Quatro possíveis sucessores de Costa: a geração de 70 posiciona-se no PS

15-07-2019
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Até esta segunda-feira, Pedro Nuno Santos tinha ambições políticas acima das possibilidades que lhe permitia o estatuto de secretário de Estado. É certo que Pedro Nuno (como todos o tratam no partido) era um secretário de Estado especial, praticamente ministro e, na realidade, com mais poder do que muitos ministros - não só tinha assento no Conselho de Ministros, como foi o pivô das negociações que garantiram, desde 2015, as maiorias necessárias para que o PS governasse sem sobressaltos com o apoio de BE, PCP e PEV. Mas… continuava secretário de Estado. A partir desta segunda-feira, o socialista que até agora mais se chegou à frente para se posicionar com vista à futura liderança do PS tem cargo à altura dessa ambição. É ministro. Mas, apesar de estar na pole position, não é o único a fazer cálculos para o pós-Costa. Aliás, o próprio Costa tratou de dispôr todos os seus eventuais sucessores em lugares de destaque - e, cada um à sua medida, em posições de liderança, para que mostrem ao país e ao partido o que valem. Três economistas e uma jurista, três quadros formados na Juventude Socialista e um no associativismo académico, que têm em comum serem da geração de 70.

TIAGO MIRANDA

Foi o primeiro a quem António Costa deu o palco grande: o atual líder do PS surpreendeu tudo e todos (incluindo o próprio Medina) quando o convidou para seu número dois na Câmara de Lisboa. Era um convite com o futuro escrito nas estrelas - mais cedo ou mais tarde, Costa haveria de lhe passar a responsabilidade de conduzir os destinos da principal autarquia do país. Não é coisa pouca: como se não bastasse o valor facial de liderar a câmara da capital, é bom lembrar que Lisboa foi o trampolim que levou ao poder dois primeiros-ministros (Costa e, antes dele, Pedro Santana Lopes) e um Presidente da República (Jorge Sampaio).

Se olharmos só para a história da Câmara de Lisboa na história do PS, tanto Sampaio como Costa tiveram aí provas de fogo - Sampaio, para consolidar o poder como secretário-geral, e Costa para o conquistar. É esse o passado que Fernando Medina tem pela frente. Sem pressas: o portuense que dirige Lisboa aprendeu com os pais, históricos militantes comunistas, o valor da paciência em política. Nunca deu qualquer passo no sentido de se posicionar para a liderança, mas vai acumulando capital. Por outro lado, sabe que não tem consigo o aparelho socialista - esse é o pelouro de Ana Catarina, e o terreno que Pedro Nuno anda a trabalhar há anos. Medina corre por fora, em pista própria, com os holofotes da Praça do Município e o papel de liderança regional que tem consolidado em Lisboa, plano no qual os novos tarifários dos passes sociais foram a sua maior vitória. Em simultâneo, faz opinião nos jornais, na rádio e na televisão… para trabalhar a notoriedade a nível nacional. É, dos quatro do pelotão da frente, o único que não fez a escola da JS - a sua escola de intervenção pública foi o associativismo estudantil e juvenil, até que António Guterres, com os seus Estados Gerais, o chamou para a política. Foi assessor do primeiro-ministro e, em 2005, chegou a governante, como secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, com o ministro Vieira da Silva. Teve várias responsabilidades no Governo Sócrates, nas áreas do Emprego e Segurança Social, mas nunca chegou a ministro - nem lhe fez falta. Quando fazia no Parlamento uma espécie de travessia do deserto, Costa deu-lhe a oportunidade de Lisboa.

Alberto Frias

Foi quase líder da Juventude Socialista em 2000, numa eleição dramática que perdeu para Jamila Madeira… por um voto. Eram ambas deputadas, ambas disputavam a sucessão de Sérgio Sousa Pinto, e cada uma representava os lados de um confronto que daria que falar bastantes anos mais tarde: Ana Catarina contava com o apoio de António Costa; Jamila tinha do seu lado António José Seguro. Passados tantos anos, a derrota de Ana Catarina Mendes provou ter bastante mais futuro do que a vitória de Jamila Madeira. Continuam ambas deputadas, mas a primeira domina o aparelho partidário, puxada para número dois de António Costa, com o cargo de secretária-geral-adjunta do PS. A aposta do secretário-geral nesta advogada setubalense vem, como se viu, do final dos anos 90, e foi reiterada em 2014, quando Costa lhe entregou a direção da sua campanha interna, nas primárias contra Seguro (Ana Catarina já havia dirigido em 2011 a campanha interna de Francisco Assis, também contra Seguro).

