A festa surpresa de Passos Coelho

15-10-2019
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Que os mais críticos de Passos Coelho não passariam pelo Coliseu dos Recreios já se sabia. A única vaga ameaça seria Rui Rio e este sabe da poda e espera pela sua hora Previa-se, assim, um congresso sem história. E a vitória esmagadora de Passos valeria exatamente o mesmo que a vitória esmagadora de Sócrates nas vésperas de perder eleições legislativas: nada. Seria apenas a demonstração de que, em Portugal, infelizmente, os partidos com vocação de poder não têm grande vocação para o debate interno.

Mas o fútil jogo em torno das eleições Presidenciais acabou por oferecer a Passos Coelho um bom fim de semana, quase fazendo esquercer o balde de água fria que veio com a 10ª avaliação do FMI. Descartado que estava o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes preparava-se para brilhar sozinho em mais um festival de banalidades no palco do Coliseu (é um mistério que alguém que se dedica há tantos anos à vida política mantenha um tão evidente desinteresse intelectual pela política propriamente dita). Santana seria o assunto de sábado à noite. E os "barrosistas" estavam colocados para preparar o regresso do seu homem à corrida a Belém. Mas Marcelo não brinca em serviço. Numa conversa coloquial, fez o seu show no Coliseu. Não terá servindo de grande coisa mas Marcelo teve um fim de semana animado e isso é que é importante. Apareceu, anulou com o seu discurso a tonta referência a "cataventos" na moção de Passos Coelho e, crime imperdoável, estragou o momento de Santana, que, a altas horas da noite, andou às voltas a tentar encontrar a frase que levantasse os congressistas das cadeiras. Acabando, no fim, por se contentar com um fácil ataque a Pacheco Pereira e António Capucho, recurso de um desesperado para ganhar uma plateia perdida.

Marcelo voltou a uma corrida que apenas entretém os envolvidos e os jornalistas. Mas involuntariamente acabou por ter uma enorme utilidade para Passos Coelho. No ano do 40º aniversário do partido, os ex-presidentes atropelaram-se na primeira fila e houve até quem esperasse que Sá Carneiro regressasse ao reino dos vivos para vir "dar um abraço ao Pedro". E a festa surpresa, em que, como explicou o inconsolável Santana, apareceu quem se julgava que faltaria, animou as hostes. O PSD, a léguas das angústias nacionais e para êxtase do nicho mediático em que esta política se move, celebrava-se a si próprio. Com a ausência dos críticos e de Rui Rio. Rio, Pacheco e Ferreira Leite, sem lá estarem, nunca pareceram tão desoladoramente isolados.

O que aconteceu este fim de semana não tem importância nenhuma para o país. É apenas espetáculo sem qualquer consequência prática. Miguel Relvas lá regressou em espírito, sendo eleito à revelia e mostrando que o líder só se livra dele quando ele quiser. Santana Lopes lá falou da sensibilidade social de Passos Coelho, um dos segredos mais bem escondidos da política nacional. Fernando Costa lá fez o seu número cómico, provocando, com declarações de amor ao seu aliado em Loures, o enxovalho público (neste caso específico, merecido) de Bernardino Soares. Luís Filipe Menezes lá assumiu todas as responsabilidades pela sua derrota no Porto para depois responsabilizar todos os outros. Paulo Rangel lá se indignou com o facto do PS ainda não ter anunciado o seu candidato às Europeias quando o PSD já o tinha anunciado a ale há dez minutos - Seguro, sempre empenhado nas disputas mais inúteis, veio a correr anunciar, sem pompa nem circunstância, Francisco Assis, que nem os próprios envolvidos conseguirão, no debate sobre a Europa, distinguir de Rangel. Passos Coelho lá apelou, pela enésima vez, a entendimentos com o PS, para que os credores tenham mesmo certeza de que as eleições são uma mera formalidade. A ausência de alternativa, numa grande união nacional, seria "a melhor prenda no 25 de abril". E todos lá repetiram que o País está melhor, mesmo que os portugueses estejam pior. Mas, mostrando que o PSD é igual aos outros partidos, nada excitou mais a plateia do que o tiro ao Pacheco. E as únicas intervenções dignas de debate político - as de Nuno Morais Sarmento e de Jorge Moreira da Silva -, não aqueceram nem arrefeceram a sala. Pareciam dois nerds numa festa de finalistas.

No meio de tanta irrelevância, apenas sobra uma evidência: não será, nunca foi, nem de dentro do PSD nem do resto da direita, que virá a alternativa a Pedro Passos Coelho. Nem Pacheco Pereira, nem Manuela Ferreira Leite, nem Rui Rio fazem qualquer diferença. Em líder que distribui lugares não se mexe. Quem não gosta, espera pela sua vez. Quando também tiver lugares para distribuir.

