O MacGuffin: Um wishful thinking seguido de um ou dois comentários

23-03-2019
marcar artigo

1. Seria bom que os votos dos portugueses permitissem que, juntos, PSD e CDS formassem uma maioria absoluta no parlamento. Significaria o fim dessa sinistra figura política chamada José Sócrates, que enganou, enganou, enganou, enganou e continua a enganar (vide programa eleitoral do PS, uma peça inédita de amnésia e de falta de vergonha). E significaria uma sonora chapada nessa mesquinha, languenta e patética ideia dos «consensos».

2. O Henrique crítica a escola de comentário portuguesa. Estou com ele mas. Entendamo-nos, caro Henrique: a coisa dos «tiros nos pés» é, desgraçadamente, real. E sim, é mesmo verdade: em política, sobretudo na política e no país de hoje (que são os que temos, para já), a imagem, os sinais e a forma contam. É de uma tremenda ingenuidade pensar-se que, numa imberbe democracia de trinta e sete anos, e num país ainda iletrado (esqueçamos as estatísticas do sucesso escolar) e politicamente ignorante (capaz de «engolir» as mais diversas patranhas), o tacto e a prudência possam ser dispensados. O que tem faltado a Pedro Passos Coelho não é cinismo: é tacto político para perceber que país é este e que pessoas (eleitores) são estas. Ainda não é possível ganhar eleições em Portugal proclamando ideias «liberais», de clara emancipação dos cidadãos relativamente ao Estado, quando estas trazem agarradas propostas avulsas, pouco ou mal explicadas, que configuram aquilo a que poderíamos chamar, agora cinicamente, de «perda efectiva de direitos sociais» (um slogan que a esquerda gosta de usar e o português médio respeita) ou quando pura e simplesmente não têm contacto com a realidade. Não há massa crítica suficiente para perscrutar a bondade de medidas que são tratadas pela rama por uma simplista e simplória comunicação social, e apenas devidamente explicadas (quando o chegam a ser) em local restrito ou obscuro. A plateia não é constituída por quem escolheu assistir, por sua livre vontade, a um workshop da escola de Chicago. Por muito que nos custe aceitá-lo, caro Henrique, o português médio não está «maduro» para perceber que tem de mudar de vida – para «pior», acha ele - e continua piamente convencido de que este regabofe a que chamaram «democracia» - um sistema que, pelos vistos, fomenta desvarios e amplifica fraquezas humanas – precisa de mão firme e orientação paternal (boa parte da «boa» imagem de Sócrates ainda passa por aí). No fundo, Henrique, como eu escrevi há dois anos atrás, Portugal é um país com uma tradição liberal residual. O ADN dos portugueses tem um pendor esquerdista – como escreveu a Helena Matos, o PS constitui, ainda hoje, uma espécie de partido natural de poder – indutor de relações de desconfiança, para não dizer de rejeição, com quem proclama reduções no alcance do bendito e querido Estado Providência (que é pai e senhor, como sabes). É a vida.

3. Pretendo, ou defendo, o quê, então? Fingimento? Cinismo? Repito: tacto. Cabecinha. Massa cinzenta. Trabalho. E um tipo de firmeza e consistência que não rime nem com pusilanimidade, nem com guerrilha politica rasteira, própria de arrivistas (e Pedro Passos Coelho não é um arrivista). Aquilo que ainda aguardamos – o programa eleitoral do PSD – já deveria estar há muito incrustado na opinião pública. Pedro Passos Coelho deveria ter criado, em 2010, um governo sombra que não deixasse na paz dos anjos os ministros e as políticas (sobretudo a falta delas) do senhor engenheiro. Com caras de peso, críticas felinas, propostas objectivas e não titubeantes. Não foi isso que tivemos. Não é isso que temos. O terreno tem sido o ideal para os doutores do spin aproveitarem as fraquezas e amedrontarem as massas (as da Buitoni não são más).

1. Seria bom que os votos dos portugueses permitissem que, juntos, PSD e CDS formassem uma maioria absoluta no parlamento. Significaria o fim dessa sinistra figura política chamada José Sócrates, que enganou, enganou, enganou, enganou e continua a enganar (vide programa eleitoral do PS, uma peça inédita de amnésia e de falta de vergonha). E significaria uma sonora chapada nessa mesquinha, languenta e patética ideia dos «consensos».

2. O Henrique crítica a escola de comentário portuguesa. Estou com ele mas. Entendamo-nos, caro Henrique: a coisa dos «tiros nos pés» é, desgraçadamente, real. E sim, é mesmo verdade: em política, sobretudo na política e no país de hoje (que são os que temos, para já), a imagem, os sinais e a forma contam. É de uma tremenda ingenuidade pensar-se que, numa imberbe democracia de trinta e sete anos, e num país ainda iletrado (esqueçamos as estatísticas do sucesso escolar) e politicamente ignorante (capaz de «engolir» as mais diversas patranhas), o tacto e a prudência possam ser dispensados. O que tem faltado a Pedro Passos Coelho não é cinismo: é tacto político para perceber que país é este e que pessoas (eleitores) são estas. Ainda não é possível ganhar eleições em Portugal proclamando ideias «liberais», de clara emancipação dos cidadãos relativamente ao Estado, quando estas trazem agarradas propostas avulsas, pouco ou mal explicadas, que configuram aquilo a que poderíamos chamar, agora cinicamente, de «perda efectiva de direitos sociais» (um slogan que a esquerda gosta de usar e o português médio respeita) ou quando pura e simplesmente não têm contacto com a realidade. Não há massa crítica suficiente para perscrutar a bondade de medidas que são tratadas pela rama por uma simplista e simplória comunicação social, e apenas devidamente explicadas (quando o chegam a ser) em local restrito ou obscuro. A plateia não é constituída por quem escolheu assistir, por sua livre vontade, a um workshop da escola de Chicago. Por muito que nos custe aceitá-lo, caro Henrique, o português médio não está «maduro» para perceber que tem de mudar de vida – para «pior», acha ele - e continua piamente convencido de que este regabofe a que chamaram «democracia» - um sistema que, pelos vistos, fomenta desvarios e amplifica fraquezas humanas – precisa de mão firme e orientação paternal (boa parte da «boa» imagem de Sócrates ainda passa por aí). No fundo, Henrique, como eu escrevi há dois anos atrás, Portugal é um país com uma tradição liberal residual. O ADN dos portugueses tem um pendor esquerdista – como escreveu a Helena Matos, o PS constitui, ainda hoje, uma espécie de partido natural de poder – indutor de relações de desconfiança, para não dizer de rejeição, com quem proclama reduções no alcance do bendito e querido Estado Providência (que é pai e senhor, como sabes). É a vida.

3. Pretendo, ou defendo, o quê, então? Fingimento? Cinismo? Repito: tacto. Cabecinha. Massa cinzenta. Trabalho. E um tipo de firmeza e consistência que não rime nem com pusilanimidade, nem com guerrilha politica rasteira, própria de arrivistas (e Pedro Passos Coelho não é um arrivista). Aquilo que ainda aguardamos – o programa eleitoral do PSD – já deveria estar há muito incrustado na opinião pública. Pedro Passos Coelho deveria ter criado, em 2010, um governo sombra que não deixasse na paz dos anjos os ministros e as políticas (sobretudo a falta delas) do senhor engenheiro. Com caras de peso, críticas felinas, propostas objectivas e não titubeantes. Não foi isso que tivemos. Não é isso que temos. O terreno tem sido o ideal para os doutores do spin aproveitarem as fraquezas e amedrontarem as massas (as da Buitoni não são más).

marcar artigo