No Titanic versão portuguesa, Cristas e Melo atiram-se ao PSD

22-05-2019
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Por agora, comenta, “a lembrança de Sócrates já ficou suficientemente sedimentada”, é aliás uma das armas de arremesso preferidas da direita - quando o debate se faz com socialistas, é quase certo que o nome do antigo primeiro-ministro, associado à palavra bancarrota, fará uma aparição.

O adepto dos debates é o centrista Nuno Melo, que se instala na proa ao lado de Assunção Cristas para trocar histórias sobre enjoos mas garantir aos jornalistas que a perspectiva de debater com os adversários uma última vez não lhe dá a volta ao estômago. Vai “falar de prioridades europeias e juntar alguns incidentes de campanha”, adianta. No essencial, e embora a campanha páre esta tarde para se dedicar ao debate, “está tudo preparado”. Os jornalistas querem saber se já tem algum momento que possa ‘viralizar’ nas redes como no primeiro debate, em que exibiu fotografias do primeiro-ministro ao lado do antecessor Sócrates e com isso dominou a maior parte dos títulos noticiosos. Mas Melo diz “ainda não ter decidido” que surpresas levará ao combate da noite.

O cenário é calmante: a água está muito azul e o céu igual, as nuvens aparecem raras e espaçadas, o Moscatel original de Setúbal escorrega bem doce pela garganta e o vento não chega a ser cortante. A embarcação, turística, parte da Docapesca, em Setúbal, e navega pelo estuário do Sado nem grandes sustos nem enjoos. Estamos em contagem decrescente para o debate final entre os candidatos às eleições europeias, que acontece logo à noite, na RTP, e a bordo deste barco segue um candidato que garante não estar nervoso: “Gosto muito mais de fazer debates do que de fazer discursos”.

Mas enquanto relaxa ao sol e elogia o clima que esta segunda-feira calhou aquecer Setúbal, Nuno Melo escolhe um alvo diferente. Esta manhã, as baterias não estão apontadas ao PS. O CDS ouviu o recado de Paulo Rangel, que na noite de domingo assegurava que “todo o voto fora do PSD é um voto fútil”, depois de os centristas terem passado pelo menos o último ano e meio a anunciar que a experiência da geringonça matou o voto útil. Acusam o toque. E respondem à letra ao partido vizinho.

“Não vejo utilidade a quem durante uma legislatura celebra acordos e antecipa que em situações excecionais [poderá aliar-se ao PS]”, dispara. “O CDS garante que será oposição, não o parceiro nem a muleta do PS”. O ataque é ainda mais concreto: “Não temos nenhum acordo assinado pela líder do CDS”. Ao contrário, claro, do PSD, que assinou acordos com os socialistas nas áreas dos fundos comunitários - argumento particularmente útil para puxar em campanha para as europeias - e da descentralização. Conclusão: “O eleitor precavido só tem utilidade num voto”. Cristas completa: “O caminho para o futuro não é o socialismo, as esquerdas unidas nem o bloco central. E não é a alternância”.

Está feita a resposta ao soundbite de Rangel e possivelmente lançado o mote para o debate desta noite. Ao CDS convém acelerar: as sondagens não são particularmente otimistas e é possível que o número dois da lista, Pedro Mota Soares, que segue num segundo barco e faz um trajeto paralelo, fique apeado. Enquanto falam aos jornalistas, Cristas e Melo sentem os perigos da turbulência: uma onda particularmente vigorosa obriga todos, candidatos e imprensa, agarrarem-se bem e pararem por um momento as perguntas e respostas. “Estamos verdadeiramente no mar, isto é para gente corajosa!”, graceja Cristas.

É o pretexto para falar do que os trouxe aqui. Dia 20 de maio é o dia Europeu do Mar e Cristas e Melo trazem os argumentos bem estudados: lembram que o mar é um setor português estratégico (“não há português que geneticamente não perceba a importância estratégica do mar”, arrisca garantir Melo); falam do “exemplo paradigmático e o triste desaproveitamento dos fundos nesta área, onde a execução é de apenas 25%; Cristas sublinha a “tristeza” de saber o navio de investigação oceanográfica (adquirido na sua época como ministra) parado após ter feito apenas uma “viagem inaugural”. Tudo para chegar a uma conclusão: também no mar, o CDS não tem dúvidas em apontar “incompetência” ao Governo.

O passeio de duas horas com o azul do mar como pano de fundo é terreno fértil para metáforas e nem é preciso serem os jornalistas a fazer as ligações: é Nuno Melo que considera que “isto é quase uma cena de Titanic”, ensaiando, qual Leonardo DiCaprio, o gesto clássico na proa de barco (que teria de ser Cristas, versão Kate Winslet, a completar). Isto - o CDS, a campanha, a estratégia - pode afundar até dia 26 de maio? “A comparação é pelo lado romântico, não é do afogamento”, apressa-se a corrigir Nuno Melo. Inspirado, remata: “Nós somos os salvadores do Titanic”. Isso fará do CDS o salvador da direita? “Somos a direita em Portugal”, confirma. Faltam os votos para confirmar que os centristas se mantêm à tona após as europeias, já com as legislativas de outubro no horizonte.

