O país dos impossíveis

28-12-2018
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Bom dia.

Pode ser conhecido já hoje o primeiro relatório sobre a queda de um helicóptero do INEM no sábado passado, em Valongo, acidente de que resultou a morte de quatro pessoas. Ao mesmo tempo que anunciou a divulgação urgente documento da Autoridade Nacional de Proteção Civil, o secretário de Estado Artur Neves antecipou-se na garantia de que “é impossível, absolutamente impossível”, que tenha havido chamadas de socorro que ficaram por atender. Quem fala assim não é gago, mas das duas uma: ou o secretário de Estado da Proteção Civil já sabe o que diz um relatório que não escreveu, ou está a tentar condicionar as conclusões desse documeno.

Antes das certezas do secretário de Estado que tutela a Proteção Civil, já Jaime Marta Soares, da Liga de Bombeiros, tinha comunicado ao mundo a sua certeza de que a Proteção Civil “falhou” neste caso. E exigiu um “inquérito rigoroso” (presume-se que para confirmar a sua convicção). No meio de tanta certeza precoce, o ministro da Administração Interna disse o óbvio: "Nenhuma entidade deve produzir declarações antes da conclusão do inquérito. Se tivesse todas as respostas sobre o cumprimento ou não cumprimento de procedimentos não teria pedido o inquérito.”

Independentemente das conclusões a que chegue a Proteção Civil sobre o seu próprio desempenho, o Ministério Público anunciou ontem a abertura de um inquérito para apurar as razões do acidente.

À cautela, o Sindicato Independente dos Médicos exige ao Governo que avance com uma comissão arbitral para indemnizar os familiares dos quatro elementos da equipa de helitransporte de emergência que morreram ao serviço do INEM. O presidente do SIM, Roque da Cunha, disse ao Expresso que esta solução "servirá para evitar que as compensações às famílias se agudizem nos tribunais".

Talvez as certezas de um governante sobre aquilo que em Portugal é “impossível”, ou até “absolutamente impossível”, devessem ser moderadas. Estamos a falar de Portugal, “um país a cair aos bocados”, como escreve no Público o João Miguel Tavares - “Eu consigo encontrar uma trotinete por GPS em Lisboa e não consigo encontrar um helicóptero do INEM - repito: do INEM! - em Valongo?”

Afinal de contas, estamos a falar do mesmo país onde o mistério sobre o assalto aos paióis do Exército se prolonga há mais de um ano, com pormenores rocambolescos que qualquer pessoa no seu perfeito juízo acharia “impossíveis”. “Absolutamente”. Ontem houve desenvolvimentos no caso, logo saudados pelo Presidente da República como “passos significativos”.

Vamos então ao balanço de um dia de “passos significativos”:

foram detidos oito suspeitos de terem assaltado os paióis de Tancos em junho de 2017. Há três meses tinham sido detidas nove pessoas. Já são dezassete os detidos no total das duas operações;

os oito suspeitos só hoje serão ouvidos pelo juiz ;

os novos detidos têm ligações ao tráfico de droga ;

foi renovada por mais três meses a prisão preventiva do ex-diretor da Polícia Judiciária Militar . Dos nove detidos no final de setembro, só o coronel Luís Vieira e um dos alegados autores do assalto de Tancos ficaram em prisão preventiva.

O DN avança que há mais uma detenção planeada - um ex-militar escapou à operação de ontem da PJ porque estava fora do país.

Segundo o Público, entre os detidos, todos civis, estão o “Laranjinha” e o “Caveirinha”...

OUTROS TEMAS

A procuradora-geral da República (PGR), Lucília Gago, manifestou-se firmemente contra a alteração da composição do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) - uma proposta feita pelo PSD e apoiada por socialistas como Jorge Lacão. Conforme o Expresso noticiou em primeira mão, na sua proposta para um pacto da Justiça, o PSD propõe mexer na composição dos conselhos superiores; no caso do CSMP, quer que os magistrados do Ministério Público passem a ficar em minoria. Ontem, a PGR avisou que essa alteração seria uma "grave violação do princípio da autonomia", e uma "radical alteração dos pressupostos que determinaram" que aceitasse o cargo - que é como quem diz que, se essa alteração avançar, poderá demitir-se.