Que os mais críticos de Passos Coelho não passariam pelo Coliseu dos Recreios já se sabia. A única vaga ameaça seria Rui Rio e este sabe da poda e espera pela sua hora Previa-se, assim, um congresso sem história. E a vitória esmagadora de Passos valeria exatamente o mesmo que a vitória esmagadora de Sócrates nas vésperas de perder eleições legislativas: nada. Seria apenas a demonstração de que, em Portugal, infelizmente, os partidos com vocação de poder não têm grande vocação para o debate interno.

Mas o fútil jogo em torno das eleições Presidenciais acabou por oferecer a Passos Coelho um bom fim de semana, quase fazendo esquercer o balde de água fria que veio com a 10ª avaliação do FMI. Descartado que estava o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes preparava-se para brilhar sozinho em mais um festival de banalidades no palco do Coliseu (é um mistério que alguém que se dedica há tantos anos à vida política mantenha um tão evidente desinteresse intelectual pela política propriamente dita). Santana seria o assunto de sábado à noite. E os "barrosistas" estavam colocados para preparar o regresso do seu homem à corrida a Belém. Mas Marcelo não brinca em serviço. Numa conversa coloquial, fez o seu show no Coliseu. Não terá servindo de grande coisa mas Marcelo teve um fim de semana animado e isso é que é importante. Apareceu, anulou com o seu discurso a tonta referência a "cataventos" na moção de Passos Coelho e, crime imperdoável, estragou o momento de Santana, que, a altas horas da noite, andou às voltas a tentar encontrar a frase que levantasse os congressistas das cadeiras. Acabando, no fim, por se contentar com um fácil ataque a Pacheco Pereira e António Capucho, recurso de um desesperado para ganhar uma plateia perdida.

Marcelo voltou a uma corrida que apenas entretém os envolvidos e os jornalistas. Mas involuntariamente acabou por ter uma enorme utilidade para Passos Coelho. No ano do 40º aniversário do partido, os ex-presidentes atropelaram-se na primeira fila e houve até quem esperasse que Sá Carneiro regressasse ao reino dos vivos para vir "dar um abraço ao Pedro". E a festa surpresa, em que, como explicou o inconsolável Santana, apareceu quem se julgava que faltaria, animou as hostes. O PSD, a léguas das angústias nacionais e para êxtase do nicho mediático em que esta política se move, celebrava-se a si próprio. Com a ausência dos críticos e de Rui Rio. Rio, Pacheco e Ferreira Leite, sem lá estarem, nunca pareceram tão desoladoramente isolados.

O que aconteceu este fim de semana não tem importância nenhuma para o país. É apenas espetáculo sem qualquer consequência prática. Miguel Relvas lá regressou em espírito, sendo eleito à revelia e mostrando que o líder só se livra dele quando ele quiser. Santana Lopes lá falou da sensibilidade social de Passos Coelho, um dos segredos mais bem escondidos da política nacional. Fernando Costa lá fez o seu número cómico, provocando, com declarações de amor ao seu aliado em Loures, o enxovalho público (neste caso específico, merecido) de Bernardino Soares. Luís Filipe Menezes lá assumiu todas as responsabilidades pela sua derrota no Porto para depois responsabilizar todos os outros. Paulo Rangel lá se indignou com o facto do PS ainda não ter anunciado o seu candidato às Europeias quando o PSD já o tinha anunciado a ale há dez minutos - Seguro, sempre empenhado nas disputas mais inúteis, veio a correr anunciar, sem pompa nem circunstância, Francisco Assis, que nem os próprios envolvidos conseguirão, no debate sobre a Europa, distinguir de Rangel. Passos Coelho lá apelou, pela enésima vez, a entendimentos com o PS, para que os credores tenham mesmo certeza de que as eleições são uma mera formalidade. A ausência de alternativa, numa grande união nacional, seria "a melhor prenda no 25 de abril". E todos lá repetiram que o País está melhor, mesmo que os portugueses estejam pior. Mas, mostrando que o PSD é igual aos outros partidos, nada excitou mais a plateia do que o tiro ao Pacheco. E as únicas intervenções dignas de debate político - as de Nuno Morais Sarmento e de Jorge Moreira da Silva -, não aqueceram nem arrefeceram a sala. Pareciam dois nerds numa festa de finalistas.

No meio de tanta irrelevância, apenas sobra uma evidência: não será, nunca foi, nem de dentro do PSD nem do resto da direita, que virá a alternativa a Pedro Passos Coelho. Nem Pacheco Pereira, nem Manuela Ferreira Leite, nem Rui Rio fazem qualquer diferença. Em líder que distribui lugares não se mexe. Quem não gosta, espera pela sua vez. Quando também tiver lugares para distribuir.

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