Mais valia estarem quietos

25-08-2016
marcar artigo

O que os recentes dados económicos vêm demonstrar é que mesmo que a política de estímulo à procura beneficie no curto prazo, no longo prazo é a estratégia mais certa para o falhanço

O economista Paulo Trigo Pereira refere na sua última coluna no Observador que “querer tirar dividendos políticos da situação económica de Portugal só pode resultar da miopia política. O crescimento económico é fraco há década e meia, não sendo por isso imputável a este governo”. Nada que seja mais verdade, à primeira vista. No entanto, o que é grave neste caso não é que o país continue a crescer a um ritmo medíocre. O grave é que todo o discurso do Partido Socialista (e da esquerda mais em geral) se baseou no plano de que bastaria uma devolução maior de rendimentos, e um estímulo à procura interna, para sairmos desta situação.

Passa agora um ano sobre a apresentação do cenário macroeconómico do PS antes das eleições e, nessa altura, previam os economistas envolvidos no processo que o crescimento este ano chegaria a 2,4% com as medidas planeadas, mais ou menos o dobro do que são agora as previsões mais otimistas para o aumento do PIB em 2016.

Dir-me-ão: sim, mas o Paulo Trigo Pereira está exatamente nos antípodas desse raciocínio, afinal, acaba de nos dizer que o crescimento económico no curto prazo é praticamente independente da ação governativa. Certíssimo, mas é que o mesmo Paulo Trigo Pereira que agora acha isso há um ano assinou por baixo o contrário. E poderão responder: bem, mas o que se passa é que houve fatores externos e no fundo todas as previsões têm um grau de incerteza. Correto novamente, contudo, mesmo admitindo a hipótese que a ação deste governo não prejudicou significativamente o desempenho económico, o que os dados económicos vêm demonstrar é que mesmo que o estímulo à procura beneficie no curto prazo, no longo prazo é a estratégia mais certa para o falhanço.

A taxa de poupança das famílias portuguesas foi, no segundo trimestre de 3,5%, o mínimo desde 1999 (início da série histórica do INE)! Só para se ter uma noção da gravidade da situação, mesmo antes da crise de 2008, com o boom do crédito, a taxa de poupança manteve-se acima dos 5%. Portanto, por muito que se dê mais rendimento àqueles que já trabalham, eles não vão poder gastar muito mais.

Portanto, se temos a premissa de que o crescimento económico é pouco influenciado pelo governo no curto prazo (uma premissa duvidosa no caso desde executivo, porque o adiamento de investimento que está a acontecer é provavelmente fruto da completa incerteza quanto ao futuro do país, admitindo que não é por pura desconfiança da competência técnica da sua orientação económica), torna-se mais evidente que o que é preciso é criar condições para haver investimento, português e estrangeiro, que crie emprego, sendo que uma das condições é exatamente não dar a impressão de uma inversão completa de curso e de uma má vontade geral em ter boas contas, considerando esse objetivo menor.

É óbvio que as boas contas são um meio para um fim, que é o bem-estar do país, mas desconsiderar essa ferramenta é meio caminho andado para a continuação do crescimento medíocre de que tanto nos queixamos (Paulo Trigo Pereira incluído). Portanto, se querem estimular a procura interna, não se queixem depois do parco ritmo de crescimento. São meramente escolhas. Escolhas das quais os economistas que elaboraram o cenário do PS deviam estar conscientes, exatamente pela mesma dívida elevada que refere o autor, e que torna qualquer manobra “arriscada” para ganhos de curto prazo uma completa imprudência. Escolhas que só fazem sentido quando se pensa o país a dois anos, e não a 10, como se gabava o primeiro-ministro na sua agenda para a década. Escolhas que não deviam ter sido tomadas.

No fundo, era melhor que estivéssemos como Espanha, tínhamos o entretenimento de refrega política, mas sem os seus prejuízos. Mais valia estarem quietos!

O que os recentes dados económicos vêm demonstrar é que mesmo que a política de estímulo à procura beneficie no curto prazo, no longo prazo é a estratégia mais certa para o falhanço

O economista Paulo Trigo Pereira refere na sua última coluna no Observador que “querer tirar dividendos políticos da situação económica de Portugal só pode resultar da miopia política. O crescimento económico é fraco há década e meia, não sendo por isso imputável a este governo”. Nada que seja mais verdade, à primeira vista. No entanto, o que é grave neste caso não é que o país continue a crescer a um ritmo medíocre. O grave é que todo o discurso do Partido Socialista (e da esquerda mais em geral) se baseou no plano de que bastaria uma devolução maior de rendimentos, e um estímulo à procura interna, para sairmos desta situação.

Passa agora um ano sobre a apresentação do cenário macroeconómico do PS antes das eleições e, nessa altura, previam os economistas envolvidos no processo que o crescimento este ano chegaria a 2,4% com as medidas planeadas, mais ou menos o dobro do que são agora as previsões mais otimistas para o aumento do PIB em 2016.

Dir-me-ão: sim, mas o Paulo Trigo Pereira está exatamente nos antípodas desse raciocínio, afinal, acaba de nos dizer que o crescimento económico no curto prazo é praticamente independente da ação governativa. Certíssimo, mas é que o mesmo Paulo Trigo Pereira que agora acha isso há um ano assinou por baixo o contrário. E poderão responder: bem, mas o que se passa é que houve fatores externos e no fundo todas as previsões têm um grau de incerteza. Correto novamente, contudo, mesmo admitindo a hipótese que a ação deste governo não prejudicou significativamente o desempenho económico, o que os dados económicos vêm demonstrar é que mesmo que o estímulo à procura beneficie no curto prazo, no longo prazo é a estratégia mais certa para o falhanço.

A taxa de poupança das famílias portuguesas foi, no segundo trimestre de 3,5%, o mínimo desde 1999 (início da série histórica do INE)! Só para se ter uma noção da gravidade da situação, mesmo antes da crise de 2008, com o boom do crédito, a taxa de poupança manteve-se acima dos 5%. Portanto, por muito que se dê mais rendimento àqueles que já trabalham, eles não vão poder gastar muito mais.

Portanto, se temos a premissa de que o crescimento económico é pouco influenciado pelo governo no curto prazo (uma premissa duvidosa no caso desde executivo, porque o adiamento de investimento que está a acontecer é provavelmente fruto da completa incerteza quanto ao futuro do país, admitindo que não é por pura desconfiança da competência técnica da sua orientação económica), torna-se mais evidente que o que é preciso é criar condições para haver investimento, português e estrangeiro, que crie emprego, sendo que uma das condições é exatamente não dar a impressão de uma inversão completa de curso e de uma má vontade geral em ter boas contas, considerando esse objetivo menor.

É óbvio que as boas contas são um meio para um fim, que é o bem-estar do país, mas desconsiderar essa ferramenta é meio caminho andado para a continuação do crescimento medíocre de que tanto nos queixamos (Paulo Trigo Pereira incluído). Portanto, se querem estimular a procura interna, não se queixem depois do parco ritmo de crescimento. São meramente escolhas. Escolhas das quais os economistas que elaboraram o cenário do PS deviam estar conscientes, exatamente pela mesma dívida elevada que refere o autor, e que torna qualquer manobra “arriscada” para ganhos de curto prazo uma completa imprudência. Escolhas que só fazem sentido quando se pensa o país a dois anos, e não a 10, como se gabava o primeiro-ministro na sua agenda para a década. Escolhas que não deviam ter sido tomadas.

No fundo, era melhor que estivéssemos como Espanha, tínhamos o entretenimento de refrega política, mas sem os seus prejuízos. Mais valia estarem quietos!

marcar artigo