Rui Rio tem defendido a sua proposta, apesar da oposição do Ministério Público (os magistrados até já anunciaram uma greve), de vozes relevantes do seu partido e até do Presidente da República. Mas a crítica que mais irritou Rio e os seus próximos foi feita por Marques Mendes no domingo, no seu comentário semanal na SIC. A frase “nas propostas para controlar a Justiça, Sócrates e Rio são irmãos siameses” tirou do sério muitos rioístas. Ontem à noite, o vice-presidente do PSD David Justino foi à SIC Notícias defender a sua dama, acusando Mendes de “falta de ética”. Note-se que a direção do PSD foi mais rápida e mais dura a reagir a um dos seus do que costuma ser a reagir a um qualquer membro do Governo.

O Observador descobriu mais um caso de alegada presença-fantasma no Plenário da Assembleia da República. No dia 12 de junho de 2017 o deputado Nuno Sá conseguiu o milagre de estar em campanha em Famalicão, e no Parlamento a assistir aos trabalhos. Mas só foi visto num dos locais - em Famalicão. Ah!, Nuno Sá é do PS, ou seja, Carlos César tinha a oportunidade de ser consequente com a garantia que deu há dias, quando só havia deputados do PSD envolvidos nestes esquemas: “Se se colocasse no nosso caso alguma das situações de que tenho ouvido falar, acho que essas pessoas não tinham o direito de permanecer no âmbito do grupo parlamentar do PS”. Mas não o fez. Em vez disso, ouviu o visado, que lhe garantiu que nesse dia conseguiu mesmo estar em Famalicão, no Parlamento, e em Famalicão outra vez. Nuno Sá também pediu, claro, “o completo esclarecimento da situação referida”. E prometeu que “renunciaria ao seu mandato caso se comprovasse a irregularidade que lhe é apontada” - estranha hipótese, essa, de se poder provar algo que o protagonista diz nunca ter acontecido.

A ministra da Saúde jurou que “em circunstância alguma teve intenção de chamar 'criminosos' aos enfermeiros”, por causa da greve em curso. No mesmo contacto com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Marta Temido reafirmou a vontade de dialogar. A bastonária Ana Rita Cavaco fala num “ponto de viragem”. Há negociações marcadas para amanhã, e há uma trégua já anunciada para o período de Natal.

A informação foi avançada pelo Expresso, e agora é oficial: o preço da eletricidade vai descer 3,5% no ano que vem.

João Manso Neto, administrador da EDP há 12 anos, vai esta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as rendas da energia. O Expresso lembra uma dúzia de temas quentes que os deputados deverão levantar.

Em 2017, o Turismo representou 13,7% do PIB português (mais 1,2 pontos percentuais do que em 2016). As contas foram divulgadas ontem pelo INE.

PS e PSD chegaram a acordo para as novas regras do IRS nos contratos de arrendamento de casa. A taxa de 28% mantém-se para os contratos até doze meses, mas vai descendo conforme aumente a duração do acordo - até uma taxa mínima de 10% para contratos válidos por mais de 20 anos.

Jeremy Corbyn, o líder da oposição trabalhista, decidiu-se finalmente a apresentar uma moção de censura ao Governo de Theresa May, por causa do Brexit. O texto considera “inaceitável” o adiamento da votação do acordo de saída da UE no Parlamento de Westminster. O anúncio aconteceu no mesmo dia em que May revelou que essa votação se realizará na semana de 14 de janeiro.

Mais um relatório feito a pedido do Senado norte-americano confirma a interferência russa nas eleições presidenciais nos EUA, em 2016 - mas o documento, divulgado pelo New York Times, assegura que essa interferência foi ainda maior do que se julgava. O relatório, feito pela Universidade de Oxford e pela empresa de análise de redes sociais Graphika, revela que os russos responsáveis pela campanha de desinformação criaram contas e páginas falsas não só no Facebook e no Twitter, mas em todas as principais redes sociais, incluindo um grande investimento no Instagram, “para beneficiarem o Partido Republicano – e especificamente Donald Trump”.

De acordo com o NYT, um dos principais alvos dos russos foi o eleitorado afro-americano. O objetivo era, através de notícias falsas, desincentivar a ida às urnas de um segmento do eleitorado que à partida seria mais favorável a Hillary Clinton.

