Ladrões de Bicicletas: Os offshores e a «economia do pingo»

22-05-2019
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«No fundo, no fundo, o núcleo duro de ideias sobre a sociedade e a economia do Governo Passos-Portas foi que a recuperação do país passava pelo aumento da riqueza dos mais ricos, que traria por arrasto uma melhoria das condições de vida dos mais pobres. Era em cima que deveria haver “liberdade”, enquanto em baixo deveria haver “ajustamento” e cortes, até porque os de baixo já estavam mais acima do que deviam e tinham que ser postos na ordem e devolvidos “às suas posses habituais”. Da legislação laboral ao “ajustamento”, este era o programa. Dêem as voltas que derem, esta era a concepção e ainda o é, como se vê na questão do salário mínimo. Qualquer ideia, aliás na base do ideário social-democrata, de que o Estado deveria garantir um equilíbrio social, era e é tida como uma violação das regras da “economia”, com os de baixo a quererem mais do que a “economia” lhes pode dar. Em cima, não há essas restrições e, por isso, a indiferença face ao que acontece com os offshores é completamente natural».

Pacheco Pereira, A afronta de nos tomarem por parvos

Em artigo no Público do passado sábado, que merece ser lido na íntegra, Pacheco Pereira assinala uma dimensão crucial do «episódio» dos offshores: o «pano de fundo» em que o mesmo se encaixa. Ou seja, o enriquecimento do topo à custa do empobrecimento na base, a coberto das «imposições» do memorando de entendimento, para que a «economia do pingo» se instale (mesmo que nunca acabe por pingar).

Tudo ligado portanto e o resto é apenas poeira para os olhos: do «esforço de sacrifício (...) repartido rigorosamente por todos» (Vítor Gaspar) à «ética social na austeridade» (Pedro Mota Soares); da ideia de que os pobres «não foram afetados por cortes nenhuns» (Passos Coelho) à acusação da atual maioria por «tirar a muitos para dar relativamente pouco a alguns» (Maria Luís Albuquerque). Poeira para os olhos e lata, muita lata.


«No fundo, no fundo, o núcleo duro de ideias sobre a sociedade e a economia do Governo Passos-Portas foi que a recuperação do país passava pelo aumento da riqueza dos mais ricos, que traria por arrasto uma melhoria das condições de vida dos mais pobres. Era em cima que deveria haver “liberdade”, enquanto em baixo deveria haver “ajustamento” e cortes, até porque os de baixo já estavam mais acima do que deviam e tinham que ser postos na ordem e devolvidos “às suas posses habituais”. Da legislação laboral ao “ajustamento”, este era o programa. Dêem as voltas que derem, esta era a concepção e ainda o é, como se vê na questão do salário mínimo. Qualquer ideia, aliás na base do ideário social-democrata, de que o Estado deveria garantir um equilíbrio social, era e é tida como uma violação das regras da “economia”, com os de baixo a quererem mais do que a “economia” lhes pode dar. Em cima, não há essas restrições e, por isso, a indiferença face ao que acontece com os offshores é completamente natural».

Pacheco Pereira, A afronta de nos tomarem por parvos

Em artigo no Público do passado sábado, que merece ser lido na íntegra, Pacheco Pereira assinala uma dimensão crucial do «episódio» dos offshores: o «pano de fundo» em que o mesmo se encaixa. Ou seja, o enriquecimento do topo à custa do empobrecimento na base, a coberto das «imposições» do memorando de entendimento, para que a «economia do pingo» se instale (mesmo que nunca acabe por pingar).

Tudo ligado portanto e o resto é apenas poeira para os olhos: do «esforço de sacrifício (...) repartido rigorosamente por todos» (Vítor Gaspar) à «ética social na austeridade» (Pedro Mota Soares); da ideia de que os pobres «não foram afetados por cortes nenhuns» (Passos Coelho) à acusação da atual maioria por «tirar a muitos para dar relativamente pouco a alguns» (Maria Luís Albuquerque). Poeira para os olhos e lata, muita lata.

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