer a Mário Mesquita por, num dos seus magistrais textos do Público de domingo, lembrar o que a má consciência de alguns anda a tentar fazer esquecer. Éler: Santo António Champalimaud Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 10:14 AM

Procura-se legenda para uma imagem (2) (Por favor, enviem sugestões de legendas para esta foto.) Comentários (5) Publicado por Porfírio Silva em 03:14 PM

However No passado dia 11, o Conselho dos Ministros da Economia e das Finanças da União Europeia decidiu pôr termo ao procedimento por deficit excessivo que tinha aberto contra Portugal em Novembro de 2002. O Governo português cantou vitória aos quatro ventos, como se isso confirmasse a justeza da sua política. O próprio Primeiro-Ministro deu a cara por essa interpretação dos factos (pelo menos na entrevista que concedeu à SIC).

Ora, a verdade é que essa leitura do que aconteceu é uma mistificação. A decisão do Conselho tem lugar com base numa recomendação da Comissão. O relatório da Comissão que suporta essa recomendação conclui que Portugal reduziu o deficit, mas acrescenta um “However ”. Isto é: os resultados alcançados por Portugal tiveram por base medidas (venda de património imobiliário) que são pontuais e irrepetíveis, pelo que o Governo de Portugal é instado a “substituir todas as medidas pontuais por medidas de carácter mais permanente, de modo a assentar a consolidação numa base mais duradoura”. Não podia ser mais claro: o artificialismo da gestão financeira do nosso país é claramente identificado pelas instâncias comunitárias. O Governo de Portugal não tem, pois, nenhuma razão para estar satisfeito. Nem nós.

Além do mais, a nossa postura de “aluno falsamente bem comportado” (que pensa fazer boa figura mascarando os problemas) foi mais uma vez ridicularizada. É que a Itália, devido à situação orçamental a que chegou, devia ter sido objecto dos mesmos “mimos” que Portugal mereceu, mas esse assunto foi adiado em troca da mera promessa do ministro italiano de que posteriormente explicaria que medidas vai tomar para equilibrar o orçamento. O governo português, esse, sempre preferiu manobrar este assunto à luz da mera conveniência da propaganda partidária para consumo interno.

Uma outra pergunta se impõe: e a oposição, em particular o PS, o que anda a fazer? Porque não explicou isto ao povo português? Será que não sabia? Não leu? Não fez o trabalho de casa? É uma lástima que as descaradas mentiras e meias verdades dos nossos governantes passem tantas vezes impunes por causa da falta de profissionalismo da oposição.

Uma Ministra das Finanças a tentar isolar-se do mundo? Comentários (1) Publicado por Porfírio Silva em 02:06 PM

Procura-se legenda para uma imagem (Por favor, enviem sugestões de legendas para esta foto - ou pequenos-curtos textos que, de algum modo, nela encontrem uma boa ilustração.) Comentários (8) Publicado por Porfírio Silva em 03:17 PM

Campanha para salvar o "Expresso" Expresso em assuntos relativos à União Europeia. Não é que ele não tenha razão: aquilo é mesmo uma vergonha. Contudo, preocupa-me a perspectiva do terrível impacte que essa posta do Paulo Godinho possa ter nos já elevados níveis de desemprego entre os trabalhadores da comunicação. Sugiro, face a tamanho perigo, uma campanha para salvar o Expresso.

Por favor, consultem

PS: Não deve enviar-se mais do que um par pergunta/resposta em cada mensagem, não vá algum famoso editorialista misturar tudo e vir na próxima semana dizer que no ano 6 da era cristã entrou para a CEE um número exacto de 1957 países. Fiquei muito triste por o Paulo Godinho (ver entrada abaixo) ter vindo a terreiro mostrar a ignorância de altas patentes do jornalem assuntos relativos à União Europeia. Não é que ele não tenha razão: aquilo é mesmo uma vergonha. Contudo, preocupa-me a perspectiva do terrível impacte que essa posta do Paulo Godinho possa ter nos já elevados níveis de desemprego entre os trabalhadores da comunicação. Sugiro, face a tamanho perigo, uma campanha para salvar oPor favor, consultem EuropaQuiz e enviem mensagens para qualquer redactor daquele semanário que mereça a vossa simpatia. Cada mensagem deve conter uma pergunta sobre a UE e uma resposta correcta à mesma pergunta. Estou certo de que qualquer redactor que seja chamado ao Director para um teste de cultura europeia e tenha decorado pelo menos três perguntas-com-resposta sobre a temática, terá uma quase garantia de emprego vitalício naquela instituição nacional. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:52 AM

Abébia de palha Segundo o Público, Manuela Ferreira Leite terá afirmado numa reunião partidária: "Deus nos defenda que os socialistas voltem ao poder, mesmo que seja daqui a muitos anos." Ora, segundo os ensinamentos da Santa Madre Igreja, a invocação do santo nome de Deus em vão é um pecado. Não há dúvidas de que se trata aqui de uma vã invocação: porque Deus nada tem a ver com o assunto (nem sequer vota, só se for em branco); porque de nada vale a Manuela mostrar os dentes da pretensão totalitária (não morde quem quer, morde quem pode). Em todo o caso, isto mostra bem o nível de (in)cultura democrática dos dirigentes do momento. Os magníficos admiradores do além-Atlântico farão uma pequena ideia do que aconteceria a um membro da Administração americana se tivesse o desplante de vozear um desejo de fim da alternância no governo da nação? Pegando na deixa de Sempre à coca, esse autor mistério desta Abébia Vadia, proponho atribuir uma Abébia de Palha à Manuela. Pelo menos, com isso, ela já terá qualquer coizita para roer quando passar ao caixote do lixo da história. Fará assim boa companhia aos que têm de empenhar as medalhas para aguentar a crise. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 11:16 AM

