Ladrões de Bicicletas: Demagogia e desinformação sem limites

22-05-2019
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«Não entrámos na bancarrota em 2011 porque houve uma Europa Solidária, uma Europa composta de muitos países, muitos deles mais pobres do que Portugal. Com subsídios de desemprego que valem muito menos que os nossos; com um PIB per capita, com uma riqueza por cada cidadão, muito menor do que nós temos; com um Estado Social menos avançado do que o nosso - onde não há saúde para todos. Foram muitos desses países que nos ajudaram a vencer as dificuldades.»

(Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, na Festa do Pontal)

A propósito deste excerto do discurso do primeiro-ministro na rentrée laranja, vale a pena ler na íntegra o artigo de Pedro Adão e Silva no Expresso de ontem (e que o Câmara Corporativa disponibiliza aqui). Aí se assinala, muito oportunamente, que:

a) No que concerne à Europa (excluindo portanto a contribuição do FMI), o resgate português foi financiado por dois mecanismos, o MEEF e o FEEF. O primeiro «assenta em fundos dos mercados financeiros garantidos pela Comissão, com o orçamento comunitário como colateral». O segundo mecanismo é assegurado pelos dezoito países membros da zona euro. O que significa, portanto, que «a solidariedade europeia é parcialmente assente numa garantia dada pelo orçamento da União, que tem como contribuintes líquidos doze estados-membros» (entre os quais a Dinamarca e a Suécia, que não pertencem ao euro). Isto é, Portugal beneficiou de um suporte financeiro, sob a forma de empréstimos, que é assegurado por dezoito «países membros da zona euro, mais dois países escandinavos».

b) Entre os vinte países que nos «ajudaram», apenas a Espanha e a Grécia (que também não são, tal como Portugal, contribuintes líquidos da UE) tinham, em 2011, taxas de pobreza superiores à do nosso país (18%). Em linha, aliás, com o PIB per capita: «enquanto a média da União é de 27.500 euros, em Portugal é de 19.400, a menor dos vinte países (inclusivamente inferior ao valor grego)».

c) Sendo a questão do subsídio de desemprego mais difícil de comparar (dada a significativa variabilidade dos esquemas de protecção), e «apesar de a relação salário/subsídio em Portugal ser generosa no contexto europeu (consequência dos baixos salários)», a verdade é que «mais de metade dos desempregados não têm protecção e o valor médio mensal do subsídio é muito baixo (€460)». E se «pensarmos em qualquer outra prestação social, Portugal perde na comparação».

d) No campo da saúde, todos os países da União Europeia têm sistemas universais, «apesar da diversidade de prestação de cuidados e dos modelos de financiamento (nuns casos impostos, noutros contribuições para a Segurança Social). Em Portugal, 66% do total da despesa em Saúde é assegurada pelo Estado, um valor mais baixo do verificado na UE27 (73%).»

Pedro Adão e Silva assinala, ainda, uma outra diferença: muitos dos países a que Pedro Passos Coelho se referiu no discurso do Pontal «têm primeiros-ministros que sabem do que falam». O que deixa no ar uma outra questão: quantos militantes e simpatizantes de outros partidos social-democratas europeus permitiriam este tipo de insulto, mesmo que em contexto de comício, à sua inteligência?

«Não entrámos na bancarrota em 2011 porque houve uma Europa Solidária, uma Europa composta de muitos países, muitos deles mais pobres do que Portugal. Com subsídios de desemprego que valem muito menos que os nossos; com um PIB per capita, com uma riqueza por cada cidadão, muito menor do que nós temos; com um Estado Social menos avançado do que o nosso - onde não há saúde para todos. Foram muitos desses países que nos ajudaram a vencer as dificuldades.»

(Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, na Festa do Pontal)

A propósito deste excerto do discurso do primeiro-ministro na rentrée laranja, vale a pena ler na íntegra o artigo de Pedro Adão e Silva no Expresso de ontem (e que o Câmara Corporativa disponibiliza aqui). Aí se assinala, muito oportunamente, que:

a) No que concerne à Europa (excluindo portanto a contribuição do FMI), o resgate português foi financiado por dois mecanismos, o MEEF e o FEEF. O primeiro «assenta em fundos dos mercados financeiros garantidos pela Comissão, com o orçamento comunitário como colateral». O segundo mecanismo é assegurado pelos dezoito países membros da zona euro. O que significa, portanto, que «a solidariedade europeia é parcialmente assente numa garantia dada pelo orçamento da União, que tem como contribuintes líquidos doze estados-membros» (entre os quais a Dinamarca e a Suécia, que não pertencem ao euro). Isto é, Portugal beneficiou de um suporte financeiro, sob a forma de empréstimos, que é assegurado por dezoito «países membros da zona euro, mais dois países escandinavos».

b) Entre os vinte países que nos «ajudaram», apenas a Espanha e a Grécia (que também não são, tal como Portugal, contribuintes líquidos da UE) tinham, em 2011, taxas de pobreza superiores à do nosso país (18%). Em linha, aliás, com o PIB per capita: «enquanto a média da União é de 27.500 euros, em Portugal é de 19.400, a menor dos vinte países (inclusivamente inferior ao valor grego)».

c) Sendo a questão do subsídio de desemprego mais difícil de comparar (dada a significativa variabilidade dos esquemas de protecção), e «apesar de a relação salário/subsídio em Portugal ser generosa no contexto europeu (consequência dos baixos salários)», a verdade é que «mais de metade dos desempregados não têm protecção e o valor médio mensal do subsídio é muito baixo (€460)». E se «pensarmos em qualquer outra prestação social, Portugal perde na comparação».

d) No campo da saúde, todos os países da União Europeia têm sistemas universais, «apesar da diversidade de prestação de cuidados e dos modelos de financiamento (nuns casos impostos, noutros contribuições para a Segurança Social). Em Portugal, 66% do total da despesa em Saúde é assegurada pelo Estado, um valor mais baixo do verificado na UE27 (73%).»

Pedro Adão e Silva assinala, ainda, uma outra diferença: muitos dos países a que Pedro Passos Coelho se referiu no discurso do Pontal «têm primeiros-ministros que sabem do que falam». O que deixa no ar uma outra questão: quantos militantes e simpatizantes de outros partidos social-democratas europeus permitiriam este tipo de insulto, mesmo que em contexto de comício, à sua inteligência?

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