Por estas e por outras o Facebook tem vivido envolvido em escândalos. A pressão para que Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg se demitam é cada vez maior.

Ana Pinho, a polémica presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, foi reeleita para um novo mandato.

Parece que o Pai Natal foi amigo das equipas portuguesas no sorteio das competições da UEFA. Há um Porto-Roma na Liga dos Campeões.

As listas são a fruta da época no mês de dezembro. Aqui fica a lista da Blitz com os melhores discos de 2018. Jonathan Wilson lidera. Marlon Williams, o meu favorito deste ano, está em quinto lugar.

AS MANCHETES DE HOJE

Público: “Metade do crédito ao consumo já é contratado diretamente na loja”

i: “Militar de Tancos terá sido denunciado por cabecilha do gangue”

Jornal de Notícias: “Erro administrativo tira quatro milhões aos salários da PJ”

Negócios: “Juros da casa negativos até final de 2020”

Correio da Manhã: “Balas de Tancos para armas roubadas à PSP”

O QUE ANDO A LER

“Morte aos Traidores!”, do jornalista Miguel Marujo (Matéria-Prima Edições), conta “a história improvável do mais controverso partido político português”, lê-se na capa do livro. Tratando-se do PCTP-MRPP, “improvável” e “controverso” são adjetivos que talvez pequem por defeito. Basta recordar que a exclamação que dá título ao livro era uma palavra de ordem do partido e do seu fundador, Arnaldo Matos, nos calores da revolução - e, por alguma razão difícil de perceber (até para militantes e dirigentes do partido), foi recuperada para slogan eleitoral em 2015… só porque Matos assim decidiu.

O homem que ficou nas notas de rodapé da história como grande-educador-e-dirigente-da-classe-operária continua, mais de quatro décadas depois, a tratar o PCTP-MRPP como coisa sua - seja para lhe alugar carros de alta cilindrada, seja para lhe pagar croquetes no Gambrinus, luxo muito burguês de que o velho marxista não abdica. O “grande educador” do passado acredita agora que pode fomentar a revolução a partir da sua conta de Twitter - e, como fica claro na entrevista que deu na semana passada ao Expresso, acredita também que revolucionou a maneira de comunicar nesta rede social e até conseguiu “fazer do Twitter uma arma de intelectuais”. Há uma dimensão egotista nesta história que, combinada com um forte desligamento da realidade, torna o conjunto irresistível.

Este é o mesmo Arnaldo Matos que, depois de mais de duas décadas afastado da ribalta por achar que a contrarrevolução havia vencido, voltou para defenestrar com estrondo Garcia Pereira, que lhe sucedeu à frente do partido e o serviu ao longo de anos com fidelidade canina - tudo isto, entre acusações de apropriação de fundos e de que Pereira, que aguentou o MRPP quase sozinho, será afinal um reles “social-fascista”.

O surrealismo de boa parte do que é contado neste livro prova que não há ficção que bata a realidade. E não faltam episódios que parecem saídos da imaginação de um ficcionista com apurado sentido de humor. Fundado em 1971, e destacando-se na luta clandestina contra a ditadura pela originalidade da sua organização, pela capacidade de realizar ações subversivas e pelos murais com palavras de ordem, o PCTP-MRPP agoniza hoje às mãos de um líder que não se assume como tal, mas põe e dispõe dos seus seguidores. Ao ponto de continuar a usar pseudónimos, como nos tempos da clandestinidade. “Arnaldo Matos chegou a dizer-nos que devíamos criar uma célula clandestina, porque qualquer dia vinha aí a contrarrevolução e nós íamos todos presos”, relata um dos que se afastaram do partido na purga de 2015.

Nalguns momentos, “Morte aos Traidores!” não parece a história de um partido político, mas de uma seita apocalítica. Os “Meninos Rabinos que Pintam Paredes” (como eram conhecidos os “éme-érre”) já não pintam paredes, mas Arnaldo Matos ainda pinta a manta como nos bons velhos tempos. Como diria o próprio, “então, isto não é tudo um putedo?”

Fico por aqui.

Não se esqueça que hoje é dia de Comissão Política - o podcast de política do Expresso estará disponível daqui a poucas horas com a análise dos temas da semana.