O pequeno revisionista Vasco Pulido Valente, no DN de 25-04-04, assina Imitar a Revolução. Com parangonas. Atento o motivo (a história recente de Portugal), a pretensão (um "ensaio") e a tese a defender (não houve revolução), decidi-me a ler a coisa. Vejamos. A "tese" central. A tese central do "ensaio" reduz-se a esta frase: "O "25 de Abril foi uma revolução? Não foi." Este tema desdobra-se em variadas declarações pomposas, como sejam: "A "revolução de Abril", como romântica e fraudulentamente lhe chama a Esquerda, foi um mero pronunciamento clássico." Pronunciamento, portanto. Mas VPV fala depois de "efervescência popular". De "insurreição". De "tentativa de estabelecer um regime soviético". De "rua": "A partir de Julho [de 1975], a "rua", que antes pertencia à Esquerda e à Extrema-Esquerda, passou para o PS e para a inumerável multidão que o seguia." Da "ofensiva contra as "casas de trabalho" (as sedes) do PC", esclarecendo: "Por detrás deste movimento, em grande parte espontâneo, estava a Igreja ( )." Não se vê em lado nenhum a mais pequena tentativa de classificar seriamente o que se passou neste país naquele tempo. VPV começa por explorar um equívoco (ninguém pretende que houve uma revolução NO DIA 25-04-74) e acaba a exibir a sua incapacidade para caracterizar o PROCESSO que se seguiu. Assim, não se percebe porque faz voz tão grossa. Aqueles foram tempos de quê? Ditadura? Pacata democracia burguesa? Evolução? Como classificar todas aquelas movimentações descritas? VPV não diz. Limita-se ao seu slogan. Seriedade analítica, pouca. Haveria que explicar como classificar um processo histórico que incluiu uma ruptura "ilegal" de regime, com substituição de camadas importantes do pessoal dirigente. Maciças movimentações sociais. Profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais. Liberdades. Novos direitos (segurança social, saúde). Novas relações de trabalho. Profundas transformações do "quadro legal dos costumes" (família, mulher). Novo modelo económico (do corporativismo ao capitalismo banal). Etc. Incapaz desse trabalho, a "tese" de VPV não passa de uma brincadeira. Revisionismo débil. Como VPV não explica nada disso - e teria de explicar, para se abalançar a tamanha "tese" - só posso concluir que o seu texto se limita a participar da tendência do momento para reescrever a história ao gosto de certas conveniências e ao arrepio da memória histórica viva. Essa tendência tem um nome: revisionismo. O pessoal do governo tem promovido activamente esse programa. Com tempo. Com meios. Com ferramentas de luta política que o poder de Estado fornece. Tratam de fazer vingar o seu projecto de poder imediato através da luta ideológica e cultural. São, por isso, os grandes revisionistas. VPV vem dar uma ajudazinha: débil quanto à substância, mas tingida pela auréola do intelectual. Contudo, VPV, sem os meios dos revisionistas que estão no poder, não passa de um pequeno revisionista. Uma nota de rodapé na teoria da "evolução". Ele sabe disso - e, portanto, saca de outro instrumento que tanto aprecia: o insulto. O insulto é uma arma. Não é que surpreenda, mas VPV sente-se autorizado ao insulto. Escolho apenas um exemplo: "Melo Antunes, um homem sem formação académica ou outra, que lera o marxismo de rigor na época (principalmente a intrujice francesa) era o "intelectual" do MFA." Melo Antunes talvez não tivesse a formação que VPV estaria inclinado a carimbar como "conveniente", mas teve a suficiente para personificar a própria lucidez em todo o processo. Porque sabia o que havia a fazer para que o turbilhão não descambasse. E soube ter esse papel, porque percebia que uma "revolução", seja lá isso o que for, não é uma experiência de laboratório. Ponto que VPV, tanto tempo depois, ainda não percebeu. VPV limita-se a ser mais um "robot" na revolução (aqui explico o conceito). Há uma frase sua que explica o seu problema: "Retrospectivamente, parece impossível como não se percebeu desde o princípio a estratégia de Cunhal." Pois, "retrospectivamente". VPV parece ter dificuldade em admitir que os processos históricos não se vivem "retrospectivamente". E que o historiador que não percebe isso não passa de um novelista. Por vezes, um mau novelista. Mesmo que sirva para vender papel de jornal.

Comentários (2) Publicado por Porfírio Silva em 01:55 PM

Acto notarial Abriu. (Assinaturas) Azul. Eduardo Graça. José Rebelo. Marienbad. Nuno Marques. Paulo Godinho. Porfírio Silva. Sempre à coca. Comentários (0) Publicado por Porfírio Silva em 12:00 AM

marcar artigo