Leitura dominical

22-05-2019
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Leitura dominical

On Março 5, 2012 Por ruicarmoIn Media

O caso Krugman, por Alberto Gonçalves no DN.
A cada dia, nos vários cantos da Terra, milhares de economistas distribuem palpites sobre a bancarrota de alguns países europeus, entre os quais Portugal. Os portugueses, ou pelo menos os portugueses que militam no PS e no Bloco, só prestam atenção aos palpites de um economista: o americano Paul Krugman. Porquê? Mistério.
É verdade que o sr. Krugman foi Nobel da Economia, mas nem o prémio é prova inquestionável de sensatez nem deixa de distinguir sujeitos com concepções bastante díspares. É verdade que o sr. Krugman se define como um discípulo de Keynes, mas, por incrível que pareça, “keynesianos” há às resmas, e a tese de que a economia depende de “investimentos” estatais para avançar já conheceu melhores dias, quase todos antes de os “investimentos” espatifarem diversas economias. É verdade que inúmeros especialistas consideram o sr. Krugman um génio, mas qualquer leigo percebe que a sua genialidade não dispensa uma dose considerável de banalidades e contradições. É verdade que o sr. Krugman é um convicto defensor do Estado dito “social”, mas essa crença mostra-se de escassa utilidade numa crise que, em larga medida, é a crise do próprio Estado dito “social”. É verdade que o sr. Krugman tem sido um simpatizante crítico da administração Obama, mas por azar tende na maioria das vezes a simpatizar com os erros da administração e a criticar os raros acertos. É verdade que o sr. Krugman chegou a trabalhar no Banco de Portugal, mas um estágio de três meses em 1976 não habilita ninguém a conduzir a nação através de uma coluna no New York Times. É verdade que o eng. Sócrates chegou a citar favoravelmente o sr. Krugman, mas a realidade devia levar a que fugíssemos apavorados das referências do ex-primeiro-ministro, não a que as homenageássemos com três doutoramentos de três universidades públicas lisboetas conforme aconteceu esta semana.
Em carne, osso e aura, o sr. Krugman veio a Lisboa recolher a vassalagem. Após recomendar que os salários dos indígenas caíssem 30% face à Alemanha (o que é curioso para um icónico adversário da austeridade), almoçar com Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar (o que é bizarro para um líder, mesmo que remoto, da oposição) e elogiar as políticas do Governo (o que é inaudito para quem, grosso modo, sempre prescreveu políticas opostas), o sr. Krugman admitiu que Portugal é um país “difícil de explicar”. Se ele não consegue, imagine-se nós.

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On Março 5, 2012 Por ruicarmoIn Media

O caso Krugman, por Alberto Gonçalves no DN.
A cada dia, nos vários cantos da Terra, milhares de economistas distribuem palpites sobre a bancarrota de alguns países europeus, entre os quais Portugal. Os portugueses, ou pelo menos os portugueses que militam no PS e no Bloco, só prestam atenção aos palpites de um economista: o americano Paul Krugman. Porquê? Mistério.
É verdade que o sr. Krugman foi Nobel da Economia, mas nem o prémio é prova inquestionável de sensatez nem deixa de distinguir sujeitos com concepções bastante díspares. É verdade que o sr. Krugman se define como um discípulo de Keynes, mas, por incrível que pareça, “keynesianos” há às resmas, e a tese de que a economia depende de “investimentos” estatais para avançar já conheceu melhores dias, quase todos antes de os “investimentos” espatifarem diversas economias. É verdade que inúmeros especialistas consideram o sr. Krugman um génio, mas qualquer leigo percebe que a sua genialidade não dispensa uma dose considerável de banalidades e contradições. É verdade que o sr. Krugman é um convicto defensor do Estado dito “social”, mas essa crença mostra-se de escassa utilidade numa crise que, em larga medida, é a crise do próprio Estado dito “social”. É verdade que o sr. Krugman tem sido um simpatizante crítico da administração Obama, mas por azar tende na maioria das vezes a simpatizar com os erros da administração e a criticar os raros acertos. É verdade que o sr. Krugman chegou a trabalhar no Banco de Portugal, mas um estágio de três meses em 1976 não habilita ninguém a conduzir a nação através de uma coluna no New York Times. É verdade que o eng. Sócrates chegou a citar favoravelmente o sr. Krugman, mas a realidade devia levar a que fugíssemos apavorados das referências do ex-primeiro-ministro, não a que as homenageássemos com três doutoramentos de três universidades públicas lisboetas conforme aconteceu esta semana.
Em carne, osso e aura, o sr. Krugman veio a Lisboa recolher a vassalagem. Após recomendar que os salários dos indígenas caíssem 30% face à Alemanha (o que é curioso para um icónico adversário da austeridade), almoçar com Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar (o que é bizarro para um líder, mesmo que remoto, da oposição) e elogiar as políticas do Governo (o que é inaudito para quem, grosso modo, sempre prescreveu políticas opostas), o sr. Krugman admitiu que Portugal é um país “difícil de explicar”. Se ele não consegue, imagine-se nós.

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