O Espectro: REMOINHOS

14-10-2018
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A iminente chegada do dr. Cavaco a Belém, com pompa e circunstância, já começou a provocar remoinhos na política portuguesa. O dr. Paulo Portas, sempre esse homem fatal, se não vai refazer "O Independente", vai, pelo menos, fazer um programa de opinião na SIC, para (adivinhem) afirmar a direita contra o "bloco central" PS- PSD, desta vez representado por Cavaco e Sócrates. A inspiração é, naturalmente, Marcelo. Não, claro, o Marcelo semi-domesticado da RTP, o Marcelo da "missa dominical" da TVI, que tratava Sampaio e o governo com a superioridade e a paciência, um pouco forçada, de um velho professor. Mas Portas quer "mais recuo". Quer "doutrinar" e não necessariamente criticar. Como um estadista. Talvez dê resultado. Se a SIC não se "arrepender". Outro remoinho muito visível do advento de Cavaco é a crescente paixão de Sócrates por empresários. Cavaco disse constantemente na campanha que a primeira preocupação dele seria ajudar, promover e proteger essa criatura mítica "o empresário moderno português", que um dia nos tirará das garras da miséria. Sócrates não perdeu tempo. Toda a propaganda oficial, de resto eficiente, o tenta tornar o novo taumaturgo da economia. Não há dia em que caia do céu um novo milagre: um investimento, um projecto, um acto justiceiro contra a burocracia do Estado. Sócrates sua confiança e borbulha de vontade política. Ainda anteontem foi à "Lactogal", uma fábrica de leite, mostrar o exemplo, gabar a tecnologia, exortar ao optimismo e à fé. E, melhor: exibir o seu "carinho" por uma queijaria e a sua esperança num futuro radioso para o vinho e o azeite e até para a "linha" essencial e salvífica da hortofruticultura. Com este zelo e com as deambulações de Marques Mendes pelo Algarve e o Vale do Ave, sobra alguma coisa para Cavaco? Que espécie de solicitude e de amor pode ele derramar sobre o "empresário moderno português" que o "empresário moderno português" não haja previamente recebido do governo e da oposição? Que privilégios, que vantagens pode ele oferecer, que o governo e a oposição não ofereçam? Que obstáculos pode remover, que o governo e a oposição não queiram arrasar?Será curioso ver como Cavaco resiste à concorrência. Como será curioso ver se, do seu poleiro da SIC, Paulo Portas consegue impedir ou atenuar a unanimidade do "centrão", que por aí se prepara. Os remoinhos só agora começaram.vpv(publicado no jornal Público)


A iminente chegada do dr. Cavaco a Belém, com pompa e circunstância, já começou a provocar remoinhos na política portuguesa. O dr. Paulo Portas, sempre esse homem fatal, se não vai refazer "O Independente", vai, pelo menos, fazer um programa de opinião na SIC, para (adivinhem) afirmar a direita contra o "bloco central" PS- PSD, desta vez representado por Cavaco e Sócrates. A inspiração é, naturalmente, Marcelo. Não, claro, o Marcelo semi-domesticado da RTP, o Marcelo da "missa dominical" da TVI, que tratava Sampaio e o governo com a superioridade e a paciência, um pouco forçada, de um velho professor. Mas Portas quer "mais recuo". Quer "doutrinar" e não necessariamente criticar. Como um estadista. Talvez dê resultado. Se a SIC não se "arrepender". Outro remoinho muito visível do advento de Cavaco é a crescente paixão de Sócrates por empresários. Cavaco disse constantemente na campanha que a primeira preocupação dele seria ajudar, promover e proteger essa criatura mítica "o empresário moderno português", que um dia nos tirará das garras da miséria. Sócrates não perdeu tempo. Toda a propaganda oficial, de resto eficiente, o tenta tornar o novo taumaturgo da economia. Não há dia em que caia do céu um novo milagre: um investimento, um projecto, um acto justiceiro contra a burocracia do Estado. Sócrates sua confiança e borbulha de vontade política. Ainda anteontem foi à "Lactogal", uma fábrica de leite, mostrar o exemplo, gabar a tecnologia, exortar ao optimismo e à fé. E, melhor: exibir o seu "carinho" por uma queijaria e a sua esperança num futuro radioso para o vinho e o azeite e até para a "linha" essencial e salvífica da hortofruticultura. Com este zelo e com as deambulações de Marques Mendes pelo Algarve e o Vale do Ave, sobra alguma coisa para Cavaco? Que espécie de solicitude e de amor pode ele derramar sobre o "empresário moderno português" que o "empresário moderno português" não haja previamente recebido do governo e da oposição? Que privilégios, que vantagens pode ele oferecer, que o governo e a oposição não ofereçam? Que obstáculos pode remover, que o governo e a oposição não queiram arrasar?Será curioso ver como Cavaco resiste à concorrência. Como será curioso ver se, do seu poleiro da SIC, Paulo Portas consegue impedir ou atenuar a unanimidade do "centrão", que por aí se prepara. Os remoinhos só agora começaram.vpv(publicado no jornal Público)

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