Por agora, comenta, “a lembrança de Sócrates já ficou suficientemente sedimentada”, é aliás uma das armas de arremesso preferidas da direita - quando o debate se faz com socialistas, é quase certo que o nome do antigo primeiro-ministro, associado à palavra bancarrota, fará uma aparição.

O adepto dos debates é o centrista Nuno Melo, que se instala na proa ao lado de Assunção Cristas para trocar histórias sobre enjoos mas garantir aos jornalistas que a perspectiva de debater com os adversários uma última vez não lhe dá a volta ao estômago. Vai “falar de prioridades europeias e juntar alguns incidentes de campanha”, adianta. No essencial, e embora a campanha páre esta tarde para se dedicar ao debate, “está tudo preparado”. Os jornalistas querem saber se já tem algum momento que possa ‘viralizar’ nas redes como no primeiro debate, em que exibiu fotografias do primeiro-ministro ao lado do antecessor Sócrates e com isso dominou a maior parte dos títulos noticiosos. Mas Melo diz “ainda não ter decidido” que surpresas levará ao combate da noite.

O cenário é calmante: a água está muito azul e o céu igual, as nuvens aparecem raras e espaçadas, o Moscatel original de Setúbal escorrega bem doce pela garganta e o vento não chega a ser cortante. A embarcação, turística, parte da Docapesca, em Setúbal, e navega pelo estuário do Sado nem grandes sustos nem enjoos. Estamos em contagem decrescente para o debate final entre os candidatos às eleições europeias, que acontece logo à noite, na RTP, e a bordo deste barco segue um candidato que garante não estar nervoso: “Gosto muito mais de fazer debates do que de fazer discursos”.

Mas enquanto relaxa ao sol e elogia o clima que esta segunda-feira calhou aquecer Setúbal, Nuno Melo escolhe um alvo diferente. Esta manhã, as baterias não estão apontadas ao PS. O CDS ouviu o recado de Paulo Rangel, que na noite de domingo assegurava que “todo o voto fora do PSD é um voto fútil”, depois de os centristas terem passado pelo menos o último ano e meio a anunciar que a experiência da geringonça matou o voto útil. Acusam o toque. E respondem à letra ao partido vizinho.

“Não vejo utilidade a quem durante uma legislatura celebra acordos e antecipa que em situações excecionais [poderá aliar-se ao PS]”, dispara. “O CDS garante que será oposição, não o parceiro nem a muleta do PS”. O ataque é ainda mais concreto: “Não temos nenhum acordo assinado pela líder do CDS”. Ao contrário, claro, do PSD, que assinou acordos com os socialistas nas áreas dos fundos comunitários - argumento particularmente útil para puxar em campanha para as europeias - e da descentralização. Conclusão: “O eleitor precavido só tem utilidade num voto”. Cristas completa: “O caminho para o futuro não é o socialismo, as esquerdas unidas nem o bloco central. E não é a alternância”.

Está feita a resposta ao soundbite de Rangel e possivelmente lançado o mote para o debate desta noite. Ao CDS convém acelerar: as sondagens não são particularmente otimistas e é possível que o número dois da lista, Pedro Mota Soares, que segue num segundo barco e faz um trajeto paralelo, fique apeado. Enquanto falam aos jornalistas, Cristas e Melo sentem os perigos da turbulência: uma onda particularmente vigorosa obriga todos, candidatos e imprensa, agarrarem-se bem e pararem por um momento as perguntas e respostas. “Estamos verdadeiramente no mar, isto é para gente corajosa!”, graceja Cristas.

É o pretexto para falar do que os trouxe aqui. Dia 20 de maio é o dia Europeu do Mar e Cristas e Melo trazem os argumentos bem estudados: lembram que o mar é um setor português estratégico (“não há português que geneticamente não perceba a importância estratégica do mar”, arrisca garantir Melo); falam do “exemplo paradigmático e o triste desaproveitamento dos fundos nesta área, onde a execução é de apenas 25%; Cristas sublinha a “tristeza” de saber o navio de investigação oceanográfica (adquirido na sua época como ministra) parado após ter feito apenas uma “viagem inaugural”. Tudo para chegar a uma conclusão: também no mar, o CDS não tem dúvidas em apontar “incompetência” ao Governo.

O passeio de duas horas com o azul do mar como pano de fundo é terreno fértil para metáforas e nem é preciso serem os jornalistas a fazer as ligações: é Nuno Melo que considera que “isto é quase uma cena de Titanic”, ensaiando, qual Leonardo DiCaprio, o gesto clássico na proa de barco (que teria de ser Cristas, versão Kate Winslet, a completar). Isto - o CDS, a campanha, a estratégia - pode afundar até dia 26 de maio? “A comparação é pelo lado romântico, não é do afogamento”, apressa-se a corrigir Nuno Melo. Inspirado, remata: “Nós somos os salvadores do Titanic”. Isso fará do CDS o salvador da direita? “Somos a direita em Portugal”, confirma. Faltam os votos para confirmar que os centristas se mantêm à tona após as europeias, já com as legislativas de outubro no horizonte.

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