Estando o PS no poder, é ela, na prática, a líder do partido em full-time. Tem fama de ser incansável nos bastidores da máquina socialista, mas isso ainda não lhe valeu grande notoriedade ou popularidade no país. E, na verdade, poucas vezes na história do PS o “homem do aparelho” (neste caso, a mulher) conseguiu capitalizar fora do partido o poder que tinha dentro. Na verdade, só uma vez isso aconteceu: António Guterres lançou o seu projeto de poder como secretário nacional para a organização do PS, e subiu todos os degraus até líder o partido e do Governo. Mais nenhum socialista lhe imitou o percurso. Mas a história de Ana Catarina tem sido, até agora, bastante sui generis…

José Caria

Deste quarteto que se perfila para o futuro do PS, foi o primeiro a chegar a ministro. Em 2005, António Costa colocou-o nesse patamar, quando Pedro Marques tinha apenas 39 anos. E com uma pasta de peso, que costuma ser bastante apetecível - afinal, que governo não gosta de obras públicas e de inaugurações? Mas Pedro Marques não só teve poucas fitas para cortar, como dirigiu o Planeamento e Infraestruturas numa das mais difíceis negociações de fundos estruturais com a Comissão Europeia (e com resultados que podem ser bastante sofríveis) como num dos momentos de piores notícias sobre a rede nacional de ferrovia. Em contrapartida, passou os últimos meses numa girândola de anúncios e promessas de obras públicas, o que permitiu à oposição colar-lhe os rótulos de ministro da propaganda ou do “comboio fantasma”. Com um perfil essencialmente técnico, revelou-se pela mão de Vieira da Silva, de quem foi secretário de Estado ao mesmo tempo de Fernando Medina, no primeiro Governo Sócrates. Teve passagens pelo Parlamento, onde não deixou uma enorme imagem de tribuno, e chegou a dar o passo para abandonar a política quando, em 2014, renunciou ao cargo de deputado para se dedicar à consultoria privada. Costa, de quem tinha sido apoiante nas diretas, foi buscá-lo para a primeira linha do Governo, e Pedro Marques lidera agora a candidatura socialista a outro parlamento, em Bruxelas, na expectativa de vir a ser comissário europeu. As campanhas eleitorais não lhe são estranhas - fez a primeira em 1997, com 21 anos, como candidato do PS à junta de Afonsoeiro, a freguesia onde nasceu, no Montijo. Depois, foi candidato e vereador das finanças no seu concelho. Daí à política nacional foi um passo - teve uma primeira experiência como adjunto do ministro da Segurança Social, Paulo Pedroso, e chegou a governante em 2005. A distância e os cargos no estrangeiro costumam puxar o brilho ao currículo. Mas, antes disso, Marques terá de vencer as eleições europeias, de preferência com um resultado que não seja “poucochinho” e possa alavancar o PS para as legislativas.

António Pedro Ferreira

Até esta segunda-feira, Pedro Nuno Santos tinha ambições políticas acima das possibilidades que lhe permitia o estatuto de secretário de Estado. É certo que Pedro Nuno (como todos o tratam no partido) era um secretário de Estado especial, praticamente ministro e, na realidade, com mais poder do que muitos ministros - não só tinha assento no Conselho de Ministros, como foi o pivô das negociações que garantiram, desde 2015, as maiorias necessárias para que o PS governasse sem sobressaltos com o apoio de BE, PCP e PEV. Mas… continuava secretário de Estado. A partir desta segunda-feira, o socialista que até agora mais se chegou à frente para se posicionar com vista à futura liderança do PS tem cargo à altura dessa ambição. É ministro. Mas, apesar de estar na pole position, não é o único a fazer cálculos para o pós-Costa. Aliás, o próprio Costa tratou de dispôr todos os seus eventuais sucessores em lugares de destaque - e, cada um à sua medida, em posições de liderança, para que mostrem ao país e ao partido o que valem. Três economistas e uma jurista, três quadros formados na Juventude Socialista e um no associativismo académico, que têm em comum serem da geração de 70.

TIAGO MIRANDA

Foi o primeiro a quem António Costa deu o palco grande: o atual líder do PS surpreendeu tudo e todos (incluindo o próprio Medina) quando o convidou para seu número dois na Câmara de Lisboa. Era um convite com o futuro escrito nas estrelas - mais cedo ou mais tarde, Costa haveria de lhe passar a responsabilidade de conduzir os destinos da principal autarquia do país. Não é coisa pouca: como se não bastasse o valor facial de liderar a câmara da capital, é bom lembrar que Lisboa foi o trampolim que levou ao poder dois primeiros-ministros (Costa e, antes dele, Pedro Santana Lopes) e um Presidente da República (Jorge Sampaio).