Tenha uma boa terça-feira.

Bom dia.

Pode ser conhecido já hoje o primeiro relatório sobre a queda de um helicóptero do INEM no sábado passado, em Valongo, acidente de que resultou a morte de quatro pessoas. Ao mesmo tempo que anunciou a divulgação urgente documento da Autoridade Nacional de Proteção Civil, o secretário de Estado Artur Neves antecipou-se na garantia de que “é impossível, absolutamente impossível”, que tenha havido chamadas de socorro que ficaram por atender. Quem fala assim não é gago, mas das duas uma: ou o secretário de Estado da Proteção Civil já sabe o que diz um relatório que não escreveu, ou está a tentar condicionar as conclusões desse documeno.

Antes das certezas do secretário de Estado que tutela a Proteção Civil, já Jaime Marta Soares, da Liga de Bombeiros, tinha comunicado ao mundo a sua certeza de que a Proteção Civil “falhou” neste caso. E exigiu um “inquérito rigoroso” (presume-se que para confirmar a sua convicção). No meio de tanta certeza precoce, o ministro da Administração Interna disse o óbvio: "Nenhuma entidade deve produzir declarações antes da conclusão do inquérito. Se tivesse todas as respostas sobre o cumprimento ou não cumprimento de procedimentos não teria pedido o inquérito.”

Independentemente das conclusões a que chegue a Proteção Civil sobre o seu próprio desempenho, o Ministério Público anunciou ontem a abertura de um inquérito para apurar as razões do acidente.

À cautela, o Sindicato Independente dos Médicos exige ao Governo que avance com uma comissão arbitral para indemnizar os familiares dos quatro elementos da equipa de helitransporte de emergência que morreram ao serviço do INEM. O presidente do SIM, Roque da Cunha, disse ao Expresso que esta solução "servirá para evitar que as compensações às famílias se agudizem nos tribunais".

Talvez as certezas de um governante sobre aquilo que em Portugal é “impossível”, ou até “absolutamente impossível”, devessem ser moderadas. Estamos a falar de Portugal, “um país a cair aos bocados”, como escreve no Público o João Miguel Tavares - “Eu consigo encontrar uma trotinete por GPS em Lisboa e não consigo encontrar um helicóptero do INEM - repito: do INEM! - em Valongo?”

Afinal de contas, estamos a falar do mesmo país onde o mistério sobre o assalto aos paióis do Exército se prolonga há mais de um ano, com pormenores rocambolescos que qualquer pessoa no seu perfeito juízo acharia “impossíveis”. “Absolutamente”. Ontem houve desenvolvimentos no caso, logo saudados pelo Presidente da República como “passos significativos”.

Vamos então ao balanço de um dia de “passos significativos”:

foram detidos oito suspeitos de terem assaltado os paióis de Tancos em junho de 2017. Há três meses tinham sido detidas nove pessoas. Já são dezassete os detidos no total das duas operações;

os oito suspeitos só hoje serão ouvidos pelo juiz ;

os novos detidos têm ligações ao tráfico de droga ;

foi renovada por mais três meses a prisão preventiva do ex-diretor da Polícia Judiciária Militar . Dos nove detidos no final de setembro, só o coronel Luís Vieira e um dos alegados autores do assalto de Tancos ficaram em prisão preventiva.

O DN avança que há mais uma detenção planeada - um ex-militar escapou à operação de ontem da PJ porque estava fora do país.

Segundo o Público, entre os detidos, todos civis, estão o “Laranjinha” e o “Caveirinha”...

OUTROS TEMAS

A procuradora-geral da República (PGR), Lucília Gago, manifestou-se firmemente contra a alteração da composição do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) - uma proposta feita pelo PSD e apoiada por socialistas como Jorge Lacão. Conforme o Expresso noticiou em primeira mão, na sua proposta para um pacto da Justiça, o PSD propõe mexer na composição dos conselhos superiores; no caso do CSMP, quer que os magistrados do Ministério Público passem a ficar em minoria. Ontem, a PGR avisou que essa alteração seria uma "grave violação do princípio da autonomia", e uma "radical alteração dos pressupostos que determinaram" que aceitasse o cargo - que é como quem diz que, se essa alteração avançar, poderá demitir-se.

Rui Rio tem defendido a sua proposta, apesar da oposição do Ministério Público (os magistrados até já anunciaram uma greve), de vozes relevantes do seu partido e até do Presidente da República. Mas a crítica que mais irritou Rio e os seus próximos foi feita por Marques Mendes no domingo, no seu comentário semanal na SIC. A frase “nas propostas para controlar a Justiça, Sócrates e Rio são irmãos siameses” tirou do sério muitos rioístas. Ontem à noite, o vice-presidente do PSD David Justino foi à SIC Notícias defender a sua dama, acusando Mendes de “falta de ética”. Note-se que a direção do PSD foi mais rápida e mais dura a reagir a um dos seus do que costuma ser a reagir a um qualquer membro do Governo.

O Observador descobriu mais um caso de alegada presença-fantasma no Plenário da Assembleia da República. No dia 12 de junho de 2017 o deputado Nuno Sá conseguiu o milagre de estar em campanha em Famalicão, e no Parlamento a assistir aos trabalhos. Mas só foi visto num dos locais - em Famalicão. Ah!, Nuno Sá é do PS, ou seja, Carlos César tinha a oportunidade de ser consequente com a garantia que deu há dias, quando só havia deputados do PSD envolvidos nestes esquemas: “Se se colocasse no nosso caso alguma das situações de que tenho ouvido falar, acho que essas pessoas não tinham o direito de permanecer no âmbito do grupo parlamentar do PS”. Mas não o fez. Em vez disso, ouviu o visado, que lhe garantiu que nesse dia conseguiu mesmo estar em Famalicão, no Parlamento, e em Famalicão outra vez. Nuno Sá também pediu, claro, “o completo esclarecimento da situação referida”. E prometeu que “renunciaria ao seu mandato caso se comprovasse a irregularidade que lhe é apontada” - estranha hipótese, essa, de se poder provar algo que o protagonista diz nunca ter acontecido.

A ministra da Saúde jurou que “em circunstância alguma teve intenção de chamar 'criminosos' aos enfermeiros”, por causa da greve em curso. No mesmo contacto com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Marta Temido reafirmou a vontade de dialogar. A bastonária Ana Rita Cavaco fala num “ponto de viragem”. Há negociações marcadas para amanhã, e há uma trégua já anunciada para o período de Natal.

A informação foi avançada pelo Expresso, e agora é oficial: o preço da eletricidade vai descer 3,5% no ano que vem.

João Manso Neto, administrador da EDP há 12 anos, vai esta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as rendas da energia. O Expresso lembra uma dúzia de temas quentes que os deputados deverão levantar.

Em 2017, o Turismo representou 13,7% do PIB português (mais 1,2 pontos percentuais do que em 2016). As contas foram divulgadas ontem pelo INE.

PS e PSD chegaram a acordo para as novas regras do IRS nos contratos de arrendamento de casa. A taxa de 28% mantém-se para os contratos até doze meses, mas vai descendo conforme aumente a duração do acordo - até uma taxa mínima de 10% para contratos válidos por mais de 20 anos.

Jeremy Corbyn, o líder da oposição trabalhista, decidiu-se finalmente a apresentar uma moção de censura ao Governo de Theresa May, por causa do Brexit. O texto considera “inaceitável” o adiamento da votação do acordo de saída da UE no Parlamento de Westminster. O anúncio aconteceu no mesmo dia em que May revelou que essa votação se realizará na semana de 14 de janeiro.

Mais um relatório feito a pedido do Senado norte-americano confirma a interferência russa nas eleições presidenciais nos EUA, em 2016 - mas o documento, divulgado pelo New York Times, assegura que essa interferência foi ainda maior do que se julgava. O relatório, feito pela Universidade de Oxford e pela empresa de análise de redes sociais Graphika, revela que os russos responsáveis pela campanha de desinformação criaram contas e páginas falsas não só no Facebook e no Twitter, mas em todas as principais redes sociais, incluindo um grande investimento no Instagram, “para beneficiarem o Partido Republicano – e especificamente Donald Trump”.

De acordo com o NYT, um dos principais alvos dos russos foi o eleitorado afro-americano. O objetivo era, através de notícias falsas, desincentivar a ida às urnas de um segmento do eleitorado que à partida seria mais favorável a Hillary Clinton.

Por estas e por outras o Facebook tem vivido envolvido em escândalos. A pressão para que Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg se demitam é cada vez maior.

Ana Pinho, a polémica presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, foi reeleita para um novo mandato.

Parece que o Pai Natal foi amigo das equipas portuguesas no sorteio das competições da UEFA. Há um Porto-Roma na Liga dos Campeões.

As listas são a fruta da época no mês de dezembro. Aqui fica a lista da Blitz com os melhores discos de 2018. Jonathan Wilson lidera. Marlon Williams, o meu favorito deste ano, está em quinto lugar.

AS MANCHETES DE HOJE

Público: “Metade do crédito ao consumo já é contratado diretamente na loja”

i: “Militar de Tancos terá sido denunciado por cabecilha do gangue”

Jornal de Notícias: “Erro administrativo tira quatro milhões aos salários da PJ”

Negócios: “Juros da casa negativos até final de 2020”

Correio da Manhã: “Balas de Tancos para armas roubadas à PSP”

O QUE ANDO A LER

“Morte aos Traidores!”, do jornalista Miguel Marujo (Matéria-Prima Edições), conta “a história improvável do mais controverso partido político português”, lê-se na capa do livro. Tratando-se do PCTP-MRPP, “improvável” e “controverso” são adjetivos que talvez pequem por defeito. Basta recordar que a exclamação que dá título ao livro era uma palavra de ordem do partido e do seu fundador, Arnaldo Matos, nos calores da revolução - e, por alguma razão difícil de perceber (até para militantes e dirigentes do partido), foi recuperada para slogan eleitoral em 2015… só porque Matos assim decidiu.

O homem que ficou nas notas de rodapé da história como grande-educador-e-dirigente-da-classe-operária continua, mais de quatro décadas depois, a tratar o PCTP-MRPP como coisa sua - seja para lhe alugar carros de alta cilindrada, seja para lhe pagar croquetes no Gambrinus, luxo muito burguês de que o velho marxista não abdica. O “grande educador” do passado acredita agora que pode fomentar a revolução a partir da sua conta de Twitter - e, como fica claro na entrevista que deu na semana passada ao Expresso, acredita também que revolucionou a maneira de comunicar nesta rede social e até conseguiu “fazer do Twitter uma arma de intelectuais”. Há uma dimensão egotista nesta história que, combinada com um forte desligamento da realidade, torna o conjunto irresistível.

Este é o mesmo Arnaldo Matos que, depois de mais de duas décadas afastado da ribalta por achar que a contrarrevolução havia vencido, voltou para defenestrar com estrondo Garcia Pereira, que lhe sucedeu à frente do partido e o serviu ao longo de anos com fidelidade canina - tudo isto, entre acusações de apropriação de fundos e de que Pereira, que aguentou o MRPP quase sozinho, será afinal um reles “social-fascista”.

O surrealismo de boa parte do que é contado neste livro prova que não há ficção que bata a realidade. E não faltam episódios que parecem saídos da imaginação de um ficcionista com apurado sentido de humor. Fundado em 1971, e destacando-se na luta clandestina contra a ditadura pela originalidade da sua organização, pela capacidade de realizar ações subversivas e pelos murais com palavras de ordem, o PCTP-MRPP agoniza hoje às mãos de um líder que não se assume como tal, mas põe e dispõe dos seus seguidores. Ao ponto de continuar a usar pseudónimos, como nos tempos da clandestinidade. “Arnaldo Matos chegou a dizer-nos que devíamos criar uma célula clandestina, porque qualquer dia vinha aí a contrarrevolução e nós íamos todos presos”, relata um dos que se afastaram do partido na purga de 2015.

Nalguns momentos, “Morte aos Traidores!” não parece a história de um partido político, mas de uma seita apocalítica. Os “Meninos Rabinos que Pintam Paredes” (como eram conhecidos os “éme-érre”) já não pintam paredes, mas Arnaldo Matos ainda pinta a manta como nos bons velhos tempos. Como diria o próprio, “então, isto não é tudo um putedo?”

Fico por aqui.

Não se esqueça que hoje é dia de Comissão Política - o podcast de política do Expresso estará disponível daqui a poucas horas com a análise dos temas da semana.

Tenha uma boa terça-feira.

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