Ladrões de Bicicletas: A culpa dos juros é toda da geringonça. Mas só às vezes.

22-05-2019
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Para sabermos se as taxas de juro da dívida pública portuguesa estão a subir ou descer não precisamos de seguir as informações financeiras - basta consultar as redes sociais. Se os juros estiverem a subir, não faltarão alarmes sobre os impactos devastadores que o governo apoiado pelas esquerdas está a ter no país. Se estiverem a descer, os mesmos observadores atentos e preocupados tiram férias das redes sociais.

O Fabian Figueiredo procurou ir além do habitual maniqueísmo, escrevendo um texto no esquerda.net intitulado "Porque subiram os juros da dívida pública portuguesa?". A pergunta foi colocada a seis economistas (de esquerda, claro está), quatro deles autores deste blog. Ficam abaixo as respostas que dei às quatro questões colocadas.

1. Porque sobem os juros da dívida pública portuguesa?

A evolução dos juros de títulos negociados nos mercados financeiros é sempre determinada por um conjunto de factores objectivos e subjectivos, uns deles de carácter geral outros de natureza idiossincrática. Logo, raramente conseguimos atribuir de forma inequívoca a variação dos juros a este ou aquele factor. A subida dos juros da dívida portuguesa desde final de 2015 parece estar associada a quatro factores principais: i) o crescente reconhecimento da fragilidade do sistema bancário português, ii) a entrada em vigor das regras da União Bancária da UE (que criam riscos acrescidos para os investidores privados), iii) as dúvidas sobre o empenho das autoridades da UE, em particular do BCE, para evitar uma nova escalada de juros em Portugal e, mais recentemente, iv) as perspectivas de um aumento das taxas de juro nos EUA (que afasta os investidores privados dos mercados de dívida europeus).

2. A que se deve a disparidade dos valores dos juros em relação a Espanha e/ou Irlanda?

Há três factores principais: i) as economia irlandesa e espanhola são estruturalmente menos frágeis do que a portuguesa, ii) os "programas de ajustamento" a que foram sujeitos tiveram como preocupação central o saneamento do sistema bancário nacional (o que não se verificou em Portugal) e iii) sempre que há instabilidade nos mercados financeiros, os elos mais fracos são sempre os primeiros a sentir o efeito de movimentos de cariz especulativo.

3. A subida dos juros deve-se ao facto de em Portugal o governo ser suportado pelo Bloco de Esquerda e PCP?

A base de apoio parlamentar do governo pode ter influenciado a evolução dos juros numa fase inicial por duas vias: i) a hostilidade com que foi recebida pela Comissão Europeia e ii) a dificuldade que alguns analistas externos tiveram em perceber a natureza e o alcance dos acordos estabelecidos. Em qualquer caso, não creio que este factor seja essencial para compreender a evolução dos juros sobre a dívida pública portuguesa no último ano e meio.

4. A nacionalização do Novo Banco pode influenciar os juros da dívida pública?

Tendo em conta a relevância do Novo Banco no sistema bancário português e os potenciais impactos da solução encontrada nas contas públicas, este processo pode sempre influenciar os juros da dívida. Isto é verdade qualquer que seja a solução encontrada - venda, resolução ou nacionalização. Os impactos podem ser minimizados se a solução encontrada for devidamente justificada e comunicada.


Para sabermos se as taxas de juro da dívida pública portuguesa estão a subir ou descer não precisamos de seguir as informações financeiras - basta consultar as redes sociais. Se os juros estiverem a subir, não faltarão alarmes sobre os impactos devastadores que o governo apoiado pelas esquerdas está a ter no país. Se estiverem a descer, os mesmos observadores atentos e preocupados tiram férias das redes sociais.

O Fabian Figueiredo procurou ir além do habitual maniqueísmo, escrevendo um texto no esquerda.net intitulado "Porque subiram os juros da dívida pública portuguesa?". A pergunta foi colocada a seis economistas (de esquerda, claro está), quatro deles autores deste blog. Ficam abaixo as respostas que dei às quatro questões colocadas.

1. Porque sobem os juros da dívida pública portuguesa?

A evolução dos juros de títulos negociados nos mercados financeiros é sempre determinada por um conjunto de factores objectivos e subjectivos, uns deles de carácter geral outros de natureza idiossincrática. Logo, raramente conseguimos atribuir de forma inequívoca a variação dos juros a este ou aquele factor. A subida dos juros da dívida portuguesa desde final de 2015 parece estar associada a quatro factores principais: i) o crescente reconhecimento da fragilidade do sistema bancário português, ii) a entrada em vigor das regras da União Bancária da UE (que criam riscos acrescidos para os investidores privados), iii) as dúvidas sobre o empenho das autoridades da UE, em particular do BCE, para evitar uma nova escalada de juros em Portugal e, mais recentemente, iv) as perspectivas de um aumento das taxas de juro nos EUA (que afasta os investidores privados dos mercados de dívida europeus).

2. A que se deve a disparidade dos valores dos juros em relação a Espanha e/ou Irlanda?

Há três factores principais: i) as economia irlandesa e espanhola são estruturalmente menos frágeis do que a portuguesa, ii) os "programas de ajustamento" a que foram sujeitos tiveram como preocupação central o saneamento do sistema bancário nacional (o que não se verificou em Portugal) e iii) sempre que há instabilidade nos mercados financeiros, os elos mais fracos são sempre os primeiros a sentir o efeito de movimentos de cariz especulativo.

3. A subida dos juros deve-se ao facto de em Portugal o governo ser suportado pelo Bloco de Esquerda e PCP?

A base de apoio parlamentar do governo pode ter influenciado a evolução dos juros numa fase inicial por duas vias: i) a hostilidade com que foi recebida pela Comissão Europeia e ii) a dificuldade que alguns analistas externos tiveram em perceber a natureza e o alcance dos acordos estabelecidos. Em qualquer caso, não creio que este factor seja essencial para compreender a evolução dos juros sobre a dívida pública portuguesa no último ano e meio.

4. A nacionalização do Novo Banco pode influenciar os juros da dívida pública?

Tendo em conta a relevância do Novo Banco no sistema bancário português e os potenciais impactos da solução encontrada nas contas públicas, este processo pode sempre influenciar os juros da dívida. Isto é verdade qualquer que seja a solução encontrada - venda, resolução ou nacionalização. Os impactos podem ser minimizados se a solução encontrada for devidamente justificada e comunicada.

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