Se olharmos só para a história da Câmara de Lisboa na história do PS, tanto Sampaio como Costa tiveram aí provas de fogo - Sampaio, para consolidar o poder como secretário-geral, e Costa para o conquistar. É esse o passado que Fernando Medina tem pela frente. Sem pressas: o portuense que dirige Lisboa aprendeu com os pais, históricos militantes comunistas, o valor da paciência em política. Nunca deu qualquer passo no sentido de se posicionar para a liderança, mas vai acumulando capital. Por outro lado, sabe que não tem consigo o aparelho socialista - esse é o pelouro de Ana Catarina, e o terreno que Pedro Nuno anda a trabalhar há anos. Medina corre por fora, em pista própria, com os holofotes da Praça do Município e o papel de liderança regional que tem consolidado em Lisboa, plano no qual os novos tarifários dos passes sociais foram a sua maior vitória. Em simultâneo, faz opinião nos jornais, na rádio e na televisão… para trabalhar a notoriedade a nível nacional. É, dos quatro do pelotão da frente, o único que não fez a escola da JS - a sua escola de intervenção pública foi o associativismo estudantil e juvenil, até que António Guterres, com os seus Estados Gerais, o chamou para a política. Foi assessor do primeiro-ministro e, em 2005, chegou a governante, como secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, com o ministro Vieira da Silva. Teve várias responsabilidades no Governo Sócrates, nas áreas do Emprego e Segurança Social, mas nunca chegou a ministro - nem lhe fez falta. Quando fazia no Parlamento uma espécie de travessia do deserto, Costa deu-lhe a oportunidade de Lisboa.

Alberto Frias

Foi quase líder da Juventude Socialista em 2000, numa eleição dramática que perdeu para Jamila Madeira… por um voto. Eram ambas deputadas, ambas disputavam a sucessão de Sérgio Sousa Pinto, e cada uma representava os lados de um confronto que daria que falar bastantes anos mais tarde: Ana Catarina contava com o apoio de António Costa; Jamila tinha do seu lado António José Seguro. Passados tantos anos, a derrota de Ana Catarina Mendes provou ter bastante mais futuro do que a vitória de Jamila Madeira. Continuam ambas deputadas, mas a primeira domina o aparelho partidário, puxada para número dois de António Costa, com o cargo de secretária-geral-adjunta do PS. A aposta do secretário-geral nesta advogada setubalense vem, como se viu, do final dos anos 90, e foi reiterada em 2014, quando Costa lhe entregou a direção da sua campanha interna, nas primárias contra Seguro (Ana Catarina já havia dirigido em 2011 a campanha interna de Francisco Assis, também contra Seguro).

Estando o PS no poder, é ela, na prática, a líder do partido em full-time. Tem fama de ser incansável nos bastidores da máquina socialista, mas isso ainda não lhe valeu grande notoriedade ou popularidade no país. E, na verdade, poucas vezes na história do PS o “homem do aparelho” (neste caso, a mulher) conseguiu capitalizar fora do partido o poder que tinha dentro. Na verdade, só uma vez isso aconteceu: António Guterres lançou o seu projeto de poder como secretário nacional para a organização do PS, e subiu todos os degraus até líder o partido e do Governo. Mais nenhum socialista lhe imitou o percurso. Mas a história de Ana Catarina tem sido, até agora, bastante sui generis…

José Caria

Deste quarteto que se perfila para o futuro do PS, foi o primeiro a chegar a ministro. Em 2005, António Costa colocou-o nesse patamar, quando Pedro Marques tinha apenas 39 anos. E com uma pasta de peso, que costuma ser bastante apetecível - afinal, que governo não gosta de obras públicas e de inaugurações? Mas Pedro Marques não só teve poucas fitas para cortar, como dirigiu o Planeamento e Infraestruturas numa das mais difíceis negociações de fundos estruturais com a Comissão Europeia (e com resultados que podem ser bastante sofríveis) como num dos momentos de piores notícias sobre a rede nacional de ferrovia. Em contrapartida, passou os últimos meses numa girândola de anúncios e promessas de obras públicas, o que permitiu à oposição colar-lhe os rótulos de ministro da propaganda ou do “comboio fantasma”. Com um perfil essencialmente técnico, revelou-se pela mão de Vieira da Silva, de quem foi secretário de Estado ao mesmo tempo de Fernando Medina, no primeiro Governo Sócrates. Teve passagens pelo Parlamento, onde não deixou uma enorme imagem de tribuno, e chegou a dar o passo para abandonar a política quando, em 2014, renunciou ao cargo de deputado para se dedicar à consultoria privada. Costa, de quem tinha sido apoiante nas diretas, foi buscá-lo para a primeira linha do Governo, e Pedro Marques lidera agora a candidatura socialista a outro parlamento, em Bruxelas, na expectativa de vir a ser comissário europeu. As campanhas eleitorais não lhe são estranhas - fez a primeira em 1997, com 21 anos, como candidato do PS à junta de Afonsoeiro, a freguesia onde nasceu, no Montijo. Depois, foi candidato e vereador das finanças no seu concelho. Daí à política nacional foi um passo - teve uma primeira experiência como adjunto do ministro da Segurança Social, Paulo Pedroso, e chegou a governante em 2005. A distância e os cargos no estrangeiro costumam puxar o brilho ao currículo. Mas, antes disso, Marques terá de vencer as eleições europeias, de preferência com um resultado que não seja “poucochinho” e possa alavancar o PS para as legislativas.

António Pedro Ferreira

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