Zero anos, zero meses, zero dias

22-05-2019
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Estava escrito nas estrelas que o afã do PSD e do CDS em exporem as fragilidades crónicas da geringonça viria a ter efeito ricochete. António Costa pode não ser o estadista de que o País precisa, mas, no folhetim em que se transformou a contabilização do tempo de carreira dos professores, demonstrou que é o político que o País merece.

Ávidos por deixarem a nu que é muito menos aquilo que une do que aquilo que separa António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, Rui Rio e Assunção Cristas deram ordens para que as respetivas bancadas aprovassem a recuperação integral de serviço dos docentes e, com isso, o primeiro-ministro atribuiu-lhes a responsabilidade pelo que seria uma “rutura irreparável” nas contas públicas.

A coligação de opostos entre BE e PCP, à esquerda, e PSD e CDS, à direita, foi o pretexto que faltava ao PS para ensaiar o discurso que ainda não ganhara lastro na opinião pública e publicada: de que só os socialistas, na figura de Mário Centeno, têm uma efetiva preocupação com a saúde das finanças nacionais.

Numa altura particularmente delicada no Largo do Rato – perante a profusão de casos de nepotismo no Governo e na Administração Pública, perante os avanços e recuos na Lei de Bases da Saúde e perante a inaptidão do cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu, Pedro Marques -, Rio e Cristas, sem que muito pudessem ganhar, entregaram a Costa a chave de um resultado eleitoral melhor que uma vitória por “poucochinho”, tanto nas europeias como nas legislativas.

Pior: concederam ao primeiro-ministro a oportunidade de aparecer diante das câmaras de televisão com uma receita de moderação, prudência e caldos de galinha que nos poderia ter sido servida por Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar ou Maria Luís Albuquerque. Parece hoje remoto o discurso demagógico de que era viável prometer tudo a todos; a sociedade Costa & Centeno fez da frugalidade gourmet uma forma de eleitoralismo palatável.

Incauta ou impreparada, a direita deixou-se enredar na conversa de que, afinal, mais cedo ou mais tarde, professores e outras classes profissionais do setor público poderiam ser recompensadas, com retroativos, pelos anos de chumbo da troika. E deixou-se contaminar pelo “otimismo irritante” de quem sempre apodaram como financeiramente irresponsável.

PSD e CDS até podem tergiversar, dar o dito por não dito, apontar o dedo à maioria que só se entende às terças, quintas e sábados. Será inútil. Não só não captaram os votos do quintal de Mário Nogueira como acabaram por ser derrotados no seu próprio terreno.

Como notou Maquiavel, n’O Príncipe, a um líder não se pode exigir que seja sempre um leão. Se tiver de se comportar como um animal, deve compreender que a força e a ferocidade que faltam à raposa são proporcionais à astúcia e subtileza que esta possui para evitar as armadilhas.

Rio e Cristas acabaram, pois, a desperdiçar o maior capital que a direita possuía e deixaram orfãos os eleitores que consideram o rigor e a responsabilidade valores maiores na hora de depositarem os seus boletins de voto nas urnas. Os demais funcionários públicos e os trabalhadores do setor privado que pagaram a crise com língua de palmo exigiam-lhes maior respeito pelo princípio da igualdade.

Uma vez que Costa pôs, e bem, o relógio novamente a contar para todos, a cicatrização das feridas abertas pela intervenção externa e o enterro da ideia de que iniquidade entre portugueses veio para ficar implicava que PSD e CDS – por muito impopular que fosse – mostrassem aos professores um cartaz com a seguinte mensagem: zero anos, zero meses, zero dias.

Estava escrito nas estrelas que o afã do PSD e do CDS em exporem as fragilidades crónicas da geringonça viria a ter efeito ricochete. António Costa pode não ser o estadista de que o País precisa, mas, no folhetim em que se transformou a contabilização do tempo de carreira dos professores, demonstrou que é o político que o País merece.

Ávidos por deixarem a nu que é muito menos aquilo que une do que aquilo que separa António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, Rui Rio e Assunção Cristas deram ordens para que as respetivas bancadas aprovassem a recuperação integral de serviço dos docentes e, com isso, o primeiro-ministro atribuiu-lhes a responsabilidade pelo que seria uma “rutura irreparável” nas contas públicas.

A coligação de opostos entre BE e PCP, à esquerda, e PSD e CDS, à direita, foi o pretexto que faltava ao PS para ensaiar o discurso que ainda não ganhara lastro na opinião pública e publicada: de que só os socialistas, na figura de Mário Centeno, têm uma efetiva preocupação com a saúde das finanças nacionais.

Numa altura particularmente delicada no Largo do Rato – perante a profusão de casos de nepotismo no Governo e na Administração Pública, perante os avanços e recuos na Lei de Bases da Saúde e perante a inaptidão do cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu, Pedro Marques -, Rio e Cristas, sem que muito pudessem ganhar, entregaram a Costa a chave de um resultado eleitoral melhor que uma vitória por “poucochinho”, tanto nas europeias como nas legislativas.

Pior: concederam ao primeiro-ministro a oportunidade de aparecer diante das câmaras de televisão com uma receita de moderação, prudência e caldos de galinha que nos poderia ter sido servida por Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar ou Maria Luís Albuquerque. Parece hoje remoto o discurso demagógico de que era viável prometer tudo a todos; a sociedade Costa & Centeno fez da frugalidade gourmet uma forma de eleitoralismo palatável.

Incauta ou impreparada, a direita deixou-se enredar na conversa de que, afinal, mais cedo ou mais tarde, professores e outras classes profissionais do setor público poderiam ser recompensadas, com retroativos, pelos anos de chumbo da troika. E deixou-se contaminar pelo “otimismo irritante” de quem sempre apodaram como financeiramente irresponsável.

PSD e CDS até podem tergiversar, dar o dito por não dito, apontar o dedo à maioria que só se entende às terças, quintas e sábados. Será inútil. Não só não captaram os votos do quintal de Mário Nogueira como acabaram por ser derrotados no seu próprio terreno.

Como notou Maquiavel, n’O Príncipe, a um líder não se pode exigir que seja sempre um leão. Se tiver de se comportar como um animal, deve compreender que a força e a ferocidade que faltam à raposa são proporcionais à astúcia e subtileza que esta possui para evitar as armadilhas.

Rio e Cristas acabaram, pois, a desperdiçar o maior capital que a direita possuía e deixaram orfãos os eleitores que consideram o rigor e a responsabilidade valores maiores na hora de depositarem os seus boletins de voto nas urnas. Os demais funcionários públicos e os trabalhadores do setor privado que pagaram a crise com língua de palmo exigiam-lhes maior respeito pelo princípio da igualdade.

Uma vez que Costa pôs, e bem, o relógio novamente a contar para todos, a cicatrização das feridas abertas pela intervenção externa e o enterro da ideia de que iniquidade entre portugueses veio para ficar implicava que PSD e CDS – por muito impopular que fosse – mostrassem aos professores um cartaz com a seguinte mensagem: zero anos, zero meses, zero